sábado, 1 de julho de 2017

(Continuação 23)

18.18 Praça da Liberdade ou Praça Nova ou Praça D. Pedro

Gravura da Praça da Constituição em 1820 (actual Praça da Liberdade)




Na gravura acima, em 1820, com a perspectiva obtida a partir do convento dos Padres Lóios, está representado, na então chamada Praça Nova, ao fundo, a Câmara, à direita, o convento e a igreja dos Congregados e, em primeiro plano, à esquerda, a fonte (para a qual se descia por uma escadaria) da Natividade, que tinha a envolvê-la um mercado em madeira – o mercado da Natividade.
Anteriormente, a actual Praça da Liberdade designou-se por Casal ou Lugar de Paio de Novais e Sítio da Fonte da Arca (durante o século XV); Lugar ou Praça da Natividade (depois de 1682, devido à fonte lá construída nesse ano); Quinta, Campo ou Sítio das Hortas (até 1711); Praça Nova das Hortas ou mais comummente Praça Nova (depois de 1711); Praça da Constituição (1820); novamente Praça Nova (1823); Praça de D. Pedro IV (1833) e, ainda que por poucos dias, Praça da República (13 de Outubro de 1910).
A designação presente de Praça da Liberdade, foi adoptada em 27 de Outubro de 1910. O nome é uma alusão ao sistema republicano de governo.
Propriedade do Cabido da Sé do Porto, esta área, localizada no exterior das Muralhas Fernandinas que cercavam a cidade, entre a Porta de Carros e a de Santo Elói, teve projetos de criação de uma praça pública em 1691 e em 1709 que não se chegaram a concretizar.
Era nestes tempos costume, os edifícios propriedade do Cabido terem presente na fachada, a figura de São Miguel Arcanjo, que era o seu patrono. Tal facto, ainda pode hoje ser observado na Rua das Flores, onde os prédios também pertencentes ao Bispo, tinham também identificação própria.
Por aquelas bandas, existia a Porta de Carros no mesmo sítio onde tinha existido um postigo, denominado Postigo de Carros, que fora mandado abrir em 1408, já com o muro de pé, pelo bispo D. João Aranha.
Quando, em 1518, se construiu em terrenos que pertenciam ao faval do bispo o mosteiro de S. Bento da Ave-Maria, o postigo foi fechado e aberta a porta, em 1521, obra do corregedor António Correia, a 100 metros para poente onde estava o postigo, e que permitiria um mais rápido acesso à Rua das Flores, que começou por ser Rua de Santa Catarina das Flores por, à época, da sua abertura, o bispo do Porto ser devoto daquela santa.
O sítio da Porta de Carros sofreu ao longo dos tempos várias transformações.
Por exemplo, em frente à Igreja dos Congregados existia um adro e o acesso ao templo fazia-se por escadaria frontal, tendo, mais tarde a Câmara, acabado com o adro e com a escadaria, deixando apenas dois lanços amparados por varandim e mais tarde novamente por escadas frontais guarnecidas por balaustrada e, a partir de 1913, o acesso ao templo passa a fazer-se à face da rua, e o desnível correspondente passaria a ser vencido, por escada interior.
Em frente à Igreja, havia uma fonte que recebia a água de uma nascente situada ao cimo das Escadas de D. Teresa (Rua da Madeira), que teve também os topónimos de Calçada da Teresa e Calçada da Fonte da Rainha D. Teresa.
Em 1718, para toda essa área foi lançado um novo projecto, tendo o Cabido da Sé cedido os terrenos necessários à abertura da Praça Nova das Hortas.
Novas ruas foram, então, também rasgadas, entre as quais a Rua do Laranjal das Hortas (hoje desaparecida) e a Rua da Cruz (actual Rua da Fábrica).
Da concretização deste projecto, resultaria ao fim de algumas dezenas de anos a Praça Nova, limitada a Norte por dois palacetes onde, entre 1819 e 1915, funcionaram os Paços do Concelho (o palacete de Monteiro Moreira e o de Morais Alão); a Oriente pelo Convento dos Congregados; a Sul por um tramo da Muralha Fernandina, destruída em 1788 para dar lugar ao Convento de Santo Elói (só terminado no século XIX e actualmente chamado Palácio das Cardosas); e o lado Poente, só mais tarde edificado.
Em 1827, a Porta de Carros foi demolida.
Quanto ao espaço central da praça seria, ao longo dos tempos, alvo de várias modificações estéticas.
Assim, em 12 de Fevereiro de 1843, a Câmara mandou colocar um gradeamento a envolver a praça. O gradil era em ferro fundido assente em colunas de pedra, com quatro entradas pelos cantos.
Mais tarde, o gradeamento seria retirado, dizem que, para S. Lázaro.
Tal acção ocorreu em Abril de 1869, de acordo com a notícia publicada no jornal "O Comércio do Porto", em 20 de Abril de 1919, na sua rubrica de memórias intitulada: "Há 50 anos". 






No entanto, desde 1866, a peça que se destaca, ainda nos nossos dias, na praça, é a estátua equestre de D. Pedro IV. Ela que, também, haveria de ser envolvida por uma grade, ao longo da sua existência.




Praça D.Pedro IV no século XIX e transição para o XX
 
 
“Após a entrada de D. Pedro IV no Porto, a então chamada Praça Nova, antiga das Hortas, passou por uma profunda remodelação e recebeu novos melhoramentos. A primeira medida foi o derrube dos sinistros esqueletos das forcas miguelistas que ali se mantinham, de pé, desde que nelas haviam sido enforcados, em 1829, os doze liberais que o regime miguelista condenara àquela morte degradante só por que, um ano antes, haviam lutado pela liberdade.
Logo a seguir, demoliu-se a velha e veneranda capela de Nossa Senhora da Natividade, que ficava sensivelmente em frente ao edifício onde agora está a Ateneia, e que, anteriormente, e por questões de proximidade, dera o nome à calçada que é hoje a Rua dos Clérigos.
Atulhou-se, depois, a antiga fonte da Arca que se situava junto da referida capela e que ocupava um espaço que ficava abaixo do nível do pavimento da praça.
Ao camartelo municipal, que não tinha descanso, como se pode facilmente constatar pelas descrições atrás, faltava cair sobre as inestéticas e imundas barracas de madeira que constituíam o chamada mercado da Natividade.
Aconteceu mal acabaram os trabalhos do entulhamento da fonte”.
Com a devida vénia a Germano Silva

 
Em 1851, a Câmara decidiria mandar fazer o calcetamento da Praça D. Pedro que ficaria conhecido por “calçada portuguesa”.


 

In revista “O Tripeiro”, V série, Ano XV, nº 2, pág 50, Maio de 1959
 
 
 

 Praça D. Pedro na transição para o século XX
 
 
 
“Grandes transformações no centro da cidade começam a acontecer com o passar do século XIX, como sejam:
1. O centro das actividades comerciais e cívicas da cidade foi-se progressivamente deslocando ao longo da segunda metade do século XIX, das praças da Ribeira e do Infante para a Praça de D. Pedro.
2. Os bancos e companhias de seguros então estabelecidos em torno da Praça do Infante, e os estabelecimentos comerciais e os escritórios, vão ocupando as ruas das Flores e de Mouzinho da Silveira.
3. O centro composto pelas ruas de S. João, Flores, Belmonte e Mouzinho da Silveira vai perdendo importância para o eixo definido pela Cordoaria / Praça D. Pedro / Batalha.
4. No início do século XX, a Praça de D. Pedro situada entre a Praça de Carlos Alberto e a Praça dos Voluntários da Rainha no lado poente, e a Praça da Batalha a nascente, são já o centro do importante eixo comercial, desde a Rua dos Clérigos à Rua de Santo António e desde a Praça Almeida Garrett até à Praça da Trindade e ao Campo da Regeneração”.
Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”


