Livraria Lello e
Livraria Chardron
Em 1869, é fundada a “Livraria Internacional” na Rua dos
Clérigos pelo francês Ernesto Chardron que, antes, tinha sido empregado na “Livraria
Moré”, passando a ser conhecido como o editor de Camilo Castelo Branco.
Planta de Telles Ferreira, de 1892, da zona envolvente à
igreja dos Clérigos
A “Livraria Moré” ficava nos baixos do Palacete das
Cardosas, na esquina com a Praça dos Lóios.
Após a morte de Chardron com 45 anos a “Livraria Chardron”
foi vendida à firma “Lugan & Genelioux sucessores”.
Entretanto, José Pinto de Sousa Lello abriu um
estabelecimento dedicando-se ao comércio e edição de livros, com o seu cunhado
David Pereira e cria a firma “David Pereira & Lello”.
Em 1882, e após a morte de David Pereira, José Lello associado, agora, a seu irmão, estabelece a firma “José Pinto de Sousa Lello & Irmão”, nos
números 18-20 da Rua do Almada.
A 30 de Junho de 1894, Mathieux Lugan, após o falecimento de Genelioux,
vendeu a antiga “Livraria Chardron” a José Pinto de Sousa Lello, que com o seu irmão António Lello como sócio, manteve a Chardron com a denominação social de
"Sociedade José Pinto Sousa Lello & Irmão".
Antes, em 1891, a Livraria Chardron já tinha adquirido os fundos de três
casas livreiras do Porto, pertencentes a A. R. da Cruz Coutinho, Francisco
Gomes da Fonseca e Paulo Podestá.
Em 1898, entrou para a nova sociedade o fundo bibliográfico
da Livraria Lemos & C.ª, fundada pelos irmãos Maximiliano e Manuel de
Lemos.
Entretanto, no início do século XX, os irmãos José Lello e António Lello decidem mudar as instalações da livraria para uma nova morada.
Para isso, mudam-se para a Rua das Carmelitas, nº 144, para um prédio acabado de construir, com projecto do engenheiro Francisco Xavier Esteves, sendo a livraria inaugurada no dia 13 de Janeiro de 1906, com a presença de diversas personalidades de relevo da cidade.
Em 1919, a “Livraria Chardron” passa a designar-se por “Livraria Lello & Irmão”.
"A 24 de maio de 1919, a razão social do estabelecimento foi
alterada para "Livraria Lello e Irmão, Lda.", entrando para a
sociedade Raul Reis Lello, filho de António Lello. Em 1924, entraram José Pinto
da Silva Lello e Edgar Pinto da Silva Lello. Em 1930, foi a vez de José Pereira
da Costa, genro de António Lello, entrar também para a sociedade,
simplificando-se então o nome para "Livraria Lello". Cinco anos mais
tarde, José da Costa afastou-se, recuperando-se a designação "Lello &
Irmão". Raul Reis Lello faleceu em 1949 e António Lello em 1953. À frente
da livraria, seguiram-se José Pinto da Silva Lello, falecido em 1971, e Edgar
Pinto da Silva Lello, que faleceu em 1989. A partir de 1995, o
estabelecimento voltou a designar-se simplesmente "Livraria Lello".
Fonte: pt.wikipedia.org
“A história da
livraria Lello é também a história dos irmãos Lello que em 1906 abrem a
livraria. José e António Lello nasceram na Casa de Ramadas, freguesia de
Fontes, em Santa Marta de Penaguião, filhos de um proprietário rural. José
Lello é o primeiro a vir para o Porto. Homem de cultura, amante da leitura, dos
livros e da música sonha tornar-se livreiro, o que vem a acontecer com a
abertura da primeira livraria e editora em 1881 com o seu cunhado. Após o falecimento
deste, José Lello constitui a sociedade José Pinto de Sousa Lello & Irmão,
com o irmão António Lello, 9 anos mais novo.
Os dois irmãos,
conhecidos na cidade como os irmãos unidos, fazem parte de um círculo de ativos
burgueses e intelectuais do Porto. Republicanos, fazem questão de se envolver
na vida pública, no desenvolvimento industrial e comercial da cidade e na sua
atividade cultural, nesta fase de viragem do século.
Nesta altura os irmãos
Lello estabelecem-se na Rua do Almada, desconhecendo ainda que o edifício que
levaria o seu nome até ao próximo milénio se encontrava a poucos quarteirões. A
atividade editorial da Lello e Irmãos era marcada por uma paixão pelos livros e
pela cultura. Este amor à arte deu origem à criação de edições especiais, editadas
em número reduzido, com a colaboração de artistas plásticos, como ilustradores
e pintores, e com enorme cuidado gráfico.
É em 1894 que José
Pinto de Sousa Lello compra a Livraria Chardron aos então donos, juntamente com
todo o seu espólio. Embora estivesse já noutras mãos, esta livraria tinha feito
o seu nome pela mão do francês Ernesto Chardron. Este influente editor era um
motor do setor, tendo publicado as primeiras edições de obras eternamente
sonantes como as de Eça de Queirós ou Camilo Castelo Branco, por exemplo. Esta
ambiciosa ampliação da Lello e Irmãos precisava de ser acompanhada de um
quartel condizente com a renovada importância no setor. O edifício da Rua das
Carmelitas é então moldado pela visão sumptuosa do engenheiro Francisco Xavier
Esteves. É em 1906 que é inaugurado o espaço como hoje o conhecemos – e a
sensação que causou na cidade nessa altura ecoa ainda hoje neste local
obrigatório para todos os visitantes da cidade do Porto.
Francisco Xavier
Esteves (1864-1944) foi o engenheiro responsável pela construção do edifício da
Livraria Lello. Homem das ciências, cursou Engenharia na Academia Politécnica
do Porto (1886). Tinha um gosto particular pela literatura, que manifestou
ainda nos tempos de faculdade, onde dirigiu o Álbum literário comemorativo do
terceiro centenário de Luís de Camões (1880). A sua afinidade com as letras
fica para sempre marcada pela construção desta que é uma das livrarias mais
emblemáticas do país e do mundo.
O primeiro olhar recai
sempre sobre a inconfundível fachada. De estilo neogótico, é impressionante por
si só, mas disputa protagonismo com as duas figuras que a ladeiam. Trata-se de
um par de pinturas do professor José Bielman que simbolizam, uma a Arte,
segurando uma escultura, e outra a Ciência, que exibe um dos símbolos da
antropologia.
Já no interior da
livraria, deparamo-nos com um conjunto de baixos-relevos onde se representam os
fundadores da livraria, José Lello e António Lello. Ao longo da sala podem ser
encontrados os bustos de alguns dos mais importantes escritores portugueses:
Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Tomás Ribeiro,
Teófilo Braga e Guerra Junqueiro.
Mas todos estes vultos
têm a tarefa pouco invejável de competir pelas atenções com a famosa escadaria
carmim. E poucas descrições lhe fazem tanta justiça como a encontrada no Album
Descriptivo da própria livraria:
“Quem vae percorrendo
a sala, vê então a escada que é uma peça de surpreendente atracção, pela
aparência de leveza que encobre a audácia da sua concepção. Sente-se o desejo
de subi-la e sente-se o receio de que o nosso peso a faça abater.” (in Album
Descriptivo, Livraria Chardron Lello & Irmão)
Subindo esta escada
que dá acesso ao primeiro piso é impossível não reparar no detalhe dos frisos
que a rodeiam. Como é impossível não apreciar o imponente teto. Este ilude quem
o aprecia: parece que vemos madeira talhada, quando na realidade se trata de gesso
pintado, técnica que também foi usada nos ornamentos da escada. Já o vitral é o
que parece, uma estrutura em vidro com 8 metros de comprimento e 3,5 metros de
largura. A insígnia Decus in labore, dignidade no trabalho, enlaçada no
monograma dos irmãos Lello, lembra a regra de ouro que se aplica a todos os que
entram nesta casa, sejam colaboradores, clientes, leitores ou apenas curiosos.
O piso superior da
livraria está recheado de detalhes arquitetónicos: o corrimão em talha de
madeira, os apontamentos Art déco nas paredes e as colunas que se erguem desde
o piso inferior.
Ao fundo da escada,
podem ser encontrados dois bustos em bronze, ambos obras do escultor Abel
Salazar. Pertencem a Eça de Queirós e Miguel de Cervantes, dois dos maiores
escritores da Península Ibérica. Do nosso Eça, podemos dizer que é conhecido
por obras-primas como Os Maias e O Crime do Padre Amaro e que a sua relação com
a Lello é de grande proximidade. Já de Cervantes, consta que viveu dois anos em
Lisboa, mas desconhece-se uma visita ao Porto. No entanto, pode encontrá-lo na
Lello, em livro e eternizado neste busto.
Encontrando-se na
galeria do piso inferior, a toda a volta há armários envidraçados com portadas
em ogiva. Lá dentro estão os livros mais antigos da livraria, alguns têm a data
da fundação da loja, outros são mais antigos. Há também livros raros e
primeiras edições”.
Fonte - site: “livrarialello.pt/”
“A emblemática
livraria Lello fica na Rua das Carmelitas, num edifício com fachada neogótica e
afloramentos de Arte Nova.
Foi inaugurado a 13 de
janeiro de 1906. O projeto é do engenheiro Francisco Xavier Esteves e já então
a abertura, até pela imponência dos interiores e pela promessa de proporcionar
o que de melhor então se publicava, arrastou uma multidão de notáveis. Estavam,
entre eles, Guerra Junqueiro, Aurélio da Paz dos Reis ou Afonso Costa.
Ao longo das décadas
registaram-se sucessivas alterações, até de propriedade. A gestão é agora
assegurada pela Prólogo Livreiros, S. A., da qual faz parte um dos herdeiros da
família Lello. Em 1995 houve uma operação de restauro de todo o espaço, com
atualização e informatização dos serviços e criação de uma galeria de arte e de
um dos segredos mais bem guardados da Lello: o espaço de tertúlia.
Na origem da Lello,
embora ainda noutras instalações, está a Livraria Internacional de Ernesto
Chardron, criada em 1869, na Rua dos Clérigos, n.º 96-98.
Antigo empregado da
Livraria Moré, que se situava na esquina do Largo dos Lóios com a Rua dos
Clérigos, à direita de quem desce, Chardron foi um dos primeiros editores de
Camilo Castelo Branco. Haveria mais tarde de abrir uma livraria ao cimo da Rua
dos Clérigos”.
In cadernosdalibania.blogspot.pt
Livraria Lello
Piso de entrada da Livraria Lello
Piso superior da Livraria Lello
Actualmente, a livraria após as obras sofridas em 1995, foi
alvo de novo restauro das suas instalações, e constituiu visita diária e
assídua de turistas.
Muito do interesse e da curiosidade dos muitos visitantes,
prende-se com a ligação que fazem das instalações da livraria, com a biblioteca
dos filmes de Harry Potter, já que, a escritora autora dos romances que deram
origem aos filmes, Joanne Rowling,
viveu algum tempo na cidade do Porto, antes de ter lançado a sua obra literária
no mercado.
A partir de 23 Julho de 2015, a entrada na livraria passou a
ter um custo de três euros, que são descontados na compra de livros. Esta taxa
destina-se a conter o número elevado de turistas que lá vão (mais de três mil
por dia), e também para facturar, porque, no futuro, a livraria terá de custear
as obras de restauro, pois, essas visitas contínuas, acabam por provocar muitos
danos num espaço como aquele. Em consequência da aplicação desta taxa, em
apenas três meses, as vendas da Lello triplicaram.
Em 30 de Julho de 2016, foi inaugurado o restauro da fachada
e vitral interior. As entradas pagas custearam a primeira fase das obras. O
vitral do tecto de oito metros de comprimento por 3,5 metros de largura
composta por 55 painéis de vidro e da autoria do arquitecto holandês Gerardus
Samuel van Krieken foi desmontada pela primeira vez desde a sua existência. Foi
alvo de limpeza, restauro e correcção de danos oferecendo uma luminosidade há
muito esquecida.
“Concebido segundo
projeto do engenheiro Xavier Esteves, a Livraria Lello é um dos mais
emblemáticos edifícios do neogótico portuense, destacando-se fortemente na
paisagem urbana envolvente. Trata-se de um conjunto em que a arquitetura e os
elementos decorativos deixam transparecer o estilo dominante no início de
século XX, bem com, o uso generalizado do cimento armado de que a sua escadaria
interior é o expoente máximo.
A fachada apresenta um
arco abatido de grandes dimensões, com entrada central e duas montras laterais.
Acima, três janelas rectangulares ladeadas por duas figuras pintadas por José
Bielman, representando a "Arte" e a "Ciência". Uma
platibanda rendilhada remata as janelas, terminando a fachada em três pilastras
encimadas por coruchéus, com vãos de arcaria de gosto neogótico. A decoração é
complementada por motivos vegetais, formas geométricas e a designação
"Lello e Irmão", sob as janelas.
No interior, os arcos
quebrados apoiam-se nos pilares em que, sob baldaquinos rendilhados, o escultor
Romão Júnior esculpiu os bustos dos escritores Antero de Quental, Eça de
Queirós, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra
Junqueiro. Os tetos trabalhados, o grande vitral que ostenta o monograma e a
divisa da livraria "Decus in Labore" e a escadaria de grandes
dimensões de acesso ao primeiro piso são as marcas mais significativas da livraria”.
A actual Rua dos Clérigos teve diversos nomes consoante as referências que foram existindo nas suas proximidades. Assim, começou por se chamar Calçada do Correio-Mor por se encontrar perto da casa de João Soares de Carvalho, a primeira repartição do correio no Porto desde fins de século XVI, depois Calçada da Fonte da Arca, e desde que se construiu a Fonte da Natividade que substituiu a Fonte da Arca, passou a chamar-se Calçada da Natividade, cujo rebaixamento e calcetamento foi feito em 1766.
Por fim foi Calçada dos Clérigos e Rua dos
Clérigos a partir da conclusão da construção da Igreja, para lá da segunda
metade do século XVIII.
Calçada dos Clérigos
– Ed. Arquivo Pitoresco
“À Rua dos Clérigos chamava-se também Rua dos
Carapuceiros. Esta alusão aos lojistas que vendiam carapuças tinha, em certa
medida, um sentido pejorativo. Pretendia-se, com essa referência, distinguir as
características comerciais que diferenciavam os lojistas estabelecidos no lado
direito dos do lado esquerdo da artéria, tomando como ponto de partida a
entrada do Largo dos Lóios ou da Rua do Almada. A antiga Calçada da Natividade,
anterior designação da atual Rua dos Clérigos, só começou a ganhar estatuto de
artéria citadina a partir da segunda metade do século XVIII. Foi, efetivamente,
em 1 de março de 1788, no reinado de D. Maria I, que, por meio de um aviso
régio, se determinou que "para a modernização do local se começasse a
demolir a muralha que ladeava para sul a Calçada da Natividade". O
documento dizia mais: "que tudo devia ser feito para bom alinhamento e
regularidade da calçada". Essa tarefa aconteceu no mandato como governador
civil do Porto do visconde de Gouveia.
Depois de devidamente alinhada e
regularizada, a Calçada da Natividade transformou-se rapidamente numa das mais
movimentadas artérias do Porto, marcada especialmente por uma intensa atividade
comercial.
Aí pelos finais do século XIX, ao fundo da
Rua dos Clérigos, mesmo à esquina da Rua do Almada, era normal encontrarem-se,
encostados à parede da “Tabacaria Freitas & Azevedo”, meia dúzia de homens
de longo varapau na mão, envergando elegantes capotes azuis e cor de pinhão com
guarnições encarnadas. Eram os galegos que aguardavam a oportunidade de serem
contratados para o transporte das célebres cadeirinhas em que a dama era levada
ao Teatro de S. João ou a uma das igrejas da cidade, ao senhor exposto.
Por essa época, quem subisse a rua deparava,
à direita, com uma fiada de estabelecimentos modernos, de vincada feição
citadina, com predominância para os luveiros; bazares de brinquedos; casas de
roupa a puxar para o requinte da moda parisiense; pomares que exibiam o que de
melhor, em termos de frutas, se produzia no Minho e no Douro.
Do lado esquerdo, o ambiente era totalmente
diferente. Nas lojas deste lado respirava-se, digamos assim, um ambiente
tipicamente aldeão. Era desta banda que ficavam os carapuceiros. Quem andasse
no passeio deste lado ou entrasse nos estabelecimentos ali existentes tinha a
sensação de andar a passear numa qualquer dessas aldeias dos arredores do
Porto, tantos eram os homens e mulheres das aldeias que por ali cirandavam na
compra de artigos que lhes eram necessários para seu uso diário ou domingueiro.
O comércio daquele tempo modernizava-se. As
lojas, em contraste com os tugúrios fundos e mal iluminados do passado, eram
amplas, arejadas e bem iluminadas. Mas havia costumes que prevaleciam
inalteráveis e que nenhum modernismo vencia. Entre esses, estava o da exposição
dos artigos nos passeios.
Do alto das portas dos estabelecimentos,
nomeadamente dos que funcionavam no tal lado esquerdo, expunham-se xailes, cobertores,
mantas matizadas, peças de pano-cru, carapuças, samarras com gola de pele de
coelho.
Um dia, já nos primeiros tempos da República,
quiseram mudar o nome à rua. Numa reunião camarária realizada no dia 20 de
abril de 1911, um vereador propôs (imagine-se!) que se mudasse o nome da Rua
dos Clérigos para o de Ferrer. Foi o bom e o bonito. Os comerciantes dos
Clérigos, em uníssono, protestaram. Que não. Não queriam a mudança.
Mas esta solidariedade, ou unanimidade de
vontades, não existiu, alguns anos atrás, em novembro de 1902, quando os
comerciantes da cidade comemoraram o primeiro aniversário da instituição do
preço fixo - aspiração antiga dos retalhistas do Porto. Com efeito, nos
Clérigos, só os lojistas do tal lado esquerdo é que tomaram a iniciativa de
assinalar o aniversário, oferecendo valiosos brindes aos clientes que nesse dia
fizeram compras nos estabelecimentos. E mais: ofereceram "um pantagruélico
e substancial almoço" (cada um custou 160 réis) a duzentos pobres da
cidade.
Mas os Clérigos, como normalmente se diz
quando nos queremos referir à rua em questão, não se distinguiram somente pelo
comércio. Foram também local de recreio, de paradas e desfiles. Nos começos do
século XX, era o local predileto de uma certa rapaziada janota e literata para
os seus passeios e devaneios amorosos. Muitos deles, depois da "volta dos
tristes", rua acima, rua abaixo, acabavam o dia no Mercado do Anjo a
di-rigir piropos ou a recitar madrigais às lindas vendedeiras de frutas, de
flores e de hortaliças, de entre as quais sobressaíam a Maria Pequena, a Maria
Inglesa e a Corada, cujas formosuras, naquele tempo, arrancavam profundos
suspiros aos estudantes da Academia.
Na 2ª metade do séc. XIX, em loja de prédio
na esquina da Rua dos Clérigos e a Rua do Almada ficava “ O Lino”, casa de
comércio de artigos para desporto, caça e pesca, à porta da qual parava uma
tertúlia de gente afamada como: António Bernardo Ferreira, dos Ferreirinhas,
Camilo Castelo Branco, Cristiano e Manuel Van Zeller, Delfim de Lima ligado ao
Asilo do Terço, Manuel Pedro Guedes, dos Guedes da Aveleda, etc e, logo acima
do Lino a “Tabacaria Freitas e Azevedo”.
Do outro lado em frente na esquina com o Largo
dos Lóios havia a livraria “Moré”. Todas eram locais de tertúlia de juízes,
jornalistas, homens das artes e das letras, cujo gerente era o Gomes Monteiro e
tinha por empregado o francês Ernesto Chardron.
Chardron iria mais tarde estabelecer-se ao
cimo da Rua dos Clérigos.
No espaço da Moré esteve mais tarde instalada
a Camisaria Central”.
Cortesia de Germano
Silva
Perspectiva obtida
sobre o começo da Rua dos Clérigos, junto do Largo dos Lóios
À esquerda da foto
acima no 4º toldo, no sentido descendente, era o Lino e no 3º toldo, a
Tabacaria Freitas & Azevedo. Por sua vez, na esquina próxima do edifício
das Cardosas esteve a livraria Moré. Hoje em dia, na área contígua a esta, onde
está a Farmácia Vitália, esteve antes de 1933, a filial do Banco Comercial do
Porto.
Diga-se, entretanto,
que a outra esquina do Palacete das Cardosas onde em tempos esteve o Café
Astória, ainda tinha, em 1925, no espaço que lhe era contíguo, instalada a
dependência no Porto do Banco Angola e Metrópole, do célebre Alves dos Reis, em
cujos cofres, uns inspectores detectaram duas notas de banco de 500 escudos com
o mesmo número de série, pondo a descoberto a maior falsificação de sempre, em
Portugal.
O passeio ocupado pelos
carapuceiros
Na foto acima
observa-se o material dos carapuceiros, em exposição, junto das portas dos
estabelecimentos.
Naquele espaço
fronteiro à fachada da Igreja dos Clérigos, entre esta rua e as da Assunção,
São Filipe de Néri, Carmelitas e da moderna Rua do Conde de Vizela (antiga Rua
do Correio), fez-se, durante muitos anos, uma interessante e muito perfumada
feira de flores.
Rua dos Clérigos em
1905
Foi após o
desabamento ocorrido junto à igreja dos Clérigos, no dia 23 de Dezembro de 1787,
das oito para as nove horas da noite, de um tramo da muralha da cidade, numa
extensão de 29 metros, que as autoridades da cidade resolvessem solicitar à
rainha a demolição da restante muralha que delimitava a sul a Calçada da
Natividade.
Obtida a respectiva
autorização, foi possível começar a edificar nessa frente do arruamento.
«As demolições começariam a partir de 1787.
Nesse ano, o Presidente da Junta pediria para Lisboa a autorização necessária
para ser apeada a muralha do “lado meridional” da Rua dos Clérigos, não só
porque ameaçava ruína, mas também porque permitiria o seu alinhamento… O
derrube da muralha do lado Sul da Rua dos Clérigos, permitiria, para além do
alinhamento referido, abrir uma rua que faria a comunicação entre aquela rua e
a chamada Rua de Trás. A rainha autorizou os proprietários possuidores de casas
encostadas à muralha, ou a ela contíguas que pudessem “adianta-las e crescer
com ellas até o alinhamento regular da referida rua; sujeitamdo-se eles a fazer
as frentes que para ela ficarem segundo o prospecto, e plano aprovado e posto
em execução nas outras propriedades situadas na mesma rua”. A área demolida não
se confinaria só ao lado sul da Rua dos Clérigos. Foi autorizado o apeamento da
muralha desde a Porta dos Carros até à Igreja dos Clérigos."
In “O Porto na Época
dos Almadas” de Joaquim Jaime B. Ferreira Alves
Sobre o texto
anterior, é de referir que João de Almada e Melo tinha falecido no ano anterior
(1786) à tomada de decisão de se proceder ao derrube da muralha naquele local e
que José Roberto Vidal da Gama (governador da Relação do Porto de 1786 a 1790)
era o novo presidente e inspector das Obras Públicas da cidade, que entendeu
dirigir o convite ao arquitecto e engenheiro militar José Champalimaud de
Nussane para ser director das Obras Públicas.
Iniciada a demolição
da muralha no final da década de oitenta e aprovado o projecto para o lado Sul
da Rua dos Clérigos, em 1792, três anos depois parte da nova frente urbana já
estava construída pelos particulares e encontravam-se os prédios habitados.
A Calçada dos Clérigos
foi desenhada pelo arquitecto Teodoro de Sousa Maldonado que trabalhou para a
Junta das Obras Públicas entre 1789 e 1792. Dada a sua competência, foi nomeado
o primeiro arquitecto da cidade em 1792. Desenhou e executou várias importantes
obras, dentre as quais se destaca, fora a referida calçada, a Rua de Santo
António e a Rua da Boavista. Faleceu em 1799.
Como atrás ficou
expresso a tarefa de alinhar a Calçada da Natividade, depois, Rua dos Clérigos
só ficaria totalmente concluída no tempo em que o visconde de Gouveia foi
governador civil do Porto.
De facto, esta
personagem foi o 2º visconde de Gouveia, de seu nome completo, José Freire de
Serpa Pimentel (1814-1870) que, para além de governador civil do Porto foi
poeta, licenciado em Direito e juiz desembargador em Lisboa e no Porto. A ele
se deve, desde 1860, a ordenação dos números de polícia das habitações de tal
modo que as portas fossem ímpares de um lado de cada rua e pares do outro lado.
Este sistema de
numeração foi depois adoptado em Lisboa e noutras cidades.
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