terça-feira, 4 de julho de 2017

(Continuação 25) - Actualização em 11/11/2020

Lado SUL



A sul, a Praça D. Pedro era limitada pelo Palácio das Cardosas, um edifício neoclássico dos finais do século XVIII, com o rés-do-chão adaptado a diversos estabelecimentos comerciais e que, quando começou a ser construído, se destinava a ser um convento dos padres Lóios.
Após o Cerco do Porto e a vitória dos liberais, na guerra civil então acontecida, e da sequente extinção das ordens religiosas, o edifício passou para as mãos de uma família, cujo patriarca era Manuel Cardoso dos Santos e, posteriormente, para a sua viúva e filhas, passando a ser conhecido, no futuro, pelo Palacete das Cardosas.



Fachada do Convento dos Loyos – Ed. Joaquim Cardoso Villanova 
1833




Panorâmica tirada da Torre dos Clérigos



A foto acima é uma vista da torre dos Clérigos, à volta de 1860.



“Trata-se de uma vista rica em pormenores interessantes. Como que dividindo a foto a meio, temos o enfiamento da rua dos Clérigos, praça de D. Pedro (hoje, da Liberdade) -- o chamado passeio das Cardosas -- e subida da rua de Santo António (hoje, de 31 de Janeiro), até à igreja de Santo Ildefonso, no topo.
Ao centro da imagem, destaca-se a igreja dos Congregados e o edifício anexo, a ala do antigo convento, com frente para a praça de D. Pedro. Após a extinção das ordens religiosas em 1834, o edifício original foi vendido em lotes e ocupado por vários negócios, entre os quais os famosos botequins e cafés: Guichard, Camanho, Suíço, entre outros. Um pouco mais acima, vê-se ainda uma zona de campos e, ao fundo, as traseiras dos prédios da rua de Santa Catarina. À data da foto já se tinha aberto a rua de Sá da Bandeira (no troço que hoje tem o nome de Sampaio Bruno) e, pouco depois, toda esta área estaria também urbanizada.
Do lado direito da imagem, a torre sineira da igreja do mosteiro de São Bento de Ave-Maria e a sua cerca. Delimitada, do lado esquerdo, pela muralha fernandina (são visíveis as ameias da muralha), ao fundo e à direita, por altos muros. Cerca de três décadas mais tarde, aqui abrir-se-iam os túneis que trariam os comboios vindos de Campanhã e o convento daria lugar à estação ferroviária com traço de Marques da Silva, que hoje conhecemos”.
Com a devida vénia a “Porto Desaparecido”.



Vista para a Rua dos Clérigos. Na foto, um Fiacre e um Americano




Praça D. Pedro e o Americano



O Pasmatório dos LóiosdepoisO Real Clube dos Encostados”, eram nomes pelos quais era conhecido o local, onde um conjunto de homens durante longas horas, conversando, iam admirando quem passava, encostados ao Palacete das Cardosas.
De notar, que nessa época, o rés-do-chão do edifício era ocupado praticamente na totalidade, por um conjunto de estabelecimentos comerciais dos mais variados ramos.



O edifício das Cardosas e o “Real Clube de Encostados”


Horácio Marçal deixou-nos uma exaustiva descrição sobre o lado sul da Praça D. Pedro, no último quartel do século XIX.
Assim, segundo ele, o lado sul da praça era praticamente ocupado pelo Palacete das Cardosas. Começando um périplo pela sua fachada, voltada para a Praça Almeida Garrett, encontrávamos a relojoaria de João Vieira, a tabacaria Martins & Brito e uma confeitaria de Avelino Teixeira da Mota que foi, mais tarde, incorporada no Café Astória.
Ultrapassado, o cunhal do edifício, seguia-se a tabacaria Sá Reis que, em 1895, já por lá se encontrava, uma alfaiataria a que se seguia uma camisaria de Teles & Marques e por aí, se instalaria, durante muitos anos, o Café Astória.
Logo aparecia uma casa de fazendas de Abreu & Irmão, o restaurante Internacional, sucedendo-lhe a casa bancária Sousa, Cruz & Cia, a camisaria de Guilherme de José d’Oliveira passada de trespasse a Manuel Caetano d’Oliveira, ocupado mais tarde, pelo Interposto Comercial e Industrial do Norte, Lda.
Continuando para poente, com a Torre dos Clérigos no horizonte, aparecer-nos-ia a Papelaria Central fundada, em 1885, por João Dias Alves Pimenta, na Rua de Sampaio Bruno e que, por aqui, se instalou em 1895, acabando na gerência do seu filho, um armazém de tecidos de Alves, Costa & Cia., os bancos Peninsular e Angola e Metrópole, a Casa Baptista, uma confeitaria que se transformou em café, o Banco Ferreira Alves & Pinto Leite, Lda., que ocupou o lugar de a alfaiataria Pinho & Lima, a Camisaria Passos e Ourivesaria Soares dos Reis que, anos depois, passou a casa Campeão & Cia, o Banco Pinto & Sotto Mayor ocupando o lugar de três outras, a camisaria Freitas Guimarães, Suc., a confeitaria Reis & Olimpo, fundada em 1902, o corrector de fundos Alberto Gonçalves, que deu lugar à Papelaria Guimarães, a Casa Laporte (artigos de caça e desporto).
Continuando para poente, tínhamos a casa de modas Silva Monteiro, depois Barbearia Petrónio, o armazém de fazendas João da Costa & Silva Magalhães & Filhos, que deu lugar à casa bancária Pinto da Fonseca & Irmão e depois ao Banco Comercial, a camisaria de José Amorim.
Na área destes dois últimos espaços comercias desde há muitas dezenas de anos, ainda hoje, está instalada a Farmácia Vitália.
Resta a Camisaria Central que sucedeu à firma Prata & Irmão e onde, desde meados do século XIX, esteve a Livraria Moré.




Praça D. Pedro, nos finais do século XIX, durante a realização de um desfile



Na foto acima, é possível observar-se a nível do 2º andar, os escritórios da Sociedade Protectora dos Animais, e alojadas nos baixos do Palacete das Cardosas, da esquerda para a direita, as firmas Soares Reis & Filho, no nº 25, A Confeitaria Luzo-Brazileira no nº 26, Papelaria Guimarães no nº 28 e Casa Laporte.
Esta última firma comercializaria talvez, artigos relacionados com a caça, pois, vê-se uma réplica de uma espingarda por cima das padieiras das portas, e seria alvo da notícia que se segue, no jornal O Velocipedista em 1894:


Está exposta na casa Laporte, á Praça de D. Pedro, uma bicycleta fabricada na serralheria do snr. Figueiredo Junior, á rua do Campo Pequeno. É muitíssimo elegante na sua forma e de uma confecção fóra do usual, no esqueleto, pois é de prancheta e não de tubo de ferro, não chegando a pesar 20 kilos, destinando-se a passeio. Pertence ao snr. Camillo d’Almeida que, vendo, com outros amigos, no snr. Figueiredo, um industrial empreendedor e laborioso, lhe incutiu a ideia de tentar este género de construcções. Merece todos os elogios o hábil artista porque desempenhou satisfactoriamente o encargo, apresentando um artefacto em condições de realçar os seus merecimentos artísticos”.



Esquina do Largos dos Lóios



“Na esquina do largo dos Lóios, ficava a melhor livraria do Porto, — a More, — onde, além dos livros, se vendiam «quinquilharias» várias; a esquina da More foi um lugar célebre de cavaco. Em frente deste vasto prédio, ao longo da valeta, viam-se durante o dia barracas de pano cru e mesas volantes, sobre as quais estendiam a sua sombra protectora gigantescos guarda-sóis de pano branco; encontravam-se ali à venda, desde o bacalhau às guloseimas, os géneros mais variados e as melhores pechinchas. Entre esta fila de vendedores e o edifício, corria o passeio chamado sarcasticamente o Pasmatório dos Lóios(...).
No Passeio das Cardosas estão instaladas algumas das mais conhecidas casas comerciais, como a “Camisaria Oliveira, installada com fino gosto no prédio fronteiriço à Câmara…É uma das camisarias mais bem sortida em roupas brancas, enxovaes, artigos ligeiros e de novidade para senhoras, homens e creanças…”; Livraria Moreira, “uma das mais conceituadas e bem installadas livrarias do Porto…”; e a casa de Modas e Confecções de F.Rebello & Coelho, de reputação invejável pelo primor da execução que se observa nas suas confecções e fina escolha nos artigos que vende…”
Artur Magalhães Basto – O Porto do Romantismo 1932; Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”




O comércio na Praça D. Pedro – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”


 

Planta do edifício das Cardosas, em 1892, na planta de Telles Ferreira

 

Na planta acima, no nº 25, ficava a firma Soares Reis & Filho, no nº 28 a Papelaria Guimarães e, no nº 29, a “Laporte”.
No nº 1, esteve a livraria “Moré”.




Praça D. Pedro e Rua dos Clérigos com árvores do lado esquerdo c. 1900



À direita a Igreja dos Congregados e o seu varandim



Praça D. Pedro e os Eléctricos



Praça da Liberdade e Palacete das Cardosas à direita



Vista da Rua de Santo António para o Passeio das Cardosas



Panorâmica da Praça da Liberdade obtida a partir do Passeio das Cardosas em 1932



Praça da Liberdade em 1955 com mesma perspectiva da foto anterior

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