Momentos,
Curiosidades e Instantâneos
«O dia 29 de novembro
de 1907 caiu a uma sexta-feira que, no Porto, foi um arreliador dia de chuva.
Passavam poucos minutos das quinze horas, quando assomou ao cimo da Rua das Carmelitas
o elétrico número 156, que fazia a ligação entre Paranhos e a Praça de D. Pedro.
Ao iniciar a descida das Carmelitas, o elétrico começou a ganhar uma velocidade exagerada, o que levou o guarda-freio Domingos António dos Santos a tentar a sua travagem a todo o custo. Mas, desesperado (aos repórteres daquele tempo não falhou nenhum pormenor), aquele funcionário deu-se conta de que as rodas do veículo não andavam, antes deslizavam perigosamente nos carris molhados pela chuva que não parava de cair.
Ao iniciar a descida das Carmelitas, o elétrico começou a ganhar uma velocidade exagerada, o que levou o guarda-freio Domingos António dos Santos a tentar a sua travagem a todo o custo. Mas, desesperado (aos repórteres daquele tempo não falhou nenhum pormenor), aquele funcionário deu-se conta de que as rodas do veículo não andavam, antes deslizavam perigosamente nos carris molhados pela chuva que não parava de cair.
Agora, leitor, atente
bem neste pormenor delicioso de um dos repórteres que andaram a fazer a
cobertura do acontecimento: "o corajoso guarda-freio, verificando que a
velocidade do carro aumentava cada vez mais, ao chegar em frente à livraria Lello
& Irmão, lembrou-se de tirar a capa de oleado que levava vestida e atirou-a
sobre os 'rails', na persuasão de que ela se enrodilhava no mecanismo dos
rodados e por esta forma conseguiria abrandar a rapidez da marcha do
eléctrico". Maravilha.
Pois, mas as crónicas
dizem que a ideia original do guarda-freio não surtiu o efeito que se esperava
e o elétrico 156 aumentou, cada vez mais, a velocidade com que descia a Rua
das Carmelitas e, volto à crónica, "na apertada curva da antiga (?) rua
das Carmelitas para a rua dos Clérigos, saltou dos 'rails', tomou a direção dos
prédios do lado direito da rua dos Clérigos, para quem desce, onde estão as
lojas de fazendas e lenços, e foi embater violentamente contra a porta de
entrada da loja 65-67, onde estava instalado o estabelecimento “A Vianeza".
A seguir vêm os
pormenores mais tétricos: morreu uma senhora que estava no interior do
estabelecimento, ao balcão, a fazer compras; e ficaram feridos alguns passageiros
do carro elétrico, incluindo o guarda-freio que, escreveu um repórter, "só
por milagre não foi esquartejado, sendo notável a sua temeridade em se manter
ao travão até dentro da loja".
Numa das reportagens
vem o nome da vítima mortal. Era D. Maria Garcia Espassandim, de origem
espanhola, "esposa do proprietário da casa de pasto Rainha, da Praça de D.
Pedro, locanda bem conhecida da gente boémia do Porto", especifica o
repórter.
O proprietário, da
casa "A Vianeza" de então, Eduardo Reis, para assinalar o triste
acontecimento mandou pendurar no teto do estabelecimento um elétrico em miniatura.
"A Vianeza" ficou, a partir daí, a ser popularmente conhecida por
"casa do elétrico".»
Com a devida vénia a Germano Silva
No Campo Lindo
Na foto anterior o Elétrico no termo da linha 8, no Largo do Campo
Lindo (Paranhos), em 1974.
“A “linha de Paranhos”
foi a última linha de carros americanos que o Porto viu desaparecer. Em
setembro de 1904, a então designada Companhia Carris de Ferro do Porto
substituiu a tração animal pela tração elétrica na referida linha. Em 1912, a
“Carris” atribuiu um indicativo (número) a todas as linhas da sua rede, tendo a
“linha de Paranhos” recebido o n.º 8. Finalmente, em novembro de 1976, após
cerca de 72 anos de serviço, a linha 8 foi suprimida”.
Fonte: Porto Desaparecido
Na fotografia acima podemos ver o carro elétrico n.º 176 (Brill
28 com plataforma salão construído em 1934) a ser preparado para regressar à
praça da Liberdade. Enquanto o cobrador acaba de virar o trólei, o guarda-freio
remove o (minúsculo) espelho para o levar para a plataforma da frente.
O Eléctrico na linha 7 a chegar à Circunvalação vindo de
Arca d’Água
Inauguração da Linha 4 para Pereiró em 21 de Dezembro de 1947 - Fonte: Museu do Carro eléctrico
Retirada de Eléctrico do rio Douro – Ed. Illustração Portugueza
Na foto acima pode observar-se um carro Eléctrico a ser
içado do rio, após o descarrilamento, juntamente com um atrelado, ocorrido em
Dezembro de 1911, matando mais de uma dezena de passageiros.
