Bairro operário do Bonfim (1904/08)
“Em 2 de junho de 1904 era inaugurado o terceiro bairro da iniciativa do Commercio do Porto – o bairro do Bomfim. Comprehende 32 casas, em grupos de quatro, com retretes exteriores, tendo cada uma um pequeno quintal. As casas teem uma sala de familia, cosinha, sala de jantar e dois quartos. A renda é de 1$200 réis mensaes.”
O Bispo D. António Barroso na inauguração do Bairro do Bonfim
Construído, de facto, entre 1904 e1908, o Bairro do Bonfim
está localizado no Monte das Antas, freguesia de Campanhã, e foi projectado por
Manoel Fortunato de Oliveira Motta e pelo eng. Joaquim Gaudêncio Rodrigues
Pacheco.
De facto, o número de habitações é de 40, pois, é de considerar, um conjunto, em banda, similar à tipologia existente, em Lordelo do Ouro.
De facto, o número de habitações é de 40, pois, é de considerar, um conjunto, em banda, similar à tipologia existente, em Lordelo do Ouro.
Bairro do Bonfim no Monte das Antas
Os Bairros da
República
Com a República o problema da habitação, particularmente nas
duas maiores cidades, é objecto de preocupação e de intervenção do Estado,
apesar de este não ter construído uma única habitação, cabendo apenas às
Câmaras Municipais a sua realização.
Logo em 12 de Novembro de 1910 publica-se um Decreto sobre
as rendas que introduz as seguintes condições:
(a) pagamento das rendas das casas ao mês, em vez de ser
ao semestre ou trimestre, como até aí;
(b) congelamento das rendas de casa, permitindo apenas a
sua actualização de dez em dez anos até 10%;
(c) condicionamento dos despejos.
Fonte: Carlos Nunes Silva - Mercado e políticas
públicas em Portugal: a questão da habitação na primeira metade do século XX Análise
Social, vol. XXIX (127), 1994)
A Câmara Municipal do Porto no prosseguimento da construção dos bairros promovidos pelo jornal “O Comércio do Porto”, entre 1914 e 1917, constrói para venda um conjunto de 191 fogos distribuídos pelas “Colónias Operárias” Antero de Quental (1914/17), Estêvão de Vasconcelos (1914/17), Viterbo de Campos (1916/17) e Dr. Manuel Laranjeira (1916/17) e mais tarde ainda o Bairro Sidónio Pais (1919/29).
Colónia Antero de Quental (1914)
Promovida pela Câmara Municipal do Porto e localizada na
freguesia de Campanhã, junto do Bairro do Bonfim, ao Monte Aventino.
Colónia Antero de
Quental, com a "Torre das Antas", ao fundo, à esquerda
Colónia Estêvão de Vasconcelos (1914)
A colónia junto da Rua Castelo de Faria
Esta colónia foi promovida pela CMP e localiza-se na freguesia de Ramalde.
As ruas deste bairro têm topónimos que as ligam a alguns
castelos de diversas localidades do país.
Colónia Viterbo de Campos (1916/17)
Promovido pela CMP localiza-se na freguesia de Lordelo do Ouro, à saída da Ponte da Arrábida.
Na Rua de Entre Campos
Colónia Viterbo Campos em 1923
Colónia Manuel Laranjeira (1917)
Promovido pela CMP localiza-se na freguesia de Paranhos junto à Rua Augusto Lessa, em frente ao antigo campo do SC e Salgueiros, hoje estação de metro de Salgueiros.
Casa da colónia
O Bairro Sidónio Pais (1919/29)
O bairro localiza-se na freguesia de Lordelo do Ouro junto e a norte da Colónia Viterbo de Campos.
Habitações da colónia
Alguns Bairros de Iniciativa Particular
Bairro Ignez (1915)
Não pertencendo à iniciativa municipal no período da 1ª República é de referenciar o Bairro Ignez, junto à Rua da Restauração.
No último ano do século XIX é comprada aos condes de Burnay,
uma parte do convento de Monchique para a instalação de uma fábrica de
serraria, carpintaria e pregaria.
Em 1915 é formulado à Câmara do Porto, um pedido do
engenheiro Eleutério Adolfo Moreira da Fonseca no sentido de transformar a
fábrica de pregaria "União Industrial Portuense" num "bairro
de casas baratas para operários". O bairro é construído segundo
um projecto de Inácio Pereira de Sá.
O bairro foi recuperado por Fernando Távora nos finais do
século XX.
