sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

25.218 BAZARES

 
O Bazar dos Três Vinténs situava-se na Rua de Cedofeita, nºs 88-96 e dispunha de um catálogo de novidades anual, com os preçários dos artigos à venda.
Abriu na década de 80 do século XIX e encerraria portas, na década 80 do século XX.
No catálogo de 1952 e de 1953, contém um artigo designado ” O Pequeno Jardineiro”, cuja descrição se assemelha às construções de brinquedos feitos em cartão.
Foi um bazar de referência na cidade, a par do Bazar do Porto, e já não existem ambos.
O vintém era uma moeda antiga, de cobre, do tempo da monarquia, cunhada, normalmente, com a efigie do rei ou da rainha.
A partir da instauração da República, o lema do bazar passou a ser: “Tudo a um escudo”.
 
 
 
 

Publicidade ao Bazar dos Três Vinténs, In jornal “A Voz Pública” de 24 de Dezembro de 1907
 
 
 

O “Grande Bazar Parisiense”, antigo “Bazar dos Três Vinténs”, na Rua de Cedofeita, nºs 94-96 – Fonte: Postal



 

Texto que acompanhava a foto inserida em postal acima exibido

 
 
Pela leitura do texto, pode inferir-se que o postal será anterior à reforma ortográfica de 1911, que eliminou a maioria das consoantes dobradas, o que é o caso da palavra “belleza”.




Factura do Bazar dos Três Vinténs a favor da condessa de Vizela, em 1915

 
 

Publicidade à inauguração da árvore do Natal do Bazar dos Três Vinténs
 
 
 
 
 
Na gravura abaixo, vê-se o “Bazar Parisiense”, em 1952.


 
 

Gravura do Bazar dos Três Vinténs

 
 
"Primeiro parava em Cedofeita, onde ali, no Bazar dos Três Vinténs, os meus olhos e um pouco de dinheiro deixavam expandir-se os mil e um desejos de brinquedos de madeira, bolas, coisas acessíveis para se comprar a granel. Era aí que eu mercava os presentes para o Geninho e outros companheiros de jogos que durante as férias vinham à Quinta brincar comigo. O Bazar dos Três Vinténs – que ainda hoje existe – popularizava os nossos desejos de compras, havia por lá de tudo que fosse para partir, para esconder, para 'espilrar', era um misto de bazar de Natal e de Carnaval, onde se encontravam, por preço barato, as coisas mais desarticuladas e coloridas que a indústria do Norte era capaz de produzir. É um bazar com uma espinha dorsal, tendo à direita e à esquerda montras contínuas de brinquedos, espécie de vitrines onde o debruçar quase parte os vidros que guardam cautelosamente os brinquedos, não vá alguém distrair-se no alcance..."
Ruben A., In “O Mundo à Minha Procura”, c. 1965


 
 

Bazar dos Três Vinténs, In site: “amaieurope.org”


 
O painel de azulejos representando o Pai Natal, que se observa na foto acima, foi produzido na Fábrica do Carvalhinho e foi pintado por F. Gonçalves que exerceu a actividade entre, c. 1954 e 1978.


 
 

Bazar dos Três Vinténs (visível, à direita, o seu reclame) em 1984 – Fonte: Autor desconhecido
 
 
 
 

Por aqui, esteve o Bazar dos Três Vinténs

 
 
O Grande Bazar do Porto ficava na Rua de Santa Catarina em frente ao Grande Hotel do Porto.
Do começo do séc. XX era este bazar, frequentado especialmente pela alta burguesia. Vendiam uma variedade enorme de artigos para além de brinquedos: perfumarias, artigos de viagem e de desporto, autopianos e gramofones e respectivos discos e rolos.
Como cronologia do aparecimento do Grande Bazar do Porto podemos apontar como datas mais significativas:
1912- Joaquim Fraga quer demolir uma ilha de casas nas traseiras do prédio, 160-164, da Rua de Santa Catarina;
1915- Há um pedido de reconstrução do prédio, 160-161, na Rua de Santa Catarina;
1918- A fábrica do Carvalhinho cria o painel de azulejos da fachada do prédio do bazar;
1924- Luiz Soares morador na Rua de Santa Catarina, 200, constrói no seu quintal um armazém que funciona como depósito de artigos de papel, perfumaria e arrecadação;
1929- Luiz Soares deseja aumentar o seu armazém que se mostra ser exíguo;
1932- A estrutura do prédio no qual se aloja o bazar é remodelada e modernizada.
 
 
“Por mera curiosidade diga-se que na Rua de Santa Catarina, encontra-se um painel de azulejos publicitário alusivo à casa Luiz Soares, na fachada de um prédio. Os dois painéis de azulejos contêm a assinatura da Fábrica do Carvalhinho. O azulejo referente à casa Luiz Soares data de 1918.
Desconhece-se a época precisa em que este estabelecimento esteve aberto.
Entre outros, na década de 50 do século XX existiam os seguintes bazares: Bazar Económico; Bazar Esmeriz na Rua dos Clérigos, 70; Bazar Ideal; Bazar Invicta; Bazar Londres na Rua de Sá da Bandeira; Bazar de Paris, na Rua Sá da Bandeira; Grande Bazar do Porto na Rua Santa Catarina em frente ao Hotel do Porto; Casa Ametista, na Praça dos Poveiros”.
Com a devida vénia ao administrador do blogue, “amojogos.wordpress.com”
 
As passagens de Ruben A. (Andresen) por este bazar ficaram célebres na obra “O Mundo à Minha Procura”.
 
“Da confeitaria (Oliveira) ao Bazar do Porto era ainda uma viagem de atravessar a cidade, até Santa catarina, com o Daimler a brilhar a grande altura… No Bazar do Porto, acabava a nossa epopeia. Ali suava-se até fechar, muitas vezes ficámos por lá, com o privilégio de mexer nos objectos expostos, até perto das oito horas. Escolhia-se então o melhor. Era ali que eu me requintava em brinquedos, sobretudo nos automóveis de corrida Bugatti que, com tanto êxito, haviam sido lançados no mercado daquele ano. O dinheiro ia-se todo. As tias reparavam no que eu gostava mais, mandavam reservar, era surpresa, sem me dizerem abertamente a sua escolha. Eu olhava para aquele milagre de brinquedos, apetecia-me comprar a loja para a minha consoada, colocá-la mesmo ao lado da árvore de Natal do Campo Alegre."
Fonte: JN, 03/01/2006)

 
 

Publicidade em 1926 - Ed. Cinemateca

 
 
No primeiro semestre de 1927 o Bazar do Porto acaba por ficar com a representação da marca britânica de gramofones e discos “His Master Voice” e abre uma sucursal em Lisboa.
 
 
 
 

Publicidade em Maio de 1927


 

Publicidade natalícia, em 1929, ao Bazar do Porto

 
 

Publicidade natalícia, em 1933, ao Bazar do Porto


 

Publicidade ao Grande Bazar do Porto, em 1941

 
 

Painel de Azulejos do Grande Bazar do Porto


 

Painel de azulejos do Grande Bazar do Porto - Ed. MAC

 
 

Painel de Azulejos do Grande Bazar do Porto


 

Painel alusivo ao “Grande Bazar do Porto” de Luís Soares - Ed. MAC

 
 

Painel completo de azulejos na fachada do Grande Bazar do Porto, actualmente - Ed. Graça Correia

 
 
Em 1972, o “Grande Bazar do Porto” é reinaugurado depois de ter sido sujeito a obras quando já era propriedade de Ricardo de Lemos e Manuel Recarei.
A firma proprietária do “Grande Bazar do Porto, Lda” seria liquidada e dissolvida em 2008, já após o seu fecho alguns anos antes.
No século XIX um italiano chegado como refugiado ao Porto, ficaria ligado para sempre ao comércio do brinquedo e ao Bazar Paris, da Rua de Sá da Bandeira.
A propósito do Novo Bazar Paris, por ele aberto, e do Bazar Paris, já existente à data, ambos na Rua de Santo António, se transcreve um interessante texto sobre o tema.