Carro Eléctrico nº 249, c. 1905 – Ed. Casa Guedes; Fonte:
AHMP
O veículo acima foi adquirido, em 1904, pela "Companhia
Carris de Ferro do Porto" ao fabricante norte-americano "J. G. Brill".
Este veículo (exemplar único) esteve de serviço até ao início da década de
1970, após algumas transformações.
Em Outubro de 1972, foi vendido pelo então designado
"Serviço de Transportes Colectivos do Porto" ao Rockhill Trolley Museum
(nos EUA), onde ainda hoje se encontra.
A meio do seu percurso de vida as plataformas inicialmente
abertas haveriam de ser fechadas, e a carroceria totalmente remodelada.
O nº 249 pronto a seguir para o museu nos EUA – Fonte:
PortoDesaparecido
O nº 249 já no Rockhill Trolley Museum
“Era muito comum verem-se rapazes a viajar à
"guna"! Corriam para o eléctrico quando este se punha em marcha e
fugiam quando travava para não serem apanhados pelo guarda-freio”.
Fonte:
portoarc.blogspot.pt
À boleia (À guna), num Brill-28 com plataforma salão
À boleia na linha 9, possivelmente num Brill-23
O Eléctrico na linha 10 em Gondomar em 1930, num Brill-23 ou
28
A linha 10 deixou de funcionar a partir do último dia do ano
de 1966.
Eléctrico na Ponte da Pedra em 1930 – Fonte: Frame da
Cinemateca Portuguesa
Na Ponte da Pedra, um Brill-28 com plataforma salão, com o
nº 212
Na foto acima o Eléctrico na linha 7 chegou ao fim do
percurso na Ponte da Pedra, e o condutor está a virar o trólei para o regresso
ao Porto.
Combinador (ou controller) do guarda-freio
No sistema de
controlo acima mostrado, o guarda-freio dirigia o veículo de pé, e já tinha um
travão de ar comprimido, o que tornava muito mais fácil a condução.
Estes tinham vindo
para substituir os mecânicos, com uma pesada manivela em metal, que exigia
muita força e destreza para travar – por vezes para uma paragem mais eficiente
carregava num pedal que deitava areia nos carris – a campainha exterior era
pressionada num outro pedal.
Campainha interior de sinalização
Código de toques da campainha de sinalização interior:
Do condutor para o guarda-freio:
1 Toque – Parar na
primeira paragem
2 Toques – Iniciar a
marcha
3 Toques – parar
repentinamente
4 Toques – Recuar
5 Toques – Não parar
para receber passageiros
6 Toques – Voltar às
condições normais
Do guarda-freio para o condutor:
2 Toques – Prevenir
o condutor de qualquer perigo
3 Toques – Chamar o
condutor à fala
4 Toques – Atenção
ao trólei
5 Toques – Aplicar o
travão da retaguarda
A campainha
Na foto acima a campainha é visível ao fundo no tecto da
plataforma.
Bilhete de Transporte da CCFP c. 1890 – Fonte: Porto
Desaparecido; In “portoarc.blogspot.pt”
O trajecto, Paranhos – Campo, especificado no bilhete acima,
em tracção eléctrica só se começaria a efectuar, a partir de Setembro de 1904.
Por outro lado, o topónimo “Campo” diz respeito a Campo da
Regeneração, que só a partir de 1910 é (até hoje), a Praça da República.
O referido bilhete só seria da rede de tracção eléctrica se
datado entre 1904 e 1910.
O Bilhete de
Transporte, caso seja de c. 1890, só pode ser de “Americano”, pois, a
tracção eléctrica só começou em 1895.
Bilhetes de eléctrico, dos anos 40 e 50 do século XX– Fonte: “portoarc.blogspot.pt”
Passe de "Americano" da CCFP – Fonte: “portoarc.blogspot.pt”
Passe anual da CCFP de 1896 – Fonte: Site “delcampe.net”; In
“portoarc.blogspot.pt”
Alicate para a validação de bilhetes
Cobrador – Fonte: Site “museu-carro-electrico.stcp.pt”
Cobrador
O condutor era também o cobrador...o outro elemento da equipa era o
guarda-freio, que conduzia o veículo.
O cobrador encarregava-se, então, de vender bilhetes e obliterar, com
um alicate próprio, bilhetes e passes e, por isso, era chamado de “Pica”. Havia
ainda o revisor que, de vez em quando, aparecia num dado transporte público
para verificar se todos os passageiros estavam na posse dos seus títulos de
transporte válidos.
Até 1933, os carros eléctricos eram verdes e brancos e os números de série eram a branco.
A partir daquele ano, passaram a ser amarelos e brancos e os números de série eram impressos na cor castanha.A partir de 1 de Junho de 1928, os carros eléctricos, a exemplo dos outros veículos auto, passam a circular pela direita.
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