Em 13 de Dezembro de 1834, com 24 anos de idade, chega ao
Porto Johann Wilhelm Burmester para trabalhar na firma de Manuel Clamouse
Browne, primeiro como caixeiro, depois como guarda-livros e, finalmente como
gerente.
A firma de Clamouse Browne já tinha relações comerciais com
a firma Burmester & Stavenhagen, de Hamburgo.
Johann Wilhelm Burmester, no seu percurso na firma, irá
conseguir uma participação de 25%, mas após a morte de Manuel Clamouse Browne,
vai adquirir junto dos herdeiros Manuel, Henrique e Ricardo Clamouse Browne Van
Zeller a totalidade da firma, que passará a ser Clamouse Browne & Co.
Em 9 de Julho de 1850, Johann Wilhelm Burmester liquida-a e,
no mesmo dia, funda a J. W. Burmester & Co, com sede na Rua das Taipas,
n.ºs 11-15, cuja actividade se centrava na exportação de vinhos e na importação
de madeiras, algodão, tabaco e outras matérias-primas.
Mais tarde, irá a firma dedicar-se ao negócio da navegação e
à actividade bancária, como atesta o Almanak
da Cidade do Porto para o Anno de 1850.
Entretanto, antes, a 27 de Novembro de 1847, Johann Wilhelm
Burmester casa com Nanny Katzenstein, irmã de Eduard Katzenstein que, ficou
conhecido por ter desempenhado as funções de cônsul da Alemanha até à sua morte
em 1895. Por sinal, Eduard também chegou ao Porto em 1834, para trabalhar na
firma Steinthal & Co.
As empresas de exportação das famílias Burmester e
Katzenstein chegaram a ter a sua sede, no início do século XX (Anuário
Comercial de Portugal de 1908 e 1909), na mesma morada, na Rua de Belomonte,
n.º 39, conhecido como o Palacete do Pacheco Pereira.
Do casamento de Johann e Nanny, nasceriam nove filhos.
Descendência do casal Johann e Nanny Burmester – Cortesia de
Cláudia Cudell, In revista “O Tripeiro”, 7ª Série, Ano XXIII, Outubro de 2004
Sobre o quadro anterior refira-se, por curiosidade, que
Gustav Adolph Burmester é quem, em 1897, vai adquirir e renovar a quinta e
respectiva casa da Rua do Campo Alegre (por isso, é conhecida por Palacete
Burmester) que, mais tarde, passará até aos nossos dias, a ser propriedade da
Universidade do Porto, que por lá instalou, a partir de 1973, a Faculdade de
Letras.
Pois é, a este filho mais velho que Johann Wilhelm Burmester,
vai dar sociedade, em 1875, ajudando também o seu filho Hermann Burmester, que
foi cônsul da Holanda, a fundar a empresa de navegação, Hermann Burmester que,
teve instalações na Rua do Infante, n.º 87.
Acabaria, também, por fazer seus sócios os filhos Franz
Ferdinand e Julius Wilhelm Burmester.
Em 2 de Fevereiro de 1885, durante um dos muitos passeios
que costumava fazer pela beira-mar, Johann Wilhelm Burmester foi apanhado por
uma onda e arrastado para alto mar. O seu corpo apareceria três dias depois
numa praia de Espinho.
O filho mais novo do casal Johann e Nanny, Julius Wilhelm Burmester, que casaria com sua prima
Martha Amalie Ringhoffer, haveria de comprar a casa sita na Avenida da
Boavista, n.º 1592, situada, então, na freguesia de Lordelo do Ouro e, cujo
local, presentemente, é pertença de Ramalde.
Julius Wilhelm
Burmester foi um empresário de sucesso com o seu nome ligado à Fábrica de Curtumes
de Valbom, Fábrica de Tecidos de Guimarães, Moagens Harmonia, Fábrica de
Tecidos de Salgueiros, Companhia Arrozeira Mercantil e Companhia Cimento Tejo.
Foi, ainda, director da Associação Comercial do Porto.
