O Bazar dos Três
Vinténs situava-se na Rua de Cedofeita, nºs 88-96 e dispunha de um catálogo
de novidades anual, com os preçários dos artigos à venda.
Abriu na década de 80 do século XIX e encerraria portas, na
década 80 do século XX.
No catálogo de 1952 e de 1953, contém um artigo designado ”
O Pequeno Jardineiro”, cuja descrição se assemelha às construções de brinquedos
feitos em cartão.
Foi um bazar de referência na cidade, a par do Bazar do
Porto, e já não existem ambos.
O vintém era uma moeda antiga, de cobre, do tempo da
monarquia, cunhada, normalmente, com a efigie do rei ou da rainha.
A partir da instauração da República, o lema do bazar passou
a ser: “Tudo a um escudo”.
O “Grande Bazar Parisiense”, antigo “Bazar dos Três
Vinténs”, na Rua de Cedofeita, nºs 94-96 – Fonte: Postal
Pela leitura do texto, pode inferir-se que o postal será
anterior à reforma ortográfica de 1911, que eliminou a maioria das consoantes
dobradas, o que é o caso da palavra “belleza”.
Na gravura abaixo, vê-se o “Bazar Parisiense”, em 1952.
"Primeiro parava
em Cedofeita, onde ali, no Bazar dos Três Vinténs, os meus olhos e um pouco de
dinheiro deixavam expandir-se os mil e um desejos de brinquedos de madeira,
bolas, coisas acessíveis para se comprar a granel. Era aí que eu mercava os presentes
para o Geninho e outros companheiros de jogos que durante as férias vinham à
Quinta brincar comigo. O Bazar dos Três Vinténs – que ainda hoje existe –
popularizava os nossos desejos de compras, havia por lá de tudo que fosse para
partir, para esconder, para 'espilrar', era um misto de bazar de Natal e de
Carnaval, onde se encontravam, por preço barato, as coisas mais desarticuladas
e coloridas que a indústria do Norte era capaz de produzir. É um bazar com uma
espinha dorsal, tendo à direita e à esquerda montras contínuas de brinquedos,
espécie de vitrines onde o debruçar quase parte os vidros que guardam
cautelosamente os brinquedos, não vá alguém distrair-se no alcance..."
Ruben A., In “O Mundo à Minha Procura”, c. 1965
O painel de azulejos representando o Pai Natal, que se observa na foto acima,
foi produzido na Fábrica do Carvalhinho e foi pintado por F. Gonçalves que
exerceu a actividade entre, c. 1954 e 1978.
O Grande Bazar do
Porto ficava na Rua de Santa Catarina em frente ao Grande Hotel do Porto.
Do começo do séc. XX era este bazar, frequentado especialmente
pela alta burguesia. Vendiam uma variedade enorme de artigos para além de
brinquedos: perfumarias, artigos de viagem e de desporto, autopianos e
gramofones e respectivos discos e rolos.
Como cronologia do aparecimento do Grande Bazar do Porto podemos
apontar como datas mais significativas:
1912- Joaquim Fraga quer demolir uma ilha de casas nas
traseiras do prédio, 160-164, da Rua de Santa Catarina;
1915- Há um pedido de reconstrução do prédio, 160-161, na
Rua de Santa Catarina;
1918- A fábrica do Carvalhinho cria o painel de azulejos da
fachada do prédio do bazar;
1924- Luiz Soares morador na Rua de Santa Catarina, 200,
constrói no seu quintal um armazém que funciona como depósito de artigos de
papel, perfumaria e arrecadação;
1929- Luiz Soares deseja aumentar o seu armazém que se
mostra ser exíguo;
1932- A estrutura do prédio no qual se aloja o bazar é
remodelada e modernizada.
“Por mera curiosidade
diga-se que na Rua de Santa Catarina, encontra-se um painel de azulejos
publicitário alusivo à casa Luiz Soares, na fachada de um prédio. Os dois
painéis de azulejos contêm a assinatura da Fábrica do Carvalhinho. O
azulejo referente à casa Luiz Soares data de 1918.
Desconhece-se a época
precisa em que este estabelecimento esteve aberto.
Entre outros, na
década de 50 do século XX existiam os seguintes bazares: Bazar Económico; Bazar
Esmeriz na Rua dos Clérigos, 70; Bazar
Ideal; Bazar Invicta; Bazar Londres na Rua de Sá da Bandeira;
Bazar de Paris, na Rua Sá da
Bandeira; Grande Bazar do Porto na
Rua Santa Catarina em frente ao Hotel do Porto; Casa Ametista, na Praça dos Poveiros”.
Com a devida vénia ao administrador do blogue,
“amojogos.wordpress.com”
As passagens de Ruben A. (Andresen) por este bazar ficaram
célebres na obra “O Mundo à Minha Procura”.
“Da confeitaria
(Oliveira) ao Bazar do Porto era ainda uma viagem de atravessar a cidade, até
Santa catarina, com o Daimler a brilhar a grande altura… No Bazar do Porto,
acabava a nossa epopeia. Ali suava-se até fechar, muitas vezes ficámos por lá,
com o privilégio de mexer nos objectos expostos, até perto das oito horas.
Escolhia-se então o melhor. Era ali que eu me requintava em brinquedos,
sobretudo nos automóveis de corrida Bugatti que, com tanto êxito, haviam sido
lançados no mercado daquele ano. O dinheiro ia-se todo. As tias reparavam no
que eu gostava mais, mandavam reservar, era surpresa, sem me dizerem
abertamente a sua escolha. Eu olhava para aquele milagre de brinquedos,
apetecia-me comprar a loja para a minha consoada, colocá-la mesmo ao lado da
árvore de Natal do Campo Alegre."
Fonte: JN, 03/01/2006)
No primeiro semestre de 1927 o Bazar do Porto acaba por
ficar com a representação da marca britânica de gramofones e discos “His Master
Voice” e abre uma sucursal em Lisboa.
Em 1972, o “Grande Bazar do Porto” é reinaugurado depois de
ter sido sujeito a obras quando já era propriedade de Ricardo de Lemos e Manuel
Recarei.
A firma proprietária do “Grande Bazar do Porto, Lda” seria
liquidada e dissolvida em 2008, já após o seu fecho alguns anos antes.
No século XIX um italiano chegado como refugiado ao Porto,
ficaria ligado para sempre ao comércio do brinquedo e ao Bazar Paris, da Rua de Sá da Bandeira.
A propósito do Novo
Bazar Paris, por ele aberto, e do Bazar Paris, já existente à data, ambos
na Rua de Santo António, se transcreve um interessante texto sobre o tema.
“Por volta de
1880, um imigrante chamado Fassini, tornado indigente pelas guerras em Itália,
de que fugira com toda a família, chega ao Porto.
Numa primeira
fase, Júlio e Maria Fassini, com as duas filhas, Frederica e Angelina, viveriam
da mendicidade, percorrendo as ruas do Porto com o seu realejo, que tocava melodias
de óperas italianas. Depois Júlio Fassini inicia-se na venda ambulante de
brinquedos de barro dourado, que depressa despertam a atenção dos que o
observam pelas ruas. Mas é o visconde de Gândara que altera o destino da
família, proporcionando a Fassini meios para criar uma casa comercial na Rua de
Santo António (a actual Rua 31 de Janeiro), onde acabou por ser instalado o
Novo Bazar de Paris, concorrente directo do Bazar de Paris, de José Cierco, já
existente na mesma rua. A nova loja conquista para a cidade o universo mágico
do brinquedo moderno, que atraía então as multidões, e em particular a
burguesia portuense…
A singularidade
dos brinquedos importados, em que assenta a ideia de Fassini e o investimento
do visconde de Gândara, depressa faz prosperar o negócio, de tal modo que em
pouco tempo se inaugurara um segundo bazar, na Rua Sá da Bandeira.
Sobre os Fassini
hoje pouco mais se sabe além de que vendeu em 1903 à família Vilas-Boas o bazar
da Rua de Sá de Bandeira, que ainda hoje existe na mesma morada no nº 190 e é
considerado o bazar de brinquedos mais antigo do país. Também se sabe a partir
de testemunhos escritos da época que Júlio Fassini terá regressado rico à
Itália natal, onde terá morrido, de novo na miséria. A filha mais velha,
Frederica, falece em Milão e a mais nova, Angelina, em Portugal, pouco depois
do Natal de 1914.
Independentemente
do destino posterior dos empreendimentos dos Fassini no Porto, o legado da
família ao imaginário colectivo portuense é precioso”.
Sérgio Costa Araújo,
In IONLINE em 25/12/2013
A filha mais nova de
Fassini, Frederica, com ajuda do visconde da Gândara, acaba por ir fazer os
seus estudos a Itália e por dedicar-se ao canto lírico. Tendo chegado a actuar
no Real Teatro S. João, na ópera “Bohème”, parece não ter agradado aos
portuenses.
Assim, partiu para
Coimbra, onde actuou perante os estudantes da academia, tendo obtido um grande
êxito. Agradou tanto, que acabaria por casar com um deles, casamento esse que,
porém, por razões desconhecidas, pouco durou.
Aliás, segundo as
crónicas, Frederica era de uma beleza imaculada andando sempre rodeada de
inúmeros pretendentes.
Na foto acima c.
1960, o Bazar Paris, na Rua de Sá da Bandeira, que ainda hoje tem as suas portas
abertas.
À direita da foto,
acima, pegado ao Bazar Paris, está o Bazar Londres que,
entretanto, já encerrou e, hoje, é uma loja Vodafone.
Sobre o Bazar
Esmeriz que ficava na Rua dos Clérigos nº 74, dá-se conta a seguir, de
testemunho do quão grande era o fascínio que as lojas de brinquedos tinham
sobre as crianças…e não só!
“Uma montra de estarrecer; recordo com
grandes saudades esta casa onde tantas vezes, em criança, passava largo tempo
olhar a montra.
Sendo que meu pai era um dos sócios do
Espelho da Moda, no 54 dos Clérigos, muitas vezes tive a oportunidade de me
deslumbrar com os maravilhosos brinquedos do 74… Tinha algum acanhamento em
entrar, pois era conhecido dos empregados.
Por vezes a D. Maria Esmeriz, uma senhora de
uma educação esmerada e porte elegante e agradável, vinha à rua, pegava na
minha mão convidava-me para entrar. Aí passava largo tempo a apreciar as
centenas de brinquedos num deslumbramento total. Eram os carrinhos, os
triciclos, os bonecos, enfim toda uma variedade de atracções que me levavam a
sonhos maravilhosos.
Esquecia-me do tempo…
Mais que uma vez algum empregado do Espelho
da Moda lá ia perguntar se ali estava… e eu estava mesmo”.
Rui Cunha, In
“portoarc.blogspot”
Na loja com o toldo preto da foto acima, à esquerda, era o
Bazar Esmeriz no nº 74 da Rua dos Clérigos.
A Casa Ametista
era um bazar situado na Praça dos Poveiros.
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