18.18 Praça da Liberdade ou Praça Nova ou Praça D.
Pedro
Gravura da Praça da Constituição em 1820 (actual Praça da
Liberdade)
Na gravura acima, em 1820, com a perspectiva obtida a partir
do convento dos Padres Lóios, está representado, na então chamada Praça Nova,
ao fundo, a Câmara, à direita, o convento e a igreja dos Congregados e, em
primeiro plano, à esquerda, a fonte (para a qual se descia por uma escadaria)
da Natividade, que tinha a envolvê-la um mercado em madeira – o mercado da
Natividade.
Anteriormente, a actual Praça
da Liberdade designou-se por Casal ou Lugar de Paio de Novais e Sítio
da Fonte da Arca (durante o século XV); Lugar ou Praça da Natividade (depois
de 1682, devido à fonte lá construída nesse ano); Quinta, Campo ou Sítio das Hortas
(até 1711); Praça Nova das Hortas ou mais comummente Praça Nova (depois de
1711); Praça da Constituição (1820); novamente Praça Nova (1823); Praça
de D. Pedro IV (1833) e, ainda que por poucos dias, Praça
da República (13 de Outubro de 1910).
A designação presente de Praça da Liberdade, foi adoptada em 27 de Outubro de 1910. O nome é
uma alusão ao sistema republicano de governo.
Propriedade do Cabido da Sé do Porto, esta área, localizada
no exterior das Muralhas Fernandinas que cercavam a cidade, entre a Porta de
Carros e a de Santo Elói, teve projetos de criação de uma praça pública em 1691
e em 1709 que não se chegaram a concretizar.
Era nestes tempos costume, os edifícios propriedade do
Cabido terem presente na fachada, a figura de São Miguel Arcanjo, que era o seu
patrono. Tal facto, ainda pode hoje ser observado na Rua das Flores, onde os
prédios também pertencentes ao Bispo, tinham também identificação própria.
Por aquelas bandas, existia a Porta de Carros no mesmo sítio onde
tinha existido um postigo, denominado Postigo de Carros, que fora mandado abrir
em 1408, já com o muro de pé, pelo bispo D. João Aranha.
Quando, em 1518, se construiu em terrenos que pertenciam ao
faval do bispo o mosteiro de S. Bento da Ave-Maria, o postigo foi fechado e
aberta a porta, em 1521, obra do corregedor António Correia, a 100 metros para
poente onde estava o postigo, e que permitiria um mais rápido acesso à Rua das
Flores, que começou por ser Rua de Santa Catarina das Flores por, à época, da sua abertura, o bispo do Porto ser devoto daquela santa.
O sítio da Porta de Carros sofreu ao longo dos tempos várias
transformações.
Por exemplo, em frente à Igreja dos Congregados existia um
adro e o acesso ao templo fazia-se por escadaria frontal, tendo, mais tarde a
Câmara, acabado com o adro e com a escadaria, deixando apenas dois lanços
amparados por varandim e mais tarde novamente por escadas frontais guarnecidas
por balaustrada e, a partir de 1913, o acesso ao templo passa a fazer-se à face
da rua, e o desnível correspondente passaria a ser vencido, por escada
interior.
Em frente à Igreja, havia uma fonte que recebia a água de uma
nascente situada ao cimo das Escadas de D. Teresa (Rua da
Madeira), que teve também os topónimos de Calçada da Teresa e Calçada
da Fonte da Rainha D. Teresa.
Em 1718, para toda essa área foi lançado um novo projecto,
tendo o Cabido da Sé cedido os terrenos necessários à abertura da Praça Nova
das Hortas.
Novas ruas foram, então, também rasgadas, entre as quais a Rua
do Laranjal das Hortas (hoje desaparecida) e a Rua da Cruz (actual Rua
da Fábrica).
Da concretização deste projecto, resultaria ao fim de algumas
dezenas de anos a Praça Nova, limitada a Norte por dois palacetes onde, entre
1819 e 1915, funcionaram os Paços do Concelho (o palacete de Monteiro Moreira e
o de Morais Alão); a Oriente pelo Convento dos Congregados; a Sul por um tramo
da Muralha Fernandina, destruída em 1788 para dar lugar ao Convento de Santo
Elói (só terminado no século XIX e actualmente chamado Palácio das Cardosas); e
o lado Poente, só mais tarde edificado.
Em 1827, a Porta de Carros foi demolida.
Quanto ao espaço central da praça seria, ao longo dos tempos, alvo de várias modificações estéticas.
Assim, em 12 de Fevereiro de 1843, a Câmara mandou colocar um gradeamento a envolver a praça. O gradil era em ferro fundido assente em colunas de pedra, com quatro entradas pelos cantos.
Mais tarde, o gradeamento seria retirado, dizem que, para S. Lázaro.
Tal acção ocorreu em Abril de 1869, de acordo com a notícia publicada no jornal "O Comércio do Porto", em 20 de Abril de 1919, na sua rubrica de memórias intitulada: "Há 50 anos".
No entanto, desde 1866, a peça que se destaca, ainda nos nossos dias, na praça, é a estátua equestre de D. Pedro IV. Ela que, também, haveria de ser envolvida por uma grade, ao longo da sua existência.
Praça D.Pedro IV
no século XIX e transição para o XX
“Após a entrada de D.
Pedro IV no Porto, a então chamada Praça Nova, antiga das Hortas, passou por
uma profunda remodelação e recebeu novos melhoramentos. A primeira medida foi o
derrube dos sinistros esqueletos das forcas miguelistas que ali se mantinham,
de pé, desde que nelas haviam sido enforcados, em 1829, os doze liberais que o
regime miguelista condenara àquela morte degradante só por que, um ano antes,
haviam lutado pela liberdade.
Logo a seguir,
demoliu-se a velha e veneranda capela de Nossa Senhora da Natividade, que
ficava sensivelmente em frente ao edifício onde agora está a Ateneia, e que,
anteriormente, e por questões de proximidade, dera o nome à calçada que é hoje
a Rua dos Clérigos.
Atulhou-se, depois, a
antiga fonte da Arca que se situava junto da referida capela e que ocupava um
espaço que ficava abaixo do nível do pavimento da praça.
Ao camartelo
municipal, que não tinha descanso, como se pode facilmente constatar pelas
descrições atrás, faltava cair sobre as inestéticas e imundas barracas de
madeira que constituíam o chamada mercado da Natividade.
Aconteceu mal acabaram
os trabalhos do entulhamento da fonte”.
Com a devida vénia a Germano Silva
Em 1851, a Câmara decidiria mandar fazer o calcetamento da
Praça D. Pedro que ficaria conhecido por “calçada portuguesa”.
“Grandes
transformações no centro da cidade começam a acontecer com o passar do século
XIