terça-feira, 18 de julho de 2017

(Continuação 8) - Actualização em 21/05/2018 e 13/11/2020

19.6 Avenida da Boavista


A Avenida da Boavista com uma extensão até ao Castelo do Queijo, hoje, de 5,6 km, foi projectada pelo engenheiro Gustavo Adolfo Sousa, no início da segunda metade do século XIX. A avenida foi buscar o nome à Rua da Boavista (com o seu início na Praça da República) e esta, por sua vez, à quinta da Boavista, também depois denominada quinta dos Figueiroa.
A Avenida da Boavista liga à Praça da República, a partir do local onde esteve, durante cerca de um século, o Hospital Maria Pia por intermédio da muito mais antiga Rua da Boavista, apresentando-se o conjunto das duas vias sempre em linha recta até ao mar.
Percorrendo a avenida, nos primeiros duzentos metros encontraremos o icónico edifício do Hospital Militar e a Praça Mouzinho de Albuquerque mais conhecida como Rotunda da Boavista.
A Avenida da Boavista começou por ser aberta até à Rua da Vilarinha, na Fonte da Moura. Só na primeira década do século XX se começou a abrir desde aí, até ao Castelo do Queijo. Ficou terminada em 1917. 


“Em 8 de Novembro de 1914, durante a abertura da parte final da Avenida da Boavista, entre a Vilarinha e o Castelo do Queijo, a Companhia Carris foi impedida pela C.M.P. de construir esta nova linha. A razão invocada por esta era que a CCFP, ao abrir esta nova linha, pretendia fechar a que existia entre a Boavista e Cadouços, pela Ervilha, prejudicando muitos utentes. Posta uma acção em tribunal, em 25 do mesmo mês, o juiz Dr. Couceiro da Costa sentenciou o uso e fruição do centro da avenida a esta empresa. Posteriormente foi fechada a linha de Cadouços, prejudicando muito a deslocação para a Foz enquanto não foi aberta a linha das Avenidas de Montevideu e Brasil”.
Fonte: “portoarc.blogspot.pt”




Avenida da Boavista na planta de Telles Ferreira de 1892 (quadrícula 75) terminava no Lugar da Fonte da Moura

Legenda:

1. Lugar da Fonte da Moura
2. Rua da Vilarinha
3. Rua de Serralves
4. Avenida da Boavista (sem ligação ao Castelo do Queijo)




O carácter da avenida tem sido alterado ao longo dos tempos, com as sucessivas construções ao longo deste eixo urbano.



Forte S. Francisco Xavier ou Castelo do Queijo em 1913


Toda a área envolvente à avenida teve origem e crescimento a partir do povoado de Rianhaldy, e perde-se nos tempos, ainda antes da fundação da monarquia portuguesa, provavelmente entre 920 e 944, data em que chegaram ao território os monges de S. Bento.
Assim, começaria a história do julgado de Bouças e do seu antiquíssimo mosteiro beneditino. Este território pertenceu ao Padroado Real de D. Sancho I que depois o doou, em 1196, à sua filha recém-nascida, D. Mafalda.
Um documento de 1222 afirma que a rainha D. Mafalda fez a sua doação ao Mosteiro de Arouca e que, em 1230, acaba por transformá-lo de beneditino, numa comunidade cisterciense. Mais tarde em litígio com seu irmão, o rei D. Afonso II, viria a perder a posse de Bouças para o reino. Mafalda casou-se em 1215 com Henrique I de Castela, mas, como ambos eram muito jovens, o casamento não foi consumado, e seria dissolvido no ano seguinte. O título de rainha tinha origem neste casamento.
Na época de D. Sancho II o território, hoje, de Ramalde denominava-se Ramunhaldy constituído por cinco lugares: Francos, Seixo, Requezendi, Ramuhaldi Jusão (depois, Ramalde de Baixo e, actualmente, o local da igreja paroquial)  e Ramuhaldi Susão (actualmente, Ramalde do Meio).
Entre 1230 e 1835, Ramunhaldy pertenceu ao concelho de Bouças, o qual integrava também S. Mamede de Infesta, Matosinhos, Foz do Douro e um conjunto de vinte povoações. Aquele lugar de Francos atrás referido, há quem o ligue erradamente às Invasões Francesas de 1809. Porém, aquele topónimo tem já muitos séculos.
Em 1895, todo o território a que vimos aludindo, foi integrado no concelho do Porto, como freguesia.
A Avenida da Boavista sofreu ao longo dos tempos imensas transformações, mas, na segunda metade do século XIX, no troço por onde circulava a Máquina estava ladeada por alguns palacetes inseridos em propriedades ajardinadas, e no troço junto à Praça Mouzinho de Albuquerque a máquina circulava pelo centro da avenida.



A Máquina junto ao “chalet” de José Augusto Dias em 1899



Na foto acima de Aurélio Paz dos Reis a Máquina a vapor n.º 2 na Estrada de Carreiros, próximo do troço que foi Rua do Castelo e depois Avenida de Montevideu.
Para muitos o “chalet” é a “Vila Delfina” na Avenida da Boavista, o que não é verdade.
O Arquitecto Luís Bourbon Aguiar Branco desfaz todas as dúvidas identificando-o como o “Chalet” de José Augusto Dias e, por essa razão, não estamos na Avenida da Boavista.



Casa do Pinheiro Manso


Na foto acima, a Casa do Pinheiro Manso e o pinheiro que deu o nome ao local em 1906. Ao longe a chaminé da fábrica Graham.
A Casa do Pinheiro Manso ficava situada no local onde agora está instalada a cervejaria Cufra, e junto da Rua do Pinheiro Manso que, naquela data, ainda não existia.
O palacete foi construído em 1902 por um brasileiro de torna viagem de nome Rocha. Nos anos 40/50, era habitado pela família Gilbert. O pinheiro caiu em 15 de Fevereiro de 1941 na terrível noite do “ciclone”, situação muito recordada pelos portuenses, pois, causou elevadíssimos prejuízos por toda a cidade. Foi demolido em 1971 para a construção do prédio que lá se encontra. 


Pinheiro Manso por terra em 15/2/1941

Na memória de muitos, ficou a queda do “Pinheiro Manso”, na Boavista, centenária árvore que deu o nome à rua. Ficava na casa da família Gilbert e ao cair, destruiu uma cabine telefónica e apanhou a traseira de um automóvel dos Bombeiros do Porto, em que seguia o conhecido Major Serafim Morais, que nada sofreu.


A meio da avenida


Avenida da Boavista e Rua de Belos Ares


Avenida da Boavista e Rua de Agramonte (à esquerda)





Mesmo local da foto anterior, em 1964



 

Avenida da Boavista, lado norte, área contígua à remise, em 1960

 
 
 

Avenida da Boavista, com o Pinheiro Manso lá, bem longe, em 1949






A Praça Mouzinho de Albuquerque (Rotunda da Boavista) foi ajardinada em 1897 e começou por se chamar Praça da Boavista.
No lado Norte, a Praça da Boavista situa-se entre a Rua das Vallas (Rua Nossa Senhora de Fátima) e a Rua do Príncipe das Beiras (Rua 5 de Outubro) tendo de permeio a Estação da Linha da Póvoa, que fazia a ligação entre o Porto e a Póvoa de Varzim e a Rua das Pirâmides, hoje, chamada de Avenida de França. Este último topónimo seria atribuído por sugestão do presidente da Câmara do Porto, Dr. Augusto Cupertino de Miranda, com aprovação em 11 de Julho de 1918, honrando, assim, os soldados que participaram em França no conflito mundial. 
O topónimo de Rua das Pirâmides reportava ao facto de que a rua terminava para as bandas do Carvalhido, em local onde existiam uns obeliscos, à entrada da Quinta da Prelada, que seriam mais tarde transportados e instalados no Jardim do Passeio Alegre, onde ainda podem ser observados.
A atribuição do topónimo de Rua do Príncipe das Beiras destinava-se a homenagear o príncipe Luís Filipe que acabaria por ser alvo de um assassinato, no qual pereceu também D. Carlos I, seu pai.
Essa rua veio substituir um caminho antigo que vindo de Ramalde e passando por Francos, desembocava no que viria a ser a Praça da Boavista.
Esta enorme área iria ter um desenvolvimento urbano de realce, quando passou a ser um verdadeiro interface dos transportes citadinos, mas, sobretudo, ao ser dotada de uma estação ferroviária terminal para os comboios da Linha Porto à Póvoa e Famalicão e Linha de Guimarães.
 
 
 
 
“Até 1938, a linha do caminho-de-ferro do Porto à Póvoa de Varzim tinha a sua estação terminal na Boavista. O edifício, onde ainda há relativamente pouco tempo funcionou o balcão de um banco, ainda lá está, mas já muito degradado.
A linha, de iniciativa particular, começou a funcionar em Outubro de 1875. O seu primeiro administrador foi o escritor e historiador Oliveira Martins, que residia na Casa da Pedra, na Rua das Águas Férreas, junto ao bairro da Bouça. Foi só em 1938 que abriu o túnel da Trindade e se construiu a estação com a mesma designação! Em 1947, a Linha da Póvoa foi integrada na rede da CP.
Quando o comboio chegou à Boavista, em 1875, o espaço a que hoje se dá o nome de Praça de Mouzinho de Albuquerque não passava de um amplo logradouro rodeado de muros que delimitavam quintas, pequenas propriedades e terras de cultivo. A chegada do comboio trouxe àquelas paragens uma inusitada animação.
Por exemplo; a Feira de S. Miguel que, desde 1682, se realizava na Cordoaria, foi transferida para o espaço que ficava em frente ao edifício da estação do caminho-de-ferro. O amplo logradouro teve de ser adaptado a essa nova função.
Em 1876, um ano depois da inauguração da linha, realizaram-se grandes obras no terreno a que foi dado o nome de Praça da Boavista, também conhecida por Rotunda da Boavista”.
Fonte: Germano Silva
 
 
Em 30 de Outubro de 1938, foi inaugurada a Estação Ferroviária de Porto-Trindade, substituindo a da Boavista.
Mesmo após a abertura da linha até à Trindade, a estação da Boavista continuou a ter serviços. Com efeito, nos primeiros meses de serviço da nova estação, a grande maioria dos passageiros continuou a utilizar a Boavista, em protesto contra as novas tarifas introduzidas pela Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal.
Em 1939, a Estação da Boavista era usada praticamente apenas por comboios de mercadorias, tendo os serviços de passageiros sido passados para o apeadeiro da Avenida de França, a curta distância.



Estação Ferroviária da Boavista - Ed. Porto Sombrio






Passagem de nível junto do apeadeiro da Avenida de França, em 1973



Avenida de França, observando-se o túnel no subsolo, que permitia o trânsito rodoviário sem constrangimentos, pois a ferrovia continuou na antiga cota
 
 
 

Actualmente, o trânsito rodoviário é feito novamente à superfície, tendo sido a linha do Metro, que substituiu a ferroviária, enterrada




A Praça da Boavista foi, durante muitos anos, também, uma estação importante no percurso dos transportes públicos citadinos, onde existiram instalações de recolha da “Máquina”, dos “Americanos” e, mais tarde, dos Carros Eléctricos. Foi ainda, o local, onde se realizaram importantes feiras.
A Praça da Boavista no fim do século XIX em nada se assemelhava ao jardim que hoje lá existe. 




Percursos dos transportes públicos na Praça da Boavista na planta de Telles Ferreira em 1892 - (1- Estação de Recolha; 2- Estação de caminho-de-ferro; 3- Hospital militar)



Estação de Recolha da Boavista - Ed. Ilustração Portuguesa nº 180




Na foto acima, a primitiva "remise" da Boavista onde recolhiam a máquina e os americanos. Mais tarde também os eléctricos. Foi construída em 1874 e ardeu em 1924, tendo-se perdido nas chamas 23 eléctricos, 4 atrelados e 2 zorras e ficado danificados mais 6 veículos.
Foi então construído um novo edifício como “remise” e oficina com 20 linhas de entrada e, consequentemente, 20 portas.



Última “remise” no local hoje, da Casa da Música - Ed. desconhecido


Confluência da Avenida 5 de Outubro com a Rotunda da Boavista, c. 1930, observando-se, à esquerda, a fachada lateral da remise da Boavista, onde hoje está a Casa da Música



 Casa Natividade, c. 1930, em ampliação da foto anterior 






A Praça da Boavista foi ajardinada em 1906 passando o trânsito de veículos a fazer-se à sua volta.





Rotunda da Boavista antes do monumento Guerra Peninsular


Rotunda da Boavista no fim do século XIX - Fonte: CMP, Arquivo Histórico Municipal



Na foto acima à esquerda vê-se a Rua Nossa Senhora de Fátima, à data Rua das Valas e, pela direita, desenvolve-se a Rua da Boavista no troço junto ao hospital militar. A linha do eléctrico passa pelo meio da praça.



Rotunda da Boavista quando ainda atravessada por eléctrico



A linha do eléctrico começou por atravessar a rotunda pelo centro e, só com a construção do Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, do escultor Alves de Sousa e do arquitecto José Marques da Silva vencedores do concurso realizado em 1909, integrado nas comemorações do Centenário da Guerra Peninsular, se passou a circular contornando toda a praça.



Projecto para monumento da Guerra Peninsular


Nas gravuras acima, está o projecto de Alves de Sousa e José Marques da Silva que obteve o 1º prémio para o monumento à Guerra Peninsular.
A Guerra Peninsular foi a que uniu os portugueses e os ingleses contra os exércitos de França de Napoleão Bonaparte, na Península Ibérica, no período de 1808 a 1814.



D. Manuel II lançando a primeira pedra do monumento à Guerra Peninsular – 1909



Tendo o monumento sido começado em 1909 e apenas inaugurado em 1951 e dada a morosidade do tempo de construção e ainda, a morte do escultor Alves de Sousa, ainda jovem (38 anos), a obra foi concluída sob a direcção dos escultores Henrique Moreira e Sousa Caldas. 
Nos longos anos em que só existia a parte inferior do monumento o povo chamava-lhe o “castiçal a que ainda faltava a vela”!



Monumento à Guerra Peninsular - Ed. “pt.wikipedia”


A Rotunda na Planta de Teles Ferreira 1892




A Rotunda da Boavista no Guia Baedeker 1901 e na planta do Guia Ilustrado 1907



No quadrante sudoeste da Rotunda, situava-se o Real Colyseu Portuense, (1889/1898) uma das praças de touros da cidade com uma lotação de 8 000 lugares, no local onde hoje está hoje o Tabernáculo Baptista.



Real Coliseu Portuense




O cemitério de Agramonte e o Hospital Militar


Junto da Praça Mouzinho de Albuquerque situa-se o cemitério ocidental do Porto, chamado Cemitério de Agramonte e construído a partir de 1855.
Nos meados do século XIX havia junto à Quinta do Bom Sucesso uma outra enorme propriedade que pertencia a uma família de apelido Correia de Pinho. 
Esta quinta foi muito danificada duran­te o Cerco do Porto. Muitas árvores que a povoavam foram sacrificadas para que a sua madeira fosse utilizada na montagem de peças de artilharia. Uma importante parcela dessa quinta, chamada o "campo de Agramonte", viria a ser utilizado para a construção do cemitério que ainda hoje tem o nome do campo. 
Perto do cemitério localizava-se a Quinta do Bom Sucesso, com a capela voltada para o largo do mesmo nome.




Capela da Quinta do Bom Sucesso, c. 1860 - Ed. Frederick William Flower



Casa da Quinta do Bom Sucesso, capela e fonte na primeira metade do século XX




Confluência do troço nascente da Avenida da Boavista com a Rotunda da Boavista



 

A foto acima mostra o troço inicial da Avenida da Boavista, que começa no cruzamento com as ruas de Santa Isabel e do Dr. Emílio Peres, sendo que à esquerda, a umas cinco dezenas de metros da esquina, está o Hospital Militar, cuja construção foi  decidida após o Cerco do Porto, mas que, apenas, seria construído no último quartel do século XIX.
Na esquina, à direita, no lugar do prédio então existente, iria surgir o primeiro centro comercial do Porto, “O Brasília”.
Aquele troço da avenida que seguia para a Carvalhosa, antigamente, era o mais edificado, e o transporte urbano da época, o eléctrico, circulava por canais próprios nas margens dessa mesma via.
Diga-se que, antes da construção do Hospital Militar, que se denominaria de D. Pedro V, não existia até essa data, um local próprio destinado a tal fim. 
Em 1808, durante a Guerra Peninsular, uma parte do mosteiro de S. Bento da Vitória foi ocupada pelas tropas invasoras francesas e posteriormente pelas portuguesas, tendo-se servido dele como hospital militar, até 1820.
Foi mudado, depois, para a Casa dos Celeiros, na Cordoaria. (No dia 19 de Março de 1832, quatro me­ses antes da entrada no Porto de D. Pedro IV, um incêndio destruiu totalmente os barracões do Celeiro Público e, onde, à data, se encontrava aquartelada a 1ª Companhia da Guarda Real da Polícia do Porto. 
Após as invasões Francesas, entre 1810 e 1822, também o edifício onde nasceria o palacete das Cardosas, é ocupado por tropas portuguesas que aí instalaram um hospital militar.
Durante o cerco do Porto, em 1832/1833, houve vários locais que funcionaram como hospitais militares, em instalações provisórias, como são os casos do Convento de S. João Novo, S. Bento da Vitória e no Hospital da Ordem Terceira de S. Francisco.



 

Hospital da Ordem Terceira de S. Francisco em 1834 – Desenho de J. Villanova

 

O Hospital da Ordem Terceira de S. Francisco da Cidade que tem por padroeira a Santa Isabel, rainha de Portugal, pertence à Fraternidade da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco da Cidade, que foi fundada no início do século XVII (1615), tendo o Rei D. João IV ingressado na mesma durante o seu reinado. Em 1672, Frei Domingos da Cruz decidiu fundar 3 enfermarias, que, mais tarde, deram origem ao Hospital da Ordem Terceira, que hoje conhecemos.
O hospital seria inaugurado em 1734, a enfermaria para incuráveis em 1766 e a de entrevados em 1775.
A igreja da Ordem de S. Francisco foi edificada em 1792 e sagrada em 19 de Maio de 1805, tendo o Sagrado “Lausperene” sido aí fundado em 1799, e levado a efeito às Quartas-Feiras.
Durante o grande terramoto de 1 de Novembro de 1755, o hospital e o convento ficaram destruídos tendo, em 1770, decorrido a adjudicação de um terreno para construção do novo hospital, que ficará concluído em 1779.
Entretanto, o Hospital da Ordem Terceira de S. Francisco seria instituído como hospital militar permanente, em 21/11/1851, até à construção do Hospital D. Pedro V.
Sobre este hospital dizem as Memórias Paroquiais de 1758:
 
 
“(…) na rua da Ferraria de Baixo desta freguezia, ha hum Hospital, que serve de curar as infermidades dos irmaõs terceiros de S. Francisco, q adoecem e naõ tem com que curarse em suas cazas. Principou esta obra em 28 de abril de 1734; e por ser obra magnifica durou the o anno de 1743; q foi o primeiro anno em q pera o dito hospital entraraõ os doentes, o q foi no dia primeiro de septembro do dito anno de 1743. Pera esta obra muitas pessoas deixaraõ suas esmolas(…)”.
 
 
 
Em 1832, a casa de José Cardoso, à Rua S. Bento da Vitória e, uma outra, à Rua da Paz, estavam também, a servir como hospital militar.
Com a extinção das ordens, em 1834, começou imediatamente a pensar-se, utilizar o convento de Santo António dos Capuchos, como hospital militar, o que não se concretizou.
O local escolhido foi o convento de S. João Novo começando aí a funcionar em 12 de Maio de 1835.
Em 1861, decide-se passar a utilizar, para o efeito, a Quinta das Águas Férreas, pelo que, a 20 de Maio de 1862, as instalações de S. João Novo são abandonadas.
No entanto, o problema não se encontrava resolvido, pelo que se decide construir um hospital Militar permanente.
Pelo meio, ao longo dos anos, ficaram sem efeito as hipóteses do Colégio dos Órfãos, do Recolhimento do Anjo e, até, do Convento dos Carmelitas. 
 
 

In jornal “O Comércio do Porto” de 30 de Setembro de 1861




Finalmente, o Hospital Militar D. Pedro V seria construído em terrenos do lugar de Pardelhas, entre as Ruas da Boavista e das Valas.
Para o efeito, é adquirido, em finais do ano de 1861, um terreno à face da Avenida da Boavista, pertencente a “Ana Esganada”.
Em 15 de Março de 1862, dada a dimensão da construção que vinha sendo projectada, é comprado, junto do inicialmente adquirido, o Campo de Pardelhas, do domínio directo da Mesa do Prioral de Cedofeita e o Campo da Consorte, da directa senhoria da Colegiada de Cedofeita.
Os dois terrenos confrontavam a nascente com um caminho (hoje a Rua Dr. Carlos Cal Brandão) e, o primeiro, a sul com a Avenida da Boavista e, o segundo, a norte com as terras do “Forneiro” e foram comprados a Maria Joaquina e sua irmã Ana Francisca.
A construção do hospital foi autorizada por Carta de Lei de 18 de Abril de 1854, por D. Fernando II, Regente, em nome do seu filho menor, o Rei D. Pedro V.
Lançada a primeira pedra, em 22 de Abril de 1862, foi baptizado em homenagem ao Rei D. Pedro V, falecido no ano anterior.
Em 13 de Novembro de 1862, ao terreno já existente é acrescentado de mais 3102 m2, pela compra do Campo Novo (antigo Campo da Arrotêa), situado nas Valas (Rua Nossa Senhora de Fátima), à mesma Ana Francisca, por cem mil réis, sendo directo senhorio o D. Prior de Cedofeita.
Em 7 de Abril de 1863, são adquiridos mais 2283 m2, a Maria Constança Ribeiro e sua irmã.
Em 1875, mais uma porção de terreno seria comprada a José António Pereira Duarte, José Pereira da Rocha e Zeferino Matos.
Como curiosidade, diga-se que, em 30 de Março de 1869, O Ministério de Guerra pagou ao D. Prior de Cedofeita, a quantia de 5$590 réis de foro, relativo a 1862 e 1863, do prazo de Pardelhas.
Para que conste, apenas pelo Decreto-Lei n.º 195-A/76, de 15 de Março de 1976, assinado pelo General Costa Gomes, foi abolida a enfiteuse, a que se achavam sujeitos os prédios rústicos, transferindo-se o domínio directo deles para o titular do domínio útil, sendo os titulares do domínio directo indemnizados em determinadas condições e caso fossem, pessoas singulares.
Naquele ano, o mesmo sucederia para os prédios urbanos pelo Dec.-Lei n.º 233/76, de 2 de Abril.