Bairro do Ignez - Ed. "ruasdoporto.blogspot.pt"
Bairro Monteiro dos Santos (1927)
António Monteiro dos Santos foi um emigrante que fez grandes donativos a várias Ordens e Instituições do Porto. Faleceu em 1926 e, no seu testamento, deixou uma importante verba destinada à construção de um bairro social, designado “Bairro Monteiro dos Santos” na Rua da Ribeira Grande e à criação de um Asilo Hospital para incuráveis e inválidos do qual o moderno Hospital de S. Lázaro, vocacionado para idosos, muito veio a beneficiar. Fez doações a outros estabelecimentos da Misericórdia como o Asilo de Cegos de S. Manuel e o Hospital de Santo António.
Bairro Monteiro dos Santos
Uma curiosidade deste bairro é que a entrada para todas as habitações se faz por uma entrada comum colocada num topo do mesmo, na estrada da Circunvalação.
Entrada para o Bairro Monteiro dos Santos
Bairro das Artes Gráficas
(1937)
Em Dezembro de 1935, Ignácio Alberto de Sousa, dono da
Litografia Nacional, já morador na Avenida dos Aliados, nº 54, exercendo a
função de representante testamenteiro de António Rodrigues Monteiro, requer à
Câmara Municipal do Porto uma licença para a construção de um conjunto de 10
casas, denominado “Bairro das Artes Gráficas”, situado na Rua Antero Antunes de
Albuquerque (Esta rua nasceu por deliberação camarária de 4 de Maio de 1929).
Em 1937, é feito um pedido de alteração ao projecto inicial.
Inácio Alberto de Sousa, para além de ser comendador, era,
ainda, um capitalista conceituado do Porto, ligado à actividade das artes
gráficas e sobrinho do caricaturista Sebastião Sanhudo.
O benfeitor António Rodrigues Monteiro tinha sido, em jovem,
aluno no Colégio S. Carlos (que esteve no fim do século XIX na Rua de Fernandes
Tomás), e tinha como aluno, colaborado ao lado de Sebastião Sanhudo e outras
personalidades, na feitura de uma revista com o nº único, de oito páginas
numeradas, a duas colunas, com o preço mínimo de 50 réis, em 1885, publicado
pelos professores e alguns alunos daquele colégio e que se intitulava “O
Andaluz”. A revista pretendia angariar donativos para ajuda das vítimas de
terramoto entretanto ocorrido na Andaluzia, Espanha. Foi colega de Rodrigues Monteiro, e também
colaborou na revista na qualidade de aluno, o escritor Raúl Brandão.
António Rodrigues Monteiro tinha a sua vida profissional ligada ao sector das artes gráficas, por ser dono de uma empresa de comercialização de máquinas para aquela indústria.
António Rodrigues Monteiro tinha a sua vida profissional ligada ao sector das artes gráficas, por ser dono de uma empresa de comercialização de máquinas para aquela indústria.
Planta do “Bairro das Artes Gráficas”, na Rua Antero Antunes
de Albuquerque – Fonte: AHMP
Em 1940, o “Bairro das Artes Gráficas” já estava construído
– Fonte: AHMP
Mesma perspectiva da foto anterior em 1964, aquando da
comemoração do Dia do Turista. À direita, a vista parcial do Posto da Polícia
de Viação – Fonte: AHMP
"Aqui vivi, na casa 4, de 1954 a 1973. Ficaram os meus pais e
eu guardei a casa até 2011, quando por morte do meu pai entreguei a chave à
Santa Casa da Misericórdia do Porto, actual proprietária que apesar de tudo
respeita a primeira regra: Renda de 25$00 por mês, ou seja 0,12€.
(...) O acesso era dado sem critérios ligados à hierarquia na profissão. Por exemplo o meu pai tinha a pior das profissões gráficas, era granidor. Socialmente, o regulamento era socialmente muito justo: à morte do empresário a viúva continuava com direito à casa.
(...) O acesso era dado sem critérios ligados à hierarquia na profissão. Por exemplo o meu pai tinha a pior das profissões gráficas, era granidor. Socialmente, o regulamento era socialmente muito justo: à morte do empresário a viúva continuava com direito à casa.
À morte da viúva, os filhos mantinham o mesmo direito desde
que fossem também gráficos. Também a renda manteve o valor de 25$/0,12€ desde o
primeiro dia apesar de uma tentativa da SCMP de aumentar nos anos 60 de 25$
para 350$. Essa é também uma história interessante.
