quarta-feira, 31 de maio de 2017

(Continuação 3) - Actualização em 28/06/2018 e 08/03/2019


“Foi um bis­po que convidou os dominicanos a instalarem-se no Porto mas, menos de um ano depois de os ter convidado, já estava contra a instalação dos frades na cidade, chegando a embargar-lhes as obras para a construção do mosteiro.
No primeiro quartel do século XIII o Porto era uma cidade onde livremente campeava o crime. A população vivia, indiferente à dou­trina da Igreja. Dizem as crónicas que "andavam levantados infinitos salteado­res sem temor de Deus nem respeito pe­los homens". Assaltavam-se casas, roubava-se à luz do dia, "matava-se à espa­da".
Foi, pois, na louvável tentativa de pôr termo a tantos abusos e delinquências que o bispo D. Pedro Salvadores, que che­gara ao Porto em 1236, solicitou aos do­minicanos que se instalassem nesta cida­de.
Os frades da Ordem de S. Domingos eram pregadores, homens da oratória, go­zavam da fama de, com os seus sermões, serem altamente influenciáveis junto das populações. Era exatamente o que pre­tendia D. Pedro Salvadores: que com a sua palavra os dominicanos conseguissem "inflamar no amor de Deus aqueles que a malícia do pecado trazia enregelados e amortecidos ". 
Para a instalação dos frades, o bispo do Porto ofereceu-lhes, ali para as bandas das Congostas, hoje Rua de Sousa Viterbo, uma igreja já sagrada, bem como "uma morada de casas edificadas em quadro a modo de claustro, com terra bastante para oficinas e hortas". 
O mosteiro começou a ser construído em 1238. Em março deste ano, D. Pedro Salvadores publicou uma proclamação à cidade rogando aos seus habitantes no sentido de que, "em remissão dos seus pe­cados", auxiliassem os frades na constru­ção do mosteiro de que tanto careciam. 
Aconteceu, porém, que o clero regular da cidade, ou seja, os párocos, reitores e capelães não aceitaram de boamente os favores dispensados pelo prelado aos do­minicanos. Nesta atitude estaria, suge­rem os cronistas da época, uma pontinha de inveja uma vez que os frades com os seus dotes oratórios estavam a conseguir atrair a maior parte dos fiéis à sua igreja e através dessa adesão, digamos assim, os dominicanos começavam a arrecadar pin­gues rendas, avultadas esmolas e muitos legados. O bichinho da inveja atingiu o próprio bispo que, numa brusca e inespe­rada mudança de atitude, mandou em­bargar as obras da construção do mostei­ro ao mesmo tempo que ordenava aos fra­des que, no seu bispado, "não pregassem, nem confessassem, nem celebrassem missa, nem fizessem outro qualquer ofí­cio divino".
É evidente que os dominicanos reagi­ram à atitude do bispo do Porto, solicitan­do, inclusive, a mediação do Vaticano. Fosse pelo que fosse, a verdade é que pou­co mais de um ano depois da posição des­favorável que havia tomado em relação aos frades, D. Pedro Salvadores repensou a sua atitude, os frades voltaram a ter au­torização para pregar e as obras de cons­trução do mosteiro prosseguiram a bom ritmo. Tanto que em 1245 estava o con­vento concluído. 
Mas que razões terão levado D. Pedro Salvadores a mudar de ideia em relação à presença dos dominicanos no Porto? Di­zem que foi uma inesperada intervenção da rainha Santa Mafalda, que doou ao pre­lado do Porto a igreja de Santa Cruz de Ri­ba Leça, hoje conhecida por Santa Cruz do Bispo, «para o compensar de terrenos cedidos e também de prejuízos eventual­mente suportados». Aquela rainha disse mais: que fazia aquela doação «por remé­dio da minha alma e por fazer favor aos padres pregadores que moram na cidade do Porto, com consentimento do bispo e do cabido da mesma cidade» e ainda «em compensação de algum gravame (ofensa) que a dita igreja tenha recebido dos pa­dres pregadores que aí moram».”
Com a devida vénia a Germano Silva


A Rainha Santa referida no texto anterior é D. Mafalda, a filha preferida de D. Sancho I e uma das irmãs de D. Afonso II.
D. Mafalda teria então conseguido que o bispo libertasse a autorização para que os dominicanos continuassem a construção do seu convento, doando ao prelado a igreja de Santa Cruz de Riba Leça e área anexa, situado em Bouças.
D. Mafalda Sanches era filha de D. Sancho I de Portugal e de D. Dulce de Aragão, tendo recebido em herança o nome da sua avó, a rainha Mafalda de Sabóia, mulher de D. Afonso Henriques. Não se sabe ao certo o ano do seu nascimento, mas, por se tratar de um dos filhos mais novos de Sancho I e de Dulce de Aragão, aponta-se os anos de 1195 ou 1196. Como local de nascimento é referido Amarante. Como sua mãe morre quando tinha ainda tenra idade, Mafalda foi educada em terras de Penafiel, por D. Urraca Viegas, filha de Egas Moniz e Teresa Afonso.
D. Sancho I conhecia perfeitamente esta família nobre, em virtude de Egas Moniz ter sido o aio de seu pai, D. Afonso Henriques, e a mulher de Egas Moniz, já viúva, ter criado os príncipes do nosso primeiro rei.
Por morte de Sancho I, Mafalda herdaria um imenso património que se encontrava disperso por todo o reino, incluindo-se Marco de Canavezes, Lamego, Arouca, Seia e ainda, a região do Vale do Sousa.
Do seu pai tinha já recebido, ainda recém-nascida, o Mosteiro de Bouças (hoje Matosinhos).


Entrada do Mosteiro de Bouças (em ruínas)



Após a morte do seu progenitor, em Março de 1211, D. Mafalda recebeu o mosteiro de Arouca e, dado que, aquando do falecimento de sua mãe, ela não tinha feito qualquer testamento, as propriedades da rainha defunta, por determinação de D. Sancho I, passariam, por sua final e última vontade, para três das suas seis filhas: Teresa, Sancha e Mafalda.
Tal decisão viria a provocar um litígio entre o rei D. Afonso II e as irmãs atrás referidas.
Teresa e Sancha veriam a situação resolvida, apenas, quando D. Sancho II se tornou rei. No caso de Teresa estava em causa Montemor-o-Velho e no de Sancha, Alenquer.
No que dizia respeito a Mafalda, a questão que subiria a decisão do Vaticano, centrava-se, principalmente, com a vila de Seia e mais remotamente com Bouças.
Desconhece-se até que ponto a mediação encetada por D. Mafalda, entre o bispo do Porto e os dominicanos, não tenha uma possível relação com uma tentativa de aproximação ao Vaticano, no seio do conflito que a opôs ao seu irmão.
Em 1230, D. Mafalda a exemplo do que tinha feito com o mosteiro de Arouca, com a autorização do bispo de Lamego, voltou-se para o mosteiro beneditino de Bouças e transformou-o, também, numa comunidade Cisterciense.
Diga-se que, relativamente a Bouças, mais tarde e após litígio (mediado pelo Papa) com o seu irmão D. Afonso II, viria a perder a favor do reino a posse de Bouças que, entretanto, tinha sido dada anteriormente em doação, à Ordem do Hospital.
Tendo vivido D. Mafalda no convento de Arouca, veio a morrer no convento de Rio Tinto aos 90 anos por doença, aquando de uma sua visita em peregrinação ao Porto, diz-se em veneração à Nossa Senhora da Silva, com culto na Sé do Porto, onde deixava enormes oferendas.
D. Mafalda, senhora de uma fortuna imensa, teria um funeral, entre Rio Tinto e Arouca, onde ficou sepultada, que continua a estar assinalado nos dias de hoje.
Não havendo uma unanimidade entre os historiadores, os memoriais ou marmoirais da Ermida (Penafiel), Sobrado (Castelo de Paiva), Alpendorada (Marco de Canaveses), Lordelo (já desaparecido, em Baião) e Santo António (Arouca), estarão, segundo a lenda, relacionados com D. Mafalda.
São tradiccionalmente referidos como pontos de paragem no traslado do seu corpo de Rio Tinto para o Mosteiro de Arouca, ou como locais de homenagem à sua vida e obra.
A configuração dos marmoriais comporta, normalmente, um arco, verificando-se uma excepção para o caso de Sobrado (Castelo de Paiva).
 
 

Memorial da Ermida – Fonte: CM Penafiel


 

Memorial de Sobrado – Fonte: CM Castelo de Paiva





Convento de Nossa Senhora dos Fiéis de Deus do Porto e Igreja dos Terceiros - Gravura de Vilanova em 1833



O Convento de S. Domingos, no desenho acima, de Joaquim Villanova, visto do Largo de S. Domingos, foi construído entre 1239 e 1245, em estilo gótico primário, mas esta situação alterou-se devido às sucessivas obras e também reconstruções de que foi alvo na sequência dos quatro incêndios que o atingiram entre 1357, 1523, 1778 e 1832.
A igreja da gravura era da Ordem Terceira de S. Domingos.
Sobre esta igreja o texto seguinte, que é uma peça de alguém ligado certamente à Ordem Terceira e que foi publicado num periódico em 20 de Dezembro de 1821:

“…Nesta cidade, sendo Bispo della D. Pedro Salvador, fundou El-Rei D. Sancho II, no ano de 1243, o convento da Ordem dos Prégadores (vulgo Dominicos): no de 1671 instituio-se, por Bulla Apostolica, huma Ordem Terceira na Igreja destes Religiosos, que designaram aos Irmaõs della um altar no arco cruzeiro para alli mandarem celebrar os officios divinos; do qual se serviram por espaço de alguns annos: mas como o numero de Irmaõs se fosse augmentando, destinaram-se estes apartarem-se daquelles Religiosos, e edificarem huma Capella separada; para o que lhes emprazaram hum pouco de terreno, como consta por escritura publica de 26 de Outubro de 1683; concluindo-se a feitura do edificio no anno seguinte de 1684. Cresceram todavia os fundos da Ordem na razaõ da entrada de mais Irmaõs, pelo que resolveram tornar a Capella em Igreja, tendo já em 25 de Agosto de 1683 emprazado ao Senado da Camara a extensaõ de 85 palmos de comprido e 43 de largo, compraram depois, em 5 de Outubro de 1689, três moradas de casas ao Padre Joaõ dos Anjos, que se demoliram para dar mais ambito ao logar do edificio; e accrescentaram-lhe tambem 14 palmos de terra que Sua Magestade foi servido conceder-lhes por Provisaõ de 5 de Dezembro de 1715. Em todo este espaço de terreno edificaram a Igreja, de cuja posse estiveram desde o anno de 1740 até o 1.º de Outubro de 1755…
…Neste espaçado intervallo de tempo residio a Ordem Terceira na Capella da Senhora da Batalha, desde o 1.º de Outubro de 1755 até 1786, que se mudou para a Capella do Senhor do Calvario, sita na Cordoaria velha. Destinaram fazer ahi huma Igreja; daõ começo á obra, mas logo os Frades Capuchos, que tinham hum Hospicio junto della, a embargam; pretextando que naõ queriam sua casa assombrada! Os Terceiros, enfastiados de tantos empecilhos fradescos, deliberaram-se a edificar a Igreja longe de similhantes pragas. Escolheram o sitio da Praça do Laranjal; e no anno de 1804 se transferiram para alli, onde permanecem n'huma pequena Capella, em quanto se naõ finalisa o magnifico e sumptuoso Templo em que se trabalha”.


Ao lado da Igreja vemos no desenho de Vilanova um edifício que deve ser a famosa "Casa do Patim". 
No extremo esquerdo da imagem situavam-se dois edifícios de habitação, ambos propriedade do mesmo convento e que, por razões talvez de estética, não aparecem na gravura.
A propósito da época do desenho de Villanova em 1833, note-se que, as lojas estavam arrendadas pelos frades a diversos tipos de comércio e eles dormiam no segundo andar (é que naquele tempo, ao contrário da actualidade o edifício estava dividido em mais do que rés-do-chão e primeiro andar, o que aliás se pode constatar olhando com atenção ao desenho).
A entrada para o convento fazia-se pelas 3 primeiras arcadas do lado encostado à Igreja (veja-se o gradeamento de ferro em todas elas). Na do meio ficava a escadaria íngreme que levava ao piso superior.
 Ao lado da Igreja vemos no desenho de Vilanova, um edifício que deve ser a famosa "Casa do Patim". 
No extremo esquerdo da imagem situavam-se dois edifícios de habitação, ambos propriedade do mesmo convento e que, por razões talvez de estética, não aparecem na gravura.
Estes edifícios eram conhecidos como as "casas do cantinho" em 1866, altura em que o governo já mandara demolir a parte arruinada do convento mas, ainda não o fizera em relação a estes últimos, atrasando assim a abertura da Rua Nova de S. Domingos (Sousa Viterbo, após 1913).
Essas casas encontravam-se no local onde existira o lado norte do transepto da igreja dominicana e também a sacristia de uma antiga capela da mesma igreja (pertencente aos Baldaias).
Sobre o largo fronteiro ao convento, escreve Sousa Viterbo no Jornal do Comércio:

