"Foi um bispo que convidou os dominicanos a instalarem-se no
Porto mas, menos de um ano depois de os ter convidado, já estava contra a
instalação dos frades na cidade, chegando a embargar-lhes as obras para a
construção do mosteiro.
No primeiro quartel do século XIII o Porto era uma cidade
onde livremente campeava o crime. A população vivia, indiferente à doutrina da
Igreja. Dizem as crónicas que "andavam levantados infinitos salteadores sem
temor de Deus nem respeito pelos homens". Assaltavam-se casas, roubava-se à
luz do dia, "matava-se à espada".
Foi, pois, na louvável tentativa de pôr termo a tantos
abusos e delinquências que o bispo D. Pedro Salvadores, que chegara ao Porto em
1236, solicitou aos dominicanos que se instalassem nesta cidade.
Os frades da Ordem de S. Domingos eram pregadores, homens da
oratória, gozavam da fama de, com os seus sermões, serem altamente
influenciáveis junto das populações. Era exatamente o que pretendia D. Pedro
Salvadores: que com a sua palavra os dominicanos conseguissem "inflamar no
amor de Deus aqueles que a malícia do pecado trazia enregelados e amortecidos
".
Para a instalação dos frades, o bispo do Porto
ofereceu-lhes, ali para as bandas das Congostas, hoje Rua de Sousa Viterbo, uma
igreja já sagrada, bem como "uma morada de casas edificadas em quadro a
modo de claustro, com terra bastante para oficinas e hortas".
O mosteiro começou a ser construído em 1238. Em março deste
ano, D. Pedro Salvadores publicou uma proclamação à cidade rogando aos seus
habitantes no sentido de que, "em remissão dos seus pecados", auxiliassem
os frades na construção do mosteiro de que tanto careciam.
Aconteceu, porém, que o clero regular da cidade, ou seja, os
párocos, reitores e capelães não aceitaram de boamente os favores dispensados
pelo prelado aos dominicanos. Nesta atitude estaria, sugerem os cronistas da
época, uma pontinha de inveja uma vez que os frades com os seus dotes oratórios
estavam a conseguir atrair a maior parte dos fiéis à sua igreja e através dessa
adesão, digamos assim, os dominicanos começavam a arrecadar pingues rendas,
avultadas esmolas e muitos legados. O bichinho da inveja atingiu o próprio bispo
que, numa brusca e inesperada mudança de atitude, mandou embargar as obras da
construção do mosteiro ao mesmo tempo que ordenava aos frades que, no seu
bispado, "não pregassem, nem confessassem, nem celebrassem missa, nem
fizessem outro qualquer ofício divino".
É evidente que os dominicanos reagiram à atitude do bispo do
Porto, solicitando, inclusive, a mediação do Vaticano. Fosse pelo que fosse, a
verdade é que pouco mais de um ano depois da posição desfavorável que havia
tomado em relação aos frades, D. Pedro Salvadores repensou a sua atitude, os
frades voltaram a ter autorização para pregar e as obras de construção do
mosteiro prosseguiram a bom ritmo. Tanto que em 1245 estava o convento
concluído.
Mas que razões terão levado D. Pedro Salvadores a mudar de
ideia em relação à presença dos dominicanos no Porto? Dizem que foi uma
inesperada intervenção da rainha Santa Mafalda, que doou ao prelado do Porto a
igreja de Santa Cruz de Riba Leça, hoje conhecida por Santa Cruz do Bispo,
«para o compensar de terrenos cedidos e também de prejuízos eventualmente
suportados». Aquela rainha disse mais: que fazia aquela doação «por remédio da
minha alma e por fazer favor aos padres pregadores que moram na cidade do
Porto, com consentimento do bispo e do cabido da mesma cidade» e ainda «em
compensação de algum gravame (ofensa) que a dita igreja tenha recebido dos padres
pregadores que aí moram»."
Com a devida vénia a Germano Silva
A Rainha Santa referida no texto anterior é D. Mafalda, a
filha preferida de D. Sancho I e uma das irmãs de D. Afonso II.
