quarta-feira, 12 de julho de 2017

(Continuação 2) - Actualização em 25/10/2019

Livraria Lello e Livraria Chardron


Em 1869, é fundada a “Livraria Internacional” na Rua dos Clérigos pelo francês Ernesto Chardron que, antes, tinha sido empregado na “Livraria Moré”, passando a ser conhecido como o editor de Camilo Castelo Branco.



Planta de Telles Ferreira, de 1892, da zona envolvente à igreja dos Clérigos

 
 
Na planta acima está destacado e identificado o nºs de polícia, 96-98,  local onde esteve a Livraria Internacional de Ernesto Chardron.
A “Livraria Moré” ficava nos baixos do Palacete das Cardosas, na esquina com a Praça dos Lóios.
Após a morte de Chardron com 45 anos a “Livraria Chardron” foi vendida à firma “Lugan & Genelioux sucessores”.
Entretanto, José Pinto de Sousa Lello abriu um estabelecimento dedicando-se ao comércio e edição de livros, com o seu cunhado David Pereira e cria a firma “David Pereira & Lello”.
Em 1882, e após a morte de David Pereira, José Lello associado, agora, a seu irmão, estabelece a firma “José Pinto de Sousa Lello & Irmão”, nos números 18-20 da Rua do Almada.
A 30 de Junho de 1894, Mathieux Lugan, após o falecimento de Genelioux, vendeu a antiga “Livraria Chardron” a José Pinto de Sousa Lello, que com o seu irmão António Lello como sócio, manteve a Chardron com a denominação social de "Sociedade José Pinto Sousa Lello & Irmão".
Antes, em 1891, a Livraria Chardron já tinha adquirido os fundos de três casas livreiras do Porto, pertencentes a A. R. da Cruz Coutinho, Francisco Gomes da Fonseca e Paulo Podestá.
Em 1898, entrou para a nova sociedade o fundo bibliográfico da Livraria Lemos & C.ª, fundada pelos irmãos Maximiliano e Manuel de Lemos.
Entretanto, no início do século XX, os irmãos José Lello e António Lello decidem mudar as instalações da livraria para uma nova morada.
Para isso, mudam-se para a Rua das Carmelitas, nº 144, para um prédio acabado de construir, com projecto do engenheiro Francisco Xavier Esteves, sendo a livraria inaugurada no dia 13 de Janeiro de 1906, com a presença de diversas personalidades de relevo da cidade.
Em 1919, a “Livraria Chardron” passa a designar-se por “Livraria Lello & Irmão”.


"A 24 de maio de 1919, a razão social do estabelecimento foi alterada para "Livraria Lello e Irmão, Lda.", entrando para a sociedade Raul Reis Lello, filho de António Lello. Em 1924, entraram José Pinto da Silva Lello e Edgar Pinto da Silva Lello. Em 1930, foi a vez de José Pereira da Costa, genro de António Lello, entrar também para a sociedade, simplificando-se então o nome para "Livraria Lello". Cinco anos mais tarde, José da Costa afastou-se, recuperando-se a designação "Lello & Irmão". Raul Reis Lello faleceu em 1949 e António Lello em 1953. À frente da livraria, seguiram-se José Pinto da Silva Lello, falecido em 1971, e Edgar Pinto da Silva Lello, que faleceu em 1989. A partir de 1995, o estabelecimento voltou a designar-se simplesmente "Livraria Lello".
Fonte: pt.wikipedia.org