“Ao centro ornava-o um chafariz, que foi demolido, construindo-se, em seu lugar, uma fonte ao lado, em arco, sob umas casas do Sr. Araújo, que tem loja de papel, o mais antigo estabelecimento deste local. Na casa que confina com esta, ao canto, havia uma loja de droguista, de que era proprietário um sujeitinho magro, bom homem, Manoel António Figueira, apaixonado amador de livros, que competia com os mais afamados bibliófilos portuenses, o Souza Guimarães, o Vieira Pinto, o Carlos Lopes e o visconde de Azevedo (…).
Contíguo com o extinto convento dos frades, que deram o nome ao largo, havia uns prédios que foram demolidos para abertura de uma rua e que formavam um dos mais afamados recantos do sítio. Era ali a loja do «capitão do cantinho». Às vezes, à porta, em manhãs estivas, sentava-se a tomar o refresco o Lobo da Reboleira, um dos mais curiosos e excêntricos tipos de ricaço portuense. Rico e avaro. Era todavia dotado de certa ilustração e perspicácia natural”.
Fonte: “aportanobre.blogspot.pt”


No largo fronteiro ao convento e junto à sua fachada principal foi no dia 2 de Fevereiro de 1853 aberto ao público um mercado que transitou da Praça da Ribeira. 
Por isso, nos dias que antecederam a abertura foram para ali transportados bancos, mesas, canastras, caixotes e até barracas completas.



Mercado no Largo de S. Domingos - Desenho de Gouvêa Portuense





A Igreja primitiva do convento (que não é a que está na gravura acima) era por trás do edifício que se vê à época, já reduzida a escombros, na foto abaixo c, 1865, depois de no ano anterior as tropas de D. Miguel terem bombardeado o convento e pegado fogo a um armazém de linho alojado dentro da igreja.

Igreja primitiva em ruínas com a sua torre sineira, em primeiro plano – Fonte: “aportanobre.blogspot.pt”


A ÁGUA DO BOM JESUS


No início do século XV, documentos referem que no mosteiro de S. Domingos funcionava uma confraria do “Senhor Jesus da Cidade".
A imagem do Senhor Jesus da Cidade tinha fama de milagreira, bem como uma água que os dominicanos benziam e depois vendiam aos fiéis.
Consta também dos mesmos documentos que a piedade popular atribuía surpreendentes milagres à imagem do Senhor Jesus da Cidade e a uma água que os dominicanos benziam e depois vendiam aos fiéis. Pelos vistos, os devotos da santa imagem encontravam nessa água o remédio para todos os males do corpo. As dádivas e esmolas aumentavam sem cessar e seria com esse dinheiro que, em 1565, sendo mordomos da confraria os cidadãos Pero Jácome de Bettencourt e Pero Afonso, se construiu "o retábulo novo do altar onde está a imagem do Senhor Jesus da Cidade".
Convém agora saber como é que a imagem do Senhor Jesus da Cidade conquistou, se assim se pode dizer, a fidelidade dos devotos.


“ A tradição popular diz que a 17 de maio de 1574, o sacristão da igreja de S. Domingos mandou a toalha que cingia a cintura da imagem do Senhor Jesus da Cidade a casa de um devoto que vivia na Rua de Belomonte, para que a lavassem e perfumassem. Havia nessa casa uma menina, de seis para sete anos, que há muito não saía de casa por ter cegado. Uma escrava dos moradores do prédio, por indicação que recebera de uma freira do convento das Dominicanas de Vila Nova de Gaia (Corpus Christy), colocou a toalha sobre os ombros da menina de modo a que lhe tapassem os olhos, enquanto dizia: 'Senhor, assim como nos alumiastes o Mundo com as vossas preciosas chagas, alumiai e dai vista a esta menina para que vossa ver e servir com toda a devoção'".
A narrativa, que frei Luís de Sousa recorda, na "História de S. Domingos", da sua autoria, diz que o milagre aconteceu e que a menina recuperou a vista. E é aqui que entra a história da água benzida. Os frades, aproveitando-se da fama que o suposto milagre teria proporcionado ao mosteiro, trataram de começar a vender aos fiéis incautos a água por eles benzida, como sendo milagrosa e capaz de curar todos os males do corpo.
O "negócio" prosperou, sobretudo, quando, por meados do século XV, o país foi invadido por uma terrível peste, de que não escapou a cidade do Porto. Mas os exageros devem ter sido de tal monta que originaram a intervenção do próprio cabido, ou seja dos cónegos, que agiram contra o "mercantilismo" dos frades de S. Domingos, aos quais proibiram a venda da tal "água milagrosa". Os frades é que não acataram as ordens do cabido e foi pedida a intervenção de Roma que, por uma bula de Nicolau V
("Ea que judicio"), pôs termo ao negócio.”
Cortesia de Germano Silva


Manuel de Sousa Coutinho, conhecido por Frei Luís de Sousa (nascido em Santarém, em 1555, e falecido em Lisboa em 1632), acima citado, foi um sacerdote católico e escritor.


O Convento de Nossa Senhora dos Fiéis de Deus do Porto vulgo convento de S. Domingos, foi extinto em 1834, após a vitória dos liberais na guerra civil do cerco do Porto, e sub-sequente extinção das ordens religiosas e, em parte do mesmo, foi então instalada a filial do Banco de Portugal, chamado anteriormente de Banco de Lisboa.
O Banco de Lisboa (futuro Banco de Portugal) começaria por ser alojado no 1º andar do edifício.
Do antigo convento, apenas foi aproveitada a fachada voltada para o Largo de S. Domingos e que tinha sido poupada pelo incêndio que ocorreu em 1832.
Foram então realizadas obras de recuperação e adaptação do edifício, tentando manter a sua forma original, tendo-se aí mantido o Banco de Portugal até 1934, altura em que foi transferido para um novo edifício, situado na Praça da Liberdade. Desde então o prédio foi ocupado pela Companhia de Seguros Douro, fundada em 1875. 
Em 1870 o Banco de Portugal operou bastantes transformações no edifício, mudando com isso a escadaria para o centro do edifício, onde ainda hoje se encontra.


Nesta planta em 1813 no cimo, estão o convento, a cerca e a igreja dos Terceiros


Planta de 1839


Na planta anterior a igreja dos Terceiros já foi sacrificada para abertura da Rua Ferreira Borges.


Planta de 1892 já com a Rua Mouzinho da Silveira

Entre a planta anterior e as que a antecedem se vê que a Rua das Congostas desapareceu para dar lugar à Rua Mouzinho da Silveira, já não existe o Convento e está construído o Mercado Ferreira Borges.
A Praça de S. Domingos tem a traça actual. Aparece a Praça do Infante, ainda sem o monumento ao Infante. A Rua de Sousa Viterbo ainda é Rua de S. Domingos.

Largo de S. Domingos com o seu chafariz - Fonte: “aportanobre.blogspot.pt”



O convento de S. Domingos foi o segundo convento de frades mendicantes a ser construído.
O primeiro foi o de S. Francisco, que de iniciativa particular originou longa contenda com o bispo e foi fundado em 1241 no sítio da Redondela próximo ao qual se abriu depois, um caminho a que foi dado o nome de Rua das Rosas e hoje é a Rua Comércio do Porto. Também já teve o topónimo de Ferraria de Baixo para a distinguir de Ferraria de Cima (Rua dos Caldeireiros).
Aliás a parte superior desta rua chegou a chamar-se Rua da Lagea ou da Lagem e Rua da Caldeiraria. Houve um tempo em que à parte infe­rior da Rua da Caldeiraria se dava o nome de Rua do Souto, provavelmente por ser o prolongamento natural daquela velhíssima rua portuense que faz ligação com a Rua Escura, depois de atravessar o Rio da Vila e passar junto aos Pelames. 