D. Mafalda Sanches era filha de D. Sancho I de Portugal e de
D. Dulce de Aragão, tendo recebido em herança o nome da sua avó, a rainha
Mafalda de Sabóia, mulher de D. Afonso Henriques. Não se sabe ao certo o ano do
seu nascimento, mas, por se tratar de um dos filhos mais novos de Sancho I e de
Dulce de Aragão, aponta-se os anos de 1195 ou 1196. Como local de nascimento é
referido Amarante. Como sua mãe morre quando tinha ainda tenra idade, Mafalda
foi educada em terras de Penafiel, por D. Urraca Viegas, filha de Egas Moniz e
Teresa Afonso.
D. Sancho I conhecia perfeitamente esta família nobre, em
virtude de Egas Moniz ter sido o aio de seu pai, D. Afonso Henriques, e a
mulher de Egas Moniz, já viúva, ter criado os príncipes do nosso primeiro rei.
Por morte de Sancho I, Mafalda herdaria um imenso património
que se encontrava disperso por todo o reino, incluindo-se Marco de Canavezes,
Lamego, Arouca, Seia e ainda, a região do Vale do Sousa.
Do seu pai tinha já recebido, ainda recém-nascida, o
Mosteiro de Bouças (hoje Matosinhos).
Foi, pois, por intermédio de bens afectos a este território,
que D. Mafalda teria então conseguido que o bispo libertasse a autorização para
que os dominicanos continuassem a construção do seu convento, doando ao prelado
a igreja de Santa Cruz de Riba Leça e área anexa, situado em Bouças.
Convento de Nossa
Senhora dos Fiéis de Deus do Porto e Igreja dos Terceiros - Gravura de Vilanova
em 1833
O Convento de S. Domingos, no desenho acima, de Joaquim
Villanova, visto do Largo de S. Domingos, foi construído entre 1239 e 1245, em
estilo gótico primário, mas esta situação alterou-se devido às sucessivas obras
e também reconstruções de que foi alvo na sequência dos quatro incêndios que o
atingiram entre 1357, 1523, 1778 e 1832.
A igreja da gravura era da Ordem Terceira de S. Domingos.
Sobre esta igreja o texto seguinte, que é uma peça de alguém
ligado certamente à Ordem Terceira e que foi publicado num periódico em 20 de
Dezembro de 1821:
“…Nesta cidade, sendo
Bispo della D. Pedro Salvador, fundou El-Rei D. Sancho II, no ano de 1243, o
convento da Ordem dos Prégadores (vulgo Dominicos): no de 1671 instituio-se,
por Bulla Apostolica, huma Ordem Terceira na Igreja destes Religiosos, que
designaram aos Irmaõs della um altar no arco cruzeiro para alli mandarem
celebrar os officios divinos; do qual se serviram por espaço de alguns annos: mas
como o numero de Irmaõs se fosse augmentando, destinaram-se estes apartarem-se
daquelles Religiosos, e edificarem huma Capella separada; para o que lhes
emprazaram hum pouco de terreno, como consta por escritura publica de 26 de
Outubro de 1683; concluindo-se a feitura do edificio no anno seguinte de 1684.
Cresceram todavia os fundos da Ordem na razaõ da entrada de mais Irmaõs, pelo
que resolveram tornar a Capella em Igreja, tendo já em 25 de Agosto de 1683
emprazado ao Senado da Camara a extensaõ de 85 palmos de comprido e 43 de
largo, compraram depois, em 5 de Outubro de 1689, três moradas de casas ao
Padre Joaõ dos Anjos, que se demoliram para dar mais ambito ao logar do
edificio; e accrescentaram-lhe tambem 14 palmos de terra que Sua Magestade foi
servido conceder-lhes por Provisaõ de 5 de Dezembro de 1715. Em todo este
espaço de terreno edificaram a Igreja, de cuja posse estiveram desde o anno de
1740 até o 1.º de Outubro de 1755…
…Neste espaçado
intervallo de tempo residio a Ordem Terceira na Capella da Senhora da Batalha,
desde o 1.º de Outubro de 1755 até 1786, que se mudou para a Capella do Senhor
do Calvario, sita na Cordoaria velha. Destinaram fazer ahi huma Igreja; daõ
começo á obra, mas logo os Frades Capuchos, que tinham hum Hospicio junto della,
a embargam; pretextando que naõ queriam sua casa assombrada! Os Terceiros,
enfastiados de tantos empecilhos fradescos, deliberaram-se a edificar a Igreja
longe de similhantes pragas. Escolheram o sitio da Praça do Laranjal; e no anno
de 1804 se transferiram para alli, onde permanecem n'huma pequena Capella, em
quanto se naõ finalisa o magnifico e sumptuoso Templo em que se trabalha”.
Ao lado da Igreja vemos no desenho de Vilanova um edifício
que deve ser a famosa "Casa do Patim".
No extremo esquerdo da imagem situavam-se dois edifícios de
habitação, ambos propriedade do mesmo convento e que, por razões talvez de
estética, não aparecem na gravura.
A propósito da época
do desenho de Villanova em 1833, note-se que, as lojas estavam arrendadas pelos
frades a diversos tipos de comércio e eles dormiam no segundo andar (é que
naquele tempo, ao contrário da actualidade o edifício estava dividido em mais
do que rés-do-chão e primeiro andar, o que aliás se pode constatar olhando com
atenção ao desenho).
A entrada para o
convento fazia-se pelas 3 primeiras arcadas do lado encostado à Igreja (veja-se
o gradeamento de ferro em todas elas). Na do meio ficava a escadaria íngreme
que levava ao piso superior.
Ao lado da Igreja vemos no desenho de
Vilanova, um edifício que deve ser a famosa "Casa do Patim".
No extremo esquerdo da imagem situavam-se dois edifícios de
habitação, ambos propriedade do mesmo convento e que, por razões talvez de
estética, não aparecem na gravura.
Estes edifícios eram conhecidos como as "casas do
cantinho" em 1866, altura em que o governo já mandara demolir a parte
arruinada do convento mas, ainda não o fizera em relação a estes últimos,
atrasando assim a abertura da Rua Nova de S. Domingos (Sousa Viterbo, após 1913).
Essas casas encontravam-se no local onde existira o lado
norte do transepto da igreja dominicana e também a sacristia de uma antiga capela
da mesma igreja (pertencente aos Baldaias).
Sobre o largo fronteiro ao convento, escreve Sousa Viterbo no Jornal do
Comércio:
“Ao centro ornava-o um
chafariz, que foi demolido, construindo-se, em seu lugar, uma fonte ao lado, em
arco, sob umas casas do Sr. Araújo, que tem loja de papel, o mais antigo
estabelecimento deste local. Na casa que confina com esta, ao canto, havia uma
loja de droguista, de que era proprietário um sujeitinho magro, bom homem,
Manoel António Figueira, apaixonado amador de livros, que competia com os mais
afamados bibliófilos portuenses, o Souza Guimarães, o Vieira Pinto, o Carlos
Lopes e o visconde de Azevedo (…).
Contíguo com o
extinto convento dos frades, que deram o nome ao largo, havia uns prédios que
foram demolidos para abertura de uma rua e que formavam um dos mais afamados
recantos do sítio. Era ali a loja do «capitão
do cantinho». Às vezes, à porta, em manhãs estivas, sentava-se a tomar o
refresco o Lobo da Reboleira,
um dos mais curiosos e excêntricos tipos de ricaço portuense. Rico e avaro. Era
todavia dotado de certa ilustração e perspicácia natural”.
Fonte: “aportanobre.blogspot.pt”
No largo fronteiro ao convento e junto à sua fachada principal foi no dia 2 de Fevereiro de 1853 aberto ao público um mercado que transitou da Praça da Ribeira.
Por isso, nos dias que antecederam a abertura foram para ali transportados bancos, mesas, canastras, caixotes e até barracas completas.
A Igreja primitiva
do convento (que não é a que está na gravura acima) era por trás do edifício
que se vê à época, já reduzida a escombros, na foto abaixo c, 1865, depois de no ano
anterior as tropas de D. Miguel terem bombardeado o convento e pegado fogo a um
armazém de linho alojado dentro da igreja.
Igreja primitiva em
ruínas com a sua torre sineira, em primeiro plano – Fonte: “aportanobre.blogspot.pt”
A ÁGUA DO BOM JESUS
No início do século XV, documentos referem que no mosteiro
de S. Domingos funcionava uma confraria do “Senhor Jesus da Cidade".
A imagem do Senhor Jesus da Cidade tinha fama de milagreira,
bem como uma água que os dominicanos benziam e depois vendiam aos fiéis.
Consta também dos mesmos documentos que a piedade popular
atribuía surpreendentes milagres à imagem do Senhor Jesus da Cidade e a uma
água que os dominicanos benziam e depois vendiam aos fiéis. Pelos vistos, os
devotos da santa imagem encontravam nessa água o remédio para todos os males do
corpo. As dádivas e esmolas aumentavam sem cessar e seria com esse dinheiro
que, em 1565, sendo mordomos da confraria os cidadãos Pero Jácome de
Bettencourt e Pero Afonso, se construiu "o retábulo novo do altar onde
está a imagem do Senhor Jesus da Cidade".
Convém agora saber como é que a imagem do Senhor Jesus da
Cidade conquistou, se assim se pode dizer, a fidelidade dos devotos.
“ A tradição popular
diz que a 17 de maio de 1574, o sacristão da igreja de S. Domingos mandou a
toalha que cingia a cintura da imagem do Senhor Jesus da Cidade a casa de um
devoto que vivia na Rua de Belomonte, para que a lavassem e perfumassem. Havia
nessa casa uma menina, de seis para sete anos, que há muito não saía de casa
por ter cegado. Uma escrava dos moradores do prédio, por indicação que recebera
de uma freira do convento das Dominicanas de Vila Nova de Gaia (Corpus
Christy), colocou a toalha sobre os ombros da menina de modo a que lhe tapassem
os olhos, enquanto dizia: 'Senhor, assim como nos alumiastes o Mundo com as
vossas preciosas chagas, alumiai e dai vista a esta menina para que vossa ver e
servir com toda a devoção'".
A narrativa, que frei
Luís de Sousa recorda, na "História de S. Domingos", da sua autoria,
diz que o milagre aconteceu e que a menina recuperou a vista. E é aqui que
entra a história da água benzida. Os frades, aproveitando-se da fama que o suposto
milagre teria proporcionado ao mosteiro, trataram de começar a vender aos fiéis
incautos a água por eles benzida, como sendo milagrosa e capaz de curar todos
os males do corpo.
O "negócio"
prosperou, sobretudo, quando, por meados do século XV, o país foi invadido por
uma terrível peste, de que não escapou a cidade do Porto. Mas os exageros devem
ter sido de tal monta que originaram a intervenção do próprio cabido, ou seja
dos cónegos, que agiram contra o "mercantilismo" dos frades de S.
Domingos, aos quais proibiram a venda da tal "água milagrosa". Os
frades é que não acataram as ordens do cabido e foi pedida a intervenção de
Roma que, por uma bula de Nicolau V
("Ea que
judicio"), pôs termo ao negócio.”
Cortesia de Germano Silva
Manuel de Sousa Coutinho,
conhecido por Frei Luís de Sousa (nascido em Santarém, em 1555, e falecido em
Lisboa em 1632), acima citado, foi um sacerdote católico e escritor.
O Convento de
Nossa Senhora dos Fiéis de Deus do Porto vulgo convento de S. Domingos, foi
extinto em 1834, após a vitória dos liberais na guerra civil do cerco do Porto,
e sub-sequente extinção das ordens
religiosas e, em parte do mesmo, foi então instalada a filial do Banco
de Portugal, chamado anteriormente de Banco de Lisboa.