“A história da livraria Lello é também a história dos irmãos Lello que em 1906 abrem a livraria. José e António Lello nasceram na Casa de Ramadas, freguesia de Fontes, em Santa Marta de Penaguião, filhos de um proprietário rural. José Lello é o primeiro a vir para o Porto. Homem de cultura, amante da leitura, dos livros e da música sonha tornar-se livreiro, o que vem a acontecer com a abertura da primeira livraria e editora em 1881 com o seu cunhado. Após o falecimento deste, José Lello constitui a sociedade José Pinto de Sousa Lello & Irmão, com o irmão António Lello, 9 anos mais novo.
Os dois irmãos, conhecidos na cidade como os irmãos unidos, fazem parte de um círculo de ativos burgueses e intelectuais do Porto. Republicanos, fazem questão de se envolver na vida pública, no desenvolvimento industrial e comercial da cidade e na sua atividade cultural, nesta fase de viragem do século.
Nesta altura os irmãos Lello estabelecem-se na Rua do Almada, desconhecendo ainda que o edifício que levaria o seu nome até ao próximo milénio se encontrava a poucos quarteirões. A atividade editorial da Lello e Irmãos era marcada por uma paixão pelos livros e pela cultura. Este amor à arte deu origem à criação de edições especiais, editadas em número reduzido, com a colaboração de artistas plásticos, como ilustradores e pintores, e com enorme cuidado gráfico.
É em 1894 que José Pinto de Sousa Lello compra a Livraria Chardron aos então donos, juntamente com todo o seu espólio. Embora estivesse já noutras mãos, esta livraria tinha feito o seu nome pela mão do francês Ernesto Chardron. Este influente editor era um motor do setor, tendo publicado as primeiras edições de obras eternamente sonantes como as de Eça de Queirós ou Camilo Castelo Branco, por exemplo. Esta ambiciosa ampliação da Lello e Irmãos precisava de ser acompanhada de um quartel condizente com a renovada importância no setor. O edifício da Rua das Carmelitas é então moldado pela visão sumptuosa do engenheiro Francisco Xavier Esteves. É em 1906 que é inaugurado o espaço como hoje o conhecemos – e a sensação que causou na cidade nessa altura ecoa ainda hoje neste local obrigatório para todos os visitantes da cidade do Porto.
Francisco Xavier Esteves (1864-1944) foi o engenheiro responsável pela construção do edifício da Livraria Lello. Homem das ciências, cursou Engenharia na Academia Politécnica do Porto (1886). Tinha um gosto particular pela literatura, que manifestou ainda nos tempos de faculdade, onde dirigiu o Álbum literário comemorativo do terceiro centenário de Luís de Camões (1880). A sua afinidade com as letras fica para sempre marcada pela construção desta que é uma das livrarias mais emblemáticas do país e do mundo.
O primeiro olhar recai sempre sobre a inconfundível fachada. De estilo neogótico, é impressionante por si só, mas disputa protagonismo com as duas figuras que a ladeiam. Trata-se de um par de pinturas do professor José Bielman que simbolizam, uma a Arte, segurando uma escultura, e outra a Ciência, que exibe um dos símbolos da antropologia.
Já no interior da livraria, deparamo-nos com um conjunto de baixos-relevos onde se representam os fundadores da livraria, José Lello e António Lello. Ao longo da sala podem ser encontrados os bustos de alguns dos mais importantes escritores portugueses: Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Tomás Ribeiro, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro.
Mas todos estes vultos têm a tarefa pouco invejável de competir pelas atenções com a famosa escadaria carmim. E poucas descrições lhe fazem tanta justiça como a encontrada no Album Descriptivo da própria livraria:
“Quem vae percorrendo a sala, vê então a escada que é uma peça de surpreendente atracção, pela aparência de leveza que encobre a audácia da sua concepção. Sente-se o desejo de subi-la e sente-se o receio de que o nosso peso a faça abater.” (in Album Descriptivo, Livraria Chardron Lello & Irmão)
Subindo esta escada que dá acesso ao primeiro piso é impossível não reparar no detalhe dos frisos que a rodeiam. Como é impossível não apreciar o imponente teto. Este ilude quem o aprecia: parece que vemos madeira talhada, quando na realidade se trata de gesso pintado, técnica que também foi usada nos ornamentos da escada. Já o vitral é o que parece, uma estrutura em vidro com 8 metros de comprimento e 3,5 metros de largura. A insígnia Decus in labore, dignidade no trabalho, enlaçada no monograma dos irmãos Lello, lembra a regra de ouro que se aplica a todos os que entram nesta casa, sejam colaboradores, clientes, leitores ou apenas curiosos.
O piso superior da livraria está recheado de detalhes arquitetónicos: o corrimão em talha de madeira, os apontamentos Art déco nas paredes e as colunas que se erguem desde o piso inferior.
Ao fundo da escada, podem ser encontrados dois bustos em bronze, ambos obras do escultor Abel Salazar. Pertencem a Eça de Queirós e Miguel de Cervantes, dois dos maiores escritores da Península Ibérica. Do nosso Eça, podemos dizer que é conhecido por obras-primas como Os Maias e O Crime do Padre Amaro e que a sua relação com a Lello é de grande proximidade. Já de Cervantes, consta que viveu dois anos em Lisboa, mas desconhece-se uma visita ao Porto. No entanto, pode encontrá-lo na Lello, em livro e eternizado neste busto.
Encontrando-se na galeria do piso inferior, a toda a volta há armários envidraçados com portadas em ogiva. Lá dentro estão os livros mais antigos da livraria, alguns têm a data da fundação da loja, outros são mais antigos. Há também livros raros e primeiras edições”.
Fonte - site: “livrarialello.pt/”




“A emblemática livraria Lello fica na Rua das Carmelitas, num edifício com fachada neogótica e afloramentos de Arte Nova.
Foi inaugurado a 13 de janeiro de 1906. O projeto é do engenheiro Francisco Xavier Esteves e já então a abertura, até pela imponência dos interiores e pela promessa de proporcionar o que de melhor então se publicava, arrastou uma multidão de notáveis. Estavam, entre eles, Guerra Junqueiro, Aurélio da Paz dos Reis ou Afonso Costa. 
Ao longo das décadas registaram-se sucessivas alterações, até de propriedade. A gestão é agora assegurada pela Prólogo Livreiros, S. A., da qual faz parte um dos herdeiros da família Lello. Em 1995 houve uma operação de restauro de todo o espaço, com atualização e informatização dos serviços e criação de uma galeria de arte e de um dos segredos mais bem guardados da Lello: o espaço de tertúlia.
Na origem da Lello, embora ainda noutras instalações, está a Livraria Internacional de Ernesto Chardron, criada em 1869, na Rua dos Clérigos, n.º 96-98.
Antigo empregado da Livraria Moré, que se situava na esquina do Largo dos Lóios com a Rua dos Clérigos, à direita de quem desce, Chardron foi um dos primeiros editores de Camilo Castelo Branco. Haveria mais tarde de abrir uma livraria ao cimo da Rua dos Clérigos”.
In cadernosdalibania.blogspot.pt




Livraria Lello 


Piso de entrada da Livraria Lello



Piso superior da Livraria Lello



Actualmente, a livraria após as obras sofridas em 1995, foi alvo de novo restauro das suas instalações, e constituiu visita diária e assídua de turistas.
Muito do interesse e da curiosidade dos muitos visitantes, prende-se com a ligação que fazem das instalações da livraria, com a biblioteca dos filmes de Harry Potter, já que, a escritora autora dos romances que deram origem aos filmes,  Joanne Rowling, viveu algum tempo na cidade do Porto, antes de ter lançado a sua obra literária no mercado.
A partir de 23 Julho de 2015, a entrada na livraria passou a ter um custo de três euros, que são descontados na compra de livros. Esta taxa destina-se a conter o número elevado de turistas que lá vão (mais de três mil por dia), e também para facturar, porque, no futuro, a livraria terá de custear as obras de restauro, pois, essas visitas contínuas, acabam por provocar muitos danos num espaço como aquele. Em consequência da aplicação desta taxa, em apenas três meses, as vendas da Lello triplicaram.
Em 30 de Julho de 2016, foi inaugurado o restauro da fachada e vitral interior. As entradas pagas custearam a primeira fase das obras. O vitral do tecto de oito metros de comprimento por 3,5 metros de largura composta por 55 painéis de vidro e da autoria do arquitecto holandês Gerardus Samuel van Krieken foi desmontada pela primeira vez desde a sua existência. Foi alvo de limpeza, restauro e correcção de danos oferecendo uma luminosidade há muito esquecida.