Largo de S. Domingos

Na foto anterior, a Sé ainda tem o relógio entre as torres e à direita temos o convento de S. Domingos.
Pela sua localização, pela amplitude do edifício e do respetivo claustro muitas ve­zes o convento de S. Domingos serviu de logradouro público, para a realização de im­portantes reuniões camarárias, de julga­mentos e onde se fez comércio em larga es­cala.
Era no alpendre ou casa segunda do Mosteiro dos religiosos de S. Domingos, que em tempos remotos se realizavam determinadas sessões.
Uma delas aconteceu no dia 24 do mês de Junho da era de 1428, correspondente aos Anos de Cristo de 1390. 
Atenção à data atrás referida: as reu­niões de Câmara, em que eram tomadas medidas de grande relevo para a cidade, realizavam-se sempre no dia de S. João, a festa mais importante do Porto. 
Naquele ano já a Câmara possuía casa pró­pria onde podia sem qualquer limitação realizar as suas sessões ordinárias. Só recor­ria ao adro ou claustro dos dominicanos para as reuniões plenárias (as assembleias municipais de hoje) em que participavam todos os homens bons do concelho. 
Tanto o adro, com os seus arcos formados em alpendre, situado ao lado do edifício conventual, como a igreja, foram demolidos, nada existindo agora dessas antigas construções.
Não sabemos no entanto com rigor, desde quando "no adro do convento de S. Domingos" os mercadores se concentravam para as ope­rações de comércio e que ali tinham as suas lojas.
Até ao presente, do antigo convento de S. Domingos restou, a arcada virada para o Largo de S. Domingos onde, em tempos remotos se faziam reuniões públicas, da Câmara e de comércio, e também uma bela fonte de mármore que pertenceu à sacristia da igreja e está presentemente no jardim de Marques de Oliveira (Jardim de S. Lázaro).
Ao cimo do que é hoje a Rua de Sousa Viterbo, existiu a capela de Nos­sa Senhora das Neves, ou capela de Nossa Senhora da Escada (porque por uma escada se subia até ela), que teria existência anterior à data de chegada dos frades à cidade (1238), e teria sido aquela que o bispo cedeu aos frades, juntamente com "um correr de casas", para eles se instalarem. Seria demolida no século XVIII e ainda coexistiu, por ali, com o chafariz redondo construído em 1544. 
É bem provável, como aventa Germano Silva, que os ho­mens de negócios que operavam no claus­tro do mosteiro e que haviam tomado aquela imagem como padroeira das suas actividades comerciais, tenham contribuído, por vezes, para o restauro do templo.
Os claustros dos dominicanos serviram, também, muitas vezes, para reuniões de tribunais «e ali os juízes ouviam e despa­chavam as partes.





Imagem da igreja da Ordem Terceira anexa a S. Domingos 


A igreja da gravura anterior era, nas últimas décadas de vida do Convento Dominicano, a sua Igreja de facto mas não fora construída para eles mas sim para a sua Ordem Terceira.
Seria destruída em 1835 por ordem de Ferreira Borges. Este pretendia alargar a rua, que veio a ter o seu nome, com a finalidade de fazer, no local do Convento de S. Francisco, a sede da Associação Comercial do Porto (Palácio da Bolsa).
Uns anos antes, em 24 de Abril de 1778, tinha sido alvo de um pavoroso incêndio que destruiu por completo o seu telhado. 


Caleches junto à Bolsa em 1880


José Ferreira Borges (Porto, 8 de Junho de 1786 — Porto, 14 de Novembro de 1838), formado em Cânones pela Universidade de Coimbra, foi um jurisconsulto, economista e político português que, entre outras funções, foi secretário da Companhia dos Vinhos do Alto Douro, membro da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino de 1820, advogado na cidade do Porto e deputado às Cortes Constituintes de 1821. Pertenceu ao Sinédrio do Porto. Foi o principal autor do primeiro Código Comercial Português, o Código Comercial Português de 1833, que ficou justamente conhecido pelo Código Ferreira Borges, a vigência do qual se prolongou por 60 anos. Exerceu também o cargo de juiz do Tribunal de Comércio de Lisboa. Foi autor de numerosas obras sobre temas económico-financeiros e políticos, entre as quais Princípios de Syntetologia (1831), Instituições de economia política (1834), Instituições de direito cambial (1844) e Do Banco de Lisboa (1827). Esteve emigrado em Londres de 1823 a 1827 e foi membro activo da Maçonaria.


