“A primeira corrida de
bicicletas disputada em Portugal decorreu entre a Alameda de Matosinhos e o
Castelo da Foz, pelo caminho de Carreiros (actual
Av. Montevideu e Av. Brasil) no dia 18 de Julho de 1880.
Foi organizada
pelo Club Velocipedista Portuense, fundado poucos meses antes, a 9
de Março desse mesmo ano, nascido do grande entusiasmo que as bicicletas vinham
provocando na cidade. Teve este clube a sua primeira sede em pavilhão anexo ao
edifício da Companhia do Caminho de Ferro instalada na Rotunda da Boavista,
mais tarde transferindo-se para edifício com os nº35/37 no Campo dos Mártires da Pátria na
esquina com a rua da Restauração e onde durante muitos anos funcionou uma loja
de bicicletas”.
In site: “portoantigo.org”
“Em 9 de Março de
1880, um grupo de rapazes fundava no Porto o Clube Velocipedista Portuense, a
primeira agremiação velocipédica do nosso país, e em 18/7 o referido clube
organizava a primeira corrida de velocípedes que houve em Portugal; em Lisboa
só se organizaram alguns anos depois. A corrida foi em estrada, contra
cronómetro, entre a Alameda de Matosinhos e o Passeio Alegre da Foz (cujo
vencedor foi Aurélio Vieira que fez o percurso em 13 minutos e 8 segundos, em
estrada com muito trânsito e mal cuidada…).
Foi tão grande o
seu êxito, que em Novembro seguinte se organizaram novas corridas – as chamadas
“corridas de Outono” desta vez na Rotunda da Boavista.
Os jornais da
época falaram, com espanto, do elevadíssimo número de pessoas que ali se juntou
para presenciar as lutas que se travaram na improvisada pista; do
extraordinário movimento de trens, de nunca vista afluência de gente nos
Americanos, da grande quantidade de senhoras da nossa primeira sociedade que
acorreu à função”.
Fonte: Artur de
Magalhães Basto em “O Tripeiro” Série V, Ano V
Com o decorrer dos anos, o Club Velocipedista Portuense passa
por alguns problemas, já que, três anos após a sua fundação, surge a rivalizar
com um outro clube, o Club de Velocipedistas do Porto, com
sede na Rua do Laranjal, fundado em 28 de Outubro de 1883. Entre aqueles
problemas, destacavam-se as dissidências com Augusto Pereira da Costa, que
seria, mais tarde, vereador da Câmara do Porto.
Em 1893, sob a orientação do Club Velocipedista do
Porto, vai surgir uma revista dedicada à velocipedia, intitulada "O
Velocipedista", cujo 1º número saiu em 1 de Março.
Com periodicidade quinzenal, publicou-se até 15 de Dezembro
de 1895, sob a direcção de Vidal Oudinot e Alberto Bessa.
Em 1894, já ambas agremiações tinham desaparecido,
naturalmente, surgindo o Real Velo Club do Porto, onde os
apaixonados pela nova modalidade desportiva se agruparam.
Entre os sócios do novo clube, está o Infante D. Afonso,
irmão do rei D. Carlos.
“A notícia já é
conhecida de uma parte intelectual da cidade do Porto, dos seus historiadores,
dos homens que nos transmitem e investigam tradições, culturas, usos e
costumes, reconstruindo um passado longínquo, pleno de vida, muitas vezes
escondido e esquecido.
O ciclismo foi, nos
finais do século dezanove¸ uma modalidade das élites, e compreende-se, não
haviam meios motorizados de deslocação, e a bicicleta permitia aos seus
utilizadores uma certa ascensão social.
Vários velódromos
foram construídos por todo o país, alguns completamente desaparecidos, aos
quais se perderam rastos, como o velódromo da Quinta de Salgueiros, do
velódromo da Serra do Pilar, sabe-se que existiram mas não existem vestígios
que nos permitam ver, ou pelo menos “ sentir” que ali, naquele local existiu
algo que nos ligue ao ciclismo.
Estamos, como é óbvio,
a falar da cidade do Porto, a mui nobre e leal cidade, de muitas lutas e
tradições, e de um velódromo escondido, vergonhosamente, diria ocultado e
esquecido, e mais grave, destruído e vilipendiado.
Os museus terão mais
valor quando são “vivos”, isto é, conservam a integridade dos usos e costumes
de determinada época e, nada mais visível seria, se o velódromo rainha D.
Amélia tivesse sido conservado no seu lugar, respeitado o seu passado e não
fosse destruído para que, no seu lugar fosse reconstruído o tal museu “morto”,
com salas de chã, espaços de aluguer, destruindo-se o que de importante mais
representava para a cidade do Porto.
Escondeu-se,
destruindo um velódromo que, em três voltas se percorria um km, como mandam as
regras internacionais. Isto é, um velódromo de 333.3 metros, em plena cidade do
Porto, uma cidade onde as estruturas desportivas não abundam e onde os
monumentos são vilipendiados.
Um espaço que fez
falta á cidade, numa zona carente de instalações desportivas que permitam a
prática desportiva de lazer.
É verdade, o velódromo
rainha D. Amélia é um monumento, destruído grosseiramente, por quem não teve
respeito pela história e passado da cidade e da história do desporto.
