terça-feira, 29 de abril de 2025

25.274 Quando no lugar do Centro Comercial Dallas estava um palacete

 
Em 13 de Dezembro de 1834, com 24 anos de idade, chega ao Porto Johann Wilhelm Burmester para trabalhar na firma de Manuel Clamouse Browne, primeiro como caixeiro, depois como guarda-livros e, finalmente como gerente.
A firma de Clamouse Browne já tinha relações comerciais com a firma Burmester & Stavenhagen, de Hamburgo.
Johann Wilhelm Burmester, no seu percurso na firma, irá conseguir uma participação de 25%, mas após a morte de Manuel Clamouse Browne, vai adquirir junto dos herdeiros Manuel, Henrique e Ricardo Clamouse Browne Van Zeller a totalidade da firma, que passará a ser Clamouse Browne & Co.
Em 9 de Julho de 1850, Johann Wilhelm Burmester liquida-a e, no mesmo dia, funda a J. W. Burmester & Co, com sede na Rua das Taipas, n.ºs 11-15, cuja actividade se centrava na exportação de vinhos e na importação de madeiras, algodão, tabaco e outras matérias-primas.
Mais tarde, irá a firma dedicar-se ao negócio da navegação e à actividade bancária, como atesta o Almanak da Cidade do Porto para o Anno de 1850.
Entretanto, antes, a 27 de Novembro de 1847, Johann Wilhelm Burmester casa com Nanny Katzenstein, irmã de Eduard Katzenstein que, ficou conhecido por ter desempenhado as funções de cônsul da Alemanha até à sua morte em 1895. Por sinal, Eduard também chegou ao Porto em 1834, para trabalhar na firma Steinthal & Co.
As empresas de exportação das famílias Burmester e Katzenstein chegaram a ter a sua sede, no início do século XX (Anuário Comercial de Portugal de 1908 e 1909), na mesma morada, na Rua de Belomonte, n.º 39, conhecido como o Palacete do Pacheco Pereira.
Do casamento de Johann e Nanny, nasceriam nove filhos.


 
Descendência do casal Johann e Nanny Burmester – Cortesia de Cláudia Cudell, In revista “O Tripeiro”, 7ª Série, Ano XXIII, Outubro de 2004
 
 
 
Sobre o quadro anterior refira-se, por curiosidade, que Gustav Adolph Burmester é quem, em 1897, vai adquirir e renovar a quinta e respectiva casa da Rua do Campo Alegre (por isso, é conhecida por Palacete Burmester) que, mais tarde, passará até aos nossos dias, a ser propriedade da Universidade do Porto, que por lá instalou, a partir de 1973, a Faculdade de Letras.
Pois é, a este filho mais velho que Johann Wilhelm Burmester, vai dar sociedade, em 1875, ajudando também o seu filho Hermann Burmester, que foi cônsul da Holanda, a fundar a empresa de navegação, Hermann Burmester que, teve instalações na Rua do Infante, n.º 87.
Acabaria, também, por fazer seus sócios os filhos Franz Ferdinand e Julius  Wilhelm Burmester.
Em 2 de Fevereiro de 1885, durante um dos muitos passeios que costumava fazer pela beira-mar, Johann Wilhelm Burmester foi apanhado por uma onda e arrastado para alto mar. O seu corpo apareceria três dias depois numa praia de Espinho.
O filho mais novo do casal Johann e Nanny, Julius  Wilhelm Burmester, que casaria com sua prima Martha Amalie Ringhoffer, haveria de comprar a casa sita na Avenida da Boavista, n.º 1592, situada, então, na freguesia de Lordelo do Ouro e, cujo local, presentemente, é pertença de Ramalde.
Julius  Wilhelm Burmester foi um empresário de sucesso com o seu nome ligado à Fábrica de Curtumes de Valbom, Fábrica de Tecidos de Guimarães, Moagens Harmonia, Fábrica de Tecidos de Salgueiros, Companhia Arrozeira Mercantil e Companhia Cimento Tejo.
Foi, ainda, director da Associação Comercial do Porto.
 

