Fábricas de Têxteis e afins
A Fábrica de
Lanifícios de Lordelo ou Fábrica de Serralves foi uma importante unidade
industrial da freguesia de Lordelo do Ouro que caiu em ruínas e desapareceu, há
muito tempo, encontrando-se em reconstrução o bloco central de entrada do
edifício, para entrada de um condomínio privado, como se pode ver na foto
abaixo.
A fábrica estava localizada na Rua de Serralves, freguesia
do Lordelo do Ouro. Foi edificada em 1803, no lugar da Monteira ou Mouteira,
por Plácido Lino dos Santos Teixeira. Devido à proximidade da Quinta dos
Frades, alguns autores afirmam que a fábrica teria sido instalada nos edifícios
de um antigo convento, mas no processo de licenciamento da fábrica, apenas se
faz referência aos campos que pertenciam aos frades e dos quais se pede
adjudicação.
Entrada da antiga fábrica, actualmente
Edifício em ruínas da fábrica de fiação de Lordelo
Fábrica de Lanifícios de Lordelo
“Fundada em 1805, por
Plácido Teixeira, a Fábrica de Lanifícios de Lordelo era conhecida vulgarmente
como a Fábrica de Panos. Com dois
andares, era previsto que a fábrica ocupasse o rés-do-chão e o primeiro andar
seria a habitação de Plácido.
Em 1832, durante o
cerco do Porto, a fábrica encerra, sendo ocupada pelas tropas de D. Miguel.
A sua atividade
industrial viria apenas a ser retomada em 1852 com a sociedade Garcia &
Barbedo. Em 1853 a manufactura passa a ser uma sociedade anónima com o nome
Companhia de Lanifícios de Lordelo”.
Fonte: Porto Desaparecido
Sondagens arqueológicas em 2007 detectaram a existência de várias
estruturas diferenciadas: Uma fábrica do século XX, uma fábrica do século XIX (a
"fábrica de panos") e um reduto militar das guerras liberais, o Forte
de Serralves, possivelmente no local da cisterna de abastecimento de
água à fábrica do século XX.
O que resta da Capela de S. Francisco de Paula
A foto acima mostra as ruínas da capela situada na Rua de
Serralves, em frente às antigas instalações da fábrica de Lanifícios de
Lordelo, com o possível convento contíguo, também em ruínas
Uma importante
indústria de tecelagem fazia-se no Porto no último cartel do século XIX. Em
1881, Oliveira Martins calculou existirem cerca de trinta mil tecelões manuais,
a maioria produzindo por conta dos comerciantes de panos.
A unidade típica era
a pequena oficina, articulada com a produção doméstica como sucedia com a Fábrica
de Asneiros (primeiro no Largo da Paz e a partir de 1886 na Rua da
Torrinha), de António Pereira de Magalhães, o industrial têxtil mais conhecido
do Norte. Em 1881, este industrial, que ao longo dos anos pacientemente inundou
os jornais com artigos inflamados contra os livre-cambistas, possuía uma fábrica,
herdada do pai, onde empregava 160 operários; dava ainda fio a tecer fora, a
mais de 850 tecelões.
No Porto também
existiam algumas unidades modernas, de que um bom exemplo era a próspera Fábrica
de Salgueiros, propriedade de uma parceria comercial, organizada em 1873
por 20 sócios, entre os quais se destacavam Henrique Kendall e Sousa Cirne.
Vista da Fábrica de
Salgueiros (em cima à esquerda) c. 1950, tirada da Torre dos Clérigos - Ed. CMP,
Arquivo Histórico Municipal
Pela foto acima é possível
ver à direita a igreja da Lapa e, assim ter uma ideia da orientação do edifício
da unidade industrial.