O Velódromo Maria
Amélia foi o maior recinto desportivo do Porto na primeira década do século
passado, como palco da modalidade que os tripeiros mais acarinhavam quando se
começaram a interessar por desporto. Parte das suas instalações mantiveram-se
intactas até hoje, o local onde está instalado é quase um segredo, e a grande
maioria dos habitantes da cidade desconhece a sua existência num local tão
nobre como as traseiras do museu Soares dos Reis e perto do Palácio de Cristal
e do hospital de Santo António.
O Velódromo do Porto
surgiu em 1895, fruto da doação por parte do rei D. Carlos, no ano anterior, de
um terreno ao Real Velo-Club do Porto para a prática do ciclismo. Uma prenda
integrada nas comemorações do V centenário do infante D. Henrique.
A corveta Sagres passando no cais do Bicalho, em 4 de Março
de 1894, durante as comemorações henriquinas, nas quais participou o rei D.
Carlos, ocasião em que foi feita a oferta de um terreno para construir um
velódromo
Não era o primeiro
espaço na cidade ou arredores que recebia provas de amadores ou profissionais
deste desporto. O primeiro estava instalado na Quinta de Salgueiros e pertencia ao Clube de Caçadores do Porto.
Posteriormente, na serra do Pilar, construiu-se o primeiro Velódromo D. Amélia,
assim baptizado em homenagem à mulher do rei, mas, com o levantamento de um
outro instalado no jardim do palácio dos Carrancas, viria este, a chamar-se
velódromo Maria Amélia, passando a
estrutura de Gaia a ter o nome de
Príncipe Real.
O Velódromo Maria
Amélia, instalado no jardim do palácio dos Carrancas, propriedade da família
real desde 1861 e local onde esta costumava pernoitar quando se deslocava à
cidade, honrando a figura da Rainha D. Maria Amélia de Orleães, é o actual
Museu Nacional de Soares dos Reis. O estádio ficou situado nas suas traseiras,
no interior de um quarteirão, o que o resguarda de qualquer olhar mais
indiscreto e o torna quase desconhecido.
As portas do Velódromo
do Porto encerraram em 1910 com a implantação da República e a ida do rei D.
Manuel II para o exílio. O espaço foi doado à Misericórdia, mas, o Estado, pelo Dec. Lei nº. 27878 de
21/7/1937, expropriou este palácio à S. C. da Misericórdia. O espaço do
Velódromo do Porto é hoje denominado Jardim da Cerca e integra as instalações
do Museu Soares do Reis. Aí encontram-se em exposição alguns dos brasões das
antigas casas senhoriais do Porto. O terreno foi objecto da última
requalificação no contexto da “Porto’2001, Capital Europeia de Cultura”, numa
criação do falecido arquitecto portuense Fernando Távora, que fez questão de
preservar integralmente alguns dos elementos da centenária instalação
desportiva. Assim, sem grande esforço, ao nível do solo são perfeitamente
visíveis as duas curvas da pista, com os respectivos relevos. Uma recordação do
primeiro espaço desportivo do Porto, que permite imaginar as loucas corridas
que aí se disputaram e os 25 mil adeptos que a elas assistiram...Inaugurado o
velódromo em 1895, ali se realizaram muitas corridas e demonstrações
desportivas, incluindo a primeira corrida de motorizada realizada em Portugal.
Hoje em dia está
fechado, destruído, perdendo-se um monumento dos poucos que todos nós
poderíamos utilizar, como o mais antigo recinto desportivo da cidade do Porto”.
In Jornal Ciclismo em 2013/02/11
Velódromo Maria Amélia em dia de corridas
Alfredo Vieira Pinto de Vilas-Boas, conde Paçô Vieira,
Presidente da Direcção, junto à bancada do Real Velo Club do Porto (RCVP),
localizado nas traseiras do actual Museu Nacional de Soares dos Reis - Foto
pintada em original de José Zagalo Ilharco
O ciclista acima fotografado enverga o uniforme do RCVP:
casaco, calções e boné de flanela cinzenta e camisola às riscas.
O autor das fotos, José Zagalo Ilharco foi um dos sócios
fundadores e director do RVCP.
No jornal «O velocipedista», em 1895 escrevia-se:
«Real Velo Clube: Esta
agremiação, tenciona inaugurar o seu velódromo, na quinta do Paço real d/esta
cidade, que lhe foi concedida para esse fim por S. M. el-Rei, por ocasião das
festas do centenário do Infante D. Henrique. O distinto engenheiro snr. Esteves
Tomás, que é o segundo secretário do Club, já está levantando a respectiva
planta da Quinta para esse efeito.»
Não foi só no
ciclismo que o Real Velo Clube desenvolveu a sua actividade.
Assim, em 8 de
Dezembro de 1897, o Real Velo Clube levou a efeito um jogo de “foot-ball”,
desporto que começava a despontar, como nos narra o texto seguinte publicado na
revista “O Tripeiro”.
Em 15 de Março de
1898, o Real Velo Clube realizava no Palácio, com grande concorrência, uma
nova sessão de patinagem, modalidade desportiva que começava a despertar a
atenção, principalmente, dos meios elegantes do Porto.
No “chalet” da
gravura, onde esteve o “Café Chalet”, a partir de 1894, foi a sede do Real
Clube Velo de Ciclismo, antes de ser transferido para as traseiras do Palácio
dos Carrancas, para junto do velódromo Maria Amélia.
Em 15 de Janeiro de
1905, o "chalet" foi alvo de um grande incêndio e foi quase
totalmente destruído.
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