O Hospital militar, inacabado, em 1865



Na foto acima observa-se, à direita, que a Rua da Boavista (hoje Avenida da Boavista) ainda não foi aberta.
As obras só terminaram em 1914.
Um grande incêndio deflagrou em 27 de Julho de 1918 que destruiu uma grande parte da fachada principal e a capela. Esta ostentava um dos altares do Convento de Monchique, que tinha sido para lá deslocado, que também ardeu.




Hospital Militar em 1900



Projecto do Hospital Militar de D. Pedro V



"Recebe os primeiros doentes em 1869, quando só 1/3 do projecto estava concluído. Na sequência do golpe republicano de 1910, o hospital passa a designar-se "Hospital Militar do Porto". Quando da reorganização do Exército de 1926, o estabelecimento passou a ser o Hospital da 1.ª Região Militar, com a designação de "Hospital Militar Regional nº 1". Em 1990, em homenagem àquele grande rei, o hospital voltou a incluir o nome do Rei D. Pedro V na sua designação oficial que passou a ser "Hospital Militar Regional nº 1 (D. Pedro V)”.
In O Tripeiro Série VI, Ano X




Na segunda metade do século XIX, na área contígua ao Hospital Militar de D. Pedro V, a nascente, eram terrenos da família Beleza de Andrade.
Em 1884, António Miguel Beleza de Andrade, naqueles terrenos por onde, em parte, já tinha sido traçada uma porção da Rua Nova do Carvalhido (continuação da Estrada da Boavista ao Carvalhido, começada a abrir em 1868) ou seja a actual Rua Oliveira Monteiro, solicita uma licença à C.M. Porto, para construção de uma casa.
Em 1913, após a Rua do Conde (actual Ricardo Severo) se ter prolongado até à Rua Nova do Carvalhido, Maria dos Prazeres Beleza solicita à C. M. Porto licença para a construção de uma casa, em terreno situado à face do novo arruamento (actual Rua Dr. Carlos Cal Brandão).
No início da Avenida da Boavista, em frente à Rua de Santa Isabel, António Costa Ramalho, em 1882, já tinha solicitado à C. M. Porto licença (nº 162/1882) para a construção de um prédio que, hoje, ainda existe.
Aí, começou por funcionar, desde o início da década de 1910, o Grande Colégio Universal.
Durante grande parte da segunda metade do século XX o edifício e propriedade envolvente foram ocupados pela firma do ramo têxtil "António M. Rua" que, fundada em 1949 e com a sua sede inicial localizada numa pequena loja da Rua de Trás, haveria de ser uma referência na cidade e até no país daquele ramo de actividade.



Na planta de Telles Ferreira de 1892, a casa de António da Costa Ramalho, na Avenida da Boavista, nº 28



Casa de António da Costa Ramalho, actualmente – Fonte: Google maps




Sobre a foto acima, diga-se que, à esquerda da mesma, fazendo esquina com a que é, hoje, a Rua do Dr. Carlos Cal Brandão e, à época, era a Rua do Conde, em 1908, João da Costa Ramalho haveria de solicitar à C. M. Porto, licença para construção de uma casa.




Requerimento pelo qual João da Costa Ramalho solicita licença para a construção de uma casa - Fonte: AHMP

4 comentários:

  1. Maravilhosa reconstituição histórica que muito poderá ajudar na divulgação da cultura portuguesa e complementar de forma relevante a promoção turística.
    Um bem-haja aos autores:
    Jorge VER de Melo

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    1. Muito obrigado por seguir o blogue.
      É um gosto muito grande ver reconhecido o nosso trabalho.
      Cumprimentos

      Américo Conceição

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  2. Muito interessante. UFm passado com história.
    Horatoma

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  3. Muito bom este texto. Um bom trabalho histórico para relembrar o que foi a Cidade e, as suas transformações ocorridas durante longos anos.

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