“Concebido segundo projeto do engenheiro Xavier Esteves, a Livraria Lello é um dos mais emblemáticos edifícios do neogótico portuense, destacando-se fortemente na paisagem urbana envolvente. Trata-se de um conjunto em que a arquitetura e os elementos decorativos deixam transparecer o estilo dominante no início de século XX, bem com, o uso generalizado do cimento armado de que a sua escadaria interior é o expoente máximo.
A fachada apresenta um arco abatido de grandes dimensões, com entrada central e duas montras laterais. Acima, três janelas rectangulares ladeadas por duas figuras pintadas por José Bielman, representando a "Arte" e a "Ciência". Uma platibanda rendilhada remata as janelas, terminando a fachada em três pilastras encimadas por coruchéus, com vãos de arcaria de gosto neogótico. A decoração é complementada por motivos vegetais, formas geométricas e a designação "Lello e Irmão", sob as janelas.
No interior, os arcos quebrados apoiam-se nos pilares em que, sob baldaquinos rendilhados, o escultor Romão Júnior esculpiu os bustos dos escritores Antero de Quental, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra Junqueiro. Os tetos trabalhados, o grande vitral que ostenta o monograma e a divisa da livraria "Decus in Labore" e a escadaria de grandes dimensões de acesso ao primeiro piso são as marcas mais significativas da livraria”.
Fonte: pt.wikipedia.org 




Piso superior da Livraria Lello e a sua famosa claraboia





A actual Rua dos Clérigos teve diversos nomes consoante as referências que foram existindo nas suas proximidades. Assim, começou por se chamar Calçada do Correio-Mor por se encontrar perto da casa de João Soares de Carvalho, a primeira repartição do correio no Porto desde fins de século XVI, depois Calçada da Fonte da Arca, e desde que se construiu a Fonte da Natividade que substituiu a Fonte da Arca, passou a chamar-se Calçada da Natividade, cujo rebaixamento e calcetamento foi feito em 1766.
Por fim foi Calçada dos Clérigos e Rua dos Clérigos a partir da conclusão da construção da Igreja, para lá da segunda metade do século XVIII.