Legenda da gravura
anterior:
1 - Fábrica de
Fiação e Tecidos de Salgueiros
2 – Bairro Operário
da Fábrica de Salgueiros
AA – Rua da Constituição
BB – Rua de Antero
Quental
C - Lapa
Fábrica de Tecidos
de Salgueiros c. 1900 - Ed. CMP, Arquivo Histórico Municipal
Publicidade à
Companhia Fabril de Salgueiros, em 1905
Publicidade em 1911
A Fábrica de Tecidos
de Salgueiros possuía uma força de 280 cv, fornecidos pelo «mais belo exemplar de máquinas de vapor do distrito, e porventura até
do Reino», uma Farcot que fez as delícias de Oliveira Martins. O
louvor que a comissão oficial entendeu fazer à administração desta fábrica,
onde trabalhavam 363 operários, exprime bem o entusiasmo de quem estava farto
de ver disparates. Eis, por fim, uma empresa onde tudo era «novo, sólido, bem e economicamente construído». Previsivelmente
era a unidade mais eficiente do distrito: produzia 181 g de fio por fuso,
enquanto a de Asneiros, por exemplo, não ultrapassava os 75 g.
Manter-se-ia em laboração até meados do século XX.
Algumas destas
fábricas eram dirigidas pelos donos (Fábrica de Asneiros e Fábrica
das Devezas), outras por gerentes (Fábrica de Salgueiros, Fábrica
da Retorta e Fábrica de Montebelo). A maior parte não tinha mais do
que «uma educação prática», variando, no entanto, a sua competência.
A zona do chamado Bairro de Vilar foi onde mais se sentiu a
expansão industrial que começou em finais do século XVIII, atravessou, também,
todo o século XIX e chegou até bem longe no século XX.
O Inquérito Industrial realizado em 1890, por exemplo,
regista a existência, neste bairro, de cerca de uma trintena de fábricas
têxteis e de mais cerca de quatrocentas outras pequenas unidades empregando, no
total das oficinas, mil e quinhentos trabalhadores e cento e quarenta
aprendizes. Estas fábricas e oficinas localizavam-se, nomeadamente, nas ruas da
Torrinha, Campo Alegre, Piedade e Miguel Bombarda.
A grande Fábrica de
Clamouse Browne foi das unidades têxteis mais antigas, vinha já do século
XVIII e esteve instalada na Póvoa de Vilar, tendo sido destruída e incendiada
pelos franceses aquando das invasões francesas.
Bernardo Clamouse o patriarca da família foi nomeado cônsul
da França em 1720 com 25 anos.
Um seu bisneto Bernardo Clamouse Brown viria a ser cônsul
dos Estados Unidos.
A Póvoa de Vilar situava-se onde hoje é a Faculdade de
Arquitetura na via panorâmica Edgar Cardoso onde, ainda se pode ver, a casa da
chamada Quinta da Póvoa ou do Gólgata.
A Rua do Gólgata antigamente ia da Calçada da Boa Viagem à
Rua do Campo Alegre. Actualmente existem apenas os troços terminais.
Entre o arvoredo a Casa da Quinta da Póvoa de Vilar
“Na realidade, a única
grande fábrica algodoeira dos fins do período setecentista estabelecida no
Norte foi a Real Fábrica de Fiação, Tecidos, Estamparia e Curtumes, de Bernardo
Clamouse Brown & Companhia, na zona de Vilar (Porto), que se apresentava
como uma unidade de feição verticalizante, tendo dimensões razoáveis para a
época, aplicando jennies na fiação. É até de tradição que funcionou como um
espaço de formação local para trabalhadores que depois partiram para pequenos
estabelecimentos próprios, sobretudo a partir do momento em que a empresa
começou a dar sinais de enfraquecimento, tendo reconvertido as instalações numa
fábrica de curtumes. Enfraquecimento que se terá devido à importação de fio inglês,
e depois de tecidos, que ajudaram à deterioração das condições de mercado, pela
emergência de pequenas fábricas e oficinas de tecelagem que começaram a
polvilhar o Porto produzindo tecidos de algodão. Para isto terá contribuído a
reconversão dos tradicionais teares de seda, de lã e de linho espalhados pela
cidade e arredores ao uso do algodão, bem como a saída de mestres e operários
desta fábrica que procuraram a sua autonomia no exterior, montando as suas
próprias unidades.