 
«Esta parte do Porto pode chamar-se realmente bella, muito mais bella que o Chiado: na verdade, não conheço nada em Lisboa n'este estylo que a possa igualar. Se tomarmos a Praça Nova por um valle como foi antigamente, e as duas ruas que se levantam em frente uma da outra, cada uma com a sua eminência coroada por uma bonita e antiga igreja, teremos assim um quadro muito attractivo que nos encanta pela surpreza”.
In, A Formosa Lusitânia, tradução de Camilo Castelo Branco


 
O livro “Fair Lusitania” foi escrito em 1874 por Lady Catherine Hannah Charlotte Elliott Jackson, Lady Jackson (1824-1891), que era a esposa do diplomata Sir George Jackson (1785-1861).

 
 

Lady Jackson (no meio do grupo) à porta do Lawrence’s Hotel em Sintra – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.pt”; Da colecção do Hotel Lawrence’s
 
 
 
 

Detalhe da Planta do Guia do Porto Illustrado

 
 
A praça de D. Pedro passa a ser o centro administrativo, político e cívico.
Era aí que se realizavam as recepções e as manifestações da cidade, após 1819.

 
 

Gravura de L. Freire In “O Occidente“ n.º 437, 11de Fevereiro de 1891


 
Na gravura acima está representada a proclamação da República das janelas dos Paços do Concelho do Porto, no 31 de Janeiro de 1891.

 
"...Tomados de pânico geral, os revoltosos refugiaram-se no edifício da Câmara e aí se fortificaram.
Então as forças fiéis puseram cerco ao edifício. Uma força da guarda municipal abrigou-se por de­trás do quiosque de ferro que fica em frente dos Paços do Concelho e varejou as janelas, donde os insurrectos respondiam, a princípio com fogo nutrido, e pouco a pouco rareando os tiros.
Pouco depois, a bateria de montanha estacionada na Serra do Pilar desmontava as suas duas peças nos ângulos dos Lóios e S. Bento, assestava-as contra a fachada do edifício e rompia o fogo, a princí­pio com pólvora seca e depois com bala, causando grandes estragos nas salas do primeiro andar." 
In O Primeiro de Janeiro, sobre o malogrado golpe de 31 de Janeiro
 
 
 

O quiosque do Sebastião (em primeiro plano) em frente à Câmara

 
 
Em 11 de Janeiro de 1890, surge o Ultimato Inglês que visava absorver as nossas possessões na África Austral e pôr em prática um plano consequente, para o qual tinha a aquiescência da monarquia e do governo de então. Principalmente os estudantes contestaram e lavraram o seu protesto em manifestações por todo o País, dando vivas à república. No Porto, o Teatro do Príncipe Real seria alvo de um comício que ficou célebre e, principalmente pelos cafés, passou a congeminar-se algo que desse sentido aos protestos.
Outro comício que deu brado teve lugar nas vésperas do golpe falhado de 31 de Janeiro de 1891, em frente da casa na Rua de Cedofeita, de Joaquim de Vasconcelos e Carolina Michaëlis, onde estava hospedado o poeta Antero Quental que tinha sido chamado de V. do Conde ao Porto, e que da varanda da casa discursou como presidente da Liga Patriótica para os estudantes presentes na rua, que levantaram vivas à Liga Patriótica do Norte, a Álvaro Castelões e a Serpa Pinto.
 



A recepção a D. Manuel II na Câmara Municipal - In  Illustração Portugueza n.º 143, 16 de Novembro 1908
 
 
 
 

Uma fotografia da mesma recepção a D. Manuel II


 
No século XIX é na Praça D. Pedro que se encontram os mais conhecidos políticos, escritores, artistas, empresários e estudantes, já que, aqui, estão instalados os mais conhecidos cafés da cidade e a praça funciona, ainda, como o principal ponto de distribuição dos transportes da cidade. 



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