A cidade do Porto ainda hoje é marcada pelo enorme conjunto
de bairros sociais que nela se foram edificando ao longo do século XX, sendo
ainda, hoje, quando o Porto perde população, uma das questões a resolver na
cidade.
De facto, a questão da habitação e da irradicação das “ilhas”
atravessou todo o século passado, sendo uma constante preocupação das
administrações central e, sobretudo local, originando, pelo menos, cinco
gerações de bairros sociais, por vezes de iniciativa privada (mas que passaram
para a administração local), mas, também, de iniciativa da administração
central e local, sendo de destacar:
1) Os bairros de iniciativa de O Comércio do Porto;
2) Os bairros da República (as Colónias) e o Bairro Ignez;
3) Os bairros de Casas Económicas e o Bloco de Duque
Saldanha;
4) Os Bairros do Plano de Melhoramentos 1956-66 e a sua
continuidade;
(Plano de Melhoramentos da cidade do Porto, surgido na
sequência do Plano de Salubrização das Ilhas realizado pelo então Presidente da
Câmara Machado Vaz e publicado no Decreto n.º 40616, estabeleceu que, num prazo
de 10 anos, deveriam ser construídas 6000 habitações para realojar as famílias
que viviam em ilhas e bairros insalubres, ficando a Câmara municipal do Porto
habilitada a 'promover a demolição imediata das casas devolutas e impor a
execução das obras de transformação radical necessárias' e 'as novas casas,
reunidas em pequenos prédios (...), deverão ser distribuídas pela cidade)
5) Os bairros do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local –
destinado após o 25 de Abril a apoiar iniciativas de associações de moradores;
6) Os bairros do final do século XX.
Será, na narrativa
que se segue, referida uma diversidade enorme de várias tipologias de habitação
social levantada no Porto ao longo das últimas décadas.
Fora os bairros a
seguir apresentados, existem mais alguns, quer de gestão camarária, quer de
iniciativa particular ou cooperativa.
No Porto, com o fenómeno das “ilhas”, o problema da
habitação atinge proporções que estão na origem da traumatizante epidemia de
peste bubónica de 1899, quando a cidade foi posta em quarentena, com grandes
repercussões psicológicas e sociais, conduzindo à tomada de consciência pela
administração central e local e da opinião pública, do perigo que a falta de
higiene e de condições das ilhas poderiam provocar.
O Porto tem na segunda metade do século XIX um rápido crescimento demográfico, de facto, a:
Brigada de desinfecção no Largo do Correio, junto à Rua das Carmelitas
(1899) - Ed. Aurélio Paz dos Reis
Desinfecção nas casas de uma “ilha”,
por queima de algumas habitações (1899) – Ed. Aurélio da Paz dos Reis
O Porto tem na segunda metade do século XIX um rápido crescimento demográfico, de facto, a:
“(…) população da cidade e o número de trabalhadores
industriais aumentaram consistentemente ao longo da segunda metade do século.
De 86 761 habitantes em 1864, a população do Porto cresceu para 105 838
habitantes em 1878, 138 860 em 1890 e 167 955 em 1900, isto é, um aumento de 81
000 habitantes, quase duplicando a sua população num período de 36 anos. Entre
1878 e 1890, o período crucial de desenvolvimento do Porto, cerca de 25 000 dos
33 000 novos habitantes da cidade neste período eram imigrantes. Perto de um
terço da população do Porto em 1890 consistia de pessoas de origem rural que
tinham vindo trabalhar para a cidade. A incorporação de duas novas freguesias e
a promoção de novas zonas residenciais e industriais haviam aumentado quatro
vezes a área construída do Porto relativamente a 1865.”
