quinta-feira, 11 de maio de 2017

(Continuação 5) - Actualização em 17/10/2017, 22/06/2018 e 07/09/2020

Fábricas de Têxteis e afins


A Fábrica de Lanifícios de Lordelo ou Fábrica de Serralves foi uma importante unidade industrial da freguesia de Lordelo do Ouro que caiu em ruínas e desapareceu, há muito tempo, encontrando-se em reconstrução o bloco central de entrada do edifício, para entrada de um condomínio privado, como se pode ver na foto abaixo.
A fábrica estava localizada na Rua de Serralves, freguesia do Lordelo do Ouro. Foi edificada em 1803, no lugar da Monteira ou Mouteira, por Plácido Lino dos Santos Teixeira. Devido à proximidade da Quinta dos Frades, alguns autores afirmam que a fábrica teria sido instalada nos edifícios de um antigo convento, mas no processo de licenciamento da fábrica, apenas se faz referência aos campos que pertenciam aos frades e dos quais se pede adjudicação.


Entrada da antiga fábrica, actualmente



Edifício em ruínas da fábrica de fiação de Lordelo




Fábrica de Lanifícios de Lordelo



“Fundada em 1805, por Plácido Teixeira, a Fábrica de Lanifícios de Lordelo era conhecida vulgarmente como a Fábrica de Panos. Com dois andares, era previsto que a fábrica ocupasse o rés-do-chão e o primeiro andar seria a habitação de Plácido.
Em 1832, durante o cerco do Porto, a fábrica encerra, sendo ocupada pelas tropas de D. Miguel.
A sua atividade industrial viria apenas a ser retomada em 1852 com a sociedade Garcia & Barbedo. Em 1853 a manufactura passa a ser uma sociedade anónima com o nome Companhia de Lanifícios de Lordelo”.
Fonte: Porto Desaparecido



Sondagens arqueológicas em 2007 detectaram a existência de várias estruturas diferenciadas: Uma fábrica do século XX, uma fábrica do século XIX (a "fábrica de panos") e um reduto militar das guerras liberais, o Forte de Serralves, possivelmente no local da cisterna de abastecimento de água à fábrica do século XX.




O que resta da Capela de S. Francisco de Paula



A foto acima mostra as ruínas da capela situada na Rua de Serralves, em frente às antigas instalações da fábrica de Lanifícios de Lordelo, com o possível convento contíguo, também em ruínas
Uma importante indústria de tecelagem fazia-se no Porto no último cartel do século XIX. Em 1881, Oliveira Martins calculou existirem cerca de trinta mil tecelões manuais, a maioria produzindo por conta dos comerciantes de panos.
A unidade típica era a pequena oficina, articulada com a produção doméstica como sucedia com a Fábrica de Asneiros (primeiro no Largo da Paz e a partir de 1886 na Rua da Torrinha), de António Pereira de Magalhães, o industrial têxtil mais conhecido do Norte. Em 1881, este industrial, que ao longo dos anos pacientemente inundou os jornais com artigos inflamados contra os livre-cambistas, possuía uma fábrica, herdada do pai, onde empregava 160 operários; dava ainda fio a tecer fora, a mais de 850 tecelões.
No Porto também existiam algumas unidades modernas, de que um bom exemplo era a próspera Fábrica de Salgueiros, propriedade de uma parceria comercial, organizada em 1873 por 20 sócios, entre os quais se destacavam Henrique Kendall e Sousa Cirne.



Vista da Fábrica de Salgueiros (em cima à esquerda) c. 1950, tirada da Torre dos Clérigos - Ed. CMP, Arquivo Histórico Municipal



Pela foto acima é possível ver à direita a igreja da Lapa e, assim ter uma ideia da orientação do edifício da unidade industrial.