 
“Por volta de 1880, um imigrante chamado Fassini, tornado indigente pelas guerras em Itália, de que fugira com toda a família, chega ao Porto.
Numa primeira fase, Júlio e Maria Fassini, com as duas filhas, Frederica e Angelina, viveriam da mendicidade, percorrendo as ruas do Porto com o seu realejo, que tocava melodias de óperas italianas. Depois Júlio Fassini inicia-se na venda ambulante de brinquedos de barro dourado, que depressa despertam a atenção dos que o observam pelas ruas. Mas é o visconde de Gândara que altera o destino da família, proporcionando a Fassini meios para criar uma casa comercial na Rua de Santo António (a actual Rua 31 de Janeiro), onde acabou por ser instalado o Novo Bazar de Paris, concorrente directo do Bazar de Paris, de José Cierco, já existente na mesma rua. A nova loja conquista para a cidade o universo mágico do brinquedo moderno, que atraía então as multidões, e em particular a burguesia portuense…
A singularidade dos brinquedos importados, em que assenta a ideia de Fassini e o investimento do visconde de Gândara, depressa faz prosperar o negócio, de tal modo que em pouco tempo se inaugurara um segundo bazar, na Rua Sá da Bandeira. 
Sobre os Fassini hoje pouco mais se sabe além de que vendeu em 1903 à família Vilas-Boas o bazar da Rua de Sá de Bandeira, que ainda hoje existe na mesma morada no nº 190 e é considerado o bazar de brinquedos mais antigo do país. Também se sabe a partir de testemunhos escritos da época que Júlio Fassini terá regressado rico à Itália natal, onde terá morrido, de novo na miséria. A filha mais velha, Frederica, falece em Milão e a mais nova, Angelina, em Portugal, pouco depois do Natal de 1914. 
Independentemente do destino posterior dos empreendimentos dos Fassini no Porto, o legado da família ao imaginário colectivo portuense é precioso”.
Sérgio Costa Araújo, In IONLINE em 25/12/2013
 
 
 
A filha mais nova de Fassini, Frederica, com ajuda do visconde da Gândara, acaba por ir fazer os seus estudos a Itália e por dedicar-se ao canto lírico. Tendo chegado a actuar no Real Teatro S. João, na ópera “Bohème”, parece não ter agradado aos portuenses.
Assim, partiu para Coimbra, onde actuou perante os estudantes da academia, tendo obtido um grande êxito. Agradou tanto, que acabaria por casar com um deles, casamento esse que, porém, por razões desconhecidas, pouco durou.
Aliás, segundo as crónicas, Frederica era de uma beleza imaculada andando sempre rodeada de inúmeros pretendentes.
 
 
 
 

Bazar Paris

 
Na foto acima c. 1960, o Bazar Paris, na Rua de Sá da Bandeira, que ainda hoje tem as suas portas abertas.
 
 
 

Bazar Paris, na década de 1980





Publicidade ao Novo Bazar de Paris – Site: todocoleccion.net
 
 
 

Bazar Londres

 
À direita da foto, acima, pegado ao Bazar Paris, está o Bazar Londres que, entretanto, já encerrou e, hoje, é uma loja Vodafone.

 
 

Bazar Londres

 
 
Sobre o Bazar Esmeriz que ficava na Rua dos Clérigos nº 74, dá-se conta a seguir, de testemunho do quão grande era o fascínio que as lojas de brinquedos tinham sobre as crianças…e não só!

 
“Uma montra de estarrecer; recordo com grandes saudades esta casa onde tantas vezes, em criança, passava largo tempo olhar a montra. 
Sendo que meu pai era um dos sócios do Espelho da Moda, no 54 dos Clérigos, muitas vezes tive a oportunidade de me deslumbrar com os maravilhosos brinquedos do 74… Tinha algum acanhamento em entrar, pois era conhecido dos empregados. 
Por vezes a D. Maria Esmeriz, uma senhora de uma educação esmerada e porte elegante e agradável, vinha à rua, pegava na minha mão convidava-me para entrar. Aí passava largo tempo a apreciar as centenas de brinquedos num deslumbramento total. Eram os carrinhos, os triciclos, os bonecos, enfim toda uma variedade de atracções que me levavam a sonhos maravilhosos.
Esquecia-me do tempo…
Mais que uma vez algum empregado do Espelho da Moda lá ia perguntar se ali estava… e eu estava mesmo”.
Rui Cunha, In “portoarc.blogspot”

 
 

Bazar Esmeriz – Ed. Google maps

 
Na loja com o toldo preto da foto acima, à esquerda, era o Bazar Esmeriz no nº 74 da Rua dos Clérigos.
 
 
A Casa Ametista era um bazar situado na Praça dos Poveiros.

 
 

Publicidade à “CASA AMETISTA” à Praça dos Poveiros nº 189, em Dezembro de 1960  – Fonte: Revista Orfeão (Orgão do orfeão Universitário do Porto)


 
 

À esquerda da foto (1960), no toldo da esquina, ficava a "Casa Ametista"

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