Em meados do século
XVIII, para que a Rua do Almada tivesse a utilidade que se pretendia, de ligar
de forma rápida a Praça da Ribeira ao Campo de Santo Ovídio, seria preciso
resolver o estrangulamento provocado pelo estreito Postigo de Santo Elói,
tapando-o e construindo uma nova porta larga mesmo em frente à Rua da Hortas,
hoje, a Rua do Almada.
Igreja de Nossa
Senhora da Consolação e Postigo de Santo Eloy
Para que tal fosse
possível, a Câmara e os frades Lóios teriam que chegar a acordo para a abertura
de uma praça em frente à porta da sua Igreja, não pretendendo a Câmara
despender qualquer verba nessa empreitada. Assim, concordaram, em Julho de
1764, que os frades cedessem parte do adro da sua igreja e comprassem várias
casas existentes em frente, demolindo-as por sua conta. Em troca receberiam o
corredor intramuros que ia da nova porta até à Porta dos Carros, em frente aos
Congregados.
Desta forma,
destruídas as referidas casas e mais uma parte do adro, nasceria uma larga
praça, hoje, a Praça dos Lóios, na qual seria construída, pela Câmara, a nova
Porta de Santo Elói, terminada em 1766. Em 1794, os frades foram autorizados a
demolir a muralha que dava para a Praça
Nova das Hortas e a construir um majestoso edifício com a frontaria
para esta praça.
Segundo Horácio
Marçal, em frente à Porta de Santo Elói, no início da Calçada da Natividade,
antes, Calçada da Arca e depois Calçada dos Clérigos, com traçado apontando
para norte, existia um arruamento que ia até à Rua de Santo António dos
Lavadouros depois, Rua dos Lavadouros e, onde, hoje, mais ou menos, a Rua
Elísio de Melo tem o seu leito. Era a Rua das Hortas.
A partir dessa
confluência de artérias, em 1761, o Corregedor João Almada determinou que
fosse, em continuação para norte, traçada uma rua até à Praça de Santo Ovídio (actual,
Praça da República), que tomaria o seu nome – Rua do Almada.
A partir da
publicação de um edital pelo visconde de Gouveia, que exercia, à data, o cargo
de Governador Civil do Porto, os dois traçados das ruas das Hortas e do Almada
foram unificados e sobreviveu, apenas, o segundo topónimo.
Sabe-se que, na Rua
do Almada, n.º 28, viveu com os seus pais e irmãos, Ana Plácido, que, mais tarde, viria a ser mulher de
Camilo Castelo Branco.
Dado que, aquela
morada é referente ao n.º de polícia anterior a 1860 e, expresso em documento,
sabe-se, também, que teria uma saída para a Picaria, ela situar-se-ia, no sentido
ascendente, à esquerda, para montante da Rua dos Lavadouros.
De resto, Ana
Plácido foi dada como nascida, praticamente, num prédio que fazia gaveto, à
data, na Praça D. Pedro (Praça da Liberdade), Travessa da Praça D. Pedro (Rua
Dr. Magalhães Basto) e Rua das Hortas. A morada dada em baptismo foi: Travessa
da Praça D. Pedro n.º 5 a n.º 9.
Hoje, o chão desse prédio
de gaveto está ocupado, na sua totalidade, pelo edifício da delegação do Banco de
Portugal.
A ligação de Ana
Plácido a esta rua manter-se-ia, após o seu casamento com o seu primeiro marido,
Pinheiro Alves, no dia seguinte ao seu 19.º aniversário natalício, 28 de
Setembro de 1850.
Então, segundo
alguns historiadores (sem apresentar as suas fontes documentais), foi habitar
um andar alugado, onde vivia o seu consorte, na Rua do Almada, n.º 378.
Acontece que, em
tempos anteriores a Abril de 1860, os números de polícia eram corridos, nada de
um lado par e o oposto ímpar, pelo que, será impossível, sem o conhecimento de
um outro que sirva de referência, fazer qualquer cálculo.
Aliás, a morada
acima expressa, que já se tornou viral, carece, por isso, de suporte documental.
“A Rua do Almada foi
planeada pelo insigne estadista João de Almada e Melo (daí o nome) e começou a
ser construída em 1761, integrada num ambicioso e arrojado projeto urbanístico
que passou à história com a designação de "projeto do novo bairro dos
Laranjais".
Projeto esse que se
concretizou ao longo de uma extensa área compreendida entre a atual Praça da
Liberdade e a Praça da República, em terrenos em que predominavam laranjais e
que eram ocupados por várias propriedades.
E, dois anos depois,
embora o plano, na sua globalidade, estivesse por concluir, já se encontrava
terraplanada e em condições de ser aberta ao trânsito, "a nova rua
chamada do Almada e a Praça de Santo Ovídio em que ela termina...".
Um século depois, ou
seja, na segunda metade do século XIX, a Rua do Almada, do ponto de vista
comercial, com especial relevo para o setor ferrageiro, era uma das artérias
mais concorridas do Porto e era, também, a preferida para a residência dos mais
abastados comerciantes da praça portuense.
Na Rua do Almada
viveram mulheres famosas pelos seus encantos femininos e pelas histórias que
protagonizaram, como foi o caso de Ana Plácido, que se perdeu de amores por
Camilo Castelo Branco; e Sofia Outeiro, "de uma beleza sem par", por
quem o desventurado poeta Jaime Artur, grande amigo de Camilo, se apaixonou e
que ao ver o seu amor contrariado pelos pais da amada, acabou tristemente,
afogado nas águas revoltas do rio Douro a que se atirara numa fria noite de
inverno.
Era por estas razões
que os rapazes de há mais de século e meio chamavam à Rua do Almada a rua das
meninas bonitas.
Antes da iluminação a
gás, inaugurada em 17 de setembro de 1855, as raparigas da Rua do Almada
aproveitavam a luz do dia para se entregarem aos seus passatempos preferidos:
tocar piano, bordar ou recitar os melancólicos versos dos poetas do romantismo
que lhes chegavam às mãos através da "Grinalda" a mais cotada
revista poética daqueles tempos.
Quando a luz do dia
esmaecia as meninas deixavam o piano, pousavam os lavores e vinham para as
varandas da casa. Da rua os janotas e peralvilhos lançavam-lhes olhares
langorosos que eram verdadeiras mensagens de amor.
Ainda por meados do
século XIX, a Rua do Almada foi também palco dos mais vistosos festejos
populares. No ano em que o rei Carlos Alberto de Itália chegou ao Porto
(1849), por exemplo, a Rua do Almada, na noite de S. João, estava toda
decorada, do alto a baixo, "com arcos de verduras" e iluminada
"com uma profusão de luzes..."
Era costume, pela
Quaresma, passarem por esta rua as mais imponentes procissões de penitência
que as ordens terceiras organizavam. Das sacadas dos prédios, as senhoras e as
meninas, que dali assistiam ao piedoso desfile, compungiam-se ao verem os
penitentes, descalços, a arrastarem grossas correntes de ferro e com ossos
humanos atravessados na boca.
Por ela também
passaram tumultuosamente, na nevoenta noite de 31 de janeiro de 1891, as
tropas dos regimentos do Porto que romanticamente tiveram a aliás justa
pretensão de implantar a República em Portugal.
(...) Mais ou menos onde
agora está o edifício da filial do Banco de Portugal existia uma estreita
serventia a que se dava o nome de viela da Polé. Aqui vivia e tinha o seu
negócio, aliás proveitoso, do comércio de algodões, o cidadão António Fernandes
Guimarães, bom gastrónomo e excelente conversador. Quando alguém o queria
encontrar, bastava que o procurasse nos locais onde era fama que se comia
bem.
Politicamente apoiava,
sempre, com "uma fé inabalável" o partido que estivesse no
poder.
O rei D. Luís, sem que
se saiba bem com que motivos, nomeou-o um dia comendador da Ordem de Nossa
Senhora da Conceição. A partir daí, António Guimarães passou a aparecer em
festas e festividades religiosas devidamente fardado com o uniforme da Ordem a
que pertencia, a que não faltava o espadim e o chapéu de três bicos”.
Com a devida vénia a Germano Silva
A ligação de João de Almada ao Porto surge na sequência de
um acontecimento a que inicialmente esteve alheio, e que veio ensombrar a vida
da cidade, durante o reinado de D. José I.
A 23 de Fevereiro de 1757, eclodiu um motim popular contra a
Companhia Geral da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro, criada alguns meses
antes.
Para controlar os acontecimentos, será indigitado João de Almada e Melo, homem de total confiança de Marquês de Pombal, reforçada, aliás. por laços de parentesco.
Para controlar os acontecimentos, será indigitado João de Almada e Melo, homem de total confiança de Marquês de Pombal, reforçada, aliás. por laços de parentesco.