Fábrica de Salgueiros – Fonte: Planta de Telles Ferreira de 1892
 
 
Legenda da gravura anterior:
 
1 - Fábrica de Fiação e Tecidos de Salgueiros
2 – Bairro Operário da Fábrica de Salgueiros
AA – Rua da Constituição
BB – Rua de Antero Quental
C - Lapa




Fábrica de Tecidos de Salgueiros c. 1900 - Ed. CMP, Arquivo Histórico Municipal


Interior da Fábrica de Salgueiros - Frame de filme (1917) da "Invicta Filmes"





Publicidade à Companhia Fabril de Salgueiros, em 1905



Publicidade em 1911




A Fábrica de Tecidos de Salgueiros possuía uma força de 280 cv, fornecidos pelo «mais belo exemplar de máquinas de vapor do distrito, e porventura até do Reino», uma Farcot que fez as delícias de Oliveira Martins. O louvor que a comissão oficial entendeu fazer à administração desta fábrica, onde trabalhavam 363 operários, exprime bem o entusiasmo de quem estava farto de ver disparates. Eis, por fim, uma empresa onde tudo era «novo, sólido, bem e economicamente construído». Previsivelmente era a unidade mais eficiente do distrito: produzia 181 g de fio por fuso, enquanto a de Asneiros, por exemplo, não ultrapassava os 75 g.
Manter-se-ia em laboração até meados do século XX.


Interior da Fábrica de Salgueiros, em 1932




Algumas destas fábricas eram dirigidas pelos donos (Fábrica de Asneiros e Fábrica das Devezas), outras por gerentes (Fábrica de Salgueiros, Fábrica da Retorta e Fábrica de Montebelo). A maior parte não tinha mais do que «uma educação prática», variando, no entanto, a sua competência.
A zona do chamado Bairro de Vilar foi onde mais se sentiu a expansão industrial que começou em finais do século XVIII, atravessou, também, todo o século XIX e chegou até bem longe no século XX.
O Inquérito Industrial realizado em 1890, por exemplo, regista a existência, neste bairro, de cerca de uma trintena de fábricas têxteis e de mais cerca de quatrocentas outras pequenas unidades empregando, no total das oficinas, mil e quinhentos trabalhadores e cento e quarenta aprendizes. Estas fábricas e oficinas localizavam-se, nomeadamente, nas ruas da Torrinha, Campo Alegre, Piedade e Miguel Bombarda.
A grande Fábrica de Clamouse Browne foi das unidades têxteis mais antigas, vinha já do século XVIII e esteve instalada na Póvoa de Vilar, tendo sido destruída e incendiada pelos franceses aquando das invasões francesas.
Bernardo Clamouse o patriarca da família foi nomeado cônsul da França em 1720 com 25 anos.
Um seu bisneto Bernardo Clamouse Brown viria a ser cônsul dos Estados Unidos.
A Póvoa de Vilar situava-se onde hoje é a Faculdade de Arquitetura na via panorâmica Edgar Cardoso onde, ainda se pode ver, a casa da chamada Quinta da Póvoa ou do Gólgata.
A Rua do Gólgata antigamente ia da Calçada da Boa Viagem à Rua do Campo Alegre. Actualmente existem apenas os troços terminais.



Entre o arvoredo a Casa da Quinta da Póvoa de Vilar




“Na realidade, a única grande fábrica algodoeira dos fins do período setecentista estabelecida no Norte foi a Real Fábrica de Fiação, Tecidos, Estamparia e Curtumes, de Bernardo Clamouse Brown & Companhia, na zona de Vilar (Porto), que se apresentava como uma unidade de feição verticalizante, tendo dimensões razoáveis para a época, aplicando jennies na fiação. É até de tradição que funcionou como um espaço de formação local para trabalhadores que depois partiram para pequenos estabelecimentos próprios, sobretudo a partir do momento em que a empresa começou a dar sinais de enfraquecimento, tendo reconvertido as instalações numa fábrica de curtumes. Enfraquecimento que se terá devido à importação de fio inglês, e depois de tecidos, que ajudaram à deterioração das condições de mercado, pela emergência de pequenas fábricas e oficinas de tecelagem que começaram a polvilhar o Porto produzindo tecidos de algodão. Para isto terá contribuído a reconversão dos tradicionais teares de seda, de lã e de linho espalhados pela cidade e arredores ao uso do algodão, bem como a saída de mestres e operários desta fábrica que procuraram a sua autonomia no exterior, montando as suas próprias unidades.
Embora tivessem erguido a fábrica de curtumes para aproveitar o local e "parte dos Edifícios e Oficinas", é curioso verificar que por 1820 a fábrica de Clamouse Brown seja dada ainda como exemplo de fábrica de chitas que, alem da estamparia, tinha "engenho de fiar" que "trabalha actualmente, segundo as notícias" e, ainda, "cento e tantos teares", segundo se diz numa memória oferecida às Cortes de 1821-22, onde se defendia a necessidade de verticalizaçáo das fábricas de chitas, mostrando as vantagens patrióticas e económicas de criar trabalho e poupar nas importações, nacionalizando o fabrico de tecidos brancos.
Tudo indica que a extinçáo da fábrica nada teve a ver com as invasões, mas foi abalada com a conjuntura comercial posterior da altura, voltando a produzir tecido e encerrando em ocasião ainda por esclarecer”.
Com a devida vénia a Jorge Fernandes Alves - Estruturas Sócio-económicas e industrialização no Norte de Portugal, Séculos XIX e XX-FLUP, 1999



