domingo, 30 de julho de 2017

(Continuação 20)



A Rua de Santos Pousada, que homenageia um distinto professor, chamou-se, antigamente, Rua de São Jerónimo.
Este topónimo tinha a sua raiz numa capelinha de invocação daquele santo, situada no local em que hoje faz esquina (lado Norte) as ruas Firmeza e de Santos Pousada.



Planta (1853) de Costa Lima Júnior. Legenda: 1 - Rua Firmeza; 2 - Rua de São Jerónimo; 3 - Capela de S. Jerónimo



A Rua de São Jerónimo começou por ser traçada, na década de 1830, entre o Poço das Patas e a Rua Firmeza, até ao adro da capela de São Jerónimo.
Quem primeiro aí construiu foi o Dr. Francisco Luís Correia que, para tal, solicita a respectiva licença camarária em 1835.
A partir de meados do século XIX, começa a rasgar-se a continuação do arruamento até à Póvoa de Cima. Em fins da década de 1870, ainda se procedia a expropriações para conclusão da empreitada.



“Santos Pousada, de seu nome completo António José Santos Pousada (1854-1912), foi professor na Escola Industrial de Vila Nova de Gaia e tornou-se paladino de uma causa nobre: tornar acessível a toda a gente a instrução pública, que, nos finais do século XIX, ainda parecia algo utópico.
Envolveu-se também nos ideais republicanos, apesar de só ter vivido 2 anos sob o signo da República. Foi este envolvimento que fez com que, em 1913, o regime recém-vencedor quisesse perpetuar o seu nome na toponímia do Porto.
Num guia da cidade de 1896, podemos ver que esta artéria nascia na Rua do Poço das Patas que foi também Rua do Meio (actual Rua de Coelho Neto) e ia até ao Largo da Póvoa (actual Praça da Rainha D. Amélia), vindo só posteriormente a ser prolongada até à Praça Teixeira de Pascoais”.
Fonte: “manueljosecunha.blogspot.pt”




Santos Pousada “(…) considerado um homem culto e trabalhador, que muito se empenhou na causa da implantação da República, em especial na região do Porto. Em 1904, Santos Pousada pertencia à comissão municipal republicana do Porto. Participou de forma activa nas campanhas contra a Monarquia e na organização do movimento republicano.
Foi ainda um dos propagandistas da mutualidade no norte de Portugal, tendo participado em inúmeras realizações. Foi relator de teses que abordavam a contabilidade e a escrituração das associações de socorros mútuos, no Congresso Regional que se realizou no Porto em 1904. Participou também de forma activa no Congresso Nacional da Mutualidade que se realizou em 1911, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Neste congresso foi eleito vogal do Conselho Central da Federação Nacional das Associações de Socorros Mútuos e foi vice-presidente da Comissão Oficial de Reforma do Mutualismo, competindo-lhe a organização dos modelos de escrita que deviam acompanhar o novo modelo de reforma. 
António José dos Santos Pousada destacou-se como jornalista. Colaborou em diversos órgãos da imprensa republicana como Vanguarda, Voz da Beira, Voz da Justiça, Voz de Angola, O Alarme e A Democracia. Era correspondente do jornal República, em Espinho, terra onde vivia e era muito respeitado pela população. Foi ainda o fundador da obra beneficência O Vintém das Escolas.
Pertenceu à Maçonaria, desde 1885(…)”.
In Almanaque Republicano; Fonte: ruasdoporto.blogspot.pt




A antiga Rua de S. Crispim, junto à Ponte de S. Domingos, nas proximidades do ainda hoje, Largo de S. Domingos, desapareceu, quando na década de 1870, andava a ser aberta a Rua de Mouzinho da Silveira.
Na sequência desse arranjo urbanístico, foi demolida também a bonita capela de S. Crispim e S. Crispiniano onde a Confraria dos Sapateiros tinha a sua sede, bem como o anexo hospital e albergue de peregrinos existentes desde o século XIV e que se situavam na Rua das Congostas (actual Rua Mouzinho da Silveira, demolidos por ocasião (1874) para abertura daquela artéria. Assim, no ano de 1307, os irmãos, e cidadãos do Por­to, Martim Vicente Barreiros e João Anes Pal­meiro fundaram, "num largo acima da Rua das Congostas, junto ao rio da Vila", uma alberga­ria para peregrinos a que chamaram "dos Pal­meiras".




“A Capela de São Crispim e São Crispiniano, foi transferida e situa-se, desde então, ao cimo da Rua de Santos Pousada, no Bonfim, na cidade do Porto, pertença da mesma Confraria. Está dedicada a São Crispim e São Crispiniano e foi inaugurada em 1878 na Rua de S. Jerónimo, tendo esta, desde 1913, mudado para Rua de Santos Pousada.
S. Jerónimo deve a sua fama ao facto de, a pedido do Papa Dâmaso I, ter traduzido a Bíblia para latim, tradução essa que ainda hoje se usa, a chamada “Vulgata”. S. Jerónimo nasceu no norte de Itália em 374 e, ao longo da sua vida, foi um polemista notável e um opositor às diversas heterodoxias que iam surgindo.
O largo que fica diante da capela e que, na actualidade, tem a designação de Praça da Rainha D. Amélia, chamava-se, naquele tempo, Largo da Póvoa.
A palavra Póvoa, "popula" do latim, significa pequeno povoado. Como havia outra Póvoa, bem perto do actual Largo do Padrão, nas proximidades da Rua das Oliveirinhas, que antes se chamou Rua das Oliveiras, "junto à Póvoa de Baixo", lê-se num documento da paróquia de Santo Ildefonso do ano de 1757, a outra era designada por Póvoa de Cima para se diferenciar, naturalmente, da de baixo.
Quando se reconstruiu a capela de S. Crispim e S. Crispiniano no antiquíssimo Largo da Póvoa, a Municipalidade desse tempo resolveu mudar o nome ao largo que passou a chamar-se Largo de S. Crispim.
Recentemente, já nos nossos dias, voltaram a alterar a denominação ao dar ao largo em questão ao darem-lhe o nome da rainha D. Amélia de Orleães que foi a esposa de D. Carlos I.
A Rua Nova de S. Crispim anda, também, ligada à mudança da capela de junto de S. Domingos para o sítio onde agora está. Evoca o topónimo antigo que o urbanismo ribeirinho fez desaparecer.
Acerca deste assunto resta dizer que o topónimo Póvoa ainda subsiste naquela zona alta da cidade designando uma rua, uma travessa e uma calçada.
Uma confusão frequente é a que diz respeito à Rua da "Bateria", que por vezes é referida como "Rua da Bateria do Cativo". Essa Rua da Bateria, ou Bataria, como o povo diz, evoca uma bateria de artilharia que as tropas Liberais ali instalaram durante o Cerco do Porto (1832-1833).
Na planta das linhas (defensivas) elaborada pelo coronel de Engenharia, F.P.A. Moreira, mais conhecida pela "Planta de Arbués Moreira", esse local vem, efectivamente, designado como "Bateria do Cativo".
Ao contrário do que se chegou a pensar, esta designação nada tinha a ver com o sítio do Monte Cativo situado a uma considerável distância daquele local.
Aconteceu que a bateria foi colocada no ponto mais alto de uma quinta que, em tempos distantes, fora emprazada pela Câmara ao fidalgo Francisco de Sousa Cirne, cuja residência era o edifício onde hoje está a Junta de Freguesia do Bonfim. Este, por sua vez, em 30 de Agosto de 1730, sub emprazou a propriedade mais "uma parcela do prazo do Monte da Forca de Mijavelhas" a José Pereira e mulher.
Quando o terreno em causa começou a ser urbanizado estava na posse de Vicente Francisco Guimarães, por alcunha "o Cativo". Daí o nome dado à bateria da artilharia liberal que ali foi instalada durante o Cerco do Porto”.
Com a devida vénia a Germano Silva




Publicidade à Tipografia Peninsular na primitiva Rua de S. Crispim




A Tipografia e Papelaria Peninsular na Rua Mouzinho da Silveira – Fonte: Google maps




A Tipografia Peninsular como se vê na foto anterior estará bem próxima do seu lugar primitivo, na Rua de S. Crispim onde existiu a capela dedicada a S. Crispim. Ao cimo da Rua de S. João, e à entrada da Rua da Bainharia, pegado à capela ficava  o Hospital de S. Cris­pim, fundado em 1307 por Martim Vicen­te Barreiros e seu irmão João Anes Palmei­ro, ambos cidadãos do Porto. 
Funcionou, primeiro como albergaria para peregrinos e por isso se chamou dos Palmeiras, passando mais tarde a ser admi­nistrado pelos sapateiros, ficando depois disso a ser conhecido por Hospital de S. Cris­pim e S. Crispiniano, padroeiros dos fabri­cantes de calçado. Aliás, junto ao hospital havia uma capela dedicada aos santos protetores dos sapateiros. 
Quando se abriu a Rua de Mouzinho da Silveira (1875), o templo foi demolido e a irmandade de S. Crispim e S. Crispiniano reconstruiu-a no local onde agora se encontra. 




Capela de S. Crispim, actualmente




Hoje a capela está na Rua de Santos Pousada, paredes meias com a Praça Rainha D. Amélia.
Este último topónimo é o que resta da memória daquela personalidade.
Após a implantação da República a família real exilou-se no estrangeiro, e depois do casamento de D. Manuel II com Augusta Vitória Hohenzollern-Sigmaringen, D. Amélia, viúva de D. Carlos I, passou a viver no castelo de Bellevue perto de Versalhes. No fim da 2ª Grande Guerra, Salazar ofereceu-lhe asilo político em Portugal, mas ela permaneceu em França, embora com algumas visitas a Portugal.
Em 25 de Outubro de 1951 faleceu em França com 86 anos, mas, o seu corpo seria transladado para Portugal e, com funeral com Honras de Estado, seria sepultado na Igreja de S. Vicente de Fora no “Panteão Real da Dinastia de Bragança”.




D. Amélia em 1945 – Fonte: restosdecoleccao.blogspot.pt




Na foto acima D. Amélia numa visita ao Dispensário de Alcântara.
Para Norte e contíguo à Praça Rainha D. Amélia desenvolvia-se o sítio do Seixal, de que hoje resta o topónimo Rua do Seixal.




Praça Rainha D. Amélia, em 1960, no gaveto da Rua de S. Crispim com a Rua Coutinho de Azevedo

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