Embora tivessem erguido
a fábrica de curtumes para aproveitar o local e "parte dos Edifícios e
Oficinas", é curioso verificar que por 1820 a fábrica de Clamouse Brown
seja dada ainda como exemplo de fábrica de chitas que, alem da estamparia,
tinha "engenho de fiar" que "trabalha actualmente, segundo as
notícias" e, ainda, "cento e tantos teares", segundo se diz numa
memória oferecida às Cortes de 1821-22, onde se defendia a necessidade de
verticalizaçáo das fábricas de chitas, mostrando as vantagens patrióticas e
económicas de criar trabalho e poupar nas importações, nacionalizando o fabrico
de tecidos brancos.
Tudo indica que a
extinçáo da fábrica nada teve a ver com as invasões, mas foi abalada com a
conjuntura comercial posterior da altura, voltando a produzir tecido e encerrando
em ocasião ainda por esclarecer”.
Com a devida vénia a Jorge Fernandes Alves - Estruturas
Sócio-económicas e industrialização no Norte de Portugal, Séculos XIX e XX-FLUP, 1999
Na Rua da Torrinha laborou até meados do século XX, a Fábrica de Fiação e Tecidos do Jacinto que empregava quatro centenas de
trabalhadores. Esta fábrica começou por laborar entre o que é hoje o Largo da
Paz e o Largo Alexandre Sá Pinto, numa enorme propriedade denominada
"casal de Asneiros".
Aliás, o que é hoje a Rua da Paz, era o caminho de Asneiros.
Aliás, o que é hoje a Rua da Paz, era o caminho de Asneiros.
Nos fins do século XVIII, Jacinto da Silva Pereira, natural
de São Vicente de Pereira, passa de aprendiz da fábrica de Bernardo Clamouse
Brown & Companhia, a foreiro da Colegiada de Cedofeita em 1804, sendo-lhe
emprazados três chãos para casas e quintais nos Passais de Baixo e aí montou uma
fábrica de tecelagem manual que passou a ser conhecida pela “Fábrica de Asneiros”.
Até o proprietário era conhecido por "Jacinto de Asneiros", tendo tido a partir de 1836, o apoio importante do seu filho, António da Silva Pereira Magalhães.
Até o proprietário era conhecido por "Jacinto de Asneiros", tendo tido a partir de 1836, o apoio importante do seu filho, António da Silva Pereira Magalhães.
“A colaboração de
António da Silva Pereira Magalhães na actividade de seu pai iniciou-se por
volta de 1836, desempenhando desde logo um papel decisivo, não só na orientação
da actividade fabril, como na defesa dos interesses industriais, que
constituíam um dos mais importantes temas em debate na Cidade Invicta. É que,
nesta época, discutia-se a promulgação de uma nova pauta alfandegária - a qual,
efectivamente, veio a ser posta em prática durante o Governo de Passos Manuel,
após a Revolução de Setembro de 1836 - e os industriais portuenses estavam
inteiramente mobilizados para que a mesma tivesse um carácter proteccionista,
defendendo-os da concorrência dos produtos estrangeiros que então penetravam no
nosso mercado (…)
Entretanto, e
simultaneamente com este tipo de actividade, que poderemos classificar de
associativa, Pereira Magalhães foi desenvolvendo as suas fábricas, a primitiva
unidade de tecelagem e uma nova fábrica de fiação de algodão a vapor, fundada
ainda pelo seu pai, em 1850, na Rua da Torrinha e que continuaria a ser
conhecida por “Fábrica de Asneiros”.