Calçada dos Clérigos – Ed. Arquivo Pitoresco



“À Rua dos Clérigos chamava-se também Rua dos Carapuceiros. Esta alusão aos lojistas que vendiam carapuças tinha, em certa medida, um sentido pejorativo. Pretendia-se, com essa referência, distinguir as características comerciais que diferenciavam os lojistas estabelecidos no lado direito dos do lado esquerdo da artéria, tomando como ponto de partida a entrada do Largo dos Lóios ou da Rua do Almada. A antiga Calçada da Natividade, anterior designação da atual Rua dos Clérigos, só começou a ganhar estatuto de artéria citadina a partir da segunda metade do século XVIII. Foi, efetivamente, em 1 de março de 1788, no reinado de D. Maria I, que, por meio de um aviso régio, se determinou que "para a modernização do local se começasse a demolir a muralha que ladeava para sul a Calçada da Natividade". O documento dizia mais: "que tudo devia ser feito para bom alinhamento e regularidade da calçada". Essa tarefa aconteceu no mandato como governador civil do Porto do visconde de Gouveia.
Depois de devidamente alinhada e regularizada, a Calçada da Natividade transformou-se rapidamente numa das mais movimentadas artérias do Porto, marcada especialmente por uma intensa atividade comercial.
Aí pelos finais do século XIX, ao fundo da Rua dos Clérigos, mesmo à esquina da Rua do Almada, era normal encontrarem-se, encostados à parede da “Tabacaria Freitas & Azevedo”, meia dúzia de homens de longo varapau na mão, envergando elegantes capotes azuis e cor de pinhão com guarnições encarnadas. Eram os galegos que aguardavam a oportunidade de serem contratados para o transporte das célebres cadeirinhas em que a dama era levada ao Teatro de S. João ou a uma das igrejas da cidade, ao senhor exposto.
Por essa época, quem subisse a rua deparava, à direita, com uma fiada de estabelecimentos modernos, de vincada feição citadina, com predominância para os luveiros; bazares de brinquedos; casas de roupa a puxar para o requinte da moda parisiense; pomares que exibiam o que de melhor, em termos de frutas, se produzia no Minho e no Douro.
Do lado esquerdo, o ambiente era totalmente diferente. Nas lojas deste lado respirava-se, digamos assim, um ambiente tipicamente aldeão. Era desta banda que ficavam os carapuceiros. Quem andasse no passeio deste lado ou entrasse nos estabelecimentos ali existentes tinha a sensação de andar a passear numa qualquer dessas aldeias dos arredores do Porto, tantos eram os homens e mulheres das aldeias que por ali cirandavam na compra de artigos que lhes eram necessários para seu uso diário ou domingueiro.
O comércio daquele tempo modernizava-se. As lojas, em contraste com os tugúrios fundos e mal iluminados do passado, eram amplas, arejadas e bem iluminadas. Mas havia costumes que prevaleciam inalteráveis e que nenhum modernismo vencia. Entre esses, estava o da exposição dos artigos nos passeios.
Do alto das portas dos estabelecimentos, nomeadamente dos que funcionavam no tal lado esquerdo, expunham-se xailes, cobertores, mantas matizadas, peças de pano-cru, carapuças, samarras com gola de pele de coelho.
Um dia, já nos primeiros tempos da República, quiseram mudar o nome à rua. Numa reunião camarária realizada no dia 20 de abril de 1911, um vereador propôs (imagine-se!) que se mudasse o nome da Rua dos Clérigos para o de Ferrer. Foi o bom e o bonito. Os comerciantes dos Clérigos, em uníssono, protestaram. Que não. Não queriam a mudança.
Mas esta solidariedade, ou unanimidade de vontades, não existiu, alguns anos atrás, em novembro de 1902, quando os comerciantes da cidade comemoraram o primeiro aniversário da instituição do preço fixo - aspiração antiga dos retalhistas do Porto. Com efeito, nos Clérigos, só os lojistas do tal lado esquerdo é que tomaram a iniciativa de assinalar o aniversário, oferecendo valiosos brindes aos clientes que nesse dia fizeram compras nos estabelecimentos. E mais: ofereceram "um pantagruélico e substancial almoço" (cada um custou 160 réis) a duzentos pobres da cidade.
Mas os Clérigos, como normalmente se diz quando nos queremos referir à rua em questão, não se distinguiram somente pelo comércio. Foram também local de recreio, de paradas e desfiles. Nos começos do século XX, era o local predileto de uma certa rapaziada janota e literata para os seus passeios e devaneios amorosos. Muitos deles, depois da "volta dos tristes", rua acima, rua abaixo, acabavam o dia no Mercado do Anjo a di-rigir piropos ou a recitar madrigais às lindas vendedeiras de frutas, de flores e de hortaliças, de entre as quais sobressaíam a Maria Pequena, a Maria Inglesa e a Corada, cujas formosuras, naquele tempo, arrancavam profundos suspiros aos estudantes da Academia.
Na 2ª metade do séc. XIX, em loja de prédio na esquina da Rua dos Clérigos e a Rua do Almada ficava “ O Lino”, casa de comércio de artigos para desporto, caça e pesca, à porta da qual parava uma tertúlia de gente afamada como: António Bernardo Ferreira, dos Ferreirinhas, Camilo Castelo Branco, Cristiano e Manuel Van Zeller, Delfim de Lima ligado ao Asilo do Terço, Manuel Pedro Guedes, dos Guedes da Aveleda, etc e, logo acima do Lino a “Tabacaria Freitas e Azevedo”.
Do outro lado em frente na esquina com o Largo dos Lóios havia a livraria “Moré”. Todas eram locais de tertúlia de juízes, jornalistas, homens das artes e das letras, cujo gerente era o Gomes Monteiro e tinha por empregado o francês Ernesto Chardron.
Chardron iria mais tarde estabelecer-se ao cimo da Rua dos Clérigos.
No espaço da Moré esteve mais tarde instalada a Camisaria Central”.
Cortesia de Germano Silva



Perspectiva obtida sobre o começo da Rua dos Clérigos, junto do Largo dos Lóios



À esquerda da foto acima no 4º toldo, no sentido descendente, era o Lino e no 3º toldo, a Tabacaria Freitas & Azevedo. Por sua vez, na esquina próxima do edifício das Cardosas esteve a livraria Moré. Hoje em dia, na área contígua a esta, onde está a Farmácia Vitália, esteve antes de 1933, a filial do Banco Comercial do Porto.
Diga-se, entretanto, que a outra esquina do Palacete das Cardosas onde em tempos esteve o Café Astória, ainda tinha, em 1925, no espaço que lhe era contíguo, instalada a dependência no Porto do Banco Angola e Metrópole, do célebre Alves dos Reis, em cujos cofres, uns inspectores detectaram duas notas de banco de 500 escudos com o mesmo número de série, pondo a descoberto a maior falsificação de sempre, em Portugal.