Na Rua da Torrinha laborou até meados do século XX, a Fábrica de Fiação e Tecidos do Jacinto que empregava quatro centenas de trabalhadores. Esta fábrica começou por laborar entre o que é hoje o Largo da Paz e o Largo Alexandre Sá Pinto, numa enorme propriedade denomina­da "casal de Asneiros".
Aliás, o que é hoje a Rua da Paz, era o caminho de Asneiros.
Nos fins do século XVIII, Jacinto da Silva Pereira, natural de São Vicente de Pereira, passa de aprendiz da fábrica de Bernardo Clamouse Brown & Companhia, a foreiro da Colegiada de Cedofeita em 1804, sendo-lhe emprazados três chãos para casas e quintais nos Passais de Baixo e aí montou uma fábrica de tecelagem manual que passou a ser conhecida pela “Fábrica de Asneiros”. 
Até o proprietário era co­nhecido por "Jacinto de Asneiros", tendo tido a partir de 1836, o apoio importante do seu filho, António da Silva Pereira Magalhães.



“A colaboração de António da Silva Pereira Magalhães na actividade de seu pai iniciou-se por volta de 1836, desempenhando desde logo um papel decisivo, não só na orientação da actividade fabril, como na defesa dos interesses industriais, que constituíam um dos mais importantes temas em debate na Cidade Invicta. É que, nesta época, discutia-se a promulgação de uma nova pauta alfandegária - a qual, efectivamente, veio a ser posta em prática durante o Governo de Passos Manuel, após a Revolução de Setembro de 1836 - e os industriais portuenses estavam inteiramente mobilizados para que a mesma tivesse um carácter proteccionista, defendendo-os da concorrência dos produtos estrangeiros que então penetravam no nosso mercado (…)
Entretanto, e simultaneamente com este tipo de actividade, que poderemos classificar de associativa, Pereira Magalhães foi desenvolvendo as suas fábricas, a primitiva unidade de tecelagem e uma nova fábrica de fiação de algodão a vapor, fundada ainda pelo seu pai, em 1850, na Rua da Torrinha e que continuaria a ser conhecida por “Fábrica de Asneiros”.
Totalmente destruída por um incêndio em 1862, e apesar de não ser podido receber qualquer indemnização pela perda, em virtude de o seguro ter caducado cerca de seis meses antes, Pereira Magalhães decidiu reconstruir a fábrica a qual, no final desse mesmo ano, já se encontrava de novo em laboração. No entanto, a adversidade bateu-lhe à porta por uma segunda vez. Em 1887, um novo incêndio voltou a destruí-la por completo, mas, desta vez, foi já o seu filho Jacinto da Silva Pereira Magalhães a reerguê-la e a retomar a actividade”.
Fonte – José Manuel Lopes Cordeiro, In: Jornal Público, 13 Fev. 2000



Sobre o texto anterior, diga-se, que, Jacinto da Silva Pereira Magalhães (1860- 1935), neto de Jacinto da Silva Pereira, haveria de ser Presidente da Câmara do Porto, durante 11 meses, em 1907, como resultado de acto eleitoral.
Ficaria ainda conhecido por ser o pai de Dona Maria Carolina que casou em 1885, com João Santiago de Carvalho e Sousa (Porto-10/01/1854; Paço de S. Cipriano, Tabuadelo, Guimarães-09/02/1930), deputado às cortes em 1906. Este casal mandou construir o conhecido Palacete da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira que, hoje, é um dos museus da autarquia Matosinhense, como casa de férias.
O palacete de 1896, implantado num terreno que era propriedade de Maria Carolina, é um projecto do arquiteto italiano Nicola Bigaglia. É dotado de várias curiosidades, das quais se realça a particularidade dos tectos possuírem nos cantos umas aberturas discretas, que permitem a circulação do ar (eram tempos de tuberculose) e cada uma das suas salas ser afecta a um estilo decorativo revivalista, do que resulta, no contexto final, um trabalho muito eclético.
Uma outra curiosidade diz respeito ao revestimento de algumas das suas paredes, nas quais foram usados azulejos provenientes da demolição do convento de S. Bento da Ave-Maria.
 