Descendência do casal Julius Burmester e Martha Amalie –
Cortesia de Cláudia Cudell, In revista “O Tripeiro”, 7ª Série, Ano XXIII,
Outubro de 2004
Em 1916, com 51 anos, Julius Wilhelm Burmester, devido à I
Guerra Mundial, junto com a sua família foi obrigado a abandonar o país,
tendo-se refugiado em Vigo.
Todos os bens das famílias alemãs, então, foram confiscados
e vendidos em hasta pública.
Após o fim da guerra, a maioria dos elementos da família
Burmester regressou ao Porto e a casa da Avenida da Boavista foi readquirida,
assim como, a empresa de vinhos e a agência de navegação.
A casa na Avenida da Boavista tinha sido, então, confiscada
e arrematada por Ricardo Malheiro que, em 19 de Setembro de 1918, a vai vender
a Acúrcio Coelho da Silva que, por sua vez, em 22 de Novembro de 1910 a vai
vender aos filhos de Julius Wilhelm Burmester, Anna Helene Burmester, Edith
Burmester e Gerard Burmester Junior, que a compraram em comum e partes iguais
e, pouco depois, estendem a posse aos restantes irmãos.
Em 14 de Janeiro de 1939, morre na sua casa, na Avenida da
Boavista, n.º 1592, chamada a Casa do Bessa, Julius Wilhelm Burmester.
Martha Amalie Ringhoffer, uma pintora autodidacta, sobreviveria
ao seu esposo até 1968, quando faleceu com 98 anos de idade.
A Casa do Bessa
A denominada pela família Burmester como Casa
do Bessa, sita na Avenida da Boavista, n.º 1592, foi
edificada em meados do século XIX em terreno pertencente a Charles Neville
Skeffington que, em 14 de Abril de 1901, deixa em testamento a sua mulher Ada
Alice Skeffington (por sua vez falecida em 1910) a casa da Avenida da Boavista,
bem como o prédio contíguo, na Rua Tenente Valadim, n.º 67, sendo que ambos
tinham a mesma descrição predial.
Palacete da Avenida da Boavista, n.º 159, em 1900, antes das
obras de 1901
O certo é que, em 3 de Setembro de 1901, já Julius Wilhelm
Burmester, como requerente, solicita à Câmara do Porto licença para obras, para
ampliação da sua casa, com mais dous appendices
ou chalets (sic), que obteve a licença n.º 196/1901.
Desenho de projecto de ampliação da Casa do Bessa (alçado
principal) da autoria de Joaquim Ferreira
Após as obras de ampliação, como se verifica nas ilustrações
impressas, o prédio passou de uma mansarda a ter três mansardas, aspecto que se
irá manter até à demolição em 1970.
O casal Skeffington tinha uma filha, nascida portuense, em
28 de Janeiro de 1875, mas que, em 1896, adquiriu a nacionalidade britânica, de
seu nome Ethel Marion Urwick que, em 30 de Agosto de 1913, faz uma venda
a Julius Wilhelm Burmester, que o regista em seu nome, em 3
de Setembro de 1913.
Em 24 de Outubro de 1910, já tinha sido feito por Ethel
Marion Urwick um pedido de anulamento de um registo de usufruto que beneficiava
a sua mãe, entretanto, falecida, registando o prédio em questão a seu favor.
A propósito desta transacção, supõe-se que se tratou da
venda da casa da Rua Tenente Valadim, que tinha a mesma descrição predial da
casa da Avenida da Boavista, e que a viúva de Charles Neville Skeffington foi
sua herdeira e usufrutuária até ao seu falecimento.
Na realidade, Julius Wilhelm Burmester já se dizia, em 1901,
junto da edilidade portuense, como proprietário da casa da Avenida da Boavista,
n.º 1592.
A Casa do Bessa, em 1950
Na década de 1980, a Casa do Bessa daria lugar ao centro
Comercial Dallas que, por razões de segurança, foi encerrado, definitivamente,
em 1999.
Centro Comercial Dallas
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