sábado, 28 de outubro de 2023

25.209 A carreira entre os Carvalhos e o Porto

 
Com a afirmação dos veículos automóveis, começa a ser usado, no início do século XX, o serviço público afecto àquele meio de transporte.
É o caso do percurso entre a Vila dos Carvalhos e o Porto, ao qual se habilita a firma J. Espírito Santo.
 
 
“Entrado o ano de 1926, Joaquim, Aurélio e Jorge, os três filhos de um ferreiro com oficina na rua do Parque da República adaptaram uma carrinha de carga Ford T, ao transporte de 14 passageiros, e começaram a transportar clientes dos Carvalhos para o Porto.
A 14 e 15 de Agosto de 1926, realizaram a primeira excursão ligando Gaia a Vila Real. Passam então a operar com linhas regulares entre Lavadores, a Madalena e o Porto. Sobreviveram à crise da 2ª guerra mundial, recuperando e crescendo nos anos 50 e 60, tendo sido pioneiros na introdução em Portugal, em 1963, do conceito de serviço urbano e contínuo, com viaturas especialmente concebidas para esse efeito. O 25 de Abril de 1974 encontrou a J. Espírito Santo já com 6 carreiras e 32 viaturas.
Em Setembro de 1996 ocorre a aquisição da congénere A. Costa Reis & Filhos, Ld.ª, que era uma empresa que à data explorava cerca de 10 concessões, predominantemente, com origem/destino: Oliveira do Douro/ Porto e freguesias do concelho de Vila Nova de Gaia. As duas empresas aproveitam as sinergias uma da outra, adquirindo dimensão e melhorando a qualidade do serviço prestado aos concidadãos.
A designação Espírito Santo – Autocarros de Gaia unifica a imagem, e representa a actividade partilhada das duas empresas, ao abrigo de uma convenção / acordo de exploração conjunta de todas as concessões, veículos e instalações, autorizado pelo Exmo. Sr. Director –Geral de Transportes Terrestres em 25 de Setembro de 1996.
Actualmente, as empresas J. Espírito Santo & Irmãos, Ld.ª e A. Costa Reis & Filhos, Ld.ª têm um grupo de trabalho que conta com cerca de 120 colaboradores, integrado num quadro de pessoal experiente, e em contínua formação”.
Fonte: “espiritosanto.com.pt/”
 
 
Foi, em 1917, que a Ford apresentou a sua primeira truck, ou seja, uma pick-up, cuja semelhança com o Model T é óbvia, como se pode observar na foto abaixo.
 
 
 
 

Ford Model TT, em 1917

 
 
Baseado no Ford T, a Ford Model TT apareceu com um chassis reforçado, rodas mais largas e resistentes e a distância entre eixos passou de 2,54 m, do Model T para 3,17 m, na pick-up, permitindo uma caixa de carga na traseira.
Com uma caixa de velocidades reformulada, o Model TT era capaz de suportar até uma tonelada de carga.
A Ford começou por vender esta pickup sem carroceria apresentando, apenas, o chassis, motor e pouco mais. A carroceria era adquirida, em separado, num especialista. No Porto, existiam diversas fábricas de carrocerias. Só em 1924 é que a Ford disponibilizou uma carroçaria de fábrica.
Será uma carrinha do tipo apresentado, que teria sido posta, possivelmente, a circular, em 1926, no percurso entre a Vila dos Carvalhos (pertencente à freguesia de Pedroso, V. N. de Gaia, com a partida e a chegada a acontecerem no antigo Largo da Feira) e o Porto.
A feira, em Pedroso, tinha iniciado a sua actividade, em 1758, no Largo do Moeiro.

 
 

Largo do Moeiro e, à esquerda, a antiga EN1, quando esta via (hoje, a Rua do Padrão) atravessava a Vila dos Carvalhos
 
 
 
Terá sido, também, na Estalagem dos Carvalhos - Quinta de Moeiro, onde de 28 para 29 de Abril de 1852, pernoitou a corte da rainha D. Maria II e de Fernando II, o rei consorte, acompanhados pelos príncipes Pedro e Luís, numa visita ao Porto e Minho, cujo episódio, “Justiça de Sua Majestade”, está descrito na obra "Serões da Província" de Júlio Dinis.
 
 
 

Estalagem dos Carvalhos (Souto do Moeiro - 1795) – Ed. James Cavanah Murphy (1760–1814), In “Travels in Portugal in the years of 1789 and 1790”
 
 
 
“Na manhã da véspera tinham começado a rodar, em direcção aos Carvalhos, as carruagens e trens das principais personagens da cidade a esperar suas majestades e altezas, que na noite desse dia ali repousaram”.
Júlio Dinis, In “Serões da Província”
 
 
 
 
Com o acentuado aumento de vendedores, o espaço da feira foi ficando mais pequeno, havendo a necessidade de a transferir, em 1850, para o actual Largo França Borges (antigo Largo da Feira).
 
 
 
 

Junto do antigo Largo da Feira dos Carvalhos (Largo França Borges), na Estrada Nacional 1, a Mercearia Central, quando já se conduzia pela direita (após 1 de Junho de 1928)
 
 
 
Tudo indica que o autocarro da foto é da empresa Avelino Rodrigues.

 
 


 

No mesmo local da foto anterior, o pelotão da 5ª edição da Volta a Portugal em Bicicleta, em 1934

 
 

Perspectiva actual de foto anterior – Cortesia de Gaia à la carte



Defronte da Mercearia Central, o seu proprietário, Domingos da Silva e Sousa, aqui acompanhado da sua filha Ilda, tinha um negócio de fornecimento de combustível a veículos automóveis

 
 
 

Largo da Feira dos Carvalhos, após remodelação efectuada entre 1933 e 1935
 
 
 

Outra perspectiva, obtida a partir da Rua do Padrão, em dia de feira (4ª Feira), do Largo da Antiga Feira dos Carvalhos (Largo França Borges) e o característico depósito da água
 
 
 
 
Embora com as obras por concluir, foi inaugurado em 1971, o espaço actual, localizado no Largo da Feira Nova.
Uma outra empresa de transporte de passageiros, que serviu as gentes dos Carvalhos, foi a UTC - União de Transportes dos Carvalhos Lda., fundada em 26 de Abril de 1940 e que cobriu a necessidade de transportar as gentes a sul do concelho de Vila Nova de Gaia ao Porto.
Funcionava com uma carreira de manhã, com regresso marcado para o final da tarde.
Os veículos desta empresa caracterizavam-se pelas suas cores – Bordeaux.

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