 
 

João Santiago, junto do palacete em Leça da Palmeira




Palacete da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira – Fonte: “leca-palmeira.com/”



Importa também referir que um outro in­cêndio ocorrido na Fábrica de Asneiros, no ano de 1886, foi causado pela que­da de um raio que destruiu totalmente a fábri­ca situada na Rua da Torrinha, que seria recons­truída e, mais tarde, as suas instalações seriam estendidas para a Rua da Piedade nº 96, pegado às instalações da fábrica de cerveja da CUFP.



Gravura da Fábrica do Jacinto na Rua da Torrinha




D. Manuel II em visita à Fábrica do Jacinto na Torrinha




O rei junto à Fábrica do Jacinto na Torrinha




A foto acima foi tirada numa visita à cidade de D. Manuel II e nela podemos ver o rei (3º a contar da esquerda) acompanhado dos donos da fábrica: Jacinto Magalhães, António da Silva Marinho e António José Gomes Samagaio.
Data de 28 de Outubro de 1886 a constituição de uma Parceria de Responsabilidade Limitada, denominada "Fábrica de Fiação e Tecidos do Jacinto", com sede na Rua da Torrinha, na cidade do Porto, associando-se o então gerente da primitiva fábrica, descendente e herdeiro do fundador, a uma outra família, da Rua da Piedade, com tradições na tecelagem manual, os irmãos Marinhos, que a partir de então assumirão o controlo técnico da fábrica. Em termos jurídicos a parceria converter-se-á, mais tarde, numa Sociedade por Quotas, a qual será transformada em S.A.R.L., em 1955. No mesmo ano, será encerrada a Fábrica da Torrinha, mais tarde destruída e ocupada pelo grande conjunto do Centro Comercial da Torrinha.
A unidade da Rua da Piedade, conhecida por Fábrica de Fazendas de Algodão e Linho da firma Marinho & Irmão, a célebre Fábrica dos Marinhos (“Marinhos” há anos associados aos “Jacintos”), pegada à Fábrica de Cerveja da Companhia União Fabril Portuense (CUFP) que ficava mesmo na esquina da Rua de Júlio Dinis, permanecerá em actividade até 1955, data em que foi desactivada e vendido o alvará de parte dos seus fusos à Sociedade Teixeira de Melo e Filhos, Ld., a qual foi autorizada a transferi-los para o lugar de Baldante, freguesia de Ronfe, concelho de Guimarães, no vale do Ave.


Gravuras da Fábrica do Jacinto ou Fábrica dos Marinhos, na Rua da Piedade



Pela Rua do Campo Alegre esteve a laborar a Fábrica de Fiação e Tecidos do Campo Alegre.




