segunda-feira, 24 de julho de 2017

(Continuação 14)





Já foi a Rua dos Quartéis e seguidamente Rua do Triunfo (devido às lutas liberais)





Planta com Rua dos Quartéis e Paço do Morais e Castro


Legenda:

1. Rua da Boa Nova
2. Paço do Morais e Castro
3. Rua do Rosário
4. Hospital Santo António
5. Rua dos Carrancas
6. Rua dos Quartéis
7. Rua de Vilar
8. Rua da Bandeirinha
9. Quartéis
10. Largo da Torre da Marca



Na planta anterior verifica-se, imediatamente, que a Rua da Restauração ainda não está aberta e, como é lógico, nem o Palácio de Cristal, nem a Rua de Júlio Dinis existem, e por uma consulta mais atenta a essa famosa Planta Redonda de George Balck (editada em 1813), podemos observar a Rua dos Quartéis e respectivas imediações, nesse primeiro quartel do século XIX, e muitos outros pormenores interessantes.
A primeira coisa que salta à vista, é a ausência de edifícios do Vilar à embocadura da Rua do Rosário, sendo a única construção que o mapa indica, o conhecido quartel.
Em direcção às actuais ruas de Alberto Aires de Gouveia (que, por esta altura, se chamava dos Carrancas ou Carranca, na versão de Balck, por nela viver a família com este apelido, os Morais e Castro) e da Bandeirinha, estendiam-se campos e quintas. E o mesmo cenário rural se prolongava, nas traseiras do edifício militar, até Monchique, já que não fora ainda aberta a Rua da Restauração.
Em sentido oposto, para o lado das ruas do Vilar e de Entre Quintas, rasgava-se o campo, ou largo, da Torre da Marca, rodeado por uma série de quintas, mais tarde, parcialmente sacrificadas à construção do Palácio de Cristal inaugurado, em 1865, com a Exposição Internacional do Porto.
Na carta de Balck, a já citada Rua da Boa Nova prolonga-se pela da Carvalhosa que, por sua vez, se estende até ao Largo do Priorado, englobando as actuais ruas da Maternidade, da Boa Hora e de Aníbal Cunha. E, em frente ao quartel, do lado oposto da então Rua dos Quartéis, abre-se um caminho sinuoso, correspondendo à rua que foi a Rua do Pombal e é, agora, de Adolfo Casais Monteiro.
A actual Rua D. Manuel II foi aberta ao longo de um caminho que, em tempos bastante recuados, saía da porta do Olival, na Cordoaria, prosseguia pelas ruas de Vilar, Rainha D. Estefânia e Campo Alegre, até à Foz e Matosinhos. 




Museu Soares dos Reis




Palácio dos Carrancas, depois Paço Real e, finalmente, Museu Soares dos Reis



Na foto acima, em destaque, o edifício do que viria a ser o Museu Nacional Soares dos Reis e, ao fundo, à direita, o local onde agora são as novas instalações do hospital de Santo António.
De notar a linha de árvores, a meio da rua, em frente ao palácio. Esse renque de árvores, hoje, já não existe.
Em frente ao palácio, ficava o horto de Alfredo Moreira da Silva, um conhecido botânico da cidade.
Soares dos Reis foi professor, desde 1881, na Academia Portuense de Belas Artes do Porto (a funcionar, à data, no antigo convento, a S. Lázaro) e foi um importante escultor.
Nascido em 1847, em V. N. de Gaia, em 16 de Fevereiro de 1889, Soares dos Reis suicida-se, no seu “atelier”, onde escreveu na parede: “Sou cristão, porém, nestas condições, a vida para mim é insuportável. Peço perdão a quem ofendi injustamente, mas não perdoo a quem me fez mal”.

 
O Palácio dos Carrancas é um edifício construído na segunda metade do século XVIII (1795) para residência da família de Morais e Castro, conhecida como a família dos Carrancas. Nunca foi apurada ao certo a razão do nome, algo grotesco, que o palácio assumiu. Pretendem, alguns, que a designação decorra do facto de os pais dos seus primeiros proprietários terem habitado a Rua dos Carrancas (depois, da Liberdade e, hoje, Rua de Alberto Aires de Gouveia), onde possuíam uma indústria de passamanaria, especializada no fabrico de galões de ouro. Outros acreditam que "Carranca" era a alcunha deste abastado industrial, Luís de Almeida Morais e que, a rua homónima, herdou a designação do seu desagradável sobrenome.
 
 
“O palácio da rua dos Quartéis (hoje do Triunfo) foi construído em 1795, e chamou-se dos Carrancas por naquela rua habitarem os seus fundadores Manoel e Isidoro Mendes de Moraes e Castro, barões de Nevogilde. Por morte destes, o palácio ficou pertencendo a Henrique José Mendes de Moraes e Castro, 3º barão de Nevogilde. Falecendo este, passou a sua sobrinha D. Carlota Rita Borges de Moraes e Castro, casada com seu primo Luiz de Almeida Moraes e Castro, que deste consorcio tiveram um filho, David Augusto Borges de Alvim Moraes e Castro, casado com D. Sibilina da Gloria Pinto da Fonseca Rangel e Castro”.
Firmino Pereira, In “O Porto d’Outros Tempos” (1914)
 
 
 
O conjunto edificado original era constituído por quatro partes: o palácio propriamente dito, com três pisos e águas furtadas, em forma de U; as galerias, com um piso que pro­longa os dois braços e que estão ligadas por uma terceira galeria transversal; o pátio central contido pelo edifício; e, finalmente, um espaço livre, com cerca de um hectare, nas traseiras, que na viragem para o século XX viu aí ser construído, um velódromo.
O arquitecto escolhido para desenhar este palácio é Lima Sampaio que desenhou a Feitoria Inglesa e que acompanhou a construção do Hospital de Santo António, tudo construções de estilo Neo-clássico.
Ao longo das primeiras décadas do século XIX, o Palácio dos Carrancas desempenhou papel de relevo e acolheu hóspedes significativos. Por ocasião das invasões francesas, foi primeiro habitado pelo general Soult e, depois, pelos comandantes ingleses Wellesley e Beresford.
Durante o Cerco do Porto, D. Pedro IV instalou aqui o seu quartel-general, mas viu-se obrigado a abandonar o palácio por este se encontrar demasiado exposto ao fogo dos miguelistas, aquartelados em Vila Nova de Gaia.
Por outro lado, a família real portuguesa não tinha uma residência oficial no Porto, pelo que, quando nos visitava, ficava no Paço Episcopal.
Assim, em 25/6/1861, D. Pedro V comprou o Palácio dos Carrancas por 35 contos de reis que passaria a funcionar como Paço Real. 
Já vivendo neste palácio, o jovem rei, D. Pedro V, esteve no Porto no lançamento da primeira pedra do Palácio de Cristal, em 24/8/1861.
Após a implantação da República, D. Manuel II exilou-se e o palácio esteve provisoriamente encerrado.
A 6 de Março de 1917, foi anunciado que o rei destituído, D. Manuel II, ofereceu ao governo o seu palácio dos Carrancas, para ser usado como hospital de guerra.
O rei deposto haveria de oferecê-lo, mais tarde, à Misericórdia do Porto, para que esta instituição aí instalasse um hospital para crianças, num documento só conhecido em 1932, aquando da morte do rei.
Entretanto, o chamado Museu Portuense ou Ateneu D. Pedro, tinha sido criado em 1833, por Pedro IV de Portugal, para ser instalado no edifício do Convento de Santo António da Cidade actual edifício da Biblioteca Pública Municipal do Porto, em Santo Ildefonso.
Em 12 de Setembro de 1836, seria assegurada definitivamente a existência do Museu, por Decreto do governo de Passos Manuel, com a designação de “Museu de Pinturas, Estampas e outros objectos de Bellas Artes”.
Em 1905, recebeu o contributo das peças vindas do Museu Municipal ou Museu Allen ou Museu da Restauração, fundado em 1836 por João Allen, na Rua da Restauração
Em 1848, morria o seu fundador e, em 1850, o Município comprou as colecções e o edifício do Museu que foi reaberto em 1852 e, aí, se conservou até 1905, quando foi instalado em S. Lázaro juntamente com o Museu Portuense.
Em 1911, o Museu Portuense ganhou o nome de Soares dos Reis, em homenagem aquele escultor portuense. Grande parte do espólio do escultor faz parte da colecção do Museu, sendo, talvez, a obra mais emblemática, a escultura em mármore de nome “O Desterrado”.
Em 1932, o Museu Soares dos Reis passa a ter estatuto de Nacional.
Voltando ao Palácio dos Carrancas, em 1937, o Estado adquiriu-o à Santa Casa de Misericórdia do Porto, vindo a ser inaugurado como museu, cinco anos mais tarde, em 1942.
Na prática, para que a instalação do museu fosse possível, Vasco Valente, director do Museu Nacional Soares dos Reis (instalado, desde 1833, em péssimas condições, no edifício de Santo António da Cidade, em S. Lázaro), teve um papel fundamental, iniciando negociações com o Estado e a Misericórdia, para transferência do museu para o Palácio devoluto.
O Dr. Domingos Braga da Cruz, Provedor da Misericórdia em Julho de 1963, chegou a afirmar que o Estado, pelo Dec. Lei nº. 27878 de 21/7/1937,  tinha expropriado o palácio à S. C. da Misericórdia, para lá instalar o Museu Soares dos Reis.
Como compensação pela transferência da propriedade, a SCMP acabaria, na realidade, por receber 2.264.000$00.
Começadas as obras de adaptação do novo edifício em 1940, com projecto do engenheiro Fernandes Sá, o museu seria inaugurado em 1942.
 
