Associações de Trabalhadores (I)
Na segunda metade do século XIX, com a expansão da indústria, começaram a aparecer os primeiros movimentos de associação de operários.
A Fontinha, era uma das zonas da cidade, onde aquelas associações se concentravam.
“O sítio da Fontinha, chamemos-lhe assim,
nasce junto a Fradelos e morre, lá no alto, na Rua da Fábrica Social. Fica-lhe
pelo dorso torcicolado as Carvalheiras, essa maravilha humilde de serventia
citadina; e a Rua das Musas - na sua graça poética de legenda toponímia.
Trata-se de um dos mais típicos e generosos
aglomerados populacionais tripeiros de índole tipicamente operária, cuja
verdadeira história está ainda por fazer.
Com efeito, foi por estas bandas que, no
surto associativo dos anos 70-80, do século XIX, se deram os passos mais
decisivos do movimento operário portuense - um período e um sítio acerca dos
quais muito pouco ou nada se tem dito.
É para tentar ajudar à reconstituição
histórica do movimento operário portuense que aqui se evocam apenas alguns dos
mais significativos acontecimentos que tiveram por palco o Bairro da Fontinha
ou as suas redondezas.
Em Abril de 1874, por exemplo, um pequeno
núcleo de operários fundou, na Rua de Santa Catarina, na esquina com a Calçada
do Luciano, hoje Rua da Escola Normal, a Associação dos Trabalhadores
que, dois anos depois, transferiu a sua sede para o Largo da Fontinha, onde se
manteve, em permanente actividade, por muitos anos mais. Nesta associação, que
reunia operários dos mais diversos ramos da indústria, pontificava o cidadão
francês Joseph Delarue, fabricante de pianos, que estivera implicado nos
acontecimentos da Comuna, e por causa dos quais deixara França para se radicar
no Porto. Ainda há relativamente pouco tempo funcionava na Praça da República a
Casa Delarue, especializada na reparação e afinação de pianos.
Associada aos primeiros passos do movimento
operário portuense, anda a Imprensa operária que surge para sustentar, apoiar e
defender os interesses da classe e a doutrina mutualista que lhe andava associada.
Em 1875, apareceu nas imediações da Fontinha, mais concretamente na Rua do
Bonjardim, nas proximidades do actual Largo de Tito Fontes, o "Jornal
Artístico Social", de que eram redactores os irmãos Abreu, Bernardino e
Eduardo Gonçalves, pertencentes, os três, ao quadro redactorial de "O
Primeiro de Janeiro".
O nome da Rua da Fábrica Social anda ligado,
por sua vez, à fábrica de chapéus que por ali laborou.
Em 1873, a classe dos chapeleiros atravessava
uma das suas fases de maior desenvolvimento com a mecanização das instalações
das fábricas Social, no Alto da Fontinha; e de Costa Braga, na Rua da Firmeza,
no mesmo local onde agora está a Escola Artística de Soares dos Reis.
O sítio onde se realizavam os maiores
comícios operários desses tempos era no actual Largo do Dr. Tito Fontes por
ser, para a época, o mais amplo logradouro que havia na cidade para esse tipo
de manifestações. As reuniões públicas em que participavam os associados das
instituições operárias da altura faziam-se num velho edifício situado na
esquina da Rua de Gonçalo Cristóvão e do actual Largo do Dr. Tito Fontes.
Defronte ficava outra casa célebre a sede da Laboriosa (está agora em
ruínas) em cujo salão se realizaram importantes e agitadas reuniões operárias.
Dionísio Ferreira dos Santos Silva, antigo operário chapeleiro, estreitamente
ligado aos movimentos republicanos (seria um dos participantes na revolta de 31
de Janeiro de 1891) e mutualistas, com a sua palavra fácil e convincente
interveio em inúmeros comícios e reuniões especialmente nos da classe a que
pertencia.
Por falar em oradores de comícios a Rua de
Conceição Fernandes, em Gaia, lembra um grande orador dos movimentos operários
dos meados do século XIX, José Maria Conceição Fernandes, que em 25 de Julho de
1875, juntamente com Felizardo Lima, protagonizou uma vibrante intervenção no
Salão da Laboriosa durante um concorrido comício operário. Era serralheiro de
profissão e acabou os seus dias professor na Escola Industrial do Infante D.
Henrique. O Porto esqueceu-o. Gaia perpetuou-lhe o nome na toponímia local.
O espaço da crónica é curto mas não queremos
encerrá-la sem falar num tipo de indústria que teve algum sucesso nos meados do
século XIX e se desenvolveu através de pequenas oficinas que se espalhavam
pelas faldas do monte da Fontinha, ou seja, nas zonas das Liceiras e
Carvalheiras. Referimo-nos ao fabrico de camas e outra mobília de ferro. O
pioneiro desta indústria foi um antigo operário da Fundição do Bolhão chamado
António Martins Viana, que morreu em 1912, na sua casa do Bairro Operário da
Constituição, esquina desta rua com a de Serpa Pinto, mandado construir pelo
jornal "O Comércio do Porto", segundo um projecto do arquitecto
Marques da Silva.
Em 1876, paredes-meias com a sede da
Associação dos Trabalhadores, citada na peça ao lado, funda-se, também, no
Largo da Fontinha, a Cooperativa de Tecidos em que congregam os trabalhadores
do sector têxtil. Mas a mais famosa actividade desta zona foi, sem dúvida, a
indústria do fabrico manual de pregos de ferro forjado, disseminada por
inúmeras oficinas instaladas na Rua das Musas, no Alto da Fontinha e em
terrenos onde, posteriormente, viria a ser construído o hoje tão falado (pelos
piores motivos) Bairro do Leal. A 12 de Maio de 1876, os pregueiros das
oficinas das Musas e da Fontinha deram início uma greve exigindo aumentos
salariais. Este movimento grevista coincidiu com a inauguração, na Rua dos
Bragas, da Companhia Aurifícia, uma unidade industrial moderna, apetrechada com
a mais moderna maquinaria que na época existia para o fabrico de pregos a
partir do arame. Estes dois acontecimentos estiveram na origem da extinção da
velha indústria artesanal do fabrico de pregos de ferro forjado.”
Com a devida vénia a Germano Silva, no Jornal de Notícias
A década de 1850 foi prolífera no que à formação de associações de
classe diz respeito.
A Associação Portuense de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas – A Laboriosa- acima referida, foi instituída e instalada no dia 25 de Março de 1856 e confirmada, por alvará régio de 10 de Março de 1857. Ocupou um prédio (recentemente demolido) na Rua de Gonçalo Cristovão (em frente à actual sede do Jornal do Notícias), onde esteve também instalado, durante anos, o Grupo dos Modestos (Escola de formação de muitos actores portuenses de teatro) fundado em 25 de Setembro de 1902.
Largo da Fontinha em 1964, onde funcionava, sob a cobertura, um dos mercados
de levante da cidade do Porto
Largo da Fontinha, actualmente – Fonte: Dora Mota (Revista Evasões -
2017)
A Associação Portuense de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas – A Laboriosa- acima referida, foi instituída e instalada no dia 25 de Março de 1856 e confirmada, por alvará régio de 10 de Março de 1857. Ocupou um prédio (recentemente demolido) na Rua de Gonçalo Cristovão (em frente à actual sede do Jornal do Notícias), onde esteve também instalado, durante anos, o Grupo dos Modestos (Escola de formação de muitos actores portuenses de teatro) fundado em 25 de Setembro de 1902.
No prédio do meio (já demolido) esteve a Associação
Portuense de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas e, posteriormente, o Grupo
dos Modestos - Cortesia de Teo Dias (administrador de “ruasdoporto.blogspot.com”)
Prédio onde esteve a Associação Portuense de Socorros Mútuos
das Classes Laboriosas – Cortesia de “outra-face.blogspot.com”
Em 1906, o prédio onde tinha estado a Associação Portuense de Socorros
Mútuos das Classes Laboriosas estava devoluto e “Os Modestos” ocuparam-no,
estabeleceram lá a sua sede e levantaram nas instalações uma sala de
espectáculos que começaria a funcionar em 1908.