Fábrica de Fiação e Tecidos do Campo Alegre c. 1920

Aspecto actual do local da foto anterior – Fonte: Google maps



A Fábrica de Fiação e Tecidos do Campo Alegre situar-se-ia na Rua do Campo Alegre em frente à confluência com a Rua do Gólgata, quase pegado, ao Oporto Cricket & Lawn Tennis Club.
Além destas unidades fabris havia, espalhadas pelo tecido urbano do bairro, centenas de pequenas oficinas que empregavam milhares de trabalhadores. E foi para satisfazer as necessidades habitacionais, mínimas dos operários, que nasceram e proliferaram as ilhas nesta “zona da cidade”, de que é ainda um exemplo vivo o Bairro do Cruzinho situado na Rua do Campo Alegre, próximo da Praça da Galiza.
A expansão industrial que se operou no Porto, especialmente a partir do segundo para o terceiro quartel do século XIX, produziu no tecido urbano da cidade profundas alterações, como foi o caso da zona de Vilar em que incluímos as ruas com aquela designação mais as da Torrinha e a da Piedade, nomeadamente esta.
Apesar de alguns acontecimentos inesperados, como a abertura forçada dos portos do Brasil ao comércio internacional, na sequência das invasões francesas (particularmente da segunda invasão, que atingiu profundamente esta cidade, e que tinha como objectivo prioritário a destruição do nosso parque industrial), apesar dessas e de outras condições adversas, o Porto não deixou de progredir e até apareceram novas oficinas nomeadamente as metalúrgicas, ou para o fabrico de velas de sebo e de cera, ou de pregaria e também algumas unidades de fiação e tecelagem. Não surpreende por isso que o meado do século XIX tenha sido conhecido como a época de ouro da cidade, tal era a sua importância económica, social e política no contexto da vida portuguesa.
Foi por essa altura que o desenvolvimento industrial da cidade "obrigou" à abertura de uma nova artéria que estabelecesse a ligação "entre o sítio chamado da Torrinha (onde hoje fica o Largo de Alexandre de Sá Pinto) e o Padrão de Vilar (que ficava junto à rua deste nome nas proximidades da actual Rua da Rainha D. Estefânia).
Assim nasceu a Rua da Piedade cuja denominação anda estreitamente ligada aos movimentos ultra-românticos da época. Sobre esta artéria diga-se ainda, a título de curiosidade, que o troço entre o Largo de Alexandre de Sá Pinto e a actual Praça da Galiza se chamou, inicialmente, Rua do Priorado, tal como acontecia com a Rua da Torrinha que inicialmente foi Rua do Priorado por ter sido aberta em terrenos que pertenciam ao D. Abade, prior da Colegiada de Cedofeita. O topónimo Torrinha era o nome de um casal rústico também foreiro à Colegiada e em cujas terras foi aberta a artéria em causa.
Pelas bandas da Prelada em 1905 podia ver-se a Fábrica de Francos.

Publicidade à Fábrica de Francos

Entrada actual preservada da antiga Fábrica de Francos na Rua Central de Francos nº 132


Bem perto da Fábrica de Francos, na Rua do Lugarinho, que no século XIX se chamava Rua das Tropelias, esteve a Estamparia Império inaugurada em 1945, e que tendo funcionado até à década de 70 do século XX é, hoje, uma área residencial.
Do mesmo lado da rua, e um pouco mais abaixo da Estamparia Império, situava-se uma unidade fabril de torrefacção que tinha uns armazéns destinados ao armazenamento de bananas importadas das colónias e, que, por isso, o povo chamava de “Fábrica das Bananas”.
Sobre a Rua do Lugarinho diz o professor Joel Cleto (in Jornal de Ramalde. 3ª série, nº 21.Porto, 5 de Julho 2002, p.2):
“ (…) um documento datado de 15 de Fevereiro de 1887, existente no Arquivo Histórico Municipal de Matosinhos (na pasta de “Processos de Aforamento – 1886 a 1891”), revela não só a abertura da rua mas também a origem do seu nome. Por esse documento se percebe que a rua resulta do alargamento de um caminho de pé-posto que, seguindo já o actual traçado, era no entanto muito mais estreito e de piso seguramente muito mais irregular. Para a concretização da rua havia pois que alargar o velho caminho rural, e para tal houve que negociar com o proprietário dos terrenos agrícolas que o circundavam: Manuel Gonçalves Lugarinho.”


A razão pela qual a origem da Rua do Lugarinho, fez parte de um processo arquivado em Matosinhos, tem a ver com o facto de ocupar uma área, que situando-se hoje na freguesia de Ramalde, ter pertencido em tempos, ao julgado de Bouças.
O julgado de Bouças foi dado ao Porto por D. João I, em 7 de Julho de 1376, que o tomou de Fernando Afonso de Aborim que, por sua vez, o tinha recebido de D. Fernando. Seguidamente, D. João entregou-o ao Condestável D. Nuno, sob protesto dos portuenses, que viriam a ver a sua contestação sair vitoriosa.


Na Rua do Lugarinho, à direita ficava a Estamparia Império – Fonte Google maps


Na Rua do Lugarinho, à direita ficava a Torrefacção conhecida por “Fábrica das Bananas” – Fonte Google maps


A Fábrica de Acabamentos do Carvalhido esteve também por aqui, a pouco mais de uma centena de metros das anteriores unidades industriais, na Praça do Exército Libertador, mais ou menos no local onde hoje se encontra a estátua do antigo Bispo do Porto D. António Augusto de Castro Meireles (foto abaixo) da autoria de Henrique Moreira, datada de 1955, estavam as Pirâmides (no topo da actual Avenida do Conselho da Europa) e que dariam origem a um sítio com o nome de Sítio das Pirâmides.
O Carvalhido era, em tempos recuados, uma mata de enormes dimensões nos arrabaldes da Cidade do Porto, por onde passava um caminho conhecido como estrada da Póvoa. Foi também um dos caminhos de Santiago.

Estátua de D. António Castro Meireles o responsável pela criação da paróquia do Carvalhido – Ed. JPortojo


No local onde hoje foi aberta a Avenida Conselho da Europa estiveram as instalações da Invicta Filmes, que acabaria por fechar em finais da década de 20, quando as instalações são então adquiridas por Fonseca & Faria Lda. que aí monta uma empresa têxtil: a Fábrica de Acabamentos do Carvalhido que possuía tinturaria, estamparia e acabamentos, encerrada em finais dos anos 60 do século XX. A alta e emblemática chaminé daquela unidade industrial, que durante décadas dominou a Rua da Prelada possuía num azulejo a data de arranque desta fábrica: 1933.
Mas também esta fechou em 1969, tendo as instalações sido sucessivamente ocupadas por um sem número de armazéns, pequenas oficinas e até um campo de tiro.
Por Ramalde, mais propriamente pela Rua Dr. Alberto Macedo no início do século passado estava implantada a Fábrica de Estamparia Beira Alta.


Fábrica de Estamparia Beira Alta, na Rua Dr. Alberto Macedo – In Annuario do Porto em 1935

Em 1º plano o local de implantação anterior da Estamparia Beira Alta – Fonte: Google maps



A Fábrica da Seda de António Francisco Nogueira Lda foi fundada na Rua da Alegria em 1855, por Francisco José Nogueira, nascido em 1826 e que, desde cedo, se dedicou à arte de tecelão, fazendo parte do leque dos notáveis industriais do sector das sedas.
Os seus produtos: as sedas, os cetins e os veludos inundaram o mercado, por diversas vezes foram presentes em exposições, nomeadamente a Exposição Internacional de 1865 e a Exposição de Sericicultura de 1866, entre outras.
Em 1883, Francisco José Nogueira entrega a direcção da empresa a António Francisco Nogueira, seu filho. Este realizaria vários investimentos na empresa, aumentando-a e diversificando os sectores. As suas capacidades foram, ainda, demonstradas, quando assume o cargo de Presidente da Associação Industrial Portuense, entre 1903 e 1908.
Nos finais do século XIX, a sua fábrica, além de constituir uma unidade muito particular no sector, dispunha já de uma máquina a vapor, cilíndrica, demonstrando um investimento tecnológico para a época.
A empresa passou por vários ciclos, tendo encerrado nos inícios dos anos 70 do século passado.
Actualmente, o espaço da antiga fábrica de Tecidos de Seda António Francisco Nogueira, foi adaptado ao Centro Comercial que se estende desde a Rua da Alegria até à Rua Fernandes Tomás: o Porto Gran Plaza - Shopping Center, que acabou por albergar, pensa-se que, temporariamente, os comerciantes do Mercado do Bolhão.



Publicidade da Fábrica de Tecidos de Seda, de F. J. Nogueira Filho & Cia



Publicidade em 1907, da Fábrica de Tecidos de Seda de F. J. Nogueira, Filho & Cia




Fachada voltada para a Rua da Alegria, da Fábrica de Tecidos de Seda



Interior da Fábrica de Tecidos de Seda



Fachada actual, voltada para a Rua da Alegria, da antiga Fábrica de Tecidos de Seda – Fonte: Google maps



Painel de azulejos originais da Fábrica de Tecidos de Seda, fundada em 1855 – Ed. MAC


A Fábrica de Sedas Lionesa teve instalações na Rua António Carneiro, nº 302, ao cimo da Avenida Camilo.



Era esta a entrada para o complexo fabril da Lionesa na Rua António Carneiro – Fonte: Google maps


O grande obreiro do lançamento desta fábrica foi Afonso César de Pádua Correia.
Tendo ficado conhecido como um grande industrial ligado ao sector do fabrico da seda, teve também um meritório relevo como membro do Clube Rotário do Porto e, ainda, como benemérito da Santa Casa da Misericórdia de Paredes.