Totalmente destruída
por um incêndio em 1862, e apesar de não ser podido receber qualquer
indemnização pela perda, em virtude de o seguro ter caducado cerca de seis
meses antes, Pereira Magalhães decidiu reconstruir a fábrica a qual, no final
desse mesmo ano, já se encontrava de novo em laboração. No entanto, a
adversidade bateu-lhe à porta por uma segunda vez. Em 1887, um novo incêndio
voltou a destruí-la por completo, mas, desta vez, foi já o seu filho Jacinto da
Silva Pereira Magalhães a reerguê-la e a retomar a actividade”.
Fonte – José Manuel Lopes Cordeiro, In: Jornal Público, 13
Fev. 2000
Sobre o texto anterior, diga-se, que, Jacinto da Silva
Pereira Magalhães (1860- 1935), neto de Jacinto da Silva Pereira, haveria de
ser Presidente da Câmara do Porto, durante 11 meses, em 1907, como resultado de
acto eleitoral.
Ficaria ainda conhecido por ser o pai de Dona Maria Carolina que casou em 1885, com João Santiago de Carvalho e Sousa (Porto-10/01/1854; Paço de S. Cipriano, Tabuadelo, Guimarães-09/02/1930), deputado às cortes em 1906. Este casal mandou construir o conhecido Palacete da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira que, hoje, é um dos museus da autarquia Matosinhense, como casa de férias.
O palacete de 1896, implantado num terreno que era propriedade de Maria Carolina, é um projecto do arquiteto italiano Nicola Bigaglia. É dotado de várias curiosidades, das quais se realça a particularidade dos tectos possuírem nos cantos umas aberturas discretas, que permitem a circulação do ar (eram tempos de tuberculose) e cada uma das suas salas ser afecta a um estilo decorativo revivalista, do que resulta, no contexto final, um trabalho muito eclético.
Uma outra curiosidade diz respeito ao revestimento de algumas das suas paredes, nas quais foram usados azulejos provenientes da demolição do convento de S. Bento da Ave-Maria.
Ficaria ainda conhecido por ser o pai de Dona Maria Carolina que casou em 1885, com João Santiago de Carvalho e Sousa (Porto-10/01/1854; Paço de S. Cipriano, Tabuadelo, Guimarães-09/02/1930), deputado às cortes em 1906. Este casal mandou construir o conhecido Palacete da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira que, hoje, é um dos museus da autarquia Matosinhense, como casa de férias.
O palacete de 1896, implantado num terreno que era propriedade de Maria Carolina, é um projecto do arquiteto italiano Nicola Bigaglia. É dotado de várias curiosidades, das quais se realça a particularidade dos tectos possuírem nos cantos umas aberturas discretas, que permitem a circulação do ar (eram tempos de tuberculose) e cada uma das suas salas ser afecta a um estilo decorativo revivalista, do que resulta, no contexto final, um trabalho muito eclético.
Uma outra curiosidade diz respeito ao revestimento de algumas das suas paredes, nas quais foram usados azulejos provenientes da demolição do convento de S. Bento da Ave-Maria.
João Santiago, junto do palacete em Leça da Palmeira
Palacete da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira – Fonte:
“leca-palmeira.com/”
Importa também referir que um outro incêndio ocorrido na Fábrica de Asneiros, no ano de 1886, foi causado pela queda de um
raio que destruiu totalmente a fábrica situada na Rua da Torrinha, que seria reconstruída
e, mais tarde, as suas instalações seriam estendidas para a Rua da Piedade nº
96, pegado às instalações da fábrica de cerveja da CUFP.
Gravura da Fábrica do Jacinto na Rua da Torrinha
D. Manuel II em visita à Fábrica do Jacinto na Torrinha
O rei junto à Fábrica do Jacinto na Torrinha
A foto acima foi tirada numa visita à cidade de D. Manuel II
e nela podemos ver o rei (3º a contar da esquerda) acompanhado dos donos da
fábrica: Jacinto Magalhães, António da Silva Marinho e António José Gomes
Samagaio.