Praça dos Lóios
Entretanto, em 1833,
por decreto de D. Pedro IV, foram os bens da congregação dos Lóios confiscados,
não estando ainda terminadas as obras do novo convento com fachada principal
virada para a Praça Nova das Hortas, que os frades tinham começado a erigir, alguns
anos antes.
A igreja e o antigo mosteiro,
virados para a Praça dos Lóios, seriam destruídos por estarem em estado
ruinoso, em 1833.
O troço que ia das esquinas da Praça da Liberdade e da Rua
dos Clérigos até aos Lavadouros chamava-se Rua das Hortas e já existia quando
João de Almada e Melo mandou abrir a artéria que viria a ter o seu nome.
A Rua do Almada, inicialmente, que começava a partir da
Rua dos Lavadouros, começou a ser aberta em 1761 e o seu traçado é da autoria de
Francisco Xavier do Rego.
É um arruamento paralelo à Avenida dos Aliados, e aberto
entre 1761 e 1786. Vale a pena observar as fachadas dos seus prédios, cobertos
de azulejos provenientes das várias fábricas de cerâmica que na altura existiam
no Porto e arredores, e o pormenor das suas varandas em ferro forjado.
Foi a primeira grande rua a ser edificada fora de muralhas.
Conhecida desde sempre, até aos dias de hoje pela rua das
lojas de ferragens, foi em tempos a rua dos primeiros estúdios de fotografia e
de casas dedicadas ao comércio de instrumentos musicais.
Sousa Viterbo a propósito da Rua do Almada diria:
"Parecia aos
sábados uma feira de gado, tantos eram os burros dos ferreiros sertanejos, que
chegavam ajoujados de ceiras de pregos, e partiam carregados de verguinhas de
ferro, em feixes, ao longo da albarda, levados pela Rua do Almada acima num
trotesinho miúdo e diligente, que batia os grandes lajedos da calçada com um
ruído festival de castanholas."
Entrada da Rua do
Almada, início do século XX
Percorrendo a rua no
sentido para Norte, imediatamente antes de alcançarmos a Rua da Fábrica, pela
nossa esquerda, encontraríamos durante grande parte do século XX, a firma
Manuel José da Silva Lda. (visível na foto abaixo) e, na esquina das duas ruas,
a Livraria Simões Lopes (não visível na foto).
Aqui, na entrada
deste prédio pela Rua da Fábrica, nº 1, esteve, vindo bem de perto, da Rua do
Almada, nº 161, e antes de demandar a Rua de Santa Catarina, em 1870, o jornal
“O Primeiro de Janeiro”.
Rua do Almada, nº
101 a 117, c. 1961
Atravessando a Rua
da Fábrica, ainda pela nossa esquerda encontramos, ainda hoje, o Hotel Internacional
do Porto. Em tempos, esteve no rés-do-chão do prédio a livraria Educação
Nacional.
Percorrendo a rua no sentido para Norte, na esquina da Rua do Almada com Rua da
Fábrica encontra-se hoje o Hotel Internacional do Porto. Em tempos estiveram no
rés-do-chão do prédio duas livrarias: a Simões Lopes e a Educação Nacional.
De 1820 a 1880
esteve o prédio ocupado pelo famoso Café das Hortas, frequentado por Camilo e
por muitos outros intelectuais da época.
Fonte - Site:“portugal-info.net”
Rua do Almada, 136
Um pouco mais adiante,
já confrontando com a Praça D. Filipa de Lencastre, podemos observar o edifício
icónico da Garagem do Comércio do Porto, projectado, bem como o edifício do
antigo jornal voltado para a Avenida dos Aliados, que lhe é contíguo, pelo
arquitecto Rogério de Azevedo.
O edifício tem 7 pisos: cave, rés-do-chão, 4 andares e
mansarda.
Foi construído entre 1928 e 1932.
Está na Praça D. Filipa de Lencastre encostado ao edifício
do jornal e foi propriedade da empresa “Comércio do Porto”.
Garagem de “ O Comércio do Porto” e o edifício do Jornal a
ele adossado
Oficina de reparações de automóveis na cave
O rés-do-chão e os 3 andares eram lugares de aparcamento. O
4º andar e a mansarda, instalaram 45 escritórios.
Na cave ficou uma oficina de lavagem de viaturas e de
reparação de automóveis.
Os pisos com acesso de viaturas comunicavam por elevadores e
por uma rampa helicoidal.