O Banco de Lisboa
(futuro Banco de Portugal) começaria por ser alojado no 1º andar do edifício.
Do antigo convento, apenas foi aproveitada a fachada voltada
para o Largo de S. Domingos e que tinha sido poupada pelo incêndio que ocorreu
em 1832.
Foram então realizadas obras de recuperação e adaptação do
edifício, tentando manter a sua forma original, tendo-se aí mantido o Banco de
Portugal até 1934, altura em que foi transferido para um novo edifício, situado
na Praça da Liberdade. Desde então o prédio foi ocupado pela Companhia de
Seguros Douro, fundada em 1875.
Em 1870, o Banco de
Portugal operou bastantes transformações no edifício, mudando com isso a
escadaria para o centro do edifício, onde ainda hoje se encontra.
Nesta planta em 1813 no cimo, estão o convento, a cerca e a
igreja dos Terceiros
Planta de 1839
Na planta anterior a igreja dos Terceiros já foi sacrificada
para abertura da Rua Ferreira Borges.
Planta de 1892 já com a Rua Mouzinho da Silveira
Entre a planta anterior e as que a antecedem se vê que a Rua
das Congostas desapareceu para dar lugar à Rua Mouzinho da Silveira, já não existe o Convento e está construído o
Mercado Ferreira Borges.
A Praça de S.
Domingos tem a traça actual. Aparece a Praça do Infante, ainda sem o monumento
ao Infante. A Rua de Sousa Viterbo ainda é Rua de S. Domingos.
O convento de S. Domingos foi o segundo convento de frades
mendicantes a ser construído.
O primeiro foi o de S. Francisco, que de iniciativa
particular originou longa contenda com o bispo e foi fundado em 1241 no sítio
da Redondela
próximo ao qual se abriu depois, um caminho a que foi dado o nome de Rua
das Rosas e hoje é a Rua Comércio do Porto. Também já teve o topónimo
de Ferraria
de Baixo para a distinguir de Ferraria de Cima (Rua dos
Caldeireiros).
Aliás a parte superior desta rua chegou a chamar-se Rua
da Lagea ou da Lagem e Rua da Caldeiraria. Houve um tempo
em que à parte inferior da Rua da Caldeiraria se dava o nome de Rua do Souto,
provavelmente por ser o prolongamento natural daquela velhíssima rua portuense
que faz ligação com a Rua Escura, depois de atravessar o Rio da Vila e passar
junto aos Pelames.
Pela sua localização, pela amplitude do edifício e do
respetivo claustro muitas vezes o convento de S. Domingos serviu de logradouro
público, para a realização de importantes reuniões camarárias, de julgamentos
e onde se fez comércio em larga escala.
Era no alpendre ou casa segunda do Mosteiro dos religiosos de S.
Domingos, que em tempos remotos se realizavam determinadas sessões.
Uma delas aconteceu no dia 24 do mês de Junho da era de 1428,
correspondente aos Anos de Cristo de 1390.
Atenção à data atrás referida: as reuniões de Câmara, em
que eram tomadas medidas de grande relevo para a cidade, realizavam-se sempre
no dia de S. João, a festa mais importante do Porto.
Naquele ano já a Câmara possuía casa própria onde podia sem
qualquer limitação realizar as suas sessões ordinárias. Só recorria ao adro ou
claustro dos dominicanos para as reuniões plenárias (as assembleias municipais
de hoje) em que participavam todos os homens bons do concelho.
Tanto o adro, com os seus arcos formados em alpendre,
situado ao lado do edifício conventual, como a igreja, foram demolidos, nada
existindo agora dessas antigas construções.
Não sabemos no entanto com rigor, desde quando "no adro
do convento de S. Domingos" os mercadores se concentravam para as operações
de comércio e que ali tinham as suas lojas.