Cortesia de
Manuel C. Teixeira (Faculdade de Arquitectura da U. T. Lisboa)
As ilhas “(…) consistiam em filas de pequenas casas de um
único piso, geralmente com áreas que não excediam os 16m2. A maior parte das
«ilhas» não tinham abastecimento de água e os sanitários eram comuns a todos os
seus habitantes. O acesso a estas «ilhas» fazia-se através de estreitos
corredores, que passavam por baixo de casas construídas à face da rua. As
«ilhas» não tinham qualquer relação formal com anteriores tipos de habitação,
quer rural, quer urbana. Elas eram uma forma de habitação específica,
desenvolvida para satisfazer a procura de habitação barata por parte das
classes trabalhadoras. A maior parte das «ilhas» localizava-se em zonas da
cidade construídas nas primeiras décadas do século como zonas residenciais das
classes médias e que ao tempo de construção das «ilhas» se encontravam já num
processo de decadência. As maiores concentrações de «ilhas» encontravam--se na
proximidade de zonas industriais, onde por vezes atingiam densidades de até 900
habitantes por hectare. As casas construídas nas «ilhas» representavam 65,5% do
volume total de construção no Porto entre 1864 e 1900 Em 1899 existiam 1048
«ilhas», com 11129 casas, alojando 50000 pessoas. Em 1909 o número de «ilhas»
tinha aumentado para 1200, com 12000 fogos. Em 1929 o seu número tinha ainda
aumentado para 1301 «ilhas», com 14 676 casas.
Cortesia de Manuel C. Teixeira (Faculdade de Arquitectura da U. T. Lisboa)
Cortesia de Manuel C. Teixeira (Faculdade de Arquitectura da U. T. Lisboa)
“Ilha”, em 1899 – Ed. Aurélio da Paz
dos Reis
Uma típica "ilha"
Ilha do Papelão, em Ramalde, na Rua do Lugarinho – Ed. MAC
Sopa dos pobres, em 1913
Alguns conjuntos de barracas que estavam um pouco por toda a
cidade, em determinados locais, ultrapassavam em condicções degradantes as
existentes nas próprias ilhas. Era o caso do aglomerado abarracado do Monte do
Seminário.
Barracas no Monte do Seminário, em 1947
Bairros Operários
O aumento da
população, em grande parte chegada da província para ocupar lugares na indústria
em franco desenvolvimento leva, portanto, ao aparecimento das chamadas ilhas e
dos chamados bairros operários, situados em locais de maior densidade
industrial.
Os bairros operários
estendem-se assim, um pouco, por toda a cidade.
As ilhas, que
durante anos fizeram a ocupação de espaços em quarteirões, são reformuladas.
“Como, por exemplo, o Bairro do Silva (R. do
Bonjardim, com 42 casas), Parceria e Antunes (R. do Bom Sucesso, com 42 casas),
Bairro Ignez, Bela Vista (R. de D. João IV, com 43 casas), Bairro Herculano (R.
de Alexandre Herculano, com 129 casas), Bairro do Vilar (R. de Vilar, com 68
casas), Bairro da Fábrica Social da Fontinha (R. da Fábrica Social, R. do Alto
da Fontinha e Bela da Fontinha, com 64 casas térreas com frente para a rua) e
Bairro do Souto (R. de Pedro Hispano 15 casas térreas).”
Cortesia de Fátima
Loureiro de Matos
Dessa época, é a ilha da Belavista, situada na Rua D. João
IV, nº 832, propriedade da edilidade e que, depois de ter cerca de meia centena
de habitações, presentemente, está a ser alvo de recuperação para alojar
condignamente os seus últimos 13 habitantes, colocando-se ainda à disposição da
população, mais de cerca de vinte casas dotadas de conforto e tipicamente
inseridas no parque habitacional da zona.
De notar que as ilhas eram, exceptuando a da Belavista, de
iniciativa privada.
Ilha da Belavista, antes da recuperação - Ed. Arq.
Cláudia Silva
O Bairro do Herculano, na Rua Alexandre Herculano, erigido
no Monte
da Fragoeira, bem como o Bairro do Cruzinho, na Rua do Campo Alegre,
mesmo em frente à cervejaria Galiza, ou o Bairro do Vilar, bem perto da rua do
mesmo nome e os bairros do Leal e da Fontinha, para as bandas do Bairro alto, são
típicos bairros operários dos dois séculos passados e os mais emblemáticos.
Aquele Bairro do
Herculano, escondido, entre a Rua de Alexandre Herculano e a Rua das
Fontainhas, na freguesia da Sé, ficou concluído em 1886 e foi mandado construir
pelo negociante Manoel Lopes Martins, na chamada Quinta da Fragoeira.
A Quinta da Fragoeira, onde nas duas últimas décadas do século
XIX seriam traçadas as ruas Duque de Loulé e a Rua Nova das Batalha (actual Rua
Alexandre Herculano), era limitada a oeste pelas muralhas da cidade, a sul pela
encosta que dava para o rio, a norte pela rua de S. Lázaro e a poente pela
quinta da Fraga.
Numa possibilidade de urbanização daquela área, as famílias
dos Cirne Madureira, que era a proprietária daquele solo, e a dos Pinto Basto
como foreira da propriedade, seriam ambas beneficiadas com um loteamento do
espaço, pois os primeiros receberiam 10% do valor de todas as transacções aí
efectuadas, e os segundos teriam a hipótese de obter, através do seu
loteamento, um aumento de rendimento ao subemprazar mais lotes.
Finalmente, entre 1880 e 1886, são contraídos junto da banca
dois empréstimos, para levantamento de um bairro operário, por Maria Augusta
Pinto Basto Martins, que tinha sido herdeira da família Pinto Basto, e seu
marido Manuel Lopes Martins conhecido na cidade por ser co-proprietário da Nova
Companhia de Viação Portuense, à Rua de S. Lázaro.
O bairro era constituído por treze pequenos quarteirões, com
as casas construídas costas com costas, separadas por sete ruas interiores, de
configuração ortogonal.
Situava-se numa área da Quinta da Fragoeira limitada por uma
frente de casas na Rua das Fontainhas, uma outra na Rua de S. Lázaro, ainda
outra na Rua Duque de Loulé e uma frente livre, na Rua Alexandre Herculano,
destinada a habitações para uma certa burguesia.
Por razões de diversa ordem, ao que não será alheio os
fracos proventos da classe operária, a quem se destinava as habitações, o
empreendimento abriria falência.
Assim, em 1888, a Companhia Geral de Crédito Popular
Português executou as hipotecas.
A partir de 1892, depois de resolvidas diversas complicações
legais relativas à posse dos terrenos reclamada pela família Cirne Madureira
que, desde há muito, tinha o domínio directo da Quinta da Fragoeira, as propriedades
passaram, em definitivo, para o Crédito Predial Português e incluíam, para além
dos lotes de terreno destinados à construção do bairro, mais 17 lotes
confinantes com a Rua Alexandre Herculano e, ainda, um prédio na Rua de S.
Lázaro propriedade da Nova Companhia de Viação Portuense.
O bairro, cuja fisionomia fugia à eleita para as denominadas
”ilhas”, chegou a ter a servi-lo, 3 mercearias e uma capela, de que só resta a
parede do altar-mor.
Em 2014, ainda não estava ligado à rede de saneamento da
cidade, embora, desde sempre tivesse abastecimento próprio de água.
O que resta da capela, há mais de 100 anos, desaparecida –
Ed. Isabel Silva
Bairro do Herculano – Ed. MAC
Vestígio no muro de mina de água – Ed. Isabel Silva
A abertura de mina,
da foto acima, agora tapada, provinha do manancial do Campo Grande e
abasteceria uns tanques de serventia da população, mais abaixo situados.
“O Bairro
Herculano, entre o Jardim de S. Lázaro e as Fontainhas, é um recinto murado,
fechado por uma grade de ferro, compreendendo duzentas ou trezentas casas, de
rés-do-chão, ou de um andar, comodamente alinhadas, com um pequeno jardim
comum, um mercado, lavadouros, enxugadoras, etc.”
Ramalho Ortigão, em “As Farpas”-1883
Por sua vez o Bairro
do Cruzinho, situado no cruzamento das ruas do Campo Alegre e do Bom
Sucesso, bem pode ser entendido como um exemplo da Cultura Operária, em
contraponto com a Cultura Popular, mais ligada aos trabalhos do campo.
Aglomerado populacional, criado especialmente para alojamento das pessoas que,
da província, vinham para a cidade trabalhar na indústria, esta ilha foi uma
referência da habitação operária dos séculos XIX e XX, nesta vasta zona
industrializada.
A denominação veio-lhe, do facto, de se encontrar no caminho
de uma antiga Via Sacra que passaria também pelo sítio do Gólgota mais adiante,
onde outrora esteve a Igreja da Boa Viagem.