Data de 28 de Outubro de 1886 a constituição de uma Parceria
de Responsabilidade Limitada, denominada "Fábrica de Fiação e Tecidos do
Jacinto", com sede na Rua da Torrinha, na cidade do Porto, associando-se o
então gerente da primitiva fábrica, descendente e herdeiro do fundador, a uma
outra família, da Rua da Piedade, com tradições na tecelagem manual, os irmãos
Marinhos, que a partir de então assumirão o controlo técnico da fábrica. Em
termos jurídicos a parceria converter-se-á, mais tarde, numa Sociedade por
Quotas, a qual será transformada em S.A.R.L., em 1955. No mesmo ano, será
encerrada a Fábrica da Torrinha, mais tarde destruída e ocupada pelo grande
conjunto do Centro Comercial da Torrinha.
A unidade da Rua da Piedade, conhecida por Fábrica de
Fazendas de Algodão e Linho da firma Marinho & Irmão, a célebre Fábrica dos Marinhos (“Marinhos” há
anos associados aos “Jacintos”), pegada à Fábrica de Cerveja da Companhia União
Fabril Portuense (CUFP) que ficava mesmo na esquina da Rua de Júlio Dinis,
permanecerá em actividade até 1955, data em que foi desactivada e vendido o
alvará de parte dos seus fusos à Sociedade Teixeira de Melo e Filhos, Ld., a
qual foi autorizada a transferi-los para o lugar de Baldante, freguesia de
Ronfe, concelho de Guimarães, no vale do Ave.
Gravuras da Fábrica do Jacinto ou Fábrica
dos Marinhos, na Rua da Piedade
Pela Rua do Campo Alegre esteve a laborar a Fábrica de Fiação e Tecidos do Campo
Alegre.
Fábrica de Fiação e Tecidos do Campo Alegre c. 1920
Aspecto actual do local da foto anterior – Fonte: Google
maps
A Fábrica de Fiação e Tecidos do Campo Alegre situar-se-ia na
Rua do Campo Alegre em frente à confluência com a Rua do Gólgata, quase pegado,
ao Oporto Cricket & Lawn Tennis Club.
Além destas unidades fabris havia, espalhadas pelo tecido
urbano do bairro, centenas de pequenas oficinas que empregavam milhares de
trabalhadores. E foi para satisfazer as necessidades habitacionais, mínimas dos
operários, que nasceram e proliferaram as ilhas nesta “zona da cidade”, de que
é ainda um exemplo vivo o Bairro do Cruzinho situado na Rua do Campo Alegre,
próximo da Praça da Galiza.
A expansão industrial que se operou no Porto, especialmente
a partir do segundo para o terceiro quartel do século XIX, produziu no tecido
urbano da cidade profundas alterações, como foi o caso da zona de Vilar em que
incluímos as ruas com aquela designação mais as da Torrinha e a da Piedade,
nomeadamente esta.
Apesar de alguns acontecimentos inesperados, como a abertura
forçada dos portos do Brasil ao comércio internacional, na sequência das
invasões francesas (particularmente da segunda invasão, que atingiu
profundamente esta cidade, e que tinha como objectivo prioritário a destruição
do nosso parque industrial), apesar dessas e de outras condições adversas, o
Porto não deixou de progredir e até apareceram novas oficinas nomeadamente as
metalúrgicas, ou para o fabrico de velas de sebo e de cera, ou de pregaria e
também algumas unidades de fiação e tecelagem. Não surpreende por isso que o
meado do século XIX tenha sido conhecido como a época de ouro da cidade, tal
era a sua importância económica, social e política no contexto da vida
portuguesa.
Foi por essa altura que o desenvolvimento industrial da
cidade "obrigou" à abertura de uma nova artéria que estabelecesse a
ligação "entre o sítio chamado da Torrinha (onde hoje fica o Largo de
Alexandre de Sá Pinto) e o Padrão de Vilar (que ficava junto à rua deste nome
nas proximidades da actual Rua da Rainha D. Estefânia).
Assim nasceu a Rua da Piedade cuja denominação anda
estreitamente ligada aos movimentos ultra-românticos da época. Sobre esta
artéria diga-se ainda, a título de curiosidade, que o troço entre o Largo de
Alexandre de Sá Pinto e a actual Praça da Galiza se chamou, inicialmente, Rua
do Priorado, tal como acontecia com a Rua da Torrinha que inicialmente
foi Rua do Priorado por ter sido aberta em terrenos que pertenciam ao D. Abade,
prior da Colegiada de Cedofeita. O topónimo Torrinha era o nome de um casal
rústico também foreiro à Colegiada e em cujas terras foi aberta a artéria em
causa.
Pelas bandas da Prelada em 1905 podia ver-se a Fábrica de Francos.
Publicidade à Fábrica de Francos
Entrada actual preservada da antiga Fábrica de Francos na
Rua Central de Francos nº 132
Bem perto da Fábrica de Francos, na Rua do Lugarinho, que no século XIX se chamava Rua das Tropelias, esteve
a Estamparia Império inaugurada em
1945, e que tendo funcionado até à década de 70 do século XX é, hoje, uma área
residencial.
Do mesmo lado da rua, e um pouco mais abaixo da Estamparia
Império, situava-se uma unidade fabril de torrefacção que tinha uns armazéns
destinados ao armazenamento de bananas importadas das colónias e, que, por
isso, o povo chamava de “Fábrica das
Bananas”.
Sobre a Rua do Lugarinho diz o professor Joel Cleto (in
Jornal de Ramalde. 3ª série, nº 21.Porto, 5 de Julho 2002, p.2):
“ (…) um documento
datado de 15 de Fevereiro de 1887, existente no Arquivo Histórico Municipal de
Matosinhos (na pasta de “Processos de Aforamento – 1886 a 1891”), revela não só
a abertura da rua mas também a origem do seu nome. Por esse documento se
percebe que a rua resulta do alargamento de um caminho de pé-posto que,
seguindo já o actual traçado, era no entanto muito mais estreito e de piso
seguramente muito mais irregular. Para a concretização da rua havia pois que
alargar o velho caminho rural, e para tal houve que negociar com o proprietário
dos terrenos agrícolas que o circundavam: Manuel Gonçalves Lugarinho.”
A razão pela qual a origem da Rua do Lugarinho, fez parte de
um processo arquivado em Matosinhos, tem a ver com o facto de ocupar uma área,
que situando-se hoje na freguesia de Ramalde, ter pertencido em tempos, ao
julgado de Bouças.
O julgado de Bouças foi dado ao Porto por D. João I, em 7 de
Julho de 1376, que o tomou de Fernando Afonso de Aborim que, por sua vez, o
tinha recebido de D. Fernando. Seguidamente, D. João entregou-o ao Condestável
D. Nuno, sob protesto dos portuenses, que viriam a ver a sua contestação sair
vitoriosa.
Na Rua do Lugarinho, à direita
ficava a Estamparia Império – Fonte Google maps
Na Rua do Lugarinho, à direita ficava a Torrefacção
conhecida por “Fábrica das Bananas” – Fonte Google maps
A Fábrica de
Acabamentos do Carvalhido esteve também por aqui, a pouco mais de uma
centena de metros das anteriores unidades industriais, na Praça do Exército
Libertador, mais ou menos no local onde hoje se encontra a estátua do antigo
Bispo do Porto D. António Augusto de Castro Meireles (foto abaixo) da autoria
de Henrique Moreira, datada de 1955, estavam as Pirâmides (no topo da actual
Avenida do Conselho da Europa) e que dariam origem a um sítio com o nome de
Sítio das Pirâmides.
O Carvalhido era, em tempos recuados, uma mata de enormes
dimensões nos arrabaldes da Cidade do Porto, por onde passava um caminho
conhecido como estrada da Póvoa. Foi também um dos caminhos de Santiago.
