segunda-feira, 22 de maio de 2017

16. Bairros Sociais e Operários - Actualização em 26/02/2019 e 09/03/2020

A cidade do Porto ainda hoje é marcada pelo enorme conjunto de bairros sociais que nela se foram edificando ao longo do século XX, sendo ainda, hoje, quando o Porto perde população, uma das questões a resolver na cidade.
De facto, a questão da habitação e da irradicação das “ilhas” atravessou todo o século passado, sendo uma constante preocupação das administrações central e, sobretudo local, originando, pelo menos, cinco gerações de bairros sociais, por vezes de iniciativa privada (mas que passaram para a administração local), mas, também, de iniciativa da administração central e local, sendo de destacar:


1) Os bairros de iniciativa de O Comércio do Porto;
2) Os bairros da República (as Colónias) e o Bairro Ignez;
3) Os bairros de Casas Económicas e o Bloco de Duque Saldanha;
4) Os Bairros do Plano de Melhoramentos 1956-66 e a sua continuidade;
(Plano de Melhoramentos da cidade do Porto, surgido na sequência do Plano de Salubrização das Ilhas realizado pelo então Presidente da Câmara Machado Vaz e publicado no Decreto n.º 40616, estabeleceu que, num prazo de 10 anos, deveriam ser construídas 6000 habitações para realojar as famílias que viviam em ilhas e bairros insalubres, ficando a Câmara municipal do Porto habilitada a 'promover a demolição imediata das casas devolutas e impor a execução das obras de transformação radical necessárias' e 'as novas casas, reunidas em pequenos prédios (...), deverão ser distribuídas pela cidade)
5) Os bairros do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local – destinado após o 25 de Abril a apoiar iniciativas de associações de moradores;
6) Os bairros do final do século XX.



Será, na narrativa que se segue, referida uma diversidade enorme de várias tipologias de habitação social levantada no Porto ao longo das últimas décadas.
Fora os bairros a seguir apresentados, existem mais alguns, quer de gestão camarária, quer de iniciativa particular ou cooperativa.
No Porto, com o fenómeno das “ilhas”, o problema da habitação atinge proporções que estão na origem da traumatizante epidemia de peste bubónica de 1899, quando a cidade foi posta em quarentena, com grandes repercussões psicológicas e sociais, conduzindo à tomada de consciência pela administração central e local e da opinião pública, do perigo que a falta de higiene e de condições das ilhas poderiam provocar.





Brigada de desinfecção no Largo do Correio, junto à Rua das Carmelitas (1899) - Ed. Aurélio Paz dos Reis



Desinfecção nas casas de uma “ilha”, por queima de algumas habitações (1899) – Ed. Aurélio da Paz dos Reis



O Porto tem na segunda metade do século XIX um rápido crescimento demográfico, de facto, a: 


“(…) população da cidade e o número de trabalhadores industriais aumentaram consistentemente ao longo da segunda metade do século. De 86 761 habitantes em 1864, a população do Porto cresceu para 105 838 habitantes em 1878, 138 860 em 1890 e 167 955 em 1900, isto é, um aumento de 81 000 habitantes, quase duplicando a sua população num período de 36 anos. Entre 1878 e 1890, o período crucial de desenvolvimento do Porto, cerca de 25 000 dos 33 000 novos habitantes da cidade neste período eram imigrantes. Perto de um terço da população do Porto em 1890 consistia de pessoas de origem rural que tinham vindo trabalhar para a cidade. A incorporação de duas novas freguesias e a promoção de novas zonas residenciais e industriais haviam aumentado quatro vezes a área construída do Porto relativamente a 1865.”
Cortesia de Manuel C. Teixeira (Faculdade de Arquitectura da U. T. Lisboa)


As ilhas “(…) consistiam em filas de pequenas casas de um único piso, geralmente com áreas que não excediam os 16m2. A maior parte das «ilhas» não tinham abastecimento de água e os sanitários eram comuns a todos os seus habitantes. O acesso a estas «ilhas» fazia-se através de estreitos corredores, que passavam por baixo de casas construídas à face da rua. As «ilhas» não tinham qualquer relação formal com anteriores tipos de habitação, quer rural, quer urbana. Elas eram uma forma de habitação específica, desenvolvida para satisfazer a procura de habitação barata por parte das classes trabalhadoras. A maior parte das «ilhas» localizava-se em zonas da cidade construídas nas primeiras décadas do século como zonas residenciais das classes médias e que ao tempo de construção das «ilhas» se encontravam já num processo de decadência. As maiores concentrações de «ilhas» encontravam--se na proximidade de zonas industriais, onde por vezes atingiam densidades de até 900 habitantes por hectare. As casas construídas nas «ilhas» representavam 65,5% do volume total de construção no Porto entre 1864 e 1900 Em 1899 existiam 1048 «ilhas», com 11129 casas, alojando 50000 pessoas. Em 1909 o número de «ilhas» tinha aumentado para 1200, com 12000 fogos. Em 1929 o seu número tinha ainda aumentado para 1301 «ilhas», com 14 676 casas.
Cortesia de Manuel C. Teixeira (Faculdade de Arquitectura da U. T. Lisboa)




“Ilha”, em 1899 – Ed. Aurélio da Paz dos Reis




Uma típica "ilha"


Ilha do Papelão, em Ramalde, na Rua do Lugarinho – Ed. MAC



Sopa dos pobres, em 1913


Bairro do Nicolau, Fontainhas, 1941





Alguns conjuntos de barracas que estavam um pouco por toda a cidade, em determinados locais, ultrapassavam em condicções degradantes as existentes nas próprias ilhas. Era o caso do aglomerado abarracado do Monte do Seminário.



Barracas no Monte do Seminário, em 1947




Bairros Operários



O aumento da população, em grande parte chegada da província para ocupar lugares na indústria em franco desenvolvimento leva, portanto, ao aparecimento das chamadas ilhas e dos chamados bairros operários, situados em locais de maior densidade industrial.
Os bairros operários estendem-se assim, um pouco, por toda a cidade.
As ilhas, que durante anos fizeram a ocupação de espaços em quarteirões, são reformuladas.


“Como, por exemplo, o Bairro do Silva (R. do Bonjardim, com 42 casas), Parceria e Antunes (R. do Bom Sucesso, com 42 casas), Bairro Ignez, Bela Vista (R. de D. João IV, com 43 casas), Bairro Herculano (R. de Alexandre Herculano, com 129 casas), Bairro do Vilar (R. de Vilar, com 68 casas), Bairro da Fábrica Social da Fontinha (R. da Fábrica Social, R. do Alto da Fontinha e Bela da Fontinha, com 64 casas térreas com frente para a rua) e Bairro do Souto (R. de Pedro Hispano 15 casas térreas).”
Cortesia de Fátima Loureiro de Matos



Dessa época, é a ilha da Belavista, situada na Rua D. João IV, nº 832, propriedade da edilidade e que, depois de ter cerca de meia centena de habitações, presentemente, está a ser alvo de recuperação para alojar condignamente os seus últimos 13 habitantes, colocando-se ainda à disposição da população, mais de cerca de vinte casas dotadas de conforto e tipicamente inseridas no parque habitacional da zona.
De notar que as ilhas eram, exceptuando a da Belavista, de iniciativa privada.



Ilha da Belavista, antes da recuperação - Ed.  Arq. Cláudia Silva



O Bairro do Herculano, na Rua Alexandre Herculano, erigido no Monte da Fragoeira, bem como o Bairro do Cruzinho, na Rua do Campo Alegre, mesmo em frente à cervejaria Galiza, ou o Bairro do Vilar, bem perto da rua do mesmo nome e os bairros do Leal e da Fontinha, para as bandas do Bairro alto, são típicos bairros operários dos dois séculos passados e os mais emblemáticos.
Aquele Bairro do Herculano, escondido, entre a Rua de Alexandre Herculano e a Rua das Fontainhas, na freguesia da Sé, ficou concluído em 1886 e foi mandado construir pelo negociante Manoel Lopes Martins, na chamada Quinta da Fragoeira.
A Quinta da Fragoeira, onde nas duas últimas décadas do século XIX seriam traçadas as ruas Duque de Loulé e a Rua Nova das Batalha (actual Rua Alexandre Herculano), era limitada a oeste pelas muralhas da cidade, a sul pela encosta que dava para o rio, a norte pela rua de S. Lázaro e a poente pela quinta da Fraga.
Numa possibilidade de urbanização daquela área, as famílias dos Cirne Madureira, que era a proprietária daquele solo, e a dos Pinto Basto como foreira da propriedade, seriam ambas beneficiadas com um loteamento do espaço, pois os primeiros receberiam 10% do valor de todas as transacções aí efectuadas, e os segundos teriam a hipótese de obter, através do seu loteamento, um aumento de rendimento ao subemprazar mais lotes.
Finalmente, entre 1880 e 1886, são contraídos junto da banca dois empréstimos, para levantamento de um bairro operário, por Maria Augusta Pinto Basto Martins, que tinha sido herdeira da família Pinto Basto, e seu marido Manuel Lopes Martins conhecido na cidade por ser co-proprietário da Nova Companhia de Viação Portuense, à Rua de S. Lázaro.
O bairro era constituído por treze pequenos quarteirões, com as casas construídas costas com costas, separadas por sete ruas interiores, de configuração ortogonal.
 
 

Bairro Herculano (em destaque) na planta de Telles Ferreira em 1892
 
 
 
Situava-se numa área da Quinta da Fragoeira limitada por uma frente de casas na Rua das Fontainhas, uma outra na Rua de S. Lázaro, ainda outra na Rua Duque de Loulé e uma frente livre, na Rua Alexandre Herculano, destinada a habitações para uma certa burguesia.
Por razões de diversa ordem, ao que não será alheio os fracos proventos da classe operária, a quem se destinava as habitações, o empreendimento abriria falência.
Assim, em 1888, a Companhia Geral de Crédito Popular Português executou as hipotecas.
A partir de 1892, depois de resolvidas diversas complicações legais relativas à posse dos terrenos reclamada pela família Cirne Madureira que, desde há muito, tinha o domínio directo da Quinta da Fragoeira, as propriedades passaram, em definitivo, para o Crédito Predial Português e incluíam, para além dos lotes de terreno destinados à construção do bairro, mais 17 lotes confinantes com a Rua Alexandre Herculano e, ainda, um prédio na Rua de S. Lázaro propriedade da Nova Companhia de Viação Portuense.
O bairro, cuja fisionomia fugia à eleita para as denominadas ”ilhas”, chegou a ter a servi-lo, 3 mercearias e uma capela, de que só resta a parede do altar-mor.
Em 2014, ainda não estava ligado à rede de saneamento da cidade, embora, desde sempre tivesse abastecimento próprio de água.




O que resta da capela, há mais de 100 anos, desaparecida – Ed. Isabel Silva



Bairro do Herculano – Ed. MAC



Vestígio no muro de mina de água – Ed. Isabel Silva





A abertura de mina, da foto acima, agora tapada, provinha do manancial do Campo Grande e abasteceria uns tanques de serventia da população, mais abaixo situados. 



“O Bairro Herculano, entre o Jardim de S. Lázaro e as Fontainhas, é um recinto murado, fechado por uma grade de ferro, compreendendo duzentas ou trezentas casas, de rés-do-chão, ou de um andar, comodamente alinhadas, com um pequeno jardim comum, um mercado, lavadouros, enxugadoras, etc.”
Ramalho Ortigão, em “As Farpas”-1883



Por sua vez o Bairro do Cruzinho, situado no cruzamento das ruas do Campo Alegre e do Bom Sucesso, bem pode ser entendido como um exemplo da Cultura Operária, em contraponto com a Cultura Popular, mais ligada aos trabalhos do campo. Aglomerado populacional, criado especialmente para alojamento das pessoas que, da província, vinham para a cidade trabalhar na indústria, esta ilha foi uma referência da habitação operária dos séculos XIX e XX, nesta vasta zona industrializada.
A denominação veio-lhe, do facto, de se encontrar no caminho de uma antiga Via Sacra que passaria também pelo sítio do Gólgota mais adiante, onde outrora esteve a Igreja da Boa Viagem.
Antes da construção do bairro, existiria no local uma cruz, da qual ainda resta a sua base, que tinha gravado a data de 1756, já invisível.



Base da cruz que deu origem ao nome do bairro – Ed. Isabel Silva



Muito perto do bairro ainda se pode ver, um dos cruzeiros daquela via-sacra no Largo do Cruzinho, e que continua preservado.



Cruzeiro no Largo do Cruzinho - Ed. MAC



Bairro do Cruzinho praticamente devoluto



A construção do Bairro do Vilar foi mais uma iniciativa de modo a constituir uma alternativa às “Ilhas”, surgida na última década do século XIX. Uma iniciativa de um particular que decide investir nessa área de negócio, como é relatada na tese de doutoramento do arquitecto Manuel C. Teixeira, abaixo abordada.


“A construção do Bairro do Vilar não resultou da adaptação do quintal de uma casa já edificada, tendo sido, pelo contrário, construído de raiz, no pomar da antiga Quinta do Vilar, propriedade de Pacheco Pereira. No entanto, o seu promotor seguiu o padrão dominante existente naquela época na cidade do Porto, no que respeitava à construção de habitações económicas para as classes trabalhadoras, conferindo-lhe todas as características tipológicas que caracterizavam as ilhas, ainda que neste caso oferecesse uma maior diversidade de habitações a alugar. O promotor do Bairro do Vilar era uma figura destacada da aristocracia portuense, herdeiro de uma avultada fortuna constituída principalmente por inúmeros bens de raiz, mas que não só não a conseguiu conservar como a desbaratou ao longo da vida, em grande parte devido ao facto de se ter envolvido em negócios inteiramente ruinosos, dos quais resultavam dívidas avultadas, que só conseguia anular à custa da venda sistemática do património da família. A construção de habitações para as classes trabalhadoras da cidade, e os proventos que poderia recolher com o aluguer das mesmas, pareceu-lhe um negócio bastante lucrativo, através do qual esperava não só recuperar o investimento realizado como liquidar as dívidas que o perseguiam e melhorar a sua situação financeira. A primeira iniciativa de João Gonçalo Pacheco Pereira no domínio da construção de habitações económicas ocorreu entre 1883 e 1888 com a construção de uma ilha de dezanove casas numa pequena parcela da sua Quinta do Vilar. O êxito obtido animou-o a lançar-se num empreendimento mais vasto, susceptível de contribuir para a inversão dos desastrosos negócios a que se tinha dedicado anteriormente. Assim, em Maio de 1886, requereu à Câmara autorização para efectuar várias obras na Quinta do Vilar, entre as quais a construção de um edifício de dois pisos, o qual viria a constituir a habitação sob a qual se efectuaria a entrada para o Bairro do Vilar, servindo igualmente de fachada e escondendo-o da rua, tal como sucedia com a generalidade das ilhas. O projecto de Pacheco Pereira beneficiava de uma circunstância fortuita, o facto da zona onde se encontrava a sua Quinta do Vilar estar bem localizada, face a um conjunto de fábricas e núcleos industriais que aí se foram implantando ao longo do século XIX. De facto, nas redondezas daquela Quinta localizava-se um dos pólos da industrialização portuense, com inúmeras fábricas têxteis - nomeadamente na Rua da Torrinha -, de destilação de aguardente e de cerveja, como a de Agostinho Moreira dos Santos e John Henry Jansen - uma das antecessoras da CUFP, na Rua da Piedade - e ainda a importante aglomeração fabril de Massarelos, a uma distância relativamente curta. Era previsível que naquela zona da cidade, consideravelmente industrializada - embora a grande Fábrica de Fiação e Tecidos do Jacinto, da Rua da Piedade, só viesse a implantar-se aí em 1895 - se exercesse uma forte procura de habitação por parte dos operários que trabalhavam naquelas fábricas. 
O Bairro do Vilar "compunha-se de quatro bandas de casas, construídas ao longo dos seus cento e vinte metros de comprimento. No centro do Bairro, as filas de casas eram interrompidas por um espaço comum, onde foi construído um conjunto de doze latrinas e dois tanques para lavagem de roupa. As ruas internas, com quatro metros de largura, eram muito mais amplas que os corredores de acesso da maioria das ilhas. Além disso, o espaço comum situado ao centro do Bairro, apesar da sua simplicidade e estrita funcionalidade, constituía, com os seus cento e setenta metros quadrados de área livre, uma amenidade que poucas ilhas podiam oferecer. As casas eram também mais espaçosas que as das outras ilhas."
Embora não sejam hoje em dia conhecidas as taxas de ocupação do Bairro, nem os montantes das rendas então praticadas, tudo indica que Pacheco Pereira terá tido dificuldade em alugar as casas do Bairro ou, pelo menos, os rendimentos que estas proporcionavam ficavam aquém dos montantes que esperava realizar, situação que veio agravar inexoravelmente a sua já tão precária situação financeira. O recurso a sucessivos empréstimos e a alienação do património familiar foi a única resposta que conseguiu encontrar, mas em 1899, ainda não tinha decorrido uma década após a conclusão do Bairro, já Pacheco Pereira contraía uma nova dívida. Finalmente, nesse mesmo ano viu-se obrigado a vender o Bairro do Vilar, numa tentativa infrutífera de tentar fazer face aos pesados encargos financeiros que o assoberbavam.
A partir de então, o Bairro do Vilar conheceu diversos proprietários - que introduziram várias modificações nas casas que o compunham, nomeadamente a sua subdivisão interna a fim de aumentar a taxa de ocupação e a correspondente rentabilidade - até que já após o 25 de Abril de 1974, do antigo Bairro do Vilar, entretanto demolido, nasceu o novo Bairro do Vilar, apenas conservando a denominação de uma das mais marcantes iniciativas de construção de habitação económica na cidade do Porto”.
Fonte: José Manuel Lopes Cordeiro, In Jornal “Público” 09/07/2000