Rampa helicoidal de acesso de viaturas da Garagem de “ O
Comércio do Porto”
Garagem do Comércio
do Porto – Fonte: Google maps
A Garagem do
Comércio do Porto foi levantada, em parte, no chão da Rua dos Lavadouros, que
ligava a Travessa da Picaria à Rua do Laranjal.
Ao fundo da Rua dos Lavadouros, do seu lado direito, na esquina com a Rua do Laranjal, ficava a Padaria Bijou, de Basílio de Sá Carneiro, irmão do Dr. Sá Carneiro, de Barcelos e, em frente, já na Rua do Laranjal, do seu lado nascente, ficava o Colégio de Nossa Senhora da Conceição.
Todas estas ruas já
desapareceram, mas uma memória resta num correr de casas a Norte da Praça D.
Filipa de Lencastre que ladeavam aquela travessa.
A Rua do Almada, em
finais do século XIX
Na foto acima, em
frente e nas costas do observador, apresenta-se a Rua do Almada.
O ponto de
observação é um cruzamento da Rua do Almada, da Travessa da Picaria (pela
esquerda) e pela Rua dos Lavadouros (pela direita), onde nasceu a Garagem do
Comércio do Porto.
À esquerda, o
prédio, que ainda existe, na Rua do Almada, nºs 203 a 217, que já existia em
meados do século XVIII e para o qual, em 1865, foi requerido à Câmara do Porto,
nessa data, ser-lhe acrescentado um andar. Era propriedade de José Rodrigues
Casais, fundador da Casa Bancária Casaes & Filhos, sita no Largo da Bataria
da Vitória, e que seria liquidada em 1895.
"Dom José Rodrigues Casaes, acima referenciado, nascido a 19
de Março de 1794, foi o 1º visconde da Penna, na sequência de Decreto de 25 de
Janeiro de 1854, e desempenhou o cargo de vice Cônsul dos Estados Pontifícios, na cidade do Porto.
Casou duas vezes, sendo
a primeira a 21 de Setembro de 1811, com D. Thereza de Jesus Sampaio-Guimarães,
nascida a 18 do Março de 1791, filha de Bento de Sampaio Guimarães e de sua
mulher D. Maria Pereira Camorça Guimarães e, a segunda vez, com a sua cunhada
D. Júlia de Sampaio Guimarães, de quem não teve sucessão.
Rita Adelaide de
Casaes Andrade e António Rodrigues de Casaes foram os filhos resultado do
primeiro casamento".
Fonte: "Grandes de Portugal" de Albano da Silveira Pinto (1885)
A alguns metros do
cruzamento, na Rua do Almada, à esquerda, após o prédio de José Rodrigues
Casais, onde se vê um aglomerado de pessoas, ficava numa reentrância, a 1ª
Fonte da Rua do Almada.
A primeira loja que
se vê, à direita, era a Farmácia de Ricardo Abreu.
Na fachada desta casa, uma placa em azulejo diz-nos que nela
nasceu a 26 de Abril de 1875, Joaquim Antunes Leitão (Porto, 26 de abril de
1875 — Lisboa, 1956), académico, escritor, contista e historiógrafo. Joaquim
Antunes Leitão, hoje quase esquecido, foi, sobretudo, um historiador que nos
deixou páginas admiráveis sobre os últimos tempos da Monarquia.
O edifício da esquina das ruas do Almada e da Ramalho
Ortigão, onde se encontrava a Livraria Nelita, foi projectado em 1942, pelos
arquitectos C. Jofre António Justino e Rogério de Azevedo.
Na esquina da Rua Dr. Ricardo Jorge e da Rua do Almada, à esquerda,
no sentido ascendente, encontra-se o prédio que foi dos viscondes de Castelo-Borges
e, em 1875, era referenciado por Pinho Leal na sua obra Portugal Antigo e
Moderno.
Quase na esquina da Praça da República encontra-se a Capela
dos Pestanas (1878-1888) projecto do engenheiro José Macedo de Araújo Júnior.
As estátuas em granito de S. José e de S. Joaquim que se encontram na sua
fachada são da autoria de Soares dos Reis. O antigo palacete dos Pestanas foi a
última morada do Governo Civil, antes da sua extinção.
Rua do Almada com palacete dos Pestanas à esquerda (perspectiva
obtida a partir do Campo da Regeneração em 1900)
Capela do Palacete dos Pestanas - Ed. Mafalda Lucinda Trinca
- IPPAR
S. José, de Soares dos Reis
S. Joaquim de Soares dos Reis
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