 
 
“À luz da museologia da época, o edifício adequava-se na perfeição à função de museu: qualidade arquitectónica, estilo neoclássico e tradição histórica.
Sob a orientação do Engº Fernandes Sá, iniciam-se as obras de adaptação, a cargo da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
À época, as alterações mais notáveis consistiram na transformação das oficinas da antiga fábrica em galerias com iluminação zenital, destinada à pintura, assim como, a criação de uma galeria de escultura, para alojar a obra de Soares dos Reis”.
Fonte: Site do Museu Nacional Soares dos Reis
 
 
 
Com excepção de algumas intervenções de pormenor, o Museu é apenas alvo de transformação maior a partir de 1992: projecto de remodelação e expansão da autoria do arquitecto Fernando Távora. Decorrendo a um ritmo lento, o projecto é concretizado em Julho de 2001, dentro da realização do Porto, Capital Europeia da Cultura. 
O acervo do museu foi constituído, na sua origem, pelas colecções do Museu Portuense e do Museu Municipal do Porto (antiga colecção Allen - Museu Allen) a que se acrescentaram doações e aquisições posteriores.
O Museu Soares dos Reis seria, assim, o sucessor final do Museu de Pinturas e Estampas, instituído por D. Pedro IV.
 
 
"Com a designação de Museu Portuense de Pinturas e Estampas, instalou-se no Convento de Santo António, na zona oriental da cidade (Jardim de S. Lázaro), sob direcção do pintor João Baptista Ribeiro. Seguia um programa cultural e pedagógico inovador, de apoio aos artistas da Academia Portuense de Belas Artes e divulgação da arte mediante a organização de exposições públicas. Foi confirmado por D. Maria II em 1836, no âmbito das reformas da instrução pública levadas a cabo pelo ministro Passos Manuel.
Em 1839 o acervo do Museu transitou para a direcção da Academia Portuense de Belas-Artes, o que levou a um fortalecimento da relação entre o museu e o ensino artístico no século XIX. O contributo da galeria de S. Lázaro consistia na organização das exposições trienais que tiveram como resultado a reunião de pintura e escultura do Porto oitocentista. Esta colecção forma uma das partes mais consistentes do acervo documentando o retrato, a cena de costumes e a paisagem de influência naturalistaNo âmbito das reformas institucionais da República em 1911, com uma política museológica descentralizada e tendente à especialização, inscreve-se a criação do Museu Soares dos Reis, evocativo do primeiro pensionista do Estado em escultura pela Academia Portuense de Belas Artes: António Soares dos Reis, o célebre autor do Desterrado.
Com o Estado Novo valoriza-se a conservação do património e acentua-se o papel do museu como lugar de memória de toda uma nação que se quer forte e coesa. É neste sentido que em 1932 o museu centenário adquire o estatuto de Museu Nacional, o que lhe vai proporcionar a independência face à tutela académica e a expansão patrimonial”
Site do Museu Nacional Soares dos Reis



Os Quartéis


“Poucos anos após o levantamento do cerco miguelista, mais precisamente em 1838, a Câmara do Porto, evocando a vitória liberal, determinou que a Rua dos Quartéis, hoje de D. Manuel II, passasse a ostentar a designação de Rua do Triunfo. O topónimo então despromovido - Rua dos Quartéis - tivera origem num conjunto de edifícios destinados a aquartelamento militar que ali haviam sido erguidos pelos finais do século XVII.
Em frente do Museu encontra-se, então, o antigo quartel do Regimento de Infantaria 6, que foi também de Metralhadoras 3 e do C.I.C.A.P, actualmente ocupado pelo Hospital de Santo António e pela Universidade do Porto.
À excepção de um portal de granito - cujo estilo tem fundamentado a presunção de que a obra remonta ao século XVII -, pouco resta destes primitivos quartéis, substituídos pelo actual edifício da Reitoria da Universidade do Porto, onde esteve sedeado, desde o início de oitocentos, o Regimento de Infantaria 6.
Nos anos que antecederam o Cerco do Porto, de 1829 a meados de 1832, o governo miguelista instalou aqui o Regimento de Infantaria 19, depois novamente substituído pelo anterior, que só veio a ceder o edifício, já neste século, ao Batalhão de Metralhadoras 3. Quando se deu o 25 de Abril de 1974, o imóvel acolhia o Centro de Instrução de Condução Auto, ou CICAP, como ficou popularmente conhecido no Verão de 1975, quando esta unidade se aliou ao RASP (Regimento de Artilharia da Serra do Pilar) numa revolta contra o Comando da Região Militar Norte, então assegurado por Pires Veloso”.
Fonte: Site “portoxxi.com”


Vindo de Coimbra, onde se encontrava instalado, a partir de Outubro de 1872, o Regimento de Infantaria 10 fixou-se nas instalações da Torre da Marca, tendo vindo a abandoná-las quando foi extinto, por ter participado na malograda revolta do 31 de Janeiro de 1891.
Não se sabe desde quando foram construídos os edifí­cios onde funciona­ram os quartéis da Torre da Marca - nome que se dava aos terrenos que ficavam nas proximidades da baliza de que os navios se ser­viam para orientar a sua entrada no rio Douro.
Hen­rique Duarte e Sousa Reis, um dos maiores historia­dores do Porto que viveu no século XIX, aponta o sé­culo XVII, de cuja época será o portão que ainda está no local que outrora foi a entrada principal dos quartéis. Mas o mais pro­vável é que a fundação da­quelas casernas seja do século XVIII, da altura em que o famoso marquês de Pombal mandou reorgani­zar toda a guarnição militar da cidade. Sabemos que, antes disso, em 1696, por iniciativa de D. Pedro II foi estabelecido no Porto um terço de Infantaria. Mas não se sabe onde ficava esse aquartelamento. 




Quartel



Indirectamente, deve-se ao Palácio dos Carrancas a atribuição do nome de D. Manuel II à Rua do Triunfo, já que foi por este o ter cedido graciosamente, bem como pelo facto de o ter habitado quando se deslocava ao Porto, que a autarquia decidiu prestar-lhe esta homenagem toponímica.



D. Manuel II na varanda do palácio

A foto acima foi tirada durante a visita ao Porto, em Novembro de 1908, de D. Manuel II e de sua mãe D. Amélia e nela, D. Manuel II agradece à multidão, numa varanda do Palácio dos Carrancas. Vêem-se muito bem os armazéns do Hospital de Santo António e a chaminé da caldeira. Mais ao fundo as traseiras da ala frontal e a Torre dos Clérigos.





Palácio de Cristal 



O Palácio de Cristal foi um edifício que existiu no antigo Campo da Torre da Marca, na freguesia de Massarelos. O primeiro Palácio de Cristal foi começado a construir em 1861 e demolido em 1951 e compreendia na sua envolvente uma extensa área ajardinada.


PAVILHÃO ROSA MOTA (construído em 1954) nos jardins do Palácio de Cristal. 

2 comentários:

  1. A minha vénia ao(s) autor(es) desta recolha histórica, o meu agradecimento pelo investimento de pesquisa feito, o qual melhor permitirá a compreensão do que hoje somos.
    Presumo que todos estes artigos estejam devidamente salvaguardados e do conhecimento de quem de direito.
    Obrigado em nome da minha geração e das gerações futuras.
    Jorge Dias

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    1. Muito obrigado pelas amavéis palavras. Procuraremos não desmerecer.

      Américo Conceição

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