Até ao presente, do antigo convento de S. Domingos restou, a
arcada virada para o Largo de S. Domingos onde, em tempos remotos se faziam
reuniões públicas, da Câmara e de comércio, e também uma bela fonte de mármore
que pertenceu à sacristia da igreja e está presentemente no jardim de Marques
de Oliveira (Jardim de S. Lázaro).
Ao cimo do que é hoje a Rua de Sousa Viterbo, existiu a capela de Nossa
Senhora das Neves, ou capela de Nossa
Senhora da Escada (porque por uma escada se subia até ela), que teria existência anterior à data de chegada dos frades à cidade (1238), e teria sido aquela que o bispo cedeu aos frades, juntamente com "um correr de casas", para eles se instalarem. Seria demolida no século XVIII e ainda coexistiu, por ali, com o chafariz redondo construído em 1544.
É bem provável, como aventa Germano Silva, que os homens de negócios que operavam no claustro
do mosteiro e que haviam tomado aquela imagem como padroeira das suas
actividades comerciais, tenham contribuído, por vezes, para o restauro do templo.
Os claustros dos
dominicanos serviram, também, muitas vezes, para reuniões de tribunais «e ali os
juízes ouviam e despachavam as partes.
Imagem da igreja da Ordem Terceira anexa a S. Domingos
A igreja da gravura anterior era, nas últimas décadas de vida do Convento Dominicano, a sua Igreja de
facto mas não fora construída para eles mas sim para a sua Ordem
Terceira.
Seria destruída em
1835 por ordem de Ferreira Borges. Este pretendia alargar a rua, que veio a ter
o seu nome, com a finalidade de fazer, no local do Convento de S. Francisco, a
sede da Associação Comercial do Porto (Palácio da Bolsa).
Uns anos antes, em 24 de Abril de 1778, tinha sido alvo de um pavoroso incêndio que destruiu por completo o seu telhado.
Uns anos antes, em 24 de Abril de 1778, tinha sido alvo de um pavoroso incêndio que destruiu por completo o seu telhado.
Caleches junto à Bolsa, em 1880, cujos terrenos fronteiros chegaram a ser, em parte, uma parcela da cerca dos dominicanos
José Ferreira Borges
(Porto, 8 de Junho de 1786 — Porto, 14 de Novembro de 1838), formado em Cânones
pela Universidade de Coimbra, foi um jurisconsulto, economista e político
português que, entre outras funções, foi secretário da Companhia dos Vinhos do Alto
Douro, membro da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino de 1820,
advogado na cidade do Porto e deputado às Cortes Constituintes de 1821.
Pertenceu ao Sinédrio do Porto. Foi o principal autor do primeiro Código
Comercial Português, o Código Comercial Português de 1833, que ficou justamente
conhecido pelo Código Ferreira Borges, a vigência do qual se prolongou por 60
anos. Exerceu também o cargo de juiz do Tribunal de Comércio de Lisboa. Foi
autor de numerosas obras sobre temas económico-financeiros e políticos, entre
as quais Princípios de Syntetologia (1831), Instituições de economia política
(1834), Instituições de direito cambial (1844) e Do Banco de Lisboa (1827).
Esteve emigrado em Londres de 1823 a 1827 e foi membro activo da Maçonaria.
Cerimónia para lançamento da primeira pedra da estátua do Infante, no largo, em frente do Palácio da Bolsa
Na foto acima vê-se a cerimónia do lançamento da primeira
pedra para o monumento ao Infante D. Henrique em 1894.
Largo de S. Domingos
Largo de S. Domingos
Na foto anterior, a Sé ainda tem o relógio entre as torres e à direita temos o convento de S. Domingos.
Largo de S. Domingos
- Ed. Chusseau-Flaviens
Na foto acima os
futuros emigrantes com destino ao Brasil à espera de adquirir as passagens nos
navios em 1910, junto da agência Orey, Antunes & C.ª,
representantes de várias companhias de navegação, entre as quais como se pode
ler na placa, a Konninklijke Hollandsche Lloyd e a Compagnie
de Navigation Sud-Atlantique.