Em 1902, um grupo de jovens já tinham arrancado com as suas representações teatrais, numa loja de um prédio da Rua do Almada, levando à cena “Os sinos de Bonneville”.
Em 1902, um grupo de jovens já tinham arrancado com as suas representações teatrais, numa loja de um prédio da Rua do Almada, levando à cena “Os sinos de Bonneville”.
Outra perspectiva do local das fotos anteriores, com o
edifício que foi morada da Associação Portuense de Socorros Mútuos das Classes
Laboriosas, à esquerda. Até à esquina, à direita, já tudo foi demolido –
Cortesia de “outra-face.blogspot.com”
Memórias de um Porto Operário e Anarquista
“Após 4 anos da greve e tumultos de Chicago em 1886, que provocou a
condenação à forca de 7 anarquistas, realizou-se no Porto o Dia do Trabalhador,
com 12000 manifestantes, em que socialistas e anarquistas se juntaram no Monte
Aventino.
Teria sido no
Largo da Fontinha nº 50 que nasceu o movimento sindicalista e socialista, em
volta da Fábrica Social, antes Fábrica de Chapéus e hoje a sede da Fundação
José Rodrigues.
Em volta daquela
fábrica existiam uma série de pequenas oficinas que foram o campo para a
explosão do movimento sindical.
Por sua vez a Rua
do Almada ou Rua das Ferragens seria no início do século XX a rua com maior
número de associações de classe.
Muitos sindicatos
desta rua estavam ligados aos socialistas mas devido a um certo desencanto com
o caminhar dos acontecimentos, a chegada da República e alguma desilusão,
fizeram com que muitos se aliassem à anarco-sindicalista União Operária
Nacional em 1912.
Assim, em 1895 os
socialistas saem da Fontinha e vão para o nº 641 da Rua do Almada, onde fundam
o Partido Socialista Português e o Centro Operário de Propaganda
Socialista.
Já antes aí
funcionava o Instituto Antero de Quental e algumas outras associações
profissionais, tendo, naquele ano, o Centro Operário de Propaganda Socialista
se associado a outros sindicatos e por aí se mantiveram até 1914 quando passam
para a Rua do Paraíso (cooperativa do Povo Portuense).
No cimo da Rua do
Almada no nº 641 chegaram a ter sede 8 sindicatos
Os anarquistas
continuaram na Fontinha.
O movimento
associativo, no feminino, está ligado a duas mulheres trabalhadoras na Fábrica
de Camisas Confiança na Rua de Santa Catarina.
Esta fábrica
sucedeu a uma modesta loja de camisas no mesmo local, aberta em 1883.
Foi naquela
fábrica que chegou a empregar mais de mil mulheres que Margarida Barros e
Virgínia Dantas se conheceram e acabaram por fundar a primeira secção da
Juventude Socialista que mais tarde se estenderia a outras unidades fabris.
Aquelas duas
mulheres, mais tarde haveriam de fundar o Grupo Anarquista Louise Michel e
escreviam frequentemente para o periódico “A Comuna”.
Por sua vez o
Comunismo nasceria perto da Cadeia da Relação, na Rua de Trás.
Em 1919 cria-se a
Federação Maximalista Portuguesa pelas mãos de libertários inspirados na
Revolução de Outubro de 1917.
A existência
daquela federação foi de um ano e meio, mas alguns dos seus membros acabam em
1921 por fundar o Partido Comunista Português, tendo o seu primeiro
secretário-geral sido um dos fundadores da Fundação Maximalista Portuguesa.
O Largo Dr. Tito
Fontes representa outro marco importante do sindicalismo portuense.
Num edifício
daquele largo, que já foi a sede da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso,
funcionavam a Cooperativa dos Carpinteiros e a Associação dos Fabricantes do
Calçado.
Em Setembro de
1918 a União Operária Nacional, que mais tarde se transformaria em Confederação
Geral do Trabalho, promove aí, uma reunião de 300 manifestantes durante o
governo de Sidónio Pais, que foi dispersa pela polícia à coronhada.
A imprensa ligada
ao movimento associativo teve também vários locais emblemáticos.
Na Rua da
Bainharia na Sé, desde 1910, teve assento o semanário anarquista “Aurora”
que daria ao fim de mês e meio origem à Cooperativa Aurora Social.
Enquanto a
cooperativa só viveu 4 anos o semanário esteve a público até 1920, extinto após
perseguições políticas e policiais.
Entre 1920 e 1926
o periódico “A Comuna” na Rua do Sol foi a expressão escrita do
anarquismo portuense”.
Fonte principal: Zita Moura, In Jornal Público
Como acima é dito, o Monte Aventino, torna-se um local de eleição para a
realização dos comícios operários.
Em 24 de Abril de 1898, durante a realização de um grande comício
operário no Monte Aventino, contra a Lei de 13 de Fevereiro de 1896, considerada
contra os princípios da liberdade do operariado português, Cristiano de
Carvalho daria a conhecer uma petição que iria ser enviada ao Parlamento, sobre
o assunto. O comissário da Polícia, capitão Feijó, pergunta se ele é o autor do
texto e se os dirigentes do comício (António Pereira de Carvalho, José Pinto
Moreira e Joaquim Mendes Campos) a perfilhavam. Como todos responderam afirmativamente,
foram os 4 presos e o comício dissolvido.
Ainda, no que respeita ao Porto, na caminhada para a Confederação Geral
do Trabalho, realizou-se uma importante reunião da Secção Norte da União
Operária Nacional, no salão Apolo Terrasse, nos dias 6 e 7 de Junho de 1917, estando
presentes 71 sindicatos, 6 Federações corporativas e 4 Federações de ofícios
vários.
Desde 1914, existia a União Operária Nacional em duas secções, norte e
sul.
Carro Alegórico e Cortejo do 1º de Maio no Jardim de S. Lázaro em 1905
– Ed. Aurélio Paz dos Reis
Manifestação de comemoração do 31 de Janeiro de 1911, na Rua de Pinto Bessa
Associações de
operários católicos e movimentos precursores
Associação Católica
do Porto (ACP)
A Associação Católica do Porto foi aprovada pelo Governo
Civil em 20/1/1872 e pelo Cardeal D. Américo a 9/2/1872 sendo que, a 10 de
Março de 1872 ocorreria, numa casa alugada na antiga Rua D. Pedro, a eleição do
1º corpo directivo da Associação Católica do Porto tendo como director Roberto
Guilherme Woudhouse e vice-director o Visconde de Azevedo, entre os restantes
elementos.
A Associação Católica do Porto haveria de ter sede nas ruas
do Almada, da Fábrica e Cimo de Vila, tendo ocupado, em 22 de Junho de 1884, a
actual, na Rua de Passos Manuel, nº 54.
Este movimento associativo de católicos será o precursor e
servirá de ensaio para os movimentos operários de católicos que irão surgir no
fim do século XIX.
“A Associação Católica
do Porto, uma das mais antigas da Europa, nasceu em 1872 de um movimento
associativo tipicamente laical que surge a par do dinamismo do I Congresso dos
Escritores e Oradores Católicos reunido no Palácio de Cristal, Porto, de 27 de
Dezembro de 1871 a 5 de Janeiro de 1872.
Já desde o início de 1870 que um grupo de honrados senhores se reunia, com
regularidade, em casa do Mons. António Joaquim de Azevedo e Couto, analisando
estatutos de associações católicas da Europa. Tentavam responder aos apelos do
Papa Pio IX em favor do associativismo dos católicos e elaborar os estatutos de
uma idêntica instituição. Requerida ao Governo Civil a aprovação em 28 de Maio
de 1870, só haveria de sê-lo em 20 de Janeiro de 1872 e, pelo Cardeal D.
Américo em 9 de Fevereiro seguinte.
Um forte impulso recebeu tal objectivo do entusiasmo vindo do referido
Congresso, a que presidiu D. Francisco Lacerda e tendo como vice-presidentes o
Conde de Samodães e o Visconde de Azevedo e nomes como D. António de Almeida,
Roberto Woodhouse, Arcediago Wanzeler, Cón. Manuel Barbosa Leão e outros. Era a
resposta católica das gentes do Norte aos que tentavam ridicularizar a Fé
católica, e fizeram-no invocando a sua qualidade de cristãos e proclamando a
igual dignidade baptismal e o direito de levantarem a sua voz. Tal atitude
mereceu todo o apreço do Papa Pio IX que lhes concedeu mesmo «indulgência
plenária», como se diz no jornal «A Palavra» em 6 de Dezembro de 1872.
Surgido em 1 de Agosto
de 1872, por iniciativa do director espiritual da Associação, P. António Couto,
«A Palavra» foi outro elemento revelador da têmpera dos homens ligados à
Associação Católica. Contra ele haveriam de bater-se quantos queriam silenciar
uma tão extraordinária consciência laical e consequente intervenção por parte
de uma gente que, na Igreja e na sociedade, levantava a voz em favor da liberdade
de pensamento, de expressão e de associação, e apelava mesmo ao compromisso
político dos católicos. Ainda que acusados de miguelistas, retrógrados e
sectários, os sócios da ACP sempre tiveram coragem para defender as suas
ideias, recusando subserviências partidárias. Recorde-se que estávamos antes de
Leão XIII, na Immortale Dei (1885), reconhecer a autonomia do poder temporal e,
de algum modo, absolver os que defendiam o liberalismo constitucional.
A ACP, depois de ter
sede nas ruas do Almada, da Fábrica e Cimo de Vila, inaugurou em 22 de Junho de
1884 a actual, na Rua de Passos Manuel, 54, o que mereceu uma bênção especial
do Papa Leão XIII. E dali haveria de brotar um dinamismo eclesial visível no
referido jornal e em obras a que deu todo o apoio, como a Conferência de S.
Vicente de Paulo, a Oficina de S. José e, algum tempo depois, a Juventude
Católica do Porto.
Os tempos mudaram e
agora é diferente o modo de presença da Igreja na sociedade, como também o
respeito que por ela manifesta o Estado, defendendo mesmo a liberdade de
consciência e de religião. Entretanto, a história de 125 anos da ACP permite
perceber a largueza dos passos que conduziram ao II Concílio do Vaticano e que
fazem a Igreja dizer que não foge do mundo e quer mesmo partilhar das suas
alegrias e sofrimentos, tentando amá-lo à maneira de Cristo. Ele recusa o
secretismo e, hoje, aposta na transparência, sem esconder que pretende levar a
Boa Nova de Cristo a todas as pessoas e comunidades. Respeitadora da autonomia
do que é temporal, coloca-se ao serviço dos que mais precisam, proclamando a
dignidade inviolável da pessoa humana e promovendo o diálogo, cooperação,
justiça, respeito pela Natureza, valorização do trabalho, bem como a
reconciliação, a paz e o amor entre as pessoas. E afirma com clareza que é no
modo como se tratam estas coisas mundanas que se revela a santidade das
pessoas.
Passou, assim, o tempo
das hegemonias espirituais, tristemente hoje visíveis em retrógrados
fundamentalismos, e passou também a arrogância do poder político sobre o
religioso que deixou marcas nas inquisições pós-medievais, na expoliação de
judeus e de ordens religiosas, e em outras práticas. Será agora tempo de uma
convivência civilizada entre todos os homens de boa vontade, católicos ou não,
e de uma cooperação para que possam ser resolvidos os grandes problemas deste
tempo, agora visíveis em escala mundial. Disso sejam capazes os homens e
mulheres do novo milénio que se aproxima, unidos no que os aproxima e sem
tentarem encontrar desculpas na diversidade da Fé, da raça ou da cultura.
Cortesia de F. M. ; Fonte: “etc.pt/VP/”
Em 15 de Fevereiro de 1911, ainda na sequência da implantação da República, tiveram lugar aos acontecimentos que provocaram danos nas instalações da Associação Católica do Porto.
Tudo começou pela impossibilidade de entrada na sede daquela associação, à Rua de Passos Manuel, dos muitos que pretendiam ouvir a oratória do estudante Verdial, que aí se apresentava para contraditar outro orador. A páginas tantas, era tanto o povo, que foi dada ordem para o fecho das portas.
Não gostou a populaça e vai de apedrejar o edifício. A desordem invadiu a cidade.
O Palacete dos Pestanas, de José Joaquim Pestana da Silva e a residência da família Álvares Ribeiro, foram alvo dos desordeiros, bem como, o edifício onde se acolitava o jornal de cariz monárquico "A Palavra".
Os motins que tiveram lugar foram reprimidos com violência pela Polícia e Guarda Republicana, dando como resultado inúmeros feridos e levando à prisão Francisco Gomes Cortêz e os padres Artur Leite de Amorim, Adriano Moreira Martins e Guilhermino de Trindade Afonso, que viria a ser comissário de polícia.
O Dr. Paulo Falcão, governador civil pediria, na sequência dos acontecimentos, a sua demissão, o que não viria a ser aceite.
Entretanto, no dia seguinte, as instalações do jornal "A Palavra" voltariam a ser apedrejadas, pelo que seria suspensa a sua publicação e os motins estender-se-iam, também, a V. N. de Gaia.
Facto curioso é que o jornal "Diário da Tarde", dirigido pelo ilustre republicano José Pereira Sampaio (Bruno), terá sido também ameaçado de sofrer a ira dos populares. Assim, a sua publicação será suspensa. Esta atitude de Sampaio Bruno iria, porém, levantar um coro de protestos, que ficariam expressos num comunicado público assinado, entre muitos outros por Xavier Esteves, Delfim Pereira da Costa, Silva Cunha, Adriano Gomes Pimenta, Rómulo de Oliveira, Ângelo Vaz, Eduardo Ferreira dos Santos Silva, Francisco Cordeiro dos Santos, Vasco Verdial, etc.
Sampaio Bruno ouvido pelo governador civil livra-se de ser acusado do crime de "alarme do espírito público, susceptível de ocasionar prejuízo para o Estado" e os padres Manuel Pereira Lopes e José de Almeida Pais do jornal "A Palavra", são ouvidos pelas autoridades e postos em liberdade.
Numa situação insólita, o jornal "A Luta" de Lisboa, põe à disposição de Sampaio Bruno as suas colunas.
Com os ânimos mais calmos, a 28 de Fevereiro de 1911, Sampaio Bruno parte para o estrangeiro em visita a vários países da europa, tendo à sua despedida, na estação de S. Bento, muitos dos seus amigos e admiradores, em missão integrada na sua função de director do Museu Municipal.
Por outro lado, o Comissário da Polícia entrega a chave do jornal "A Palavra", na sua posse desde o dia 15 do corrente, ao Dr. Alberto Pinheiro Torres, director daquele periódico, que continuaria suspenso.
Em 1935, o 2º carro, no sentido ascendente, está estacionado
à porta do Ateneu Comercial e, o 3º, diante da sede da Associação Católica do
Porto
Na sua sede, na Rua de Passos Manuel, a Associação Católica
do Porto continua, nos nossos dias, a cumprir, sobretudo, o artigo 2º dos seus
estatutos.
(Artigo 2.º dos
Estatutos)
(a) Aprofundar, difundir e aplicar a doutrina da Igreja
Católica à vida em sociedade e às instituições laicais empenhadas em promover a
paz social, o desenvolvimento; os princípios da mundividência cristã e os
valores do Evangelho;
(b) Estudar, desenvolver e difundir o conhecimento dos
princípios da ética, da moral e da doutrina social da Igreja;
(c) Promover e apoiar iniciativas de solidariedade em
diálogo com intelectuais, artistas, trabalhadores, empresas, associações e
movimentos empenhados em objetivos de bem comum, de paz, progresso humano e
social, equilíbrio ambiental e ecológico e de valorização do património histórico,
material e imaterial do povo português.
Círculo Católico de
Operários do Porto (CCO)
“O incomensurável
impacto da encíclica Rerum Novarum em
todo o mundo católico alertando para os designados «deveres do Estado», estava
já eivada de uma nova noção de justiça, da responsabilização dos proprietários,
da promessa de relações renovadas entre trabalhadores e patrões através do
associativismo operário. Esta primeira encíclica social reflecte largamente o
sindicalismo e a participação dos católicos na organização sindical,
apresentando os sindicatos como «instrumentos de solução da questão social e de
[…] correcção de situações injustas e desumanas». Demais, enquanto a encíclica Rerum Novarum deixa caminho aberto à
opção livre entre o sindicato misto e o sindicato separado, os CCO em Portugal
vão seguir, na sua essência, a primeira via, não envolvendo qualquer ideia de
separação ou confronto, pelo contrário, como defendia na época o padre Roberto
Maciel, os Círculos «eram um meio prático de reforma social.
O Círculo Católico de
Operários do Porto, como primeiro e mais pujante CCO português, fundado em 9 de
Junho de 1898.
Aliás, no cerzir
daquela teia de Círculos Católicos releva-se a notável acção itinerante dos
padres João Roberto Maciel e Benevenuto de Sousa, ambos redactores de A Palavra e O Grito do Povo, constituindo este último o órgão do CCOP.
Apesar de um certo
pendor mutualista dos CCO, o advento do seu movimento em finais do século XIX é
considerado uma primeira tentativa de «presença católica organizada no
movimento operário português».
É, pois, com o
patrocínio do bispo do Porto, D. Américo Ferreira do Santos Silva, em 1898, que
vemos surgir a primeira associação de católicos não só para operários mas,
sobretudo, constituída por número significativo de operários: o Círculo
Católico de Operários do Porto (CCOP).
Augurando o impacto
que viria a ter na cidade, a cerimónia inaugural do CCOP, presidida por Manuel
Frutuoso da Fonseca, contou com a presença das mais altas figuras dos meios
civil e eclesiástico, portuenses. A funcionar, desde 28 de Julho de 1898, no nº
192 da Rua dos Mártires da Liberdade, o CCOP vê os seus estatutos formalmente
aprovados pelo Governo Civil em 27 de Agosto de 1898. A aprovação do prelado da
Diocese é obtida por Alvará de 5 de Setembro daquele ano”.
Com a devida vénia a Eduardo C. Cordeiro Gonçalves
Rua dos Mártires da Liberdade, nº
192- Fonte: Google Maps
À esquerda a sede actual do CCOP na Rua Duque de Loulé, nº
202- Fonte: Google Maps
Centro de Democracia Cristã
O Centro de Democracia Christã nasceu na cidade do Porto em 1912, sob
influência de outros grupos similares, nomeadamente o Centro Académico de
Democracia Cristã de Coimbra. Eram associações ligadas aos movimentos operários
e ao pensamento social-católico. Promoviam diversas actividades, como sejam
debates, organização de uma biblioteca, escolas nocturnas, grupo de arte
dramática, conferências, dinamização de cooperativas, recolha de fundos e apoio
a iniciativas religiosas como as peregrinações ao Monte da Virgem. Editaram um
jornal de regularidade intermitente entre 1912 e 1924: A Paz.
Sede do Centro de Democracia Cristã, na Rua Galeria de Paris - In
Illustração Catholica, 28 de Agosto de 1915
Imprensa
portuense afecta às Organizações dos Trabalhadores, no século XIX
Em Janeiro de 1872, tinha sido criada, em Lisboa, a associação de
resistência, Fraternidade Operária, com estatutos elaborados por José Fontana.
No Porto, a Fraternidade Operária era fundada a 30 de Setembro de 1872
e instalava-se com a Cooperativa dos Carpinteiros e a Associação dos
Fabricantes do Calçado, na Rua de Gonçalo Cristóvão, no Largo do Bonjardim
(actual Largo Tito Fontes, em prédio fronteiro à Laboriosa, começando a
publicação de um jornal – “Bom Senso” dirigido por Felizardo
Lima.
Eram anos em que o movimento operário português se dispersava por
várias secções e associações que muitas vezes funcionavam como organizações
rivais que competiam entre si pelo maior número de greves
Todos sentiam a necessidade de unidade no movimento operário. Nesse
sentido, em Outubro de 1873, nascia em Lisboa a “Associação dos
Trabalhadores na Região Portuguesa (ATRP)” e, no Porto, dias depois, a 29
de Outubro de 1873, nascia a “Associação dos Trabalhadores da Região
Portuguesa (ATRP)” portuense.
A partir de 1877, a ATRP portuense, conhecida como Associação
dos Trabalhadores do Porto, passa a habitar o Largo da Fontinha, depois de
ter tido a sua sede na Rua de Santa Catarina, na esquina da Calçada do Luciano,
desde 1873 a 1877.
A ARTP, que vinha a colaborar com o Partido Socialista desde
1876, acaba, mais tarde, naquele âmbito, por ser o seu financiador, deixando
para o partido a luta política.
Em Portugal, a fundação do Partido Socialista decorreria a 10 de
Janeiro de 1875.
No Porto, no seio do movimento socialista, na década de 1880, com
expressão na “Associação de Trabalhadores do Porto”, nascida na década
de 1870, começavam a desenhar-se, nitidamente, as principais tendências que
iriam levar, à ruptura entre possibilistas (defensores de uma via
reformista) e os marxistas (defensores da revolução) e entre estes e os anarquistas.
Como líder do socialismo possibilista do Porto, sobressaía
Eduardo Carvalho e Cunha, o histórico dirigente da importante Cooperativa de
Tecidos do Porto, que estava agregada à Associação dos Trabalhadores do Porto,
desde 1877, com sede no Largo da Biquinha.
A tensão interna conduzirá a rupturas que, no Porto, implicam as
saídas, em 1879, de Pinto Barbosa e, em 1881, de Ermelindo Martins.
O abandono de Pinto Barbosa do movimento socialista, levá-lo-ia a
fundar, na Rua do Almada, a “União Democrática e Social (UDS)”.
Terão aderido à U.D.S. elementos da tendência anarquista, como Guedes
de Oliveira, da tendência marxista como José Ribeiro e, ainda, alguns
fundadores da Associação dos Trabalhadores do Porto, como Manuel José Martins.
Em 1881, as divergências entre os socialistas levam, então, ao abandono
da Associação de Trabalhadores do Porto, do serralheiro Ermelindo Martins, um
dos fundadores principais do movimento operário socialista do Porto, que fundaria,
pouco depois, a “Associação União dos Trabalhadores”, com sede na Rua
das Carvalheiras.
Após a saída do anarquista Ermelindo Martins, regressava o marxista
José Ribeiro (João Ricardo) à Associação de Trabalhadores do Porto.
Todos esses movimentos se estribavam em jornais que levavam a mensagem
a todos os militantes e simpatizantes.
Assim, o jornal O Operário, publicado entre 1879 e 1882,
era um semanário matutino que se publicava todos os Domingos, constituindo uma
fonte de grande importância para a compreensão do movimento socialista
portuense e até, português, na segunda metade do século passado.
O Operário funcionou, numa primeira fase, como porta-voz
dos interesses da Associação dos Trabalhadores do Porto, tendo como
editor o tecelão António Lopes de Almeida e, a partir de Outubro de 1880, como
órgão oficial do Partido dos Operários Socialistas Portuenses, ou seja do
Partido Socialista fundado em 1875.
Sobre a importância de O Operário, narra o texto seguinte:
“A função
política desempenhada pelo jornal implicou que nele colaborassem alguns dos
protagonistas do socialismo português como Antero de Quental, Oliveira Martins,
Azedo Gneco, Manuel Luís de Figueiredo, Eduardo Carvalho e Cunha, José Martins
Gonçalves Viana, entre outros. Além disso, encontram-se pequenas colaborações
de nomes importantes do socialismo internacional como Benoît Malon, Andrea
Costa,Becker e F. Borde.
(…) Assim, de 25
de Maio de 1879 até 24 de Outubro de 1880, designava-se como «Periódico
destinado a advogar os interesses dos trabalhadores»; de 31 de Outubro até 7 de
Novembro de 1880 apresentava como subtítulo «Órgão do Partido Socialista» e,
finalmente, de 14 de Novembro de 1880 até ao último número, passava a ter como
subtítulo, «Jornal do Partido dos Operários Socialistas.
(…) A
administração e redacção do Operário tinham a mesma sede no Porto, no Largo da
Fontinha, n° 50, que era, simultaneamente, a sede da Associação Internacional
dos Trabalhadores do Porto, do Partido dos Operários Socialistas e da
Cooperativa de Tecidos dirigida por Eduardo Carvalho e Cunha, não admirando,
por isso, que este núcleo socialista do Porto fosse conhecido como o «grupo da
Fontinha».”
Cortesia de Maria João de Abreu Mena Guimarães e Castro; In dissertação
de mestrado em História Contemporânea (1999)
O Operário tinha a sua sede, então, no Largo da Fontinha,
nº 50, a morada do Partido Socialista (desde 1875), da Cooperativa dos Tecidos
de Algodão e do Ateneu Operário.
Por estes tempos, começava-se, timidamente, a fazer uma nova abordagem
no âmbito do catolicismo, porque apesar da consolidação das posições
conservadoras por parte do Vaticano, face ao crescente anticlericalismo
liberal, republicano e socialista, emergiam também movimentos ligados ao
catolicismo social que procurarão trazer a questão social para o seio da
Igreja.
Curiosamente, é também no Porto, que aparece pela primeira vez essa
nova tendência, com a criação, em 1878, do jornal A Palavra.
Entretanto, em 1882, O Protesto, o jornal editado pelos
socialistas de Lisboa, funde-se com O Operário dando origem ao Protesto
Operário.
A partir de meados dos anos 80 e, sobretudo, na década de 90,
acentuaram-se as divergências entre os possibilistas e os marxistas,
pontificando no Porto, como dissidente, Francisco Viterbo de Campos.
Cada facção iria fundar as suas associações operárias e os seus
jornais.
Tudo acontecerá após o “Congresso Nacional das Associações de Classe”,
realizado no Porto, em 24 de Março de 1892 – o chamado “congresso possibilista”
– o acontecimento que provocará o aparecimento de novas publicações.
No Porto, os elementos dissidentes fundam o “Centro Operário de
Propaganda Socialista” em oposição à velha “Associação dos Trabalhadores”,
tendo por órgão marxista, lançado por Viterbo Campos, O Eco Socialista,
saído em 1892, para se opor ao semanário O Trabalhador, porta-voz
dos socialistas possibilistas portuenses.
É em “ O Eco Socialista” (Porto, 1892-1894; 1899,
1900-1901), editado pelo Centro Operário de Propaganda Socialista e onde, já
militante, o conhecido colonista Ernesto da Silva vai colaborar publicando,
entre outros artigos, uma análise crítica ao “Congresso Nacional das
Associações de Classe”, atrás referido.
Refira-se que, nos anos 90, Ernesto da Silva surgirá como líder de uma
outra tendência nos socialistas, a que defendia a união com os
republicanos.
Quanto ao ideal anarquista, protagonizado por Ermelindo António
Martins, não sobreviveria à sua morte acontecida em 1884.
Porem, o primeiro jornal anarquista no Porto, A Revolução Social começará
a publicar-se em 1887, como órgão dos grupos anarquistas de Lisboa e Porto
quando, um antigo anarquista, José Martins Gonçalves Viana, retoma a bandeira
anarquista, e passa a liderar o primeiro jornal dessa tendência, como órgão dos
grupos anarquistas de Lisboa e Porto.
Associações de Solidariedade Social - Mutualidades
Em 1888, pontificava no movimento associativo operário, na cidade do
Porto, a denominada “União Operária”.
In “O Jornal do Paiz”, de 8 de Agosto de 1888
"Cooperativa de
Solidariedade Social do Povo Portuense, CRL" ou Casa do Povo Portuense e Cooperativa de Ramalde
“A CSSPP
(Cooperativa de Solidariedade Social do Povo Portuense, CRL) resulta de uma
fusão efectuada em 1900, de várias Associações e Cooperativas operárias que
existiam no Porto.
No entanto,
consideramos 1893, como o acto fundador dos valores e princípios desta
Cooperativa, com a criação do Instituto de Instrução Antero de Quental.
Surge no meio
operário, segundo a ideia e modelo da Casa do Povo de Bruxelas, com intuitos
Associativos, Culturais (alfabetização das pessoas) e sobretudo Assistenciais,
terminar com os funerais de vala comum e dar até na morte dignidade a quem
tanto sofreu na vida.
Hoje em dia, 120
anos depois deste acto fundador, as preocupações são as mesmas, as necessidades
são iguais e as metas a atingir continuam as mesmas.
Fonte Site: “animar-dl.pt”
“A 18 de Março de 1900
- data do aniversário da Comuna de Paris, que, por coincidência, naquele ano se
verificava num domingo -, era fundada no Porto uma nova instituição de
solidariedade operária, que veio a adoptar a denominação de "Casa do Povo
Portuense". Foram promotores desta iniciativa, três figuras do meio
socialista portuense, Manuel José da Silva, Joaquim Francisco Pedrosa e, em
particular, Serafim dos Santos Piedade. Este último - o verdadeiro impulsionador
da novel instituição - há muito que vinha acalentando o projecto de fundação de
uma organização daquele tipo, ideia que tinha cimentado após ter conhecimento
da experiência realizada pela "Casa do Povo de Bruxelas". Nos inícios
do século XX, existiam na cidade do Porto inúmeras cooperativas operárias,
tanto de consumo como de produção. Entre as primeiras, destacavam-se a
"Cooperativa dos Operários da Arrábida", com instalações próprias, e
a "Cooperativa de Ramalde", então florescente, e, quanto às segundas,
a mais famosa de entre elas era a "Cooperativa dos Pedreiros", que
ainda hoje existe, e que recentemente comemorou o seu 85º aniversário. No
entanto, para os fundadores da Cooperativa "Casa do Povo Portuense"
fazia-se sentir a falta de uma instituição com objectivos mais amplos, que,
embora prosseguisse a mesma actividade altruísta, prestasse também socorro aos
seus filiados na doença, na prisão, na falta de trabalho, na velhice, e que
alargasse igualmente a sua acção à instrução e cultura dos filhos dos
operários. Elaborado o projecto de Estatutos por Manuel José da Silva,
destacado dirigente operário e socialista, foi o mesmo apresentado, a 7 de
Janeiro de 1900, na sala de aulas do "Instituto Antero de Quental" -
fundado por socialistas, à semelhança d' "A Voz do Operário", de
Lisboa, e então localizado na Rua do Almada -, a um considerável número de
interessados, que também escutaram os objectivos que tinham presidido à sua
elaboração.
Instalada no
"Instituto Antero de Quental" - onde então tiveram também as suas
sedes vários organismos de carácter operário e social da cidade, como a
Federação das Associações Operárias do Porto -, a "Casa do Povo
Portuense" mudou sucessivamente de instalações, até que, em 1914, a
Direcção de então decidiu adquirir um terreno na esquina das ruas de Camões e
do Paraíso, para edificação da sede social. No entanto, as obras de construção
arrastaram-se durante quase duas décadas, e só em 1931 é que a mesma foi
inaugurada - albergando a secretaria, gabinete da Direcção, consultório médico,
serviços jurídicos, biblioteca, salas de aulas, salões de festas e das
assembleias gerais e, ainda, uma tipografia -, permanecendo naquele local até
aos nossos dias.”
Cortesia de José Manuel Lopes Cordeiro, In jornal “Público”, 2 de Abril de
2000
Cooperativa do Povo Portuense, em 1914, na esquina das ruas
de Camões e do Paraíso - Fonte: Foto Alvão
“Os grandes
vértices pelo qual somos conhecidos, são os subsídios de funerais que damos, e
que completam para as famílias o acto do funeral, e através das nossas Clínicas
(Porto e Vila Nova de Gaia), assistimos diariamente largas dezenas de
Associados, a preços substancialmente mais baratos do que os do Serviço
Nacional de Saúde.
Isto tudo sem filas, sem esperas, dando e proporcionado os melhores cuidados médicos e de enfermagem possíveis.
Somos também viveiro de Associações dado termos no nosso 2º andar, uma vintena de salas onde as Associações e colectividades populares da cidade podem nascer e crescer com confiança, a exemplo do que se verifica há mais de 50 anos”.
Fonte: Paulo Jorge Teixeira – presidente (2017)
Isto tudo sem filas, sem esperas, dando e proporcionado os melhores cuidados médicos e de enfermagem possíveis.
Somos também viveiro de Associações dado termos no nosso 2º andar, uma vintena de salas onde as Associações e colectividades populares da cidade podem nascer e crescer com confiança, a exemplo do que se verifica há mais de 50 anos”.
Fonte: Paulo Jorge Teixeira – presidente (2017)
Sede da Cooperativa de Solidariedade Social do Povo Portuense – Fonte
Google maps
O edifício da foto acima fica na esquina da Rua do Paraíso com a Rua de
Camões.
Entretanto em 1892, tinha já sido fundada a Cooperativa de Ramalde
(ainda hoje existente).
Instituições que antecederam a “Cooperativa de Ramalde”
Antiga sede da “Associação Brilhante de Beneficiência Popular”, na esquina
da Rua Senhora do Porto e Travessa da Senhora do Porto. Mais tarde as
instalações albergariam a sede do Atlético Clube do Monte dos Burgos – Ed.
Manuela Campos
Em 8 de Dezembro de 1901, na freguesia de Ramalde, em Pereiró,
realizou-se uma festa promovida por duas associações de socorros mútuos, a de
S. Salvador de Ramalde e a Restauradora, para comemorar a nova casa para as
duas, além da inauguração do retrato do Dr. Francisco Fernandes Godinho de
Faria, a quem ambas associações deviam relevantes serviços.
A Restauradora de Ramalde é, hoje, a mais antiga associação da freguesia.
“A Restauradora
de Ramalde fundada em 1879 é a mais antiga associação da freguesia de Ramalde,
inscrita na história da freguesia, resultou da criação em Pereiró da Associação
de Socorros Mútuos, percursora da Restauradora em Ramalde - Associação de
Socorros Mútuos, que persiste até aos nossos dias e que funcionou onde fica
hoje a Unidade de Saúde de Ramalde.
Com intervenção
voltada para as áreas da saúde e social congregou o respeito dos Ramaldenses e
continua a ser uma referência do que deve ser o associativismo. A mais antiga e
prestigiada associação da freguesia envelheceu, porque o poder não foi capaz de
reconhecer os altos serviços prestados pela Restauradora.
Sem sede, por
falta de decisão, a Restauradora está viva no coração dos Ramaldenses, com a
esperança de que em breve o problema da Sede esteja resolvido e possa continuar
a prestar o seu meritório serviço social. Dona de um espólio histórico não se
concebe que este se degrade sem que nada seja feito”.
Fonte: “restauradora_ramalde.blogs.sapo.pt”
Sobre a Cooperativa de Ramalde que, actualmente, ainda está em plena
actividade, são os dois textos seguintes.
“Na época da sua
fundação, 8/12/1892, ainda a agricultura dominava a vida económica e a paisagem
da freguesia. No último quartel do século XIX verifica-se um desenvolvimento
acelerado da actividade industrial e a freguesia ocupa o principal centro da
indústria têxtil do concelho do Porto. Para suprir as grandes dificuldades dos
operários, que viviam em habitações sem ventilação e sem luz e para fazer face
às dificuldades criam-se associações, onde a troco de uma pequena quota, os
sócios obtinham assistência na doença e velhice e até no funeral. É neste
contexto social que nasce a Sociedade Cooperativa União Familiar Operária de
Consumo e Produção. A 6 de Maio de 1906 a Assembleia-geral toma a decisão
histórica de adquirir um terreno para edificação da Sede. Em 1931 as
instalações são ampliadas consolida-se o espaço comercial onde aos produtos
tradicionais se juntam outros e outras actividades na área de prestação de
serviços. A Cooperativa passa a ser um importante apoio social das famílias na
dignificação do ser humano, no desenvolvimento cultural e informação”.
Fonte: “portoarc.blogspot.pt”
“Instituição
centenária prestou e ainda presta relevantes serviços à população da freguesia
de Ramalde. Com um serviço na área do abastecimento de qualidade e para bem
servir tem feito um esforço gigantesco para o manter. Na época da sua fundação
ainda a agricultura dominava a vida económica e a paisagem da freguesia, que
pertencia ao concelho de Bouças (Matosinhos), só foi integrada no Porto a 21 de
Novembro de 1895. No último quartel do século XIX verifica-se um
desenvolvimento acelerado da actividade industrial e a freguesia ocupa o
principal centro da indústria têxtil do concelho do Porto.
Nos primeiros
anos funcionou na Rua da Preciosa, nº 82 com o fabrico e venda de tabaco, mais
tarde inicia o fornecimento de mercearia.
A 6 de Maio de
1906 a Assembleia-geral toma a decisão histórica de adquirir um terreno para
edificação da Sede. Em 1931 as instalações são ampliadas consolida-se o espaço
comercial onde aos produtos tradicionais se juntam outros e outras actividades
na área de prestação de serviços.
A Cooperativa
passa a ser um importante apoio social das famílias na dignificação do ser
humano, no desenvolvimento cultural e informação.
Apesar das
dificuldades, foi durante o fascismo, (1926 / 1974), um espaço de liberdade com
iniciativas culturais, uma biblioteca e uma escola básica.
Com actividades
culturais, recreativas e de lazer dispõe de um Salão polivalente com palco para
teatro ou outras iniciativas.”
Fonte: “cooperativa_ramalde.blogs.sapo.pt”
Antiga sede da "Cooperativa de Ramalde", na Rua da Preciosa (prédio em 1º
plano)
Ruínas da antiga sede da "Cooperativa de Ramalde", actualmente - Fonte: Google maps
Sede actual da "Cooperativa de Ramalde", na Rua Dr. Pedro Sousa - Fonte: Google maps
“Grupo Dramático e
Beneficente 26 de Janeiro”
Como noutros locais, em Ramalde, como resultado de uma
cultura republicana, os movimentos cooperativo e associativo, que visavam a
assistência à doença e invalidez, a protecção da fome e de outras carências,
começam a surgir nos finais do século XIX e início do século XX.
Aquelas organizações, para servirem a classe operária,
fundaram farmácias, contrataram médicos, organizaram escolas, bibliotecas, actividades
culturais e desportivas e procuraram assegurar bens de primeira necessidade.
Dentro deste espírito, em 26 de Janeiro de 1924, nasce o “Grupo Dramático e Beneficente 26 de
Janeiro”, tendo como principais objectivos o desempenho teatral e a
vertente da solidariedade.
A receita da bilheteira das peças de teatro representadas
pelos actores amadores ajudava, então, as famílias mais carenciadas.
A primeira sede da associação foi um barracão localizado na
Rua de Ramalde do Meio.
Após três anos de actividade, seguir-se-ia um interregno na
actividade da agremiação por cerca de três anos.
“Mas existem sempre
homens que não desistem, e por volta de 1930 a Associação arranjou novo espaço,
o nº 8 da Rua de Requesende, aqui foi recomeçado o trabalho e dada continuidade
ao convívio e aos ensaios, as representações públicas das peças eram levadas à
cena no desaparecido Teatro Casino do Monte, em S. Gens, Senhora da Hora.
Em 1936 muda-se a
Associação para um novo espaço que é o actual, na Rua de Requesende, nº 194, na
época apenas ocupava o 1º andar do prédio, no início da década de quarenta
passa a ocupar o rés-do-chão e logradouro.
A partir de então
começou a cimentar-se no meio Associativo, sempre com o Teatro como principal
actividade, mas introduzindo entretanto outras secções: columbofilia, que se
manteve entre 1975 e 1996 e pesca desportiva”.
Fonte: Associação das Colectividades do Concelho do Porto
Ocupada que foi, em 1936, a nova sede, na Rua de Requesende,
que ainda se mantem e que tinha instalado, durante alguns anos, antes, o Seminário Baptista Português,
antecessor do Tabernáculo Baptista
(actualmente na Rotunda da Boavista), o “Grupo Dramático e Beneficente
26 de Janeiro” nunca deixou de ser uma referência cultural na freguesia de
Ramalde.
Em Novembro de 1985, é fundado dentro da associação o Rancho
Folclórico de Ramalde, que se mantém em actividade, passando a ser
organizado anualmente o Festival Nacional de Folclore de Ramalde
e alguns Festivais Internacionais.
Em 1988, foi um dos organizadores do 1º Festival de Folclore
da Europa Comunitária realizado em Portugal.
“Em 1992, através de
um protocolo com a Comissão de Jovens de Ramalde, criou-se no 26 de Janeiro o
Grupo de Teatro de Ramalde. O objectivo foi reactivar o Teatro, dar-lhe
continuidade, dar-lhe alma, ter uma actividade regular, e não esporádica como
vinha acontecendo desde o início dos anos oitenta.
Ao fim de dois anos,
após alguns espectáculos em co/produção com o grupo Ribalta, e sempre com
Alfredo Correia como Encenador, uniram-se estes dois grupos e nasce a Companhia
Teatral de Ramalde”.
Fonte: Associação das Colectividades do Concelho do Porto
Ainda, no que ao teatro diz respeito, em 1995, foi realizado
o primeiro encontro teatral de amadores, o “AMASPORTO ”, que continua até aos
nossos dias.
Em 2016, a sede da agremiação foi alvo de obras de
beneficiação.
Hoje, a “Associação Recreativa e Cultural Conjunto
Dramático 26 de Janeiro” é composta pela Companhia de Teatro de
Ramalde, o Rancho Folclórico de Ramalde e uma série de atividades desportivas e
de animação cultural, como é o caso da pesca desportiva, aulas de karaté,
capoeira e zumba ou do Grupo de Cavaquinhos do Porto e os associados praticam,
ainda, jogos de cartas e bilhar.
Sede da “Associação Recreativa e Cultural Conjunto Dramático
26 de Janeiro” – Fonte: Google maps
“A BENEFICÊNCIA
FAMILIAR - Associação de Socorros Mútuos”
No dia 1 de Janeiro do ano de 1877 foi fundada, no Porto, a
Sociedade Fúnebre Familiar de Beneficência.
Em Maio de 1904, o Rei D. Carlos I concedeu-lhe o Alvará Régio, com a denominação de “Sociedade de Beneficência Fúnebre Familiar - Associação de Socorros Mútuos”.
Em Setembro de 1904, a Associação muda a sua Sede Social para Rua Formosa n.º 325, no Porto, onde se tem mantido até à presente data e, neste mesmo ano, são aprovados os respectivos Estatutos.
“Em 1905, a Associação
federou-se com outras associações mutualistas, constituindo a Liga das
Associações de Socorro Mútuo do Porto, com o objetivo de prestar serviços
clínicos e assistência médica e medicamentosa aos seus associados e familiares.
Também por Alvará Régio de 24 de Agosto de 1905, foi aprovado o Estatuto da Caixa Económica do Porto, anexa á Sociedade de Beneficência Fúnebre Familiar - Associação de Socorro Mútuos, com o objetivo de aceitar o depósito de capitais com vencimento de juros e de conceder empréstimos aos associados e público em geral”.
Fonte: abfamiliar.pt/historia.html
Em Maio de 1904, o Rei D. Carlos I concedeu-lhe o Alvará Régio, com a denominação de “Sociedade de Beneficência Fúnebre Familiar - Associação de Socorros Mútuos”.
Em Setembro de 1904, a Associação muda a sua Sede Social para Rua Formosa n.º 325, no Porto, onde se tem mantido até à presente data e, neste mesmo ano, são aprovados os respectivos Estatutos.
Também por Alvará Régio de 24 de Agosto de 1905, foi aprovado o Estatuto da Caixa Económica do Porto, anexa á Sociedade de Beneficência Fúnebre Familiar - Associação de Socorro Mútuos, com o objetivo de aceitar o depósito de capitais com vencimento de juros e de conceder empréstimos aos associados e público em geral”.
Fonte: abfamiliar.pt/historia.html
Foram aprovados os novos Estatutos que em 1915 já tinham sido alterados.
Em 1 de Janeiro de 1993, foram realizadas profundas obras de restauro na Sede Social, criados o logótipo e a Bandeira da Associação, baseados no Código das Associações Mutualismos.
Os Estatutos seriam, então, mais uma vez, reformulados com o objectivo de dotar a Associação com Modalidades de Previdência.
Em 18 de Agosto de 1993, faleceria um dos membros que teve uma actividade profícua em prol da associação. Tratou-se de Inácio dos Santos Viseu Júnior, nascido em 3 de Setembro de 1900, que foi seu director e que, ficou, também conhecido, por ter pertencido à Associação de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas e, ainda, sobretudo, por ter dirigido a publicação do Anuário Comercial do Porto, entre 1945 e 1974, que poderá ser consultado, na biblioteca da Casa Allen, na Rua António Cardoso, nº 175.
Mais, propriamente, tratava-se do:
Anuário do Porto - Santos Viseu (comercial, industrial e
burocrático): para a cidade do Porto, Gaia, Matozinhos e restantes concelhos do
distrito / dir. Inácio dos Santos Viseu Júnior; ed. António dos Santos
Guimarães.
Nas Comemorações do 120º Aniversário, em 1997, foi inaugurada a Secção Funerária da Associação, com serviço de armador permanente, a preços mutualistas e destinada aos seus associados e aos associados das restantes Associações Mutualistas protocoladas”.
Fonte: abfamiliar.pt/historia.html
Sede de “A BENEFICÊNCIA FAMILIAR - Associação de Socorros
Mútuos” durante as comemorações dos 140 anos da instituição
A Lutuosa de Portugal
Em 19 de Novembro de 1926, os fundadores reuniram-se e tiveram a ideia de fundarem uma associação idêntica à associação “Lutuosa do Professorado Primário”, já existente, mas que permitisse abranger todas as classes em geral.
Elaborados os estatutos e aprovados, o início do exercício da atividade d´ “A Lutuosa de Portugal” viria a ocorrer em 1 de Julho de 1927, com cerca de mil associados, que foram crescendo ao longo dos anos, chegando atingir aproximadamente os 15 mil.
“Esta Associação, sendo uma Instituição Particular de Segurança Social, com um número ilimitado de Associados, capital indeterminado e duração indefinida, através da quotização dos seus Associados, pratica em benefício destes, seu agregado familiar e seus beneficiários, modalidades de auxílio, nos termos legalmente permitidos”.
Desde 1 de Janeiro de 2004, a associação tem ao dispor dos associados, junto da sua sede, um consultório dotado de um bloco operatório para pequenas cirurgias e, desde Outubro de 2011, um Óptica Mutualista, junto do Teatro Rivoli.
Completa a oferta na área da saúde uma clínica, na Rua Rodrigues Sampaio, 99 e uma Farmácia, na Rua Formosa, 404.
Ao longo dos anos, “A Lutuosa de Portugal” mandou construir ou adquiriu vários imóveis para arrendamento, não só no Porto, como nos concelhos da Maia e V. N. de Gaia.
