Já foi a Rua dos Quartéis e seguidamente Rua do Triunfo
(devido às lutas liberais)
Planta com Rua dos Quartéis e
Paço do Morais e Castro
Legenda:
1. Rua da Boa Nova
2. Paço do Morais e Castro
3. Rua do Rosário
4. Hospital Santo António
5. Rua dos Carrancas
6. Rua dos Quartéis
7. Rua de Vilar
8. Rua da Bandeirinha
9. Quartéis
10. Largo da Torre da Marca
Na planta anterior verifica-se, imediatamente, que a Rua da Restauração
ainda não está aberta e, como é lógico, nem o Palácio de Cristal, nem a Rua de
Júlio Dinis existem, e por uma consulta mais atenta a essa famosa Planta Redonda de
George Balck (editada em 1813), podemos observar a Rua dos Quartéis e respectivas
imediações, nesse primeiro quartel do século XIX, e muitos outros pormenores interessantes.
A primeira coisa que salta à vista, é a ausência de edifícios
do Vilar à embocadura da Rua do Rosário, sendo a única construção que o mapa
indica, o conhecido quartel.
Em direcção às actuais ruas de Alberto Aires de Gouveia (que,
por esta altura, se chamava dos Carrancas ou Carranca, na versão de
Balck, por nela viver a família com este apelido, os Morais e Castro) e da
Bandeirinha, estendiam-se campos e quintas. E o mesmo cenário rural se
prolongava, nas traseiras do edifício militar, até Monchique, já que não fora
ainda aberta a Rua da Restauração.
Em sentido oposto, para o lado das ruas do Vilar e de Entre
Quintas, rasgava-se o campo, ou largo, da Torre da Marca, rodeado por uma série
de quintas, mais tarde, parcialmente sacrificadas à construção do Palácio de
Cristal inaugurado, em 1865, com a Exposição Internacional do Porto.
Na carta de Balck, a já citada Rua da Boa Nova prolonga-se
pela da Carvalhosa que, por sua vez, se estende até ao Largo do Priorado,
englobando as actuais ruas da Maternidade, da Boa Hora e de Aníbal Cunha. E, em
frente ao quartel, do lado oposto da então Rua dos Quartéis, abre-se um caminho
sinuoso, correspondendo à rua que foi a Rua do Pombal e é, agora, de Adolfo
Casais Monteiro.
A actual Rua D. Manuel II foi aberta ao longo de um caminho
que, em tempos bastante recuados, saía da porta do Olival, na Cordoaria,
prosseguia pelas ruas de Vilar, Rainha D. Estefânia e Campo Alegre, até à Foz e
Matosinhos.
Museu Soares dos Reis
Palácio dos Carrancas, depois Paço Real e, finalmente, Museu Soares dos Reis
Na foto acima, em destaque, o edifício do que viria a ser o
Museu Nacional Soares dos Reis e, ao fundo, à direita, o local onde agora são
as novas instalações do hospital de Santo António.
De notar a linha de árvores, a meio da rua, em frente ao
palácio. Esse renque de árvores, hoje, já não existe.
Em frente ao palácio, ficava o horto de Alfredo Moreira da
Silva, um conhecido botânico da cidade.
Soares dos Reis foi professor, desde 1881, na Academia
Portuense de Belas Artes do Porto (a funcionar, à data, no antigo convento, a
S. Lázaro) e foi um importante escultor.
Nascido em 1847, em V. N. de Gaia, em 16 de Fevereiro de
1889, Soares dos Reis suicida-se, no seu “atelier”, onde escreveu na parede: “Sou cristão, porém, nestas condições, a
vida para mim é insuportável. Peço perdão a quem ofendi injustamente, mas não
perdoo a quem me fez mal”.
O Palácio dos Carrancas é um edifício construído na segunda
metade do século XVIII (1795) para residência da família de Morais e Castro,
conhecida como a família dos Carrancas. Nunca foi apurada ao certo a razão do
nome, algo grotesco, que o palácio assumiu. Pretendem, alguns, que a designação
decorra do facto de os pais dos seus primeiros proprietários terem habitado a
Rua dos Carrancas (depois, da Liberdade e, hoje, Rua de Alberto Aires de
Gouveia), onde possuíam uma indústria de passamanaria, especializada no fabrico
de galões de ouro. Outros acreditam que "Carranca" era a alcunha
deste abastado industrial, Luís de Almeida Morais e que, a rua homónima, herdou
a designação do seu desagradável sobrenome.
“O palácio da rua dos Quartéis (hoje do
Triunfo) foi construído em 1795, e chamou-se dos Carrancas por naquela rua
habitarem os seus fundadores Manoel e Isidoro Mendes de Moraes e Castro, barões
de Nevogilde. Por morte destes, o palácio ficou pertencendo a Henrique José
Mendes de Moraes e Castro, 3º barão de Nevogilde. Falecendo este, passou a sua
sobrinha D. Carlota Rita Borges de Moraes e Castro, casada com seu primo Luiz
de Almeida Moraes e Castro, que deste consorcio tiveram um filho, David Augusto
Borges de Alvim Moraes e Castro, casado com D. Sibilina da Gloria Pinto da
Fonseca Rangel e Castro”.
Firmino Pereira, In
“O Porto d’Outros Tempos” (1914)
O conjunto edificado original era constituído por quatro
partes: o palácio propriamente dito, com três pisos e águas furtadas, em forma
de U; as galerias, com um piso que prolonga os dois braços e que estão ligadas
por uma terceira galeria transversal; o pátio central contido pelo edifício; e,
finalmente, um espaço livre, com cerca de um hectare, nas traseiras, que na
viragem para o século XX viu aí ser construído, um velódromo.
O arquitecto escolhido para desenhar este palácio é Lima
Sampaio que desenhou a Feitoria Inglesa e que acompanhou a construção do
Hospital de Santo António, tudo construções de estilo Neo-clássico.
Ao longo das primeiras décadas do século XIX, o Palácio dos
Carrancas desempenhou papel de relevo e acolheu hóspedes significativos. Por
ocasião das invasões francesas, foi primeiro habitado pelo general Soult e,
depois, pelos comandantes ingleses Wellesley e Beresford.
Durante o Cerco do Porto, D. Pedro IV instalou aqui o seu
quartel-general, mas viu-se obrigado a abandonar o palácio por este se
encontrar demasiado exposto ao fogo dos miguelistas, aquartelados em Vila Nova
de Gaia.
Por outro lado, a
família real portuguesa não tinha uma residência oficial no Porto, pelo que,
quando nos visitava, ficava no Paço Episcopal.
Assim, em 25/6/1861,
D. Pedro V comprou o Palácio dos Carrancas por 35 contos de reis que passaria a
funcionar como Paço Real.
Já vivendo neste palácio,
o jovem rei, D. Pedro V, esteve no Porto no lançamento da primeira pedra do
Palácio de Cristal, em 24/8/1861.
Após a implantação
da República, D. Manuel II exilou-se e o palácio esteve provisoriamente
encerrado.
A 6 de Março de
1917, foi anunciado que o rei destituído, D. Manuel II, ofereceu ao governo o
seu palácio dos Carrancas, para ser usado como hospital de guerra.
O rei deposto
haveria de oferecê-lo, mais tarde, à Misericórdia do Porto, para que esta instituição aí instalasse um
hospital para crianças, num documento só conhecido em 1932, aquando da morte do
rei.
Entretanto, o
chamado Museu Portuense ou Ateneu D. Pedro, tinha sido criado em
1833, por Pedro IV de Portugal, para ser instalado no edifício do Convento de
Santo António da Cidade actual edifício da Biblioteca Pública Municipal do
Porto, em Santo Ildefonso.
Em 12 de Setembro de
1836, seria assegurada definitivamente a existência do Museu, por Decreto do
governo de Passos Manuel, com a designação de “Museu de Pinturas, Estampas e
outros objectos de Bellas Artes”.
Em 1905, recebeu o
contributo das peças vindas do Museu Municipal ou Museu Allen ou Museu
da Restauração, fundado em 1836 por João Allen, na Rua da Restauração
Em 1848, morria o
seu fundador e, em 1850, o Município comprou as colecções e o edifício do Museu
que foi reaberto em 1852 e, aí, se conservou até 1905, quando foi instalado em
S. Lázaro juntamente com o Museu Portuense.
Em 1911, o Museu
Portuense ganhou o nome de Soares dos Reis, em homenagem aquele escultor
portuense. Grande parte do espólio do escultor faz parte da colecção do Museu,
sendo, talvez, a obra mais emblemática, a escultura em mármore de nome “O
Desterrado”.
Em 1932, o Museu
Soares dos Reis passa a ter estatuto de Nacional.
Voltando ao Palácio
dos Carrancas, em 1937, o Estado adquiriu-o à Santa Casa de Misericórdia do
Porto, vindo a ser inaugurado como museu, cinco anos mais tarde, em 1942.
Na prática, para que a instalação do museu fosse possível, Vasco
Valente, director do Museu Nacional Soares dos Reis (instalado, desde 1833, em
péssimas condições, no edifício de Santo António da Cidade, em S. Lázaro), teve
um papel fundamental, iniciando negociações com o Estado e a Misericórdia, para
transferência do museu para o Palácio devoluto.
O Dr. Domingos Braga
da Cruz, Provedor da Misericórdia em Julho de 1963, chegou a afirmar que o
Estado, pelo Dec. Lei nº. 27878 de 21/7/1937,
tinha expropriado o palácio à S. C. da Misericórdia, para lá instalar o
Museu Soares dos Reis.
Como compensação
pela transferência da propriedade, a SCMP acabaria, na realidade, por receber
2.264.000$00.
Começadas as obras
de adaptação do novo edifício em 1940, com projecto do engenheiro Fernandes Sá,
o museu seria inaugurado em 1942.
“À luz da
museologia da época, o edifício adequava-se na perfeição à função de museu:
qualidade arquitectónica, estilo neoclássico e tradição histórica.
Sob a orientação
do Engº Fernandes Sá, iniciam-se as obras de adaptação, a cargo da Direcção
Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
À época, as alterações
mais notáveis consistiram na transformação das oficinas da antiga fábrica em
galerias com iluminação zenital, destinada à pintura, assim como, a criação de
uma galeria de escultura, para alojar a obra de Soares dos Reis”.
Fonte: Site do Museu Nacional
Soares dos Reis
Com excepção de algumas intervenções de pormenor, o Museu é apenas alvo
de transformação maior a partir de 1992: projecto de remodelação e expansão da
autoria do arquitecto Fernando Távora. Decorrendo a um ritmo lento, o projecto
é concretizado em Julho de 2001, dentro da realização do Porto, Capital
Europeia da Cultura.
O acervo do museu
foi constituído, na sua origem, pelas colecções do Museu Portuense e do
Museu Municipal do Porto (antiga colecção Allen - Museu Allen) a que se acrescentaram
doações e aquisições posteriores.
O Museu Soares dos
Reis seria, assim, o sucessor final do Museu de Pinturas e Estampas, instituído
por D. Pedro IV.
"Com a
designação de Museu Portuense de Pinturas e Estampas, instalou-se no Convento
de Santo António, na zona oriental da cidade (Jardim de S. Lázaro), sob
direcção do pintor João Baptista Ribeiro. Seguia um programa cultural e
pedagógico inovador, de apoio aos artistas da Academia Portuense de Belas Artes
e divulgação da arte mediante a organização de exposições públicas. Foi
confirmado por D. Maria II em 1836, no âmbito das reformas da instrução pública
levadas a cabo pelo ministro Passos Manuel.
Em 1839 o acervo
do Museu transitou para a direcção da Academia Portuense de Belas-Artes, o que
levou a um fortalecimento da relação entre o museu e o ensino artístico no
século XIX. O contributo da galeria de S. Lázaro consistia na organização das
exposições trienais que tiveram como resultado a reunião de pintura e escultura
do Porto oitocentista. Esta colecção forma uma das partes mais consistentes do
acervo documentando o retrato, a cena de costumes e a paisagem de influência
naturalista…No âmbito das
reformas institucionais da República em 1911, com uma política museológica
descentralizada e tendente à especialização, inscreve-se a criação do Museu
Soares dos Reis, evocativo do primeiro pensionista do Estado em escultura pela
Academia Portuense de Belas Artes: António Soares dos Reis, o célebre autor do
Desterrado.
Com o Estado Novo
valoriza-se a conservação do património e acentua-se o papel do museu como
lugar de memória de toda uma nação que se quer forte e coesa. É neste sentido
que em 1932 o museu centenário adquire o estatuto de Museu Nacional, o que lhe
vai proporcionar a independência face à tutela académica e a expansão
patrimonial”
Site do Museu
Nacional Soares dos Reis
Os Quartéis
“Poucos anos após o
levantamento do cerco miguelista, mais precisamente em 1838, a Câmara do Porto,
evocando a vitória liberal, determinou que a Rua dos Quartéis, hoje de D.
Manuel II, passasse a ostentar a designação de Rua do Triunfo. O topónimo então
despromovido - Rua dos Quartéis - tivera origem num conjunto de edifícios
destinados a aquartelamento militar que ali haviam sido erguidos pelos finais
do século XVII.
Em frente do Museu
encontra-se, então, o antigo quartel do Regimento de Infantaria 6, que foi
também de Metralhadoras 3 e do C.I.C.A.P, actualmente ocupado pelo Hospital de
Santo António e pela Universidade do Porto.
À excepção de um
portal de granito - cujo estilo tem fundamentado a presunção de que a obra
remonta ao século XVII -, pouco resta destes primitivos quartéis, substituídos
pelo actual edifício da Reitoria da Universidade do Porto, onde esteve sedeado,
desde o início de oitocentos, o Regimento de Infantaria 6.
Nos anos que
antecederam o Cerco do Porto, de 1829 a meados de 1832, o governo miguelista
instalou aqui o Regimento de Infantaria 19, depois novamente substituído pelo
anterior, que só veio a ceder o edifício, já neste século, ao Batalhão de
Metralhadoras 3. Quando se deu o 25 de Abril de 1974, o imóvel acolhia o Centro
de Instrução de Condução Auto, ou CICAP, como ficou popularmente conhecido no
Verão de 1975, quando esta unidade se aliou ao RASP (Regimento de Artilharia da
Serra do Pilar) numa revolta contra o Comando da Região Militar Norte, então
assegurado por Pires Veloso”.
Fonte: Site “portoxxi.com”
Vindo de Coimbra, onde se encontrava instalado, a partir de
Outubro de 1872, o Regimento de Infantaria 10 fixou-se nas instalações da Torre
da Marca, tendo vindo a abandoná-las quando foi extinto, por ter participado na
malograda revolta do 31 de Janeiro de 1891.
Não se sabe desde quando foram construídos os edifícios
onde funcionaram os quartéis da Torre da Marca - nome que se dava aos terrenos
que ficavam nas proximidades da baliza de que os navios se serviam para
orientar a sua entrada no rio Douro.
Henrique Duarte e Sousa Reis, um dos maiores historiadores
do Porto que viveu no século XIX, aponta o século XVII, de cuja época será o
portão que ainda está no local que outrora foi a entrada principal dos
quartéis. Mas o mais provável é que a fundação daquelas casernas seja do
século XVIII, da altura em que o famoso marquês de Pombal mandou reorganizar
toda a guarnição militar da cidade. Sabemos que, antes disso, em 1696, por
iniciativa de D. Pedro II foi estabelecido no Porto um terço de Infantaria. Mas
não se sabe onde ficava esse aquartelamento.
Quartel
Indirectamente, deve-se ao Palácio dos Carrancas a
atribuição do nome de D. Manuel II à Rua do Triunfo, já que foi por este o ter
cedido graciosamente, bem como pelo facto de o ter habitado quando se deslocava
ao Porto, que a autarquia decidiu prestar-lhe esta homenagem toponímica.
D. Manuel II na varanda do palácio
A foto acima foi
tirada durante a visita ao Porto, em Novembro de 1908, de D. Manuel II e de sua
mãe D. Amélia e nela, D. Manuel II agradece à multidão, numa varanda do
Palácio dos Carrancas. Vêem-se muito
bem os armazéns do Hospital de Santo António e a chaminé da caldeira. Mais ao
fundo as traseiras da ala frontal e a Torre dos Clérigos.
Palácio de Cristal
O Palácio de Cristal foi um edifício que existiu no antigo
Campo da Torre da Marca, na freguesia de Massarelos. O primeiro Palácio de
Cristal foi começado a construir em 1861 e demolido em 1951 e compreendia na
sua envolvente uma extensa área ajardinada.
PAVILHÃO ROSA MOTA (construído em 1954) nos jardins do
Palácio de Cristal.
A minha vénia ao(s) autor(es) desta recolha histórica, o meu agradecimento pelo investimento de pesquisa feito, o qual melhor permitirá a compreensão do que hoje somos.
ResponderEliminarPresumo que todos estes artigos estejam devidamente salvaguardados e do conhecimento de quem de direito.
Obrigado em nome da minha geração e das gerações futuras.
Jorge Dias
Muito obrigado pelas amavéis palavras. Procuraremos não desmerecer.
EliminarAmérico Conceição