Estátua de D. António Castro Meireles o responsável pela
criação da paróquia do Carvalhido – Ed. JPortojo
No local onde hoje foi aberta a Avenida Conselho da Europa
estiveram as instalações da Invicta Filmes, que acabaria por fechar em finais
da década de 20, quando as instalações são então adquiridas por Fonseca &
Faria Lda. que aí monta uma empresa têxtil: a Fábrica de Acabamentos do
Carvalhido que possuía tinturaria, estamparia e acabamentos, encerrada
em finais dos anos 60 do século XX. A alta e emblemática chaminé daquela
unidade industrial, que durante décadas dominou a Rua da Prelada possuía num
azulejo a data de arranque desta fábrica: 1933.
Mas também esta fechou em 1969, tendo as instalações sido
sucessivamente ocupadas por um sem número de armazéns, pequenas oficinas e até
um campo de tiro.
Por Ramalde, mais propriamente pela Rua Dr. Alberto Macedo
no início do século passado estava implantada a Fábrica de Estamparia Beira Alta.
Fábrica de Estamparia Beira Alta, na Rua Dr. Alberto Macedo
– In Annuario do Porto em 1935
Em 1º plano o local de implantação anterior da Estamparia
Beira Alta – Fonte: Google maps
A Fábrica da Seda de
António Francisco Nogueira Lda foi fundada na Rua da Alegria em 1855, por
Francisco José Nogueira, nascido em 1826 e que, desde cedo, se dedicou à arte
de tecelão, fazendo parte do leque dos notáveis industriais do sector das
sedas.
Os seus produtos: as sedas, os cetins e os veludos inundaram
o mercado, por diversas vezes foram presentes em exposições, nomeadamente a Exposição
Internacional de 1865 e a Exposição de Sericicultura de 1866, entre outras.
Em 1883, Francisco José Nogueira entrega a direcção da
empresa a António Francisco
Nogueira, seu filho. Este realizaria vários investimentos na empresa,
aumentando-a e diversificando os sectores. As suas capacidades foram, ainda,
demonstradas, quando assume o cargo de Presidente da Associação Industrial
Portuense, entre 1903 e 1908.
Nos finais do século XIX, a sua fábrica, além de constituir
uma unidade muito particular no sector, dispunha já de uma máquina a vapor,
cilíndrica, demonstrando um investimento tecnológico para a época.
A empresa passou por vários ciclos, tendo encerrado nos
inícios dos anos 70 do século passado.
Actualmente, o espaço da antiga fábrica de Tecidos de Seda
António Francisco Nogueira, foi adaptado ao Centro Comercial que se estende
desde a Rua da Alegria até à Rua Fernandes Tomás: o Porto Gran Plaza -
Shopping Center, que acabou por albergar, pensa-se que, temporariamente, os
comerciantes do Mercado do Bolhão.
Publicidade da Fábrica de Tecidos de Seda, de F. J. Nogueira
Filho & Cia
Publicidade em 1907, da Fábrica de Tecidos de Seda de F. J.
Nogueira, Filho & Cia
Fachada voltada para a Rua da Alegria, da Fábrica de Tecidos
de Seda
Interior da Fábrica de Tecidos de Seda
Fachada actual, voltada para a Rua da Alegria, da antiga
Fábrica de Tecidos de Seda – Fonte: Google maps
Painel de azulejos originais da Fábrica de Tecidos de Seda, fundada
em 1855 – Ed. MAC
A Fábrica de Sedas
Lionesa teve instalações na Rua António Carneiro, nº 302, ao cimo da
Avenida Camilo.
Era esta a entrada para o complexo fabril da
Lionesa na Rua António Carneiro – Fonte: Google maps
O grande obreiro do lançamento desta fábrica foi Afonso
César de Pádua Correia.
Tendo ficado conhecido como um grande industrial ligado ao
sector do fabrico da seda, teve também um meritório relevo como membro do Clube
Rotário do Porto e, ainda, como benemérito da Santa Casa da Misericórdia de
Paredes.
Pedido de licença, concedido ainda durante o ano de 1935, de
Afonso César Pádua Correia para construir uns armazéns, onde viria a ser
instalada a fábrica
Nos anos seguintes, assistiu-se à ampliação das instalações
fabris.
Afonso César Pádua Correia acabaria por acumular a gestão da
Fábrica de Sedas Lionesa com uma outra unidade fabril, icónica, do sector
têxtil, com existência desde meados do século XIX, instalada a poucas dezenas
de metros, na Rua do Bonfim, nº 266. A “Calandra do Bonfim”.
Esta fábrica tinha sido administrada por Joaquim Afonso
Fernandes Pereira, nos anos que antecederam o começo da década de 1940.
Em 1939, já falecido Joaquim Fernandes Pereira, a viúva e
herdeiros decidem construir instalações, pretendendo que a “Calandra do
Bonfim”, até aí conhecida pela sua fachada para a Rua do Bonfim, estendesse a
área da unidade fabril, até à Avenida Camilo, em terrenos que lhes pertenciam.
Desenho da fachada voltada para a Avenida Camilo, que
integrava o projecto respectivo
É a esta unidade têxtil que Afonso César Pádua Correia irá
juntar também a Fábrica de Tecidos de Fânzeres (Gondomar).
Em 1953, a Fábrica de Tecidos Lionesa, na Rua António
Carneiro, começa a ver chegado o seu fim, com a construção de um vasto complexo
fabril, junto do mosteiro de Leça do Balio.
O autor do projecto foi o arquiteto Agostinho Ferreira de
Almeida, em colaboração com os arquitetos Alfredo Rodrigo Casais Rodrigues e
Francisco Augusto Baptista.
O lançamento deste complexo fabril ainda foi acompanhado por
Afonso César Pádua Correia, que viria a falecer em 16 de Março de 1959.
Fábrica de Tecidos de Seda Lionesa, Lda., em Leça do Balio
Ainda em finais do século passado, com as transformações importantes ocorridas
no sector têxtil, a fábrica encerraria de modo definitivo.
A partir de 2002, o complexo fabril em Leça do Balio daria
lugar a um centro empresarial que, nos últimos vinte anos, tem vindo a crescer
paulatinamente.
A Fábrica de Fiação,
Tinturaria e Acabamentos Matos & Quintans esteve na Rua da Alegria, ao
lado do Campo do Luso e junto do Estádio do Lima, ambos desaparecidos.
Em 30 de Maio de 1899, é criada firma “A Industrial
Portuguesa”, para explorar uma Fábrica de Algodão, por Miguel Matos de Almeida
e José Augusto Quintans de Lima, sob o nome de Matos & Quintans, Lda.
Em 17 de Março de 1903, era requerido à Câmara do Porto um
pedido de licenciamento para uma fábrica a localizar na Rua da Alegria, que
obteve a licença nº 63/1903.
Em 11 de Novembro de 1938, é requerida à Câmara do Porto um
projecto para a reconstrução de parte do edifício fabril utilizado como armazém
e escritórios, que tinha sido alvo de um incêndio e que obterá a licença nº 6/1939.
Desenho da fachada principal da Fábrica Matos &
Quintans, integrante do projecto que obteve a licença nº6/1939
Fábrica Matos & Quintans, na Rua da Alegria, junto do
Estádio do Lima. Pelas suas traseiras tinha-se acesso à Viela do Seixal
(desaparecida)
À direita da foto, esteve implantado o Campo do Luso, tendo
sido construído na área que ocupava um complexo habitacional, cujo senhorio era
a Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Também para os lados do Campo do Lima, mais propriamente, na
Rua Professor Correia de Araújo, nº 709 (antiga Travessa de Costa Cabral),
fazendo esquina com a Rua da Alegria, esteve a Fábrica de Malhas e Tecidos de Seda Matos & Irmãos, Lda., uma
importante unidade fabril da cidade do Porto.
O pedido de licenciamento para a construção da fábrica data
de 27 de Julho de 1925.
Ocupação actual do local onde esteve a Fábrica Matos &
Irmãos, Lda., hoje, um condomínio de luxo
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