Pedido de licença, concedido ainda durante o ano de 1935, de Afonso César Pádua Correia para construir uns armazéns, onde viria a ser instalada a fábrica


Nos anos seguintes, assistiu-se à ampliação das instalações fabris.
Afonso César Pádua Correia acabaria por acumular a gestão da Fábrica de Sedas Lionesa com uma outra unidade fabril, icónica, do sector têxtil, com existência desde meados do século XIX, instalada a poucas dezenas de metros, na Rua do Bonfim, nº 266. A “Calandra do Bonfim”.
Esta fábrica tinha sido administrada por Joaquim Afonso Fernandes Pereira, nos anos que antecederam o começo da década de 1940.
Em 1939, já falecido Joaquim Fernandes Pereira, a viúva e herdeiros decidem construir instalações, pretendendo que a “Calandra do Bonfim”, até aí conhecida pela sua fachada para a Rua do Bonfim, estendesse a área da unidade fabril, até à Avenida Camilo, em terrenos que lhes pertenciam.


Desenho da fachada voltada para a Avenida Camilo, que integrava o projecto respectivo


É a esta unidade têxtil que Afonso César Pádua Correia irá juntar também a Fábrica de Tecidos de Fânzeres (Gondomar).
Em 1953, a Fábrica de Tecidos Lionesa, na Rua António Carneiro, começa a ver chegado o seu fim, com a construção de um vasto complexo fabril, junto do mosteiro de Leça do Balio.
O autor do projecto foi o arquiteto Agostinho Ferreira de Almeida, em colaboração com os arquitetos Alfredo Rodrigo Casais Rodrigues e Francisco Augusto Baptista.
O lançamento deste complexo fabril ainda foi acompanhado por Afonso César Pádua Correia, que viria a falecer em 16 de Março de 1959.



Fábrica de Tecidos de Seda Lionesa, Lda., em Leça do Balio




Ainda em finais do século passado, com as transformações importantes ocorridas no sector têxtil, a fábrica encerraria de modo definitivo.
A partir de 2002, o complexo fabril em Leça do Balio daria lugar a um centro empresarial que, nos últimos vinte anos, tem vindo a crescer paulatinamente.
A Fábrica de Fiação, Tinturaria e Acabamentos Matos & Quintans esteve na Rua da Alegria, ao lado do Campo do Luso e junto do Estádio do Lima, ambos desaparecidos.

 
 

Fábrica Matos & Quintans ocupando na planta a área sombreada

 
Em 30 de Maio de 1899, é criada firma “A Industrial Portuguesa”, para explorar uma Fábrica de Algodão, por Miguel Matos de Almeida e José Augusto Quintans de Lima, sob o nome de Matos & Quintans, Lda.
Em 17 de Março de 1903, era requerido à Câmara do Porto um pedido de licenciamento para uma fábrica a localizar na Rua da Alegria, que obteve a licença nº 63/1903.

 
 

Instalações da Fábrica Matos & Quintans, em 1939, após incêndio – Fonte: AHMP
 
 
 
Em 11 de Novembro de 1938, é requerida à Câmara do Porto um projecto para a reconstrução de parte do edifício fabril utilizado como armazém e escritórios, que tinha sido alvo de um incêndio e que obterá a  licença nº 6/1939.

 
 

Fábrica Matos & Quintans, em obras, em 1939 – Fonte: AHMP


 

Desenho da fachada principal da Fábrica Matos & Quintans, integrante do projecto que obteve a licença nº6/1939

 
 

Fábrica Matos & Quintans, na Rua da Alegria, junto do Estádio do Lima. Pelas suas traseiras tinha-se acesso à Viela do Seixal (desaparecida)

 
 
À direita da foto, esteve implantado o Campo do Luso, tendo sido construído na área que ocupava um complexo habitacional, cujo senhorio era a Santa Casa da Misericórdia do Porto.
 
 
 

Fábrica de Matos & Quintans e complexo habitacional da SCMP
 
 
 
 
Etiqueta de Matos & Quintans
 
 
Também para os lados do Campo do Lima, mais propriamente, na Rua Professor Correia de Araújo, nº 709 (antiga Travessa de Costa Cabral), fazendo esquina com a Rua da Alegria, esteve a Fábrica de Malhas e Tecidos de Seda Matos & Irmãos, Lda., uma importante unidade fabril da cidade do Porto.
O pedido de licenciamento para a construção da fábrica data de 27 de Julho de 1925.
 
 
 
Ocupação actual do local onde esteve a Fábrica Matos & Irmãos, Lda., hoje, um condomínio de luxo


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