Antes da construção
do bairro, existiria no local uma cruz, da qual ainda resta a sua base, que
tinha gravado a data de 1756, já invisível.
Base da cruz que deu origem ao nome do bairro – Ed. Isabel
Silva
Muito perto do bairro ainda se pode ver, um dos cruzeiros
daquela via-sacra no Largo do Cruzinho, e que continua preservado.
Cruzeiro no Largo do Cruzinho - Ed. MAC
Bairro do Cruzinho praticamente devoluto
A construção do Bairro
do Vilar foi mais uma iniciativa de modo a constituir uma alternativa às
“Ilhas”, surgida na última década do século XIX. Uma iniciativa de um
particular que decide investir nessa área de negócio, como é relatada na tese
de doutoramento do arquitecto Manuel C. Teixeira, abaixo abordada.
“A construção do
Bairro do Vilar não resultou da adaptação do quintal de uma casa já edificada,
tendo sido, pelo contrário, construído de raiz, no pomar da antiga Quinta do
Vilar, propriedade de Pacheco Pereira. No entanto, o seu promotor seguiu o
padrão dominante existente naquela época na cidade do Porto, no que respeitava
à construção de habitações económicas para as classes trabalhadoras,
conferindo-lhe todas as características tipológicas que caracterizavam as
ilhas, ainda que neste caso oferecesse uma maior diversidade de habitações a
alugar. O promotor do Bairro do Vilar era uma figura destacada da aristocracia
portuense, herdeiro de uma avultada fortuna constituída principalmente por
inúmeros bens de raiz, mas que não só não a conseguiu conservar como a
desbaratou ao longo da vida, em grande parte devido ao facto de se ter
envolvido em negócios inteiramente ruinosos, dos quais resultavam dívidas
avultadas, que só conseguia anular à custa da venda sistemática do património
da família. A construção de habitações para as classes trabalhadoras da cidade,
e os proventos que poderia recolher com o aluguer das mesmas, pareceu-lhe um
negócio bastante lucrativo, através do qual esperava não só recuperar o
investimento realizado como liquidar as dívidas que o perseguiam e melhorar a
sua situação financeira. A primeira iniciativa de João Gonçalo Pacheco Pereira
no domínio da construção de habitações económicas ocorreu entre 1883 e 1888 com
a construção de uma ilha de dezanove casas numa pequena parcela da sua Quinta
do Vilar. O êxito obtido animou-o a lançar-se num empreendimento mais vasto,
susceptível de contribuir para a inversão dos desastrosos negócios a que se
tinha dedicado anteriormente. Assim, em Maio de 1886, requereu à Câmara
autorização para efectuar várias obras na Quinta do Vilar, entre as quais a
construção de um edifício de dois pisos, o qual viria a constituir a habitação
sob a qual se efectuaria a entrada para o Bairro do Vilar, servindo igualmente
de fachada e escondendo-o da rua, tal como sucedia com a generalidade das
ilhas. O projecto de Pacheco Pereira beneficiava de uma circunstância fortuita,
o facto da zona onde se encontrava a sua Quinta do Vilar estar bem localizada,
face a um conjunto de fábricas e núcleos industriais que aí se foram implantando
ao longo do século XIX. De facto, nas redondezas daquela Quinta localizava-se
um dos pólos da industrialização portuense, com inúmeras fábricas têxteis -
nomeadamente na Rua da Torrinha -, de destilação de aguardente e de cerveja,
como a de Agostinho Moreira dos Santos e John Henry Jansen - uma das
antecessoras da CUFP, na Rua da Piedade - e ainda a importante aglomeração
fabril de Massarelos, a uma distância relativamente curta. Era previsível que
naquela zona da cidade, consideravelmente industrializada - embora a grande
Fábrica de Fiação e Tecidos do Jacinto, da Rua da Piedade, só viesse a
implantar-se aí em 1895 - se exercesse uma forte procura de habitação por parte
dos operários que trabalhavam naquelas fábricas.
O Bairro do Vilar
"compunha-se de quatro bandas de casas, construídas ao longo dos seus
cento e vinte metros de comprimento. No centro do Bairro, as filas de casas
eram interrompidas por um espaço comum, onde foi construído um conjunto de doze
latrinas e dois tanques para lavagem de roupa. As ruas internas, com quatro
metros de largura, eram muito mais amplas que os corredores de acesso da
maioria das ilhas. Além disso, o espaço comum situado ao centro do Bairro,
apesar da sua simplicidade e estrita funcionalidade, constituía, com os seus
cento e setenta metros quadrados de área livre, uma amenidade que poucas ilhas
podiam oferecer. As casas eram também mais espaçosas que as das outras
ilhas."
Embora não sejam hoje
em dia conhecidas as taxas de ocupação do Bairro, nem os montantes das rendas
então praticadas, tudo indica que Pacheco Pereira terá tido dificuldade em
alugar as casas do Bairro ou, pelo menos, os rendimentos que estas
proporcionavam ficavam aquém dos montantes que esperava realizar, situação que
veio agravar inexoravelmente a sua já tão precária situação financeira. O
recurso a sucessivos empréstimos e a alienação do património familiar foi a
única resposta que conseguiu encontrar, mas em 1899, ainda não tinha decorrido
uma década após a conclusão do Bairro, já Pacheco Pereira contraía uma nova
dívida. Finalmente, nesse mesmo ano viu-se obrigado a vender o Bairro do Vilar,
numa tentativa infrutífera de tentar fazer face aos pesados encargos
financeiros que o assoberbavam.
A partir de então, o
Bairro do Vilar conheceu diversos proprietários - que introduziram várias
modificações nas casas que o compunham, nomeadamente a sua subdivisão interna a
fim de aumentar a taxa de ocupação e a correspondente rentabilidade - até que
já após o 25 de Abril de 1974, do antigo Bairro do Vilar, entretanto demolido,
nasceu o novo Bairro do Vilar, apenas conservando a denominação de uma das mais
marcantes iniciativas de construção de habitação económica na cidade do Porto”.
Já a partir da 2ª
metade do século XIX, alguma indústria, tentou resolver parte dos problemas de
habitação dos seus operários.
A indústria têxtil é
aquela que mais se destacou na promoção de iniciativas do âmbito da habitação social.
São então
construídos bairros ligados à Companhia Industrial de Salgueiros ou à Fábrica
de Fiação e Tecidos do Jacinto, que constrói o Bairro da Torrinha em 1848.
Mais tarde,
destaca-se a empresa “Azevedo, Sousa & Cia”, que constrói 42 casas, junto à
sua fábrica na Areosa.
“As acções da iniciativa privada, no campo da
habitação social, são muito pontuais, destacando-se algumas nos últimos anos do
séc. XIX e princípios do séc. XX, particularmente a construção de alguns
bairros fabris, cujos alojamentos beneficiavam de rendas bastantes baixas. No
Porto, destacam-se algumas iniciativas por parte dos industriais têxteis, os já
referidos bairros ligados à Cia Industrial de Salgueiros, à Fábrica Social da
Fontinha, que constrói o bairro com o mesmo nome em 1852 e à Fábrica de Fiação
e Tecidos do Jacinto, que constrói o Bairro da Torrinha em 1848”.
Cortesia de Fátima
Loureiro de Matos
Assim, na zona da
cidade chamada do Bairro Alto (Rua do Bonjardim próximo do actual Largo do Dr.
Tito Fontes), foi construído um outro Bairro Operário, o Bairro do Leal,
que servia essa zona industrial e de que, era o seu máximo expoente, a Fábrica
de Chapelaria, depois Fábrica Social, e por onde se sedeavam as associações de
trabalhadores que começavam a despontar.
Entrada para o Bairro do Leal – Fonte: Google maps
Depois de algumas poucas intervenções neste bairro, a ruína
hoje é praticamente total.
Um outro bairro nascido à sombra da Fábrica Social, que começou por ser de chapelaria e depois passou a têxtil, é o ainda existente Bairro da Fontinha, dos trabalhadores daquela unidade industrial.
Um outro bairro nascido à sombra da Fábrica Social, que começou por ser de chapelaria e depois passou a têxtil, é o ainda existente Bairro da Fontinha, dos trabalhadores daquela unidade industrial.
Bairro da Fontinha de Apoio à Fábrica Social
Os Bairros de O Comércio do Porto
“No Porto, onde em 1904 se iniciam os primeiros trabalhos de abastecimento de água e de saneamento, assistiu-se em 1905 à publicação de um código de posturas municipais determinando a necessidade de aprovação pelo “Conselho de Melhoramentos Sanitários” na obtenção de uma licença de construção ou reconstrução de imóveis.
Já em 1899 e tendo em
conta a epidemia da peste, o jornal «O Comércio do Porto» tinha promovido uma subscrição pública,
entre os emigrantes portugueses no Brasil, para construir uma série de bairros
para as classes trabalhadoras denominados Colónias Operárias, em terrenos
cedidos pela Câmara Municipal.
Caeiro da Matta
escreve num seu estudo:
«Entre nós, ha no Porto, devida à benemérita iniciativa
do jornal O Commercio do Porto, uma organização de bairros operários digna de
menção.»
E refere os três
bairros então construídos que, no entanto o próprio Caeiro da Matta, limita o
alcance da iniciativa citando o mesmo jornal:
«Os bairros não foram feitos para abrigar operários
indigentes; foram construídos para recolher os mais habéis, mais assíduos e
mais morigerados operários, antes como prémio aos seus méritos do que como auxílio
às suas condições de existência. O rendimento dos bairros é fundido nos próprios
bairros, pela ampliação constante do número de habitações que os constituem». (O
Comércio do Porto, de 13 de Dezembro de 1903. V. o mesmo jornal de 24 de março
de 1901 e 2 de março de 1902)”
Fonte:
“doportoenaoso.blogspot.pt”
O Bairro de Monte Pedral 1899/1905 e Bairro de Lordelo do Ouro 1903
“O primeiro bairro levantado foi o de Monte Pedral,
construído por grupos de 4 e 2 casas independentes, com quintal e dispondo de
um rez-do-chão com sala de trabalho, quarto e cosinha com saída para o quintal,
tendo junto a retrete com entrada exterior; no primeiro andar, dois outros
quartos e arrecadação no vão do telhado; no sub-solo, quarto de banho. A renda
das casas é de 1$500 réis mensaes. O custo do bairro foi de 13:945$160 réis.”
De facto, em 1901, o arquitecto José Marques da Silva, como técnico da autarquia, é
encarregado de projectar na zona do Monte Pedral, no cruzamento das ruas da
Constituição e de Serpa Pinto, e entre o Quartel e o Matadouro, um bairro
constituído por 14 casas geminadas ou agrupadas a quatro, de dois pisos e com
um pequeno jardim, com uma renda mensal de 1$500 réis.
A primeira pedra do empreendimento tinha sido lançada numa cerimónia que contou com a presença de D. António Barroso, o bispo do Porto, no dia 12 de Novembro de 1899.
Em 1906, o bairro passou a ter mais 12 habitações (mesma tipologia das existentes), cuja construção, teve a superintendência da Câmara
Municipal do Porto e projecto do arquitecto Tomás Pereira Lopes.
Bairro do Monte Pedral em 1905
Bairro do Monte Pedral na actualidade
Também promovido pelo jornal O Comércio do Porto, projectado
em 1901/02 pelo engenheiro Manoel Fortunato de Oliveira Motta, é construído em
1903 o Bairro Operário de Lordelo do
Ouro, na freguesia do mesmo nome, na Rua da Granja de Lordelo. É composto
por 29 casas térreas (correspondentes a uma população de 152 habitantes), com
uma área total de 23 metros quadrados, dispostas em banda. As casas são
equipadas com poço, tanque e forno e jardim nas traseiras.
Em 1932 passou a ser administrado pela Câmara Municipal do
Porto.
Entrada do bairro pela Rua das Condominhas - Ed. Alberto
Ferreira
À direita da foto ao cimo da escadaria, o Bairro Operário de
Lordelo
Bairro Operário de Lordelo e vista de logradouros das casas
em 1947
Antiga piscina do
Clube Fluvial Portuense
Na foto acima a piscina ficava imediatamente antes da foz da ribeira da Granja, podendo ainda
observar-se, na mesma, o Bairro Operário de Lordelo do Ouro lá no alto.
(Continua)
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