quarta-feira, 3 de maio de 2017

(Continuação 15) - Actualização em 13/02/2018

Momentos, Curiosidades e Instantâneos


«O dia 29 de novembro de 1907 caiu a uma sexta-feira que, no Porto, foi um arreliador dia de chuva. Passavam poucos minutos das quinze horas, quando assomou ao cimo da Rua das Carmelitas o elétrico número 156, que fazia a ligação entre Paranhos e a Praça de D. Pedro.
Ao iniciar a descida das Carmelitas, o elé­trico começou a ganhar uma velocidade exa­gerada, o que levou o guarda-freio Domingos António dos Santos a tentar a sua travagem a todo o custo. Mas, desesperado (aos repórte­res daquele tempo não falhou nenhum pormenor), aquele funcionário deu-se conta de que as rodas do veículo não anda­vam, antes deslizavam perigosamente nos carris molhados pela chuva que não para­va de cair. 
Agora, leitor, atente bem neste porme­nor delicioso de um dos repórteres que an­daram a fazer a cobertura do acontecimen­to: "o corajoso guarda-freio, verificando que a velocidade do carro aumentava cada vez mais, ao chegar em frente à livraria Lel­lo & Irmão, lembrou-se de tirar a capa de oleado que levava vestida e atirou-a sobre os 'rails', na persuasão de que ela se enro­dilhava no mecanismo dos rodados e por esta forma conseguiria abrandar a rapidez da marcha do eléctrico". Maravilha. 
Pois, mas as crónicas dizem que a ideia original do guarda-freio não surtiu o efeito que se esperava e o elétrico 156 aumentou, cada vez mais, a velocidade com que des­cia a Rua das Carmelitas e, volto à crónica, "na apertada curva da antiga (?) rua das Carmelitas para a rua dos Clérigos, saltou dos 'rails', tomou a direção dos prédios do lado direito da rua dos Clérigos, para quem desce, onde estão as lojas de fazendas e lenços, e foi embater violentamente con­tra a porta de entrada da loja 65-67, onde estava instalado o estabelecimento “A Via­neza". 
A seguir vêm os pormenores mais tétri­cos: morreu uma senhora que estava no in­terior do estabelecimento, ao balcão, a fa­zer compras; e ficaram feridos alguns pas­sageiros do carro elétrico, incluindo o guar­da-freio que, escreveu um repórter, "só por milagre não foi esquartejado, sendo notá­vel a sua temeridade em se manter ao tra­vão até dentro da loja". 
Numa das reportagens vem o nome da vítima mortal. Era D. Maria Garcia Espassandim, de origem espanhola, "esposa do proprietário da casa de pasto Rainha, da Praça de D. Pedro, locanda bem conheci­da da gente boémia do Porto", especifica o repórter. 
O proprietário, da casa "A Vianeza" de então, Eduardo Reis, para assinalar o triste acontecimento mandou pendurar no teto do estabelecimento um elétrico em minia­tura. "A Vianeza" ficou, a partir daí, a ser po­pularmente conhecida por "casa do elétri­co".»
Com a devida vénia a Germano Silva




No Campo Lindo



Na foto anterior o Elétrico no termo da linha 8, no Largo do Campo Lindo (Paranhos), em 1974.



“A “linha de Paranhos” foi a última linha de carros americanos que o Porto viu desaparecer. Em setembro de 1904, a então designada Companhia Carris de Ferro do Porto substituiu a tração animal pela tração elétrica na referida linha. Em 1912, a “Carris” atribuiu um indicativo (número) a todas as linhas da sua rede, tendo a “linha de Paranhos” recebido o n.º 8. Finalmente, em novembro de 1976, após cerca de 72 anos de serviço, a linha 8 foi suprimida”.
Fonte: Porto Desaparecido



Na fotografia acima podemos ver o carro elétrico n.º 176 (Brill 28 com plataforma salão construído em 1934) a ser preparado para regressar à praça da Liberdade. Enquanto o cobrador acaba de virar o trólei, o guarda-freio remove o (minúsculo) espelho para o levar para a plataforma da frente.




O Eléctrico na linha 7 a chegar à Circunvalação vindo de Arca d’Água 


Inauguração da Linha 4 para Pereiró em 21 de Dezembro de 1947 - Fonte: Museu do Carro eléctrico




Retirada de Eléctrico do rio Douro – Ed. Illustração Portugueza



Na foto acima pode observar-se um carro Eléctrico a ser içado do rio, após o descarrilamento, juntamente com um atrelado, ocorrido em Dezembro de 1911, matando mais de uma dezena de passageiros.



Carro Eléctrico nº 249, c. 1905 – Ed. Casa Guedes; Fonte: AHMP



O veículo acima foi adquirido, em 1904, pela "Companhia Carris de Ferro do Porto" ao fabricante norte-americano "J. G. Brill". Este veículo (exemplar único) esteve de serviço até ao início da década de 1970, após algumas transformações.
Em Outubro de 1972, foi vendido pelo então designado "Serviço de Transportes Colectivos do Porto" ao Rockhill Trolley Museum (nos EUA), onde ainda hoje se encontra.
A meio do seu percurso de vida as plataformas inicialmente abertas haveriam de ser fechadas, e a carroceria totalmente remodelada.



O nº 249 pronto a seguir para o museu nos EUA – Fonte: PortoDesaparecido



O nº 249 já no Rockhill Trolley Museum



“Era muito comum verem-se rapazes a viajar à "guna"! Corriam para o eléctrico quando este se punha em marcha e fugiam quando travava para não serem apanhados pelo guarda-freio”. 
Fonte: portoarc.blogspot.pt



À boleia (À guna), num Brill-28 com plataforma salão



À boleia na linha 9, possivelmente num Brill-23


O Eléctrico na linha 10 em Gondomar em 1930, num Brill-23 ou 28



A linha 10 deixou de funcionar a partir do último dia do ano de 1966.




Eléctrico na Ponte da Pedra em 1930 – Fonte: Frame da Cinemateca Portuguesa




Na Ponte da Pedra, um Brill-28 com plataforma salão, com o nº 212


Na foto acima o Eléctrico na linha 7 chegou ao fim do percurso na Ponte da Pedra, e o condutor está a virar o trólei para o regresso ao Porto.



Combinador (ou controller) do guarda-freio



No sistema de controlo acima mostrado, o guarda-freio dirigia o veículo de pé, e já tinha um travão de ar comprimido, o que tornava muito mais fácil a condução.
Estes tinham vindo para substituir os mecânicos, com uma pesada manivela em metal, que exigia muita força e destreza para travar – por vezes para uma paragem mais eficiente carregava num pedal que deitava areia nos carris – a campainha exterior era pressionada num outro pedal.




Campainha interior de sinalização



Código de toques da campainha de sinalização interior:

Do condutor para o guarda-freio:
1 Toque – Parar na primeira paragem
2 Toques – Iniciar a marcha
3 Toques – parar repentinamente
4 Toques – Recuar
5 Toques – Não parar para receber passageiros
6 Toques – Voltar às condições normais

Do guarda-freio para o condutor:
2 Toques – Prevenir o condutor de qualquer perigo
3 Toques – Chamar o condutor à fala
4 Toques – Atenção ao trólei
5 Toques – Aplicar o travão da retaguarda



A campainha


Na foto acima a campainha é visível ao fundo no tecto da plataforma.



Bilhete de Transporte da CCFP c. 1890 – Fonte: Porto Desaparecido; In “portoarc.blogspot.pt”



O trajecto, Paranhos – Campo, especificado no bilhete acima, em tracção eléctrica só se começaria a efectuar, a partir de Setembro de 1904.
Por outro lado, o topónimo “Campo” diz respeito a Campo da Regeneração, que só a partir de 1910 é (até hoje), a Praça da República.
O referido bilhete só seria da rede de tracção eléctrica se datado entre 1904 e 1910.
O Bilhete de Transporte, caso seja de c. 1890, só pode ser de “Americano”, pois, a tracção eléctrica só começou em 1895.


Bilhetes de eléctrico, dos anos 40 e 50 do século XX– Fonte: “portoarc.blogspot.pt”


Passe de "Americano" da CCFP – Fonte: “portoarc.blogspot.pt”



Passe anual da CCFP de 1896 – Fonte: Site “delcampe.net”; In “portoarc.blogspot.pt”



Alicate para a validação de bilhetes


Cobrador – Fonte: Site “museu-carro-electrico.stcp.pt”


Cobrador



O condutor era também o cobrador...o outro elemento da equipa era o guarda-freio, que conduzia o veículo.
O cobrador encarregava-se, então, de vender bilhetes e obliterar, com um alicate próprio, bilhetes e passes e, por isso, era chamado de “Pica”. Havia ainda o revisor que, de vez em quando, aparecia num dado transporte público para verificar se todos os passageiros estavam na posse dos seus títulos de transporte válidos.
Até 1933, os carros eléctricos eram verdes e brancos e os números de série eram a branco. 
A partir daquele ano, passaram a ser amarelos e brancos e os números de série eram  impressos na cor castanha.
A partir de 1 de Junho de 1928, os carros eléctricos, a exemplo dos outros veículos auto, passam a circular pela direita.

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