O passeio ocupado pelos carapuceiros



Na foto acima observa-se o material dos carapuceiros, em exposição, junto das portas dos estabelecimentos.
Naquele espaço fronteiro à fachada da Igreja dos Clérigos, entre esta rua e as da Assunção, São Filipe de Néri, Carmelitas e da moderna Rua do Conde de Vizela (antiga Rua do Correio), fez-se, durante muitos anos, uma interessante e muito perfumada feira de flores. 



Rua dos Clérigos em 1905



Foi após o desabamento ocorrido junto à igreja dos Clérigos, no dia 23 de Dezembro de 1787, das oito para as nove horas da noite, de um tramo da muralha da cidade, numa extensão de 29 metros, que as autoridades da cidade resolvessem solicitar à rainha a demolição da restante muralha que delimitava a sul a Calçada da Natividade.
Obtida a respectiva autorização, foi possível começar a edificar nessa frente do arruamento.
 
 
«As demolições  começariam a partir de 1787. Nesse ano, o Presidente da Junta pediria para Lisboa a autorização necessária para ser apeada a muralha do “lado meridional” da Rua dos Clérigos, não só porque ameaçava ruína, mas também porque permitiria o seu alinhamento… O derrube da muralha do lado Sul da Rua dos Clérigos, permitiria, para além do alinhamento referido, abrir uma rua que faria a comunicação entre aquela rua e a chamada Rua de Trás. A rainha autorizou os proprietários possuidores de casas encostadas à muralha, ou a ela contíguas que pudessem “adianta-las e crescer com ellas até o alinhamento regular da referida rua; sujeitamdo-se eles a fazer as frentes que para ela ficarem segundo o prospecto, e plano aprovado e posto em execução nas outras propriedades situadas na mesma rua”. A área demolida não se confinaria só ao lado sul da Rua dos Clérigos. Foi autorizado o apeamento da muralha desde a Porta dos Carros até à Igreja dos Clérigos." 
In “O Porto na Época dos Almadas” de Joaquim Jaime B. Ferreira Alves
 
 
Sobre o texto anterior, é de referir que João de Almada e Melo tinha falecido no ano anterior (1786) à tomada de decisão de se proceder ao derrube da muralha naquele local e que José Roberto Vidal da Gama (governador da Relação do Porto de 1786 a 1790) era o novo presidente e inspector das Obras Públicas da cidade, que entendeu dirigir o convite ao arquitecto e engenheiro militar José Champalimaud de Nussane para ser director das Obras Públicas.
Iniciada a demolição da muralha no final da década de oitenta e aprovado o projecto para o lado Sul da Rua dos Clérigos, em 1792, três anos depois parte da nova frente urbana já estava construída pelos particulares e encontravam-se os prédios habitados.
A Calçada dos Clérigos foi desenhada pelo arquitecto Teodoro de Sousa Maldonado que trabalhou para a Junta das Obras Públicas entre 1789 e 1792. Dada a sua competência, foi nomeado o primeiro arquitecto da cidade em 1792. Desenhou e executou várias importantes obras, dentre as quais se destaca, fora a referida calçada, a Rua de Santo António e a Rua da Boavista. Faleceu em 1799.
 
 
 

Fachadas sul do edificado da Calçada dos Clérigos, 1792, da autoria de Teodoro de Sousa Maldonado – Fonte: AHMP
 
 
 
Como atrás ficou expresso a tarefa de alinhar a Calçada da Natividade, depois, Rua dos Clérigos só ficaria totalmente concluída no tempo em que o visconde de Gouveia foi governador civil do Porto.
De facto, esta personagem foi o 2º visconde de Gouveia, de seu nome completo, José Freire de Serpa Pimentel (1814-1870) que, para além de governador civil do Porto foi poeta, licenciado em Direito e juiz desembargador em Lisboa e no Porto. A ele se deve, desde 1860, a ordenação dos números de polícia das habitações de tal modo que as portas fossem ímpares de um lado de cada rua e pares do outro lado.
Este sistema de numeração foi depois adoptado em Lisboa e noutras cidades.

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