(O texto sobre o
tema em título foi baseado nas seguintes fontes: stcp; remisedaboavista.blogspot)
Os anos 40 do século XX trouxeram alterações profundas aos
transportes públicos do Porto. Em 1936, a CMP avisa a CCFP, com base no artigo
trigésimo primeiro da escritura da concessão para a exploração da viação
elétrica na cidade do Porto, que o contrato de concessão seria rescindido em
1941. Esta pretensão da CMP só não se concretizou em 1941 porque deflagrou na
altura a tão famigerada 2ª Guerra Mundial, o que levou a Câmara e o Governo a
adiar por mais 5 anos a situação.
Chegado o ano de 1946 inicia-se uma nova era nos transportes
públicos. A CCFP, depois de 73 anos de laboração dá lugar ao STCP (Serviço de
Transportes Colectivos do Porto), liderado pela Câmara Municipal do Porto. Era
chegada a hora da CMP intervir diretamente na vida dos transportes públicos da
cidade, e foi isso que fez, elaborando um plano/programa em que eram
estabelecidas prioridades para os próximos anos.
Uma das prioridades era a aquisição de autobuses,
para a qual estava reservada uma despesa extraordinária de 3.850 contos e mais 1.300
contos para a aquisição de terreno para a construção da primeira fase da
garagem e oficinas dos mesmos.
Foram ainda nesse mesmo ano de 1946, estudadas e
estabelecidas as bases de aquisição de 15 autobuses, cuja
adjudicação acabou por fazer-se a uma firma da capital, “Auto-Triunfo”, devendo
as primeiras unidades ser entregues em Julho de 1947.
A estratégia traçada pelo STCP em 1946, no que diz respeito
à aquisição de autocarros, seria colocada em prática no decorrer de 1948. De
facto, nem tudo correra como fora planeado, pois dos 15 autocarros que se
pretendiam adquirir em 1946 apenas dois estavam disponíveis em Março de 1948,
pelo que a Administração não querendo perder mais tempo, nem prejudicar o
público, inaugurou a 1 de Abril desse mesmo ano, a carreira "C”, que
partia da Avenida dos Aliados e tinha o seu terminus no
Carvalhido.
Notícia sobre a entrada ao serviço dos autocarros no Porto - In jornal "O Primeiro de Janeiro", em 2 de Abril de 1948
Os primeiros autocarros que circularam na cidade do Porto eram da marca Daimler, e foram carroçados na firma DALFA, Lda., que laborava em Ovar. Os chassis eram provenientes de Inglaterra, e custaram ao STCP, já carroçados, cerca de 1.000 contos cada um. Os autocarros iniciaram a circulação pintados de amarelo, tendo posteriormente, em 1959, mudado para verde.
Carreiras de autocarros inauguradas em 1948:
C - Carvalhido - 1 de Abril
D - Antas - 1 de Junho
A - Foz - 24 de Junho
E - Paranhos - 23 de Outubro
"O Comércio do Porto", de Junho de 1948, sobre a
nova linha D – Fonte: Remise da Boavista
O primeiro autocarro a efectuar a linha D, In "O
Comércio do Porto", de Junho de 1948 – Fonte: Remise da Boavista
Em dia de S. João (24 de Junho) do ano de 1948, o então
Serviço de Transportes Colectivos do Porto inaugurava a linha A (Avenida dos
Aliados – Foz) que servia as áreas residenciais do Campo Alegre, da Avenida Marechal
Gomes da Costa e da própria Foz. Tudo áreas que já eram (e continuam a ser)
consideradas das mais elegantes e selectas do burgo.
Aviso do STCP, a anunciar a nova linha In "O
Comércio do Porto", de Junho de 1948 – Fonte: Remise da Boavista
Em 27 de Abril de
1952, os STCP decidem adquirir os autocarros ingleses A.E.C. que, pintados de
verde-escuro, haveriam de durar anos.
Na Avenida dos
Aliados, à esquerda, um veículo “AEC Regent V” de dois pisos, modelo
chegado ao Porto, em 1960. A seu lado, um
“Daimler” (com volante à direita), nº 16, recarroçado e com nova pintura, que
foram os primeiros veículos a entrar ao serviço
Novos tempos
Durante vinte e seis anos, as duas linhas a “D” e a “A”
coexistiram separadamente.
A “D” levava, inicialmente, os passageiros da Avenida dos
Aliados e, a partir de 1963, desde a Praça D. João I até às áreas residenciais
das Antas (primeiro) e ao bairro Costa Cabral e à Areosa (mais tarde, quando a
linha foi prolongada até ao Hospital de S. João), sendo o percurso feito na
então designada Via Nordeste (actual Via Fernão Magalhães).
A linha “A” levava os passageiros às ditas áreas selectas da
Foz, como referimos anteriormente. Mas em vinte e seis anos, muita coisa muda:
a cidade do Porto expande-se cada vez mais para fora do centro, são abertas
novas vias de trânsito dentro da cidade, constroem-se centenas de milhares de
casas (incluindo os famosos bairros sociais) para não só albergarem as pessoas
vindas do interior do nosso País, como também os habitantes das famosas
“ilhas”, que proliferavam no centro do Porto.
Os autocarros chegaram e venceram. Mesmo com a construção
nas oficinas do STCP de um novo modelo de elétrico o - "S-500" - o
autocarro via aumentada, de ano para ano, a sua frota. Com o Plano de
Remodelação da empresa, elaborado desde 1962 e colocado em marcha a partir de
1967, o autocarro assume-se definitivamente como protagonista dos transportes
públicos da cidade, ultrapassando os elétricos tanto em quilómetros percorridos
como em passageiros transportados e respectivas receitas. A partir daí, o
autocarro nunca mais deixou de se expandir.
Estação da Carcereira em 1960
Na foto acima, a estação da Carcereira que foi a primeira
estação de recolha de autocarros (1948) e de troleicarros (1958) do
"Serviço de Transportes Colectivos do Porto".
O Autocarro vem da Areosa – Fonte:
“museu-carro-electrico.stcp.pt”
Na foto acima, vê-se o local onde surgiria a Estação de
Recolha da Asprela, na Areosa.
Nos novos tempos surge, então, a necessidade do STCP se
adaptar às exigências de um público que, na altura se tornava cada vez mais
numeroso e que exigia cada vez mais recursos. Daí que a empresa se tenha
decidido em unir as linhas A e D, passando a identificar a nova linha com o
número 78. Esta decisão foi tomada e anunciada pública no dia 19 de Abril de
1974.
É nesse período, pós vinte e cinco de Abril (décadas de
setenta e oitenta), que a linha 78 começa a ser operada da forma como muitos
passageiros se recordam – com os famosos autocarros Leyland Atlantean de dois
pisos, já com a pintura laranja.
Autocarros Leyland Atlantean de 2 pisos
O autocarro da foto acima, da linha 78, unia a cidade de uma
ponta à outra, desde o Hospital S. João ao Castelo do Queijo, com passagem pela
Praça D. João I e Cordoaria.
Em 31 de Dezembro de 2006, efectuou-se a última viagem na
linha mais antiga e mais extensa da cidade.
No dia seguinte, para fazer aquele percurso era necessário
fazerem-se vários transbordos. Os percursos encurtaram.
Assim, os Transportes Colectivos do Porto (STCP), extinguiram
esta e outras 43 linhas, criando 30 novas linhas e mudando quase toda a numeração
de identificação.
Autocarro Leyland Atlantean de 1 piso
Com o progressivo abate dos Leyland Atlantean de dois pisos
nos finais da década de oitenta e princípios da década de noventa do século XX,
a STCP seria forçada a utilizar autocarros Standard para os substituir, até
porque na altura a empresa já tinha linhas que necessitavam dos autocarros articulados
que entretanto adquirira.
Assim, e pelo menos até 1998, entraram ao serviço os
autocarros da série 15XX-16XX (os primeiros Mercedes-Benz ao serviço da STCP,
carroçados pela CAMO), cumprindo novas exigências a nível de conforto (estes
autocarros foram considerados mais silenciosos, menos poluentes e mais
confortáveis que os seus antecessores).
Todavia, entre 1998 e 2000 os autocarros Volvo B10R (série
800-900) asseguraram a linha 78, que chegava a contar com 16 autocarros em
circulação durante o dia.
E em 2000, a STCP começa a operar novos autocarros a Diesel,
com a numeração 2100. A grande maioria foi carroçada pela Salvador Caetano com
chassis Mercedes-Benz, embora não fosse raro ver alguns autocarros
integralmente construídos por esta empresa germânica, adquiridos em 2004.
Mercedes modelo 21XX -
Ed. Leandro Ferreira
Autocarro articulado, Volvo B10M, em 1982
Troleicarros
A partir de Maio de 1959, os troleicarros foram introduzidos
para substituir os carros eléctricos. As linhas para V. N. de Gaia, Campanhã e
Lordelo foram as primeiras a ser postas ao serviço.
Os troleicarros circularam até ao ano de 1997.
Os troleicarros circularam até ao ano de 1997.
Troleicarro BUT (British United Trolley), N.º 23, no Museu do Carro Eléctrico - Fonte: “pt.wikipedia.org”
A utilização dos troleicarros, em 1959, teve início com 20 BUT (British United Trolley) com capacidade para 32 passageiros sentados. Eles tinham um chassis da Leyland e um motor eléctrico de 99 kW da Metropolitan-Vickers.
Em 1963, foram acompanhados por mais 6 veículos do mesmo tipo, mas com três portas em vez de duas e os lugares sentados reduzidos a 20.
Os troleicarros 1 e 23 foram preservados para o museu, os outros foram abatidos ou vendidos.
Em 1966/7, a frota dos troleicarros foi alargada em 25 veículos.
As caixas foram feitas pela Dalfa. O chassis veio com um motor eléctrico Lancia
110 kW GCE. Tinha 29 assentos. Este tipo de veículo foi apelidado de
"Italianos". O troleicarro 43 faz parte da colecção do museu, os
outros foram demolidos.
Juntamente com os Italianos 50 troleicarros de dois pisos
foram adquiridos a partir dos mesmos fornecedores. Com 68 assentos tinha uma
tripulação de dois homens. Em 1995 foram retirados. O troleicarro 102 faz parte
da colecção do museu no Porto e o nº 140 foi para o museu dos troleicarros de
Sandtoft na Inglaterra.Em 1983/4, 15 troleicarros Efacec, foram adquiridos à Salvador Caetano. O motor elétrico de 131 kW era da Efacec com componentes de Kiepe. Eles também tinham uma auxillary 50 kW motor Diesel da Hatz. O nº 74 foi para o museu no Porto, mas em 2003 foi para Coimbra. Os outros foram em outubro de 2000 para Almaty, no Cazaquistão.
Por fim em 1984/5, 10 troleicarros articulados Efacec foram entregues pelos mesmos fornecedores em 1984/5. Eles foram tecnicamente igual ao tipo menor, mas tinha motores elétricos de 209 kW. O nº 167 foi para o museu no Porto, mas foi em 2003 para Coimbra. Os outros foram em outubro de 2000 para Almaty, no Cazaquistão.
“Foi introduzido (o
troleicarro) com o objetivo de substituir o carro elétrico na ponte Luís I,
devido à corrosão eletrolítica que este estava a provocar à ponte metálica.
Após as ligações a Vila Nova de Gaia, a rede estendeu-se rapidamente a diversas
zonas da cidade e aos concelhos limítrofes do Porto, mercê da popularidade
alcançada pelo novo meio de transporte. A rede atingiu o seu apogeu em meados
da década de 1970, com cerca de 40 km de linha e mais de 100 tróleis ao
serviço.
O congestionamento
automóvel do Grande Porto, no entanto, acabou por ditar o retrocesso
progressivo dos troleicarros e a sua substituição por autocarros. Os últimos
tróleis foram retirados de circulação em 1997. Muitos deles foram vendidos para
o Cazaquistão onde continuam a funcionar”.
Com a devida vénia a Manuel de Sousa
Troleicarros das linhas 9 (Bolhão - Ermesinde) e 29 (Bolhão
- Travagem), na Rua do Bolhão, em 1983
Os veículos da foto acima são da marca BUT.
“Em 1967, o então STCP
tinha a sua rede de tróleis em expansão. Com efeito, em 1967 seriam as linhas
de Gondomar (Bolhão - Gondomar e Bolhão - São Pedro da Cova) em 1968 seria a
vez do concelho de Valongo - mais concretamente a freguesia de Ermesinde - que
passaria a dispor de duas linhas de trólei (Bolhão - Ermesinde e Bolhão -
Travagem).
Para o efeito, foi
necessária a construção da subestação da Gandra. Para além de ser a única no
concelho de Valongo, era também a única subestação a ser equipada com rectificadores
de silício. A localização desta subestação permitia o fornecimento de energia às
duas linhas de troleicarro; dado que esta ficava num local muito próximo às
duas ruas servidas pelo trólei.
Em 1959, com a introdução dos primeiros troleicarros, os
Serviços de Transportes Colectivos do Porto construíram as primeiras
Subestações de Transformação Elétrica para apoio à rede.
Algumas delas eram enterradas no solo, pelo que, não
interferiam com o ambiente urbano.
Outras eram construídas acima do solo.
Descarga dos equipamentos, junto da igreja do Bonfim, para a
construção da Subestação de Transformação Elétrica do Bonfim, que permitia
garantir o abastecimento energético das viaturas que faziam o percurso para a
zona oriental da cidade e, fora desta, para Gondomar
Em 1967, o STCP lança as linhas de troléis de Gondomar
(Bolhão - Gondomar e Bolhão - São Pedro da Cova) e, em 1968, as de Valongo -
mais concretamente a freguesia de Ermesinde - que passaria a dispor de duas
linhas de trólei (Bolhão - Ermesinde e Bolhão - Travagem).
“Para o efeito, foi necessária
a construção da subestação da Gandra. Para além de ser a única no concelho de
Valongo, era também a única subestação a ser equipada com rectificadores de
silício. A localização desta subestação permitia o fornecimento de energia às
duas linhas de troleicarro; dado que esta ficava num local muito próximo ás
duas ruas servidas pelo trólei”.
Fonte : remisedaboavista.blogspot
Subestação da Gandra – Ed. Jorge Monteiro
“Esta subestação funcionou
durante mais de 25 anos (aproximadamente), até que em 1993/94, as linhas 9 e 29
passaram a ser operadas com autocarros. Desde então, esta estrutura foi votada
ao abandono, que levou a um estado de degradação altamente preocupante com o
crescimento de silvas e outras plantas em redor do edifício.
Note-se, todavia, que
as populações que viviam em redor desta estrutura viram com algum alívio a
desactivação desta estrutura; pois em dias de forte trovoada existia a
propensão para a ocorrência de curtos-circuitos e outro tipo de incidentes.
Em 2007, após a venda
do terreno por parte da STCP, a subestação foi demolida para dar lugar a um
prédio residencial. Esta foto mostra os últimos dias da subestação antes da sua
demolição”.
Fonte : remisedaboavista.blogspot
Troleicarro de 2 pisos – Fonte: Site “geopalavras.pt”
Trólei e autocarro de 2 pisos na ponte Luís I – Fonte: Site
“geopalavras.pt”
O autocarro da foto acima era um Regent V, dos carroçados na
UTIC, nos anos sessenta.
Os transportes na cidade do Porto (cronologia) –
Fonte: "stcp.pt"
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