 
Descendência do casal Julius Burmester e Martha Amalie – Cortesia de Cláudia Cudell, In revista “O Tripeiro”, 7ª Série, Ano XXIII, Outubro de 2004
 
 
 
 
Em 1916, com 51 anos, Julius Wilhelm Burmester, devido à I Guerra Mundial, junto com a sua família foi obrigado a abandonar o país, tendo-se refugiado em Vigo.
Todos os bens das famílias alemãs, então, foram confiscados e vendidos em hasta pública.
Após o fim da guerra, a maioria dos elementos da família Burmester regressou ao Porto e a casa da Avenida da Boavista foi readquirida, assim como, a empresa de vinhos e a agência de navegação.
A casa na Avenida da Boavista tinha sido, então, confiscada e arrematada por Ricardo Malheiro que, em 19 de Setembro de 1918, a vai vender a Acúrcio Coelho da Silva que, por sua vez, em 22 de Novembro de 1910 a vai vender aos filhos de Julius Wilhelm Burmester, Anna Helene Burmester, Edith Burmester e Gerard Burmester Junior, que a compraram em comum e partes iguais e, pouco depois, estendem a posse aos restantes irmãos.
Em 14 de Janeiro de 1939, morre na sua casa, na Avenida da Boavista, n.º 1592, chamada a Casa do Bessa, Julius Wilhelm Burmester.
Martha Amalie Ringhoffer, uma pintora autodidacta, sobreviveria ao seu esposo até 1968, quando faleceu com 98 anos de idade.
 
 
 
A Casa do Bessa
 
 
A denominada pela família Burmester como Casa do Bessa, sita na Avenida da Boavista, n.º 1592, foi edificada em meados do século XIX em terreno pertencente a Charles Neville Skeffington que, em 14 de Abril de 1901, deixa em testamento a sua mulher Ada Alice Skeffington (por sua vez falecida em 1910) a casa da Avenida da Boavista, bem como o prédio contíguo, na Rua Tenente Valadim, n.º 67, sendo que ambos tinham a mesma descrição predial.
 
 
 
Palacete da Avenida da Boavista, n.º 159, em 1900, antes das obras de 1901
 
 
 
O certo é que, em 3 de Setembro de 1901, já Julius Wilhelm Burmester, como requerente, solicita à Câmara do Porto licença para obras, para ampliação da sua casa, com mais dous appendices ou chalets (sic), que obteve a licença n.º 196/1901.
 
 
 
Desenho de projecto de ampliação da Casa do Bessa (alçado principal) da autoria de Joaquim Ferreira
 
 
 
Após as obras de ampliação, como se verifica nas ilustrações impressas, o prédio passou de uma mansarda a ter três mansardas, aspecto que se irá manter até à demolição em 1970.
O casal Skeffington tinha uma filha, nascida portuense, em 28 de Janeiro de 1875, mas que, em 1896, adquiriu a nacionalidade britânica, de seu nome Ethel Marion Urwick que, em 30 de Agosto de 1913, faz uma venda
a Julius Wilhelm Burmester, que o regista em seu nome, em 3 de Setembro de 1913.
Em 24 de Outubro de 1910, já tinha sido feito por Ethel Marion Urwick um pedido de anulamento de um registo de usufruto que beneficiava a sua mãe, entretanto, falecida, registando o prédio em questão a seu favor.
A propósito desta transacção, supõe-se que se tratou da venda da casa da Rua Tenente Valadim, que tinha a mesma descrição predial da casa da Avenida da Boavista, e que a viúva de Charles Neville Skeffington foi sua herdeira e usufrutuária até ao seu falecimento.
Na realidade, Julius Wilhelm Burmester já se dizia, em 1901, junto da edilidade portuense, como proprietário da casa da Avenida da Boavista, n.º 1592.
 
 
 
 
A Casa do Bessa, em 1950

 
 
Na década de 1980, a Casa do Bessa daria lugar ao centro Comercial Dallas que, por razões de segurança, foi encerrado, definitivamente, em 1999.

 
 
Centro Comercial Dallas

Sem comentários:

Enviar um comentário