Ao lado a papelaria
de Luiz Gonçalves d’ Araújo & C.ª.
Perspectiva actual
de foto anterior - Fonte: Google Maps
Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 1881 e 1930
emigraram para o Brasil 1.070.351 portugueses, um número assombroso se tivermos
em consideração que, nesse período, a população total do país andava entre os
4,5 e os 6,8 milhões de habitantes.
No Porto de Leixões, em 1913, prontos para embarcar
Largo de S. Domingos
com vista para a Rua de Belomonte - Ed. A.D. Canedo
Foto actual do que foi o antigo convento
Regresso ao Porto dos Dominicanos
Com a extinção das ordens religiosas, os dominicanos só
regressam ao Porto em 1937, com a abertura de uma casa.
Os Padres Dominicanos, desde 1937 instalados junto do Jardim do
Carregal, vinham então celebrar a Eucaristia e confessar, aos Domingos, dias santos
e primeiras Sextas-feiras do mês, na capela da casa do Conde de Vizela, na Rua
de Serralves. E pensou-se que estavam naturalmente indicados para se incumbirem
de ocorrer em melhores condições às necessidades espirituais dos novos
moradores desta zona, edificando-se para tal efeito uma igreja e convento onde
se fixassem.
Em 1949, por insistência do Bispo D. Agostinho de Jesus e
Sousa, a comunidade desloca-se para o Bairro Gomes da Costa e começam-se as
iniciativas para a construção do actual convento. Convém referir que para a
realização deste projecto contribuíram variadíssimas pessoas, onde se destacam
o Fr. Estêvão Faria, então superior da comunidade, e o Prof. Dr. Luís de Pina,
que obteve da Câmara Municipal o terreno onde estão o Convento, a Igreja e o
Centro Paroquial. A dedicação da nova Igreja ocorreu no dia 25 de Maio de 1954,
sob a presidência do D. Francisco Rendeiro. Passados pouco mais de 5 anos, no
dia 25 de Outubro de 1959, é restaurado oficialmente o Convento do Porto, agora
com a invocação de Cristo Rei.
Segundo o testemunho de frei Bernardo Domingues, "o
desenvolvimento citadino e a actividade social e religiosa entraram em
apreciável dinâmica de integrado crescimento assim como a consciência colectiva
de que Cristo Rei era, de facto, uma comunidade social e religiosa com
características próprias. Por isso, já em 1963, houve um movimento de leigos
para que se tornasse, de facto, uma Paróquia." Facto que só viria a
acontecer no dia 02 de Fevereiro de 1979, pela mão do então Bispo do Porto, D.
António Ferreira Gomes. Nomeou-se para primeiro pároco desta Paróquia o Fr.
Eugénio Boléo, seguindo-se, alguns anos depois, o Fr. Rogério Amorim que
levaria a execução o actual Centro Paroquial.
Igreja do Cristo Rei actualmente
Tentativa de abertura
de convento dominicano feminino no Porto
No século XVI, uma tal Helena Carneiro, viúva do capitão
Luís Carneiro, fidalgo da casa real, moradora na Rua Nova, actual Rua do
Infante D. Henrique, pensou em mandar construir, no Porto, um mosteiro onde
seriam recebidas freiras dominicanas.
Havia o Mosteiro de Corpus Christi, fundado em 1345, também
chamado Mosteiro de São Domingos das Donas de Vila Nova de Gaia, mas estava na
margem esquerda do rio Douro, em Vila Nova.
Para concretizar o seu projeto, Helena Carneiro comprou
"uns quintais" junto da capela da confraria do Espírito Santo, em
Miragaia, e mandou vir madeiras da Flandres e comprou outros materiais para serem
utilizados na construção. Morreu, entretanto, sem ter podido concretizar o seu
sonho. No testamento que fez, em 1595, recomendou aos testamenteiros e
seus herdeiros que não descurassem aquele seu desejo. Mas o convento para
dominicanas nunca foi construído no Porto.
(Continua)
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