Ilha do Vilar na Rua do Vilar



Já a partir da 2ª metade do século XIX, alguma indústria, tentou resolver parte dos problemas de habitação dos seus operários.
A indústria têxtil é aquela que mais se destacou na promoção de iniciativas do âmbito da habitação social.
São então construídos bairros ligados à Companhia Industrial de Salgueiros ou à Fábrica de Fiação e Tecidos do Jacinto, que constrói o Bairro da Torrinha em 1848.
Mais tarde, destaca-se a empresa “Azevedo, Sousa & Cia”, que constrói 42 casas, junto à sua fábrica na Areosa.


“As acções da iniciativa privada, no campo da habitação social, são muito pontuais, destacando-se algumas nos últimos anos do séc. XIX e princípios do séc. XX, particularmente a construção de alguns bairros fabris, cujos alojamentos beneficiavam de rendas bastantes baixas. No Porto, destacam-se algumas iniciativas por parte dos industriais têxteis, os já referidos bairros ligados à Cia Industrial de Salgueiros, à Fábrica Social da Fontinha, que constrói o bairro com o mesmo nome em 1852 e à Fábrica de Fiação e Tecidos do Jacinto, que constrói o Bairro da Torrinha em 1848”.
Cortesia de Fátima Loureiro de Matos




Assim, na zona da cidade chamada do Bairro Alto (Rua do Bonjardim próximo do actual Largo do Dr. Tito Fontes), foi construído um outro Bairro Operário, o Bairro do Leal, que servia essa zona industrial e de que, era o seu máximo expoente, a Fábrica de Chapelaria, depois Fábrica Social, e por onde se sedeavam as associações de trabalhadores que começavam a despontar.



Entrada para o Bairro do Leal – Fonte: Google maps



Depois de algumas poucas intervenções neste bairro, a ruína hoje é praticamente total.
Um outro bairro nascido à sombra da Fábrica Social, que começou por ser de chapelaria e depois passou a têxtil, é o ainda existente Bairro da Fontinha, dos trabalhadores daquela unidade industrial.




Bairro da Fontinha de Apoio à Fábrica Social




Os Bairros de O Comércio do Porto


“No Porto, onde em 1904 se iniciam os primeiros trabalhos de abastecimento de água e de saneamento, assistiu-se em 1905 à publicação de um código de posturas municipais determinando a necessidade de aprovação pelo “Conselho de Melhoramentos Sanitários” na obtenção de uma licença de construção ou reconstrução de imóveis.
Já em 1899 e tendo em conta a epidemia da peste, o jornal  «O Comércio do Porto» tinha promovido uma subscrição pública, entre os emigrantes portugueses no Brasil, para construir uma série de bairros para as classes trabalhadoras denominados Colónias Operárias, em terrenos cedidos pela Câmara Municipal.
Caeiro da Matta escreve num seu estudo:
«Entre nós, ha no Porto, devida à benemé­rita iniciativa do jornal O Commercio do Porto, uma organização de bairros operários digna de menção.»
E refere os três bairros então construídos que, no entanto o próprio Caeiro da Matta, limita o alcance da iniciativa citando o mesmo jornal:
«Os bairros não foram feitos para abrigar operários indigentes; foram construídos para recolher os mais habéis, mais assíduos e mais morigerados operários, antes como prémio aos seus méritos do que como auxílio às suas con­dições de existência. O rendimento dos bairros é fundido nos próprios bairros, pela ampliação constante do número de habitações que os constituem». (O Comércio do Porto, de 13 de Dezembro de 1903. V. o mesmo jornal de 24 de março de 1901 e 2 de março de 1902)”
Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”




O Bairro de Monte Pedral 1899/1905 e Bairro de Lordelo do Ouro 1903


“O primeiro bairro levantado foi o de Monte Pedral, construído por grupos de 4 e 2 casas independentes, com quintal e dispondo de um rez-do-chão com sala de trabalho, quarto e cosinha com saída para o quintal, tendo junto a retrete com entrada exterior; no primeiro andar, dois outros quartos e arrecadação no vão do telhado; no sub-solo, quarto de banho. A renda das casas é de 1$500 réis mensaes. O custo do bairro foi de 13:945$160 réis.”
De facto, em 1901, o arquitecto José Marques da Silva, como técnico da autarquia, é encarregado de projectar na zona do Monte Pedral, no cruzamento das ruas da Constituição e de Serpa Pinto, e entre o Quartel e o Matadouro, um bairro constituído por 14 casas geminadas ou agrupadas a quatro, de dois pisos e com um pequeno jardim, com uma renda mensal de 1$500 réis.
A primeira pedra do empreendimento tinha sido lançada numa cerimónia que contou com a presença de D. António Barroso, o bispo do  Porto, no dia 12 de Novembro de 1899.
Em 1906, o bairro passou a ter mais 12 habitações (mesma tipologia das existentes), cuja construção, teve a superintendência da Câmara Municipal do Porto e projecto do arquitecto Tomás Pereira Lopes.



Bairro do Monte Pedral em 1905


Bairro do Monte Pedral na actualidade



Também promovido pelo jornal O Comércio do Porto, projectado em 1901/02 pelo engenheiro Manoel Fortunato de Oliveira Motta, é construído em 1903 o Bairro Operário de Lordelo do Ouro, na freguesia do mesmo nome, na Rua da Granja de Lordelo. É composto por 29 casas térreas (correspondentes a uma população de 152 habitantes), com uma área total de 23 metros quadrados, dispostas em banda. As casas são equipadas com poço, tanque e forno e jardim nas traseiras.
Em 1932 passou a ser administrado pela Câmara Municipal do Porto.



Entrada do bairro pela Rua das Condominhas - Ed. Alberto Ferreira



À direita da foto ao cimo da escadaria, o Bairro Operário de Lordelo


Bairro Operário de Lordelo e vista de logradouros das casas em 1947


Antiga piscina do Clube Fluvial Portuense



Na foto acima a piscina ficava imediatamente antes da foz da ribeira da Granja, podendo ainda observar-se, na mesma, o Bairro Operário de Lordelo do Ouro lá no alto.



(Continua)

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