Um dos mais icónicos daqueles edifícios situa-se na Avenida de Fernão de Magalhães e ficou concluído em meados da década de 1950.
“Além de continuar a praticar, nos seus imóveis, rendas muito abaixo da média do mercado (também com o objetivo de ajudar os respetivos arrendatários), foi ainda lançado um programa de apoio – devidamente regulamentado – para acorrer a situações de comprovada carência económica de Associados”.
In Relatório e Contas da Direcção da Lutuosa de Portugal, 2017
No terreno no qual foi implantado pela Lutuosa de Portugal o edifício da foto acima, existia um prédio nesse quarteirão, em 1933, na Avenida Fernão de Magalhães nº 1266 e esteve, inicialmente previsto um outro, mais a sul, que teve a licença de construção nº 735 de 1934, conforme se pode observar, a seguir, em desenho de esquema de localização, constante do pedido de licenciamento respectivo, concedido a Manuel Pinto Ribeiro.
Como se pode constatar actualmente, haveria de vingar, para o local, o projecto da Lutuosa de Portugal.
Em destaque, em planta, a área de implantação do prédio da Lutuosa, na Avenida Fernão de Magalhães, estando identificado o prédio primitivamente existente na área (1)
Entrada do complexo habitacional d’ “A Lutuosa de Portugal”, na Rua de Álvaro Castelões, 600, 610 E, 622
Outras formas de associação dos trabalhadores e operários portuenses
A Cooperativa dos
Pedreiros
“Em 1914, dez
operários especializados, que trabalhavam na construção do Edifício da Estação
de S. Bento, na cidade do Porto, resolveram fundar a Cooperativa dos Pedreiros,
pagando cada um apenas 20 escudos. A sede foi instalada na Travessa das Almas, 36-
1º, no Porto e um dos cooperantes mais dinâmicos é José Moreira da Silva.
Nesse mesmo ano,
inicia, a cooperativa recém-formada, a construção da sede da Cooperativa do
Povo Portuense na Rua de Camões.
Pela alta qualidade
profissional dos seus fundadores, foi encarregada a cooperativa, da construção
do Monumento à Guerra Peninsular, erigido na Praça Mouzinho de Albuquerque,
mais conhecida por Rotunda da Boavista. Por falta de verba, a Câmara Municipal
do Porto suspende a construção mas, 34 anos mais tarde (1948), volta a entregar
à Cooperativa dos Pedreiros a sua conclusão.
Em 1924, a câmara
Municipal do Porto encarrega a Cooperativa dos Pedreiros da construção dos
Paços do Concelho. Mas passados alguns anos, mais uma vez por falta de verbas,
decidiu interromper o prosseguimento da construção. Então, aconteceu uma coisa
que, nos dias de hoje, acharíamos extraordinária: a Cooperativa dos Pedreiros
comprometeu-se a prosseguir a referida construção e a autofinanciá-la até a
Câmara possuir a verba necessária, o que veio a acontecer no ano seguinte.
Em 1930, começa a
construção de uma nova Sede Social, na Rua D. João IV, onde começaram a
funcionar cantina, garagem, posto médico e de enfermagem.
Em reconhecimento pelo
gesto tido com a C.M.PORTO e dado que na época existia uma elevada taxa de
desemprego, a Cooperativa dos Pedreiros foi louvada pelo então Ministro das
Obras Públicas e Comunicações, Eng.º Duarte Pacheco, pela sua acção social, por
portaria do Diário do Governo nº. 31-2ª Série, de 7 de Fevereiro de1933.
A indústria dos
Granitos Polidos foi introduzida em Portugal pela Cooperativa, em 1937. A
laboração iniciou-se nas novas oficinas da rua D. João IV, no Porto. Em 1958, a
Cooperativa é distinguida com a Medalha de Ouro e um Diploma de Honra na
Exposição Universal de Bruxelas, pela apresentação em exposição de uma Coluna
oca em granito totalmente polida.
Em 1953, a Cooperativa
inaugura o edifício a que dá o nome de "Trabalho e Reforma" cujo
rendimento é dedicado às pensões dos seus cooperantes e suas viúvas.
Edifício na Rua Nossa Senhora de Fátima
Em1969 é inaugurado um
novo edifício com 13 andares a que se deu o nome de Miradouro, cujo rendimento
se destina aos pensionistas cooperantes e suas viúvas. Nos últimos pisos do
edifício é instalada uma unidade hoteleira e um restaurante panorâmico no
último andar.
No mesmo ano faleceu o
seu Gerente Honorário José Moreira da Silva.
Por iniciativa da
Câmara Municipal do Porto, o largo em frente à sua Sede Social passa a
chamar-se Largo José Moreira da Silva e é ali colocado, em sua homenagem, um
monumento e o seu busto em bronze (1971).
A Cooperativa é
distinguida, em 1972, com a Medalha de Prata da Direcção Geral de Minas e
Geologia, pelos serviços prestados à indústria de rochas naturais.
Em 1989, a Cooperativa
faz 75 anos e é distinguida pela Câmara Municipal do Porto com a Medalha de
Mérito (Grau Ouro) pelos serviços prestados à Cidade.
No mesmo ano são
inaugurados a Escola Profissional de Estudos Económicos e Sociais José Moreira
da Silva e o Museu da Cooperativa.
É ainda atribuída, a
título póstumo, a José Moreira da Silva, a Comenda da Ordem de Mérito
Industrial.
A Cooperativa dos
Pedreiros é agraciada, em 1991, com o título de Membro Honorário da Ordem de
Mérito, por alvará, de 31 de Outubro, da Presidência da República.
Em1991 inaugura o
Instituto de Estudos Sociais Joaquim Oliveira Guedes, na sede na Rua da
Alegria.
A Cooperativa inaugura
as suas novas instalações (fábrica) em Ponte de Moreira - Leça do Balio-
Matosinhos, em 1997, onde além, de uma moderna unidade de corte de blocos,
polimento e acabamento, tem também um grande parque de blocos e placas
serradas.
Pode dizer-se que “A
Cooperativa dos Pedreiros” faz parte da História da cidade do Porto por mérito
próprio. Construiu um vasto património que para garantir rendimentos destinados
a um fundo social, que é aplicado na ajuda aos seus Cooperantes e suas viúvas
na velhice, como complemento das reformas, e obras públicas e privadas que são
o orgulho da cidade e dos Portuenses. Para além dos anteriormente referidos, o
Monumento ao Império (na Praça do Império), a Igreja de Nossa Senhora da
Conceição (no Marquês), a Igreja de Santo António (nas Antas), o Palácio do
Comércio (na Rua de Sá da Bandeira), o Pelourinho actual junto da Sé do Porto e
muitos outros. Os seus trabalhos em granito, as suas colunas ocas e cantarias
não estão só na cidade do Porto mas espalhadas pelos quatro cantos do mundo”.
Fonte: “amaroporto2.blogs.sapo.pt”
Algumas daquelas emblemáticas obras devem-se ao arquitecto
David Moreira da Silva, filho de José Moreira da Silva, casado desde 1943 com a
arquitecta Maria José Marques da Silva, filha do arquitecto Marques da Silva.
David Moreira da Silva é um dos primeiros urbanistas
portugueses, tendo realizado, entre outros, os anteplanos de urbanização de
Moledo do Minho, Águeda, Paredes, Matosinhos, Aveiro, Barcelos, Elvas, Valongo,
Guimarães e Chaves.
Alguns destes trabalhos foram realizados em co-autoria com
sua mulher, bem como as principais obras de arquitectura de que se destacam os
projectos e direcção de obras do Palácio do Comércio (quarteirão de Sá da
Bandeira e Fernandes Tomás), do prédio de rendimento Trabalho e Reforma (na Rua
Nossa Senhora de Fátima), a torre de habitação da Cooperativa dos Pedreiros (na
Rua da Alegria), o adro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e seu remate
(na Praça Marquês de Pombal).
Instalações da cooperativa dos Pedreiros, na Rua D. João IV - Fonte: Google maps
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