O valor pago pelos utilizadores não era uma renda de mais-valia
para a comissão de testamenteiros que geria o bairro. Era um valor que apenas
podia ser utilizado em obras de manutenção exterior. A manutenção interior era
da responsabilidade de cada inquilino.
Cortesia de Fernando Ferreira
Hoje, o “Bairro das Artes Gráficas”, depois de gerido por uma comissão de testamenteiros, está sob a administração da Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Bairro dos Ferroviários
A Previdência do Ferroviário Reformado é mais uma associação
de socorros mútuos da cidade, que foi fundada em 8 de Julho de 1930, e teve a
sua sede própria, a funcionar, desde 8 de Agosto de 1937, na Rua Chã, 132, 2º,
no aristocrático imóvel dos Álvares Pereira.
Várias individualidades assistiram à inauguração da nova sede, entre elas o Dr. Roque de Pinho em representação do subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social.
No mesmo dia, os participantes da inauguração da sede assistiram, na Quinta do Mitra, ao lançamento da primeira pedra para a construção de um bairro de 46 casas destinadas aos sócios da referida associação. Sendo uma grande associação de ferroviários, é também uma das que ocupa um dos primeiros lugares entre as instituições mutualistas do nosso País.
Várias individualidades assistiram à inauguração da nova sede, entre elas o Dr. Roque de Pinho em representação do subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social.
No mesmo dia, os participantes da inauguração da sede assistiram, na Quinta do Mitra, ao lançamento da primeira pedra para a construção de um bairro de 46 casas destinadas aos sócios da referida associação. Sendo uma grande associação de ferroviários, é também uma das que ocupa um dos primeiros lugares entre as instituições mutualistas do nosso País.
Sede da Previdência dos Ferroviários de Portugal, funcionando
na Rua Chã, no prédio dos Álvares Pereira
O bairro acima citado, situar-se-ia entre a Rua da Estação e a Rua do Godim, de acordo com o requerimento apresentado à Câmara Municipal do Porto, abaixo exibido, em Maio de 1939.
Planta do Bairro dos Ferroviários
Vista aérea, actual, do local onde, primitivamente, esteve
implantado o Bairro dos Ferroviários – Fonte: Google maps
Entretanto, em 24 de Julho de 1938, procedia-se à
inauguração solene da sede dos Sindicatos dos Ferroviários do Norte, na Rua do Heroísmo,
346, 1.º.
Bairro na Rua Costa
Cabral (Borges & Irmão)
Entrada de bairro junto ao nº 2037 da Rua de Costa Cabral
Bairro na Rua do Amial (Companhia de Seguros Garantia)
Bairro junto à Rua Cidade de Lisboa ao Amial
Bairro Leão XIII
O Bairro "Leão XIII" foi construído pelos empregados da Companhia Carris do Porto e inaugurado em 11 de Março de 1956, na freguesia de Aldoar, na Vilarinha.
Englobou um conjunto
de 112 casas, cujo "custo unitário de construção (terreno incluído) foi de
26 contos, segundo os planos de A. de Almeida Garrett".
Moradias na Rua
Gonçalo Nunes Faria – Fonte: Google maps
Bairro da Tapada
O Bairro da Tapada é um dos bairros das Fontainhas, com 88
pequenas casas, na escarpa dos Guindais, que em Novembro de 2017, foi colocado à
venda.
Após a prestação pública de alguns esclarecimentos sobre o
negócio, em 24 de Julho de 2018, a Câmara do Porto resolveu, por unanimidade,
adquirir o edificado, accionando o exercício do direito de preferência, de modo
a assegurar "no âmbito da sua
política de coesão social, a manutenção da função social do edificado e dos
contratos de arrendamento existentes".
Bairro da Tapada
Vista actual do Bairro da Tapada
(Continua)
Este é mesmo um dos temas da cidade que eu considero importante e pouco explorado!
ResponderEliminarClaro que é demasiado extensivo e pouco explicativo. Por favor situem as coisas no tempo e no contexto.
As minhas imagens são livres de direitos desde que não tenham fins comerciais. É coisa de pouca importância mas agradeço que aquela do bairro Ignez que realizei e publiquei em maio de 2006 me seja atribuída.
Desejo-vos boa continuação para tão árdua tarefa.
A navegação pelos temas continua complicada pois as "continuações" são muitas e os temas difíceis de identificar.
Coragem amigos.