Cerimónia para lançamento da estátua do Infante


Na foto acima vê-se a cerimónia do lançamento da primeira pedra para o monumento ao Infante D. Henrique em 1894.

Largo de S. Domingos - Ed. Chusseau-Flaviens

Na foto acima os futuros emigrantes com destino ao Brasil à espera de adquirir as passagens nos navios em 1910, junto da agência Orey, Antunes & C.ª, representantes de várias companhias de navegação, entre as quais como se pode ler na placa, a Konninklijke Hollandsche Lloyd e a Compagnie de Navigation Sud-Atlantique.
Ao lado a papelaria de Luiz Gonçalves d’ Araújo & C.ª.

Perspectiva actual de foto anterior - Fonte: Google Maps


Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 1881 e 1930 emigraram para o Brasil 1.070.351 portugueses, um número assombroso se tivermos em consideração que, nesse período, a população total do país andava entre os 4,5 e os 6,8 milhões de habitantes.

No Porto de Leixões, em 1913, prontos para embarcar

Largo de S. Domingos com vista para a Rua de Belomonte - Ed. A.D. Canedo


Foto actual do que foi o antigo convento

Com a extinção das ordens religiosas, os dominicanos só regressam ao Porto em 1937, com a abertura de uma casa.
Os Padres Dominicanos, desde 1937 instalados junto do Jardim do Carregal, vinham então celebrar a Eucaristia e confessar, aos Domingos, dias santos e primeiras Sextas-feiras do mês, na capela da casa do Conde de Vizela, na Rua de Serralves. E pensou-se que estavam naturalmente indicados para se incumbirem de ocorrer em melhores condições às necessidades espirituais dos novos moradores desta zona, edificando-se para tal efeito uma igreja e convento onde se fixassem. 
Em 1949, por insistência do Bispo D. Agostinho de Jesus e Sousa, a comunidade desloca-se para o Bairro Gomes da Costa e começam-se as iniciativas para a construção do actual convento. Convém referir que para a realização deste projecto contribuíram variadíssimas pessoas, onde se destacam o Fr. Estêvão Faria, então superior da comunidade, e o Prof. Dr. Luís de Pina, que obteve da Câmara Municipal o terreno onde estão o Convento, a Igreja e o Centro Paroquial. A dedicação da nova Igreja ocorreu no dia 25 de Maio de 1954, sob a presidência do D. Francisco Rendeiro. Passados pouco mais de 5 anos, no dia 25 de Outubro de 1959, é restaurado oficialmente o Convento do Porto, agora com a invocação de Cristo Rei.
Segundo o testemunho de frei Bernardo Domingues, "o desenvolvimento citadino e a actividade social e religiosa entraram em apreciável dinâmica de integrado crescimento assim como a consciência colectiva de que Cristo Rei era, de facto, uma comunidade social e religiosa com características próprias. Por isso, já em 1963, houve um movimento de leigos para que se tornasse, de facto, uma Paróquia." Facto que só viria a acontecer no dia 02 de Fevereiro de 1979, pela mão do então Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes. Nomeou-se para primeiro pároco desta Paróquia o Fr. Eugénio Boléo, seguindo-se, alguns anos depois, o Fr. Rogério Amorim que levaria a execução o actual Centro Paroquial.

Igreja do Cristo Rei actualmente



Tentativa de abertura de convento dominicano feminino no Porto


No século XVI, uma tal Helena Carnei­ro, viúva do capitão Luís Carneiro, fidalgo da casa real, moradora na Rua Nova, actual Rua do Infante D. Henrique, pensou em mandar construir, no Porto, um mosteiro onde seriam recebidas freiras dominica­nas. 
Havia o Mosteiro de Corpus Christi, fundado em 1345, também chamado Mosteiro de São Domingos das Donas de Vila Nova de Gaia, mas estava na margem esquerda do rio Douro, em Vila Nova. 
Para concretizar o seu projeto, Helena Carneiro comprou "uns quintais" junto da capela da confraria do Espírito Santo, em Miragaia, e mandou vir madeiras da Flan­dres e comprou outros materiais para se­rem utilizados na construção. Morreu, en­tretanto, sem ter podido concretizar o seu sonho. No testamento que fez, em 1595, reco­mendou aos testamenteiros e seus herdei­ros que não descurassem aquele seu dese­jo. Mas o convento para dominicanas nun­ca foi construído no Porto.


(Continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário