segunda-feira, 15 de maio de 2017

(Continuação 9) - Actualização em 15/02/2018, 24/10/2019 e 14/06/2020

1.1 "Agostinho Ricon Peres" 

A firma “Agostinho Ricon Peres”, instalada na Rua Cândido dos Reis, nºs 51 -61, sucedeu, aí, à firma “Costa, Peres, Lda” que, por sua vez, tinha ainda instalações, também, na Rua de Sá da Bandeira, nº 416.
Ambas as firmas se dedicaram à comercialização de máquinas, ferramentas e acessórios para todas as indústrias.



Agostinho Ricon Peres e Costa Peres, à entrada da “Costa, Peres, Lda.”, na Rua Cândido dos Reis, nºs 51 -61


“Costa, Peres, Lda” na Rua de Sá da Bandeira – Cortesia Espólio Fotográfico Português


Cartaz de “Costa, Peres, Lda” – Ed. Caldevilla (1919)



“Agostinho Ricon Peres”, na Rua Cândido dos Reis, nºs 51-61 – Ed. Diversos, Série: Casas Comerciais, Postal: n.º 35



“Agostinho Ricon Peres”, na Rua Cândido dos Reis, nºs 51 -61 – Cortesia de Espólio Fotográfico Português



A firma haveria de ocupar outras instalações, na Rua Cândido dos Reis, nºs 121 -131.



Cartão comercial de “Agostinho Ricon Peres”– Cortesia de “fringosa.blogspot.com/”



Em 1936, são inauguradas as novas instalações de “Agostinho Ricon Peres”, na Rua 31 de Janeiro, nº 184A, com entrada também pela Rua da Madeira 125-133.
Desde meados do século XIX, neste local, esteve instalada uma estação de banhos.



Desenho da fachada do prédio da firma “Agostinho Ricon Peres”, na Rua 31 de Janeiro, nº 184A



“Agostinho Ricon Peres”, na Rua 31 de Janeiro, nº 184A – Cortesia de Espólio Fotográfico Português




Local actual ( construção térrea) onde esteve a firma “Agostinho Ricon Peres”, na Rua 31 de Janeiro, nº 184A – Fonte: Google maps




Estudo para a fachada do Stand de Exposição da firma “Agostinho Ricon Peres”, na 1ª Exposição Colonial Portuguesa, realizada no Porto, em 1934, com projecto da autoria do arquitecto Mário de Abreu



O Pavilhão de Exposição (permanente), da firma “Agostinho Ricon Peres” de Máquinas e Ferramentas que integrava a Feira Popular



Agostinho Ricon Peres, o grande obreiro da firma, um ferrenho republicano, será um nome para sempre ligado à comercialização especializada em máquinas industriais, acessórios e ferramentas e, ainda, a uma actividade filantrópica como benemérito do Asilo do Terço, Cruz Vermelha e outras obras sociais.
Em 1922, morava na Rua de Santa Catarina, 759, mas em 1929, dava-se como morador na Rua da Vigorosa, 727, no gaveto com a Rua de Nevala.




1.2 “Adriano Vieira da Silva Lima & C.ª Lda.” – Depósito de Solas e Cabedais



“Adriano Vieira da Silva Lima & C.ª Lda.” na Rua do Ateneu Comercial do Porto – Ed. JPortojo



O grande armazém de Solas e Cabedais, situado na antiga Travessa de Passos Manuel (Rua do Ateneu Comercial do Porto), foi uma empresa fundada em 1917, por Adriano Vieira da Silva Lima, natural de Archete, Santarém, nascido em 1869, que representaria para ele, o coroar de 30 anos de trabalho.
Tendo vindo ainda jovem trabalhar para o Porto, primeiro como marçano e depois como empregado de comércio, acabaria por casar com uma senhora de Rio Tinto, que morava junto da “Casa do Cristovão” (patronato).


Sobre este casal, diz-nos o site: “cm-gondomar.pt”:

“Conheceram-se numa prova de vinhos e nunca mais se largaram. Após o casamento foram viver para o Porto, entre o Bonfim e a Praça das Flores, mas regressaram a Gondomar e adquiriram uns terrenos, junto à estação de comboios de Rio Tinto, no local onde hoje se encontra o Externato Camões. Construíram aí uma casa e uma quinta, pois gostavam de estar rodeados pela Natureza
No Porto contatou com o movimento republicano, inscrevendo-se como sócio do Centro Republicano do Porto, na Praça dos Poveiros. Destacou-se logo pelo seu empenho e ativismo, tornando-se amigo próximo de Afonso Costa, destacado líder republicano.
Após a implantação da República, foi nomeado administrador do concelho de Gondomar, no ano de 1919, lugar que ocupou até 1926. Nessa altura havia uma certa autonomia, mesmo económica, no poder local. Chegou mesmo a existir dinheiro local, em forma de notas, com a assinatura do administrador do concelho”.


Adriano Lima exerceu as funções de Administrador do Concelho de Gondomar 17 vezes e de Presidente da Câmara entre 1919 e 1922.


“Como comerciante, a atividade industrial e comercial de Adriano Lima foi um êxito. Em 1887 fundou um depósito e armazém para a indústria do calçado. Este armazém cresceu, em tamanho e reputação, sendo 30 anos depois o maior da Península Ibérica. A revista Ilustração Portuguesa, na edição de 2 de abril de 1917, chegou a trazer em destaque uma reportagem sobre a inauguração das novas instalações, localizadas no Porto”.
Fonte: “cm-gondomar.pt”



Adriano Vieira da Silva faleceu aos 76 anos de idade, no recato da sua quinta, em Rio Tinto, Gondomar.
Há alguns anos que desapareceu, aquela actividade de negócio naquele local. Quanto ao espaço, não se vislumbra, por agora, um fim.


“Adriano Vieira da Silva Lima & C.ª Lda.” em actividade, em 1917 – Ed. revista Ilustração Portuguesa


Escritório da “Adriano Vieira da Silva Lima & C.ª Lda.” em 1917 – Ed. revista Ilustração Portuguesa


Equipa que em 1917 dirigia o destino da “Adriano Vieira da Silva Lima & C.ª Lda.” – Ed. revista Ilustração Portuguesa


Todo o conjunto habitacional que vai desde a esquina da actual Rua do Ateneu Comercial e Rua Passos Manuel, nº15 até nº 63, era propriedade de José Nogueira Pinto, bem como o armazém contíguo daquela primeira rua, onde acabou por se instalar a firma de solas e cabedais de Adriano Vieira da Silva.




1.3 Representante da Singer





Publicidade às "machinas de coser” Singer, em 1874


Em 1874 no Porto, a "agência" da Singer situava-se no número 10 da Rua de São Bento da Vitória.



Publicidade às "machinas de coser” Singer, em 1876


No Porto em 1876, a "succursal" da então designada "Companhia Fabril Singer" situava-se na Rua Formosa, números 355 e 357.





Publicidade à Singer na Rua Formosa






2. L. J. Carregosa



Fundada em 1833, a Casa Carregosa atravessou revoluções, crises e tumultos.
Quem desce a Rua das Flores, próximo da Rua Trindade Coelho, não consegue passar sem deixar de reparar na fachada que reveste a antiga sede da L. J. Carregosa & Companhia Limitada, embora a sede já tenha passado, entretanto, para a Avenida da Boavista.
Na terceira década do séc. XIX, a firma L. J. Carregosa iniciou a sua actividade na cidade do Porto. Foi em plena guerra civil, durante as lutas liberais entre D. Pedro IV e D. Miguel I, que se ergueu por entre as ruas da cidade a casa financeira mais antiga da Península Ibérica, 13 anos antes da fundação do Banco de Portugal. 
Em 2008, é dada autorização do Banco de Portugal para o projeto de fusão e transformação da sociedade em Banco, dedicado à banca privada.
Em Maio de 2009, ocorre, no Porto, a apresentação pública oficial do Banco Carregosa.
Alguns anos antes, em 1994, já tinha surgido a L.J. Carregosa – Sociedade Corretora S.A..




Sede da L. J. Carregosa, na Rua das Flores - Fonte: Google Maps




3. Casa Coração de Jesus


Situada na Rua Mouzinho da Silveira nº 302, começou em 1885 como loja de bordados em vestes litúrgicas e chegou a fornecer até a Sé Catedral de Goa, mas hoje vende de tudo o que são artigos religiosos.
Quando na década de 1950, Joaquim da Silva Melo, sobrinho-neto do fundador e actual proprietário da loja, deixou as antigas instalações na Rua do Corpo da Guarda, nas traseiras da actual loja, procurou manter a proximidade da Estação de São Bento, para estar a dois passos dos principais clientes, padres da província que chegavam ao Porto de comboio. Encontrou uma casa bancária que lhe cedeu a loja por 100 contos de réis.
A Casa Coração de Jesus tem como traço distintivo os santos em terracota, um processo milenar em que o barro é tratado, lavado e batido, passando de vermelho a cinzento, para a peça ficar com mais resistência.
São peças deste tipo e todo o enquadramento do espaço, com madeiras e vitrais e um corrimão a circular o primeiro andar que impressionam os turistas que entram na loja.



Casa Coração de Jesus - Ed. Diário de Notícias



4. Empresa Técnica Publicitária – Propagandas Caldevilla


Raul de Caldevilla, filho de um casal espanhol, nasceu no Porto em 21 de Novembro de 1877 e faleceu em Agosto de 1951. 
Interessou-se por publicidade e ficou conhecido como o primeiro publicitário em Portugal.
Em 1912, fundou, na Rua de 31 de Janeiro, n.º 165, a “ETP - Empreza Technica Publicitaria” de “Raul de Caldevilla & Cª, Lda” que se tornou empresa pioneira na utilização de publicidade exterior com recurso a cartazes de grandes dimensões.
Seu pai, o engenheiro Nicolas Caldevilla Y Sevilla (1847-1902), espanhol, chegou ao Porto para trabalhar na construção da ponte Maria Pia.
Era um técnico conceituado. Morava na Rua do Sol, muito próximo do Passeio das Fontainhas.
Escreveu vários artigos sobre engenharia no jornal “ O Commércio Portuguez”, tendo pertencido à Euterpe, tudo fez para que esta associação viesse a transformar-se no Ateneu Comercial do Porto, o que viria a acontecer em 23 de Março de 1884.
Expirado o contrato que tinha como engenheiro nos trabalhos da ponte Maria Pia e dada a sua paixão pela fotografia, foi colaborador na “Fotografia União”.
Acabou por regressar a Espanha onde exerceu como professor de uma Escola de Artes e Ofícios e continuou com a sua actividade de amador da fotografia na qual obteve vários prémios.
Até ao seu falecimento, em 1902, tendo visitado até ao fim dos seus dias algumas vezes a cidade do Porto, em visita ao seu filho, Raúl Caldevilla que, pela sua última visita, c. 1900, vivia em Matosinhos.
Durante aquelas visitas, à noite, reunia-se com os seus amigos, em tertúlia, na “Relojoaria Pereira”, ocasiões aproveitadas para verter para a audiência todo o seu conhecimento e o Ateneu Comercial do Porto recebia-o sempre de braços abertos e prestava-lhe todas as homenagens.
Por sua vez, Raúl Caldevilla, tendo frequentado o curso superior do comércio do Instituto Industrial e Comercial do Porto, foi, ainda, muito jovem, sócio da "Fotografia União (Fornecedora da Casa Real)", instalada na Praça Santa Teresa, onde trabalhou enquanto jovem. 
Raúl Caldevilla, um "diseur" de mérito, passou em 1902, por Vila Real, onde actuou em espectáculos com Pedro Bandeira e o actor Oliveira, tendo feito boas amizades, de tal modo que seria proposto pela Liga dos Lavradores do Douro para agente comercial do governo português na Argentina, Paraguai, Chile, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Honduras, Salvador, Nicarágua, México e Cuba, abrindo nestes países o mercado aos produtos nacionais, em especial o vinho do porto.
Em 1903, vendeu a sua posição na Fotografia União, a Pinho Henriques.
Raúl Caldevilla, um "diseur" de mérito, passou em 1902, por Vila Real, onde actuou em espectáculos com Pedro Bandeira e o actor Oliveira, tendo feito boas amizades, de tal modo que seria proposto pela Liga dos Lavradores do Douro para agente comercial do governo português na Argentina, Paraguai, Chile, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Honduras, Salvador, Nicarágua, México e Cuba, abrindo nestes países o mercado aos produtos nacionais, em especial o vinho do porto.
Em 1903, vendeu a sua posição, na Fotografia União, a Pinho Henriques.


"Em 1904, Raúl Caldevilla é nomeado vice-cônsul de Portugal, em Cadiz. Exerce funções de agente comercial do governo, na Argentina e em vários outros países latino-americanos e, posteriormente, no Egipto e Médio Oriente.
Homem inteligente e activo, lança-se na publicidade em Buenos Aires, empreendendo várias campanhas em jornais argentinos, novidade na época. Regressa à Europa e especializa-se, nessa área, em Paris. Volta à terra natal e funda no Porto uma agência de publicidade. Promove a publicidade em Portugal, por via do cinema, abrindo novos horizontes à sua prática.
É jornalista e autor dramático. Redige comédias e escreve livros. Cria o «Folhetim Publicitário» no jornal «O Primeiro de Janeiro», que obtém considerável êxito. Faz publicidade a vários filmes estreados pela Invicta Film, de cujo dono, Alfredo Nunes de Matos, é grande amigo. Os dépliants de A Rosa do Adro, Os Fidalgos da Casa Mourisca, Amor de Perdição, fazem-se notar.
Acaba por se envolver no cinema como profissional e, com importantes apoios bancários, funda no Porto uma empresa, no nº 32 da Rua Formosa, a Raul de Caldevilla & Cia. Lda., que ficará conhecida por Caldevilla Film (1916). 
São seus sócios Eduardo Kendall, João Manuel Lopes de Oliveira e António de Oliveira. É gerente da firma até 1922. A Caldevilla Film, a Invicta Film e a Ibéria Film são as produtoras que marcam a actividade cinematográfica nortenha, no começo do século XX."
Fonte: "pt.wikipedia.org/"




Mural das Propagandas Caldevilla na Rua de Sá da Bandeira em 1923 – Ed. Foto Guedes



Raul Caldevilla, é considerado o criador em Portugal do filme de publicidade, promovendo-o por via do cinema, abrindo assim, novos horizontes à sua prática, ao tornar-se produtor e realizador de documentários promocionais. Escreveu o argumento do primeiro filme de temática sobre o fado, realizado por Maurice Mariaud (O Fado - 1923).
Depois de abandonar a primeira sede da empresa na Rua de 31 de Janeiro, instala-se na Rua Formosa, no palácio do Conde do Bolhão, a Raul de Caldevilla & Cia. Lda., que ficará conhecida por Caldevilla Film (1916).



Cartaz da Caldevilla de 1916


Cartaz da Caldevilla de 1916



5.1 Espelho da Moda e "À Noiva"



Rua dos Clérigos em 23/11/1908 aquando da visita do rei D. Manuel II – Fonte: Ilustração Portuguesa



“Fotografia que, pessoalmente, muito me diz. Vê-se a Rua dos Clérigos, em 1908, engalanada esperando a passagem do Rei D. Manuel II que acabava de chegar ao Porto em visita oficial. À direita vemos a casa Á Noiva onde em 1893, com 12 anos, o meu avô paterno, Francisco da Silva Cunha, entrou como moço de recados, ao tempo chamado marçano, e onde foi desempenhando de forma brilhante a sua profissão. Ascendeu a empregado de balcão, pondo gravata como era de tradição, e mais tarde a gerente da loja. Nesse tempo os empregados viviam na própria casa dos patrões, habitualmente no último andar onde se encontrava a cozinha e os quartos das criadas e dos empregados. Tendo-se apaixonado pela Menina Luísa, filha do Sr. Alves, o patrão, decidiu sair e lançar a sua própria casa de retalho em 1903. Deu conhecimento disso ao Sr. Alves, que aceitou e apoiou, pois via no seu gerente um homem sério e trabalhador. Foi assim que, em 1903, fundou no nº. 54 o ESPELHO DA MODA. Prometeu ao Sr. Alves que, assim que lhe apresentasse dois balanços com lucros suficientes para manter a sua casa, lhe iria pedir a mão da menina Luísa. Em 1905 casou com a minha avó, vindo a ter 3 filhos. Por alturas desta fotografia o ESPELHO DA MODA tinha 5 anos e não é visível por se encontrar tapado pelo eléctrico.
Uma curiosidade é verificar-se que nesse tempo, à inglesa, ainda se circulava pela esquerda, e só em 1928 o novo código mudou para o sistema continental de circulação pela direita”.
Com a devida vénia a Rui Cunha, In portoarc.blogspot





Espelho da Moda, c. 1900 


Na foto acima observa-se o “Espelho da Moda”, na Rua dos Clérigos, nº 52-54, vendo-se também a «Loja das Alminhas», nº 56-60 e a casa de confecções de crianças, «A Moda Infantil», nº 46-50.



Fachada do “Espelho da Moda” no nº 54, em 1903


Fachada de 1928 a 1945



Fachada a partir de 1945 com projecto e decoração do Arquitecto Amoroso Lopes


Publicidade ao “Espelho da Moda” em Dezembro de 1960 – Fonte: Revista Orfeão (Orgão do Orfeão Universitário do Porto)



“Espelho da Moda” que a família Cunha passou, em 1984,  hoje ocupado pela “Parfois” - Fonte: Google maps



Um outro estabelecimento comercial icónico, da Rua dos Clérigos, foi o “À Noiva”, localizado um pouco mais abaixo do “Espelho da Moda”, ainda na Rua dos Clérigos, referido no texto acima pelo seu autor, devidamente identificado.
A antecessora da “À Noiva” é considerada pelo Livro de Ouro do Comércio e Indústria do Porto como a mais antiga casa da cidade do Porto, no ramo da moda e confecção nupcial, e teria sido fundada cerca de 1815.




“À Noiva” e a evolução da sua fachada – Fonte: Rui Cunha, administrador do blogue “portoarc.pt”



José Pinto Leite, que faleceu em 19 de Fevereiro de 1936, com 74 anos, e ficaria ainda conhecido pelo seu trabalho, durante vinte e seis anos, em prol da Ordem da Trindade, foi também sócio da casa comercial “À Noiva”.





5.2.1 “Fernandes, Mattos & Ca., Lda.”


A mais que centenária loja “Fernandes, Mattos & Ca., Lda.”, localizada na esquina das ruas das Carmelitas e da Galeria de Paris, é um projecto de 1904, da autoria do arquitecto Licínio Guimarães, que tem como obra emblemática, o reordenamento do chamado “Prado de Matosinhos”, onde viria a nascer um vastíssimo complexo industrial. Hoje, corresponde à área denominada, “Matosinhos-Sul”.



Fachada da loja “Fernandes, Mattos & Ca., Lda.”, voltada para a Rua da Galeria de Paris – Fonte: Google maps



“Edifício comercial na Rua da Galeria que nunca foi coberta, onde se instalaram os Armazéns das Carmelitas - Fernandes, Matos & Ca.
A arquitectura transparece alguma monumentalidade na escala urbana e reserva uma surpresa estrutural no interior, com um amplo espaço dominado por colunas em ferro, de bases vegetalistas, fustes marmoreados, capitéis e decorativas consolas apoiando na estrutura do tecto, que derrama luz de geométricos candeeiros. Passando o mobiliário de parede e o colorido de tectos expostos, vislumbra-se uma monumental escadaria que nos conduz aos pisos superiores, marcados novamente pela estrutura vertical, menos alta e mais delgada”.
Cortesia de Luís Aguiar Branco In “Lojas do Porto”, vol. 2, (Edições Afrontamento, Porto 2009)



Desenho de perspectiva do rés-do-chão - Fonte: “fernandesmattos.pt”



“Em pleno coração da baixa do Porto, a empresa Fernandes, Mattos & Ca., Lda. nasceu no já longínquo ano de 1886 como uma prestigiada loja de tecidos. Inaugurou as suas instalações na Rua das Carmelitas em 1906, onde aliás surgiu como a primeira loja aí residente.
Naquele tempo ainda se viam carros de bois a subir os Clérigos, os barcos rabelo povoavam o Rio Douro e a Avenida dos Aliados só abriria mesmo alguns anos depois, em 1916. Na arquitectura começaram a destacar-se os grandes edifícios na Baixa, como a Estação de São Bento, o Teatro Nacional de São João e este mesmo quarteirão das Carmelitas, tão influenciado pelo estilo francês.
Os tempos mudaram e os hábitos na compra de têxteis também. Mantendo preservado todo o ambiente e arquitectura deste edifício antigo e o seu mobiliário único, a loja converteu-se num espaço mágico em que cada recanto conta uma estória. Mantém-se ainda na esfera de herdeiros dos seus primeiros proprietários, pelo que é um negócio familiar com 132 anos, um feito que não é para todos.
Visitar a Fernandes, Mattos transforma-se num verdadeiro passeio e numa viagem pelo tempo, onde não faltam os brinquedos tradicionais portugueses, peças de decoração e artigos contemporâneos com design vintage.
Ao fundo da loja, é possível encontrar em perfeito estado de conservação os antigos guichés para recebimentos e pagamentos a fornecedores e clientes de tecidos, bem como ver equipamentos e utensílios que se utilizavam naquele tempo. Ali, o contemporâneo mistura-se com o antigo, criando um cenário único e irrepetível em qualquer parte do mundo. Basta lançar o olhar para o tecto, que com um pé direito de largos metros nos revela imponentes colunas Belle Époque e na parte central uma escadaria que nos conduz ao segundo andar do edifício, com vista panorâmica privilegiada sobre a baixa da cidade, estendendo o olhar da Praça dos Leões à direita e da Torre dos Clérigos ao centro, até à Praça da Liberdade ao fundo à esquerda. Em mesas de madeira do mesmo estilo, podemos encontrar centenas de peças e objectos que encantam e preenchem o imaginário de quem visita a Fernandes, Mattos & Ca., Lda”.
Fonte: “fernandesmattos.pt”



Entrada pela Rua das Carmelitas na loja “Fernandes, Mattos & Ca., Lda.”- Fonte: “fernandesmattos.pt”




5.2.2 “Casa Forte” e “Lã Maria”


O denominado "quarteirão da Casa Forte" situa-se próximo do Mercado do Bolhão, sendo delimitado pelas ruas de Sá da Bandeira, Formosa e Bonjardim e Travessa do Bonjardim, compreendendo uma área com 28.500 metros quadrados, tendo sido previsto para ela um parque habitacional para 100 famílias e, ainda, a criação de áreas comerciais, com lojas nos pisos térreos, construção de um parque de estacionamento e de um hotel, num investimento de 27 milhões de euros.
Todo o conjunto vai manter as fachadas da Rua de Sá da Bandeira.
Naquele quarteirão na Rua de Sá da Bandeira, 261-281, ficava a Casa Forte, do lado oposto e um pouco mais acima, dos bazares Paris e Londres (agora uma loja de telemóveis).



Publicidade à “Casa Forte” In semanário “Maria Rita” em 30/04/1932




Pelo anúncio anterior podemos observar que a “Casa Forte” tinha, à data, uma filial na Rua de Santa Catarina.
A velha Casa Forte fechou em 2004. É uma memória de um Porto de outros tempos, mais propriamente desde a década de 20 do século XX, dedicando-se ao comércio de confecções e vestuário, e de malas e carteiras.
A Casa Forte, "forte nos sortidos, fraca nos preços" (era o slogan), chegou a abrir uma outra loja, mas de artigos de desporto e campismo, na Travessa da Rua Formosa (ligava a Rua de Sá da Bandeira à Rua Formosa), próxima da loja mãe.




Casa Forte e, na esquina, a Ourivesaria do Bolhão, em 2004




Um outro estabelecimento de nome “Lã Maria” era uma espécie de “tem tudo para o lar”, e ainda com um grande sortido de lãs, numa altura em que os centros comerciais e as grandes superfícies eram uma miragem, acabaria por ficar no imaginário de muitos portuenses, tendo pertencido a uma família conhecida da cidade – Os Aires Pereira.
Antes no mesmo local onde esteve a “Lã Maria” tinha estado o alugador de trens ou alquilador Raimundo dos Santos Natividade.
De comum tanto a Casa Forte como a “Lã Maria” tinham traseiras para a Travessa da Rua Formosa, já extinta.



“Casa Forte” secção de campismo, à esquerda na Travessa da Rua Formosa – Ed. “carlaeangelo.blogspot.pt/”



Travessa da Rua Formosa – Ed. J Portojo



Na foto acima observa-se a entrada da Travessa da Rua Formosa, já entaipada, e à direita, já encerradas, as instalações da Casa Forte que iam até à Ourivesaria do Bolhão situada na esquina das ruas de Sá da Bandeira e Formosa.


Na esquina era a Ourivesaria do Bolhão a que se seguiam as diversas lojas da “Casa Forte”- Ed. “portosombrio.blogspot.pt”


Fachada do prédio onde esteve a "Lã Maria", na Rua Formosa





À direita, na área do taipal, era a fachada da “Lã Maria”


A fachada do prédio abandonado desde do fim da década de 70 do século XX, dos “Armazéns Lã Maria”, seria alvo de uma derrocada em 5 de Outubro de 2009, pelas 23 horas.




Derrocada do prédio já abandonado da “Lã Maria”, à direita – Ed. Álvaro Vieira; Jornal Público


“Ali mesmo, junto a Sá da Bandeira, em frente ao palacete do Conde do Bolhão, o que resta há uns largos meses do que já foi uma das lojas que atraía muita gente à rua Formosa.
No primeiro andar existiam, nos anos sessenta consultórios médicos, entre os quais o do Doutor Celestino Maia. 
Ah! o nome diz-vos qualquer coisa, bem me parecia. Talvez o nunca tenham visto mas era o autor do livro de Geologia que se usava no ensino liceal a partir do terceiro ano, se não me engano. Também era o médico das Caldas do Gerez. 
Como ainda tenho algumas recordações deste médico e professor, aqui hei-de deixar mais algumas linhas mais tarde.
Sobre a "Lã Maria" tenho a impressão que nunca lá entrei, mas há sete ou oito anos encontrei um antigo empregado desta casa comercial que me contou que nas caves do dito edifício existiam longas passagens subterrâneas que levavam a um rio subterrâneo. Será verdade? Será aquele ribeiro que descia ali pela rua do Bonjardim, que passava perto da Cancela Velha?”
Com a devida vénia a Teo Dias, administrador de “ruasdoporto.blogspot.pt” (4 Novembro de 2012)



Sobre a “Lã Maria” é o texto que se segue.

“Atravessando a Rua Sá da Bandeira em direcção ao Bonjardim temos a popular lojas de miudezas, tecidos e artigos de borracha a “Lã Maria”.
Estabelecimento que toda a população do Porto e arredores conhece. Como devoção, na quadra das festividades Sanjoaninas, numa das montras, já por anos, era armada uma cascata, com figuras, em movimento onde além do S. João estão os diversos motivos da vida, quotidiana do Porto e dos concelhos limítrofes.
Na decoração não faltavam aquelas figuras, típicas do dia-a-dia da cidade do Porto: os carros puxados por bois; o aguadeiro; a figura do Zé Povinho, imortalizada pelo Bordalo Pinheiro; as noras de retirar água dos poços circundada pelo piso circular que o boi ou a vaca “pachorrentamente”, através da força bruta, do poço, fazia trazer os baldes, amarradas a correntes, transbordando a água cristalina do fundo do poço até ao tabuleiro que ligado a um rego riscado no meio do milheiral ou batatal.
Essa bênção da água fazia dos campos jardins verdes nos arrabaldes do Porto. Magotes de pessoas, todos os dias, admiravam a montra decorada da “Lã Maria” e, tradicionalmente, já nas orvalhadas da madrugada da noite do alho-porro, manjerico e da cidreira, antes de o tripeiro recompor as energias despendidas durante a noite de folia, muitos destes, depois da tigela de caldo verde, com a tora de chouriço, nas barracas de comes e bebes das Fontainhas ou numa outra tasca encontrada no caminho, antes de se acomodar, ainda passava pela Rua Formosa e, já de olhos piscos, olhava a montra da “Lã Maria”.
Cortesia: José Martins in “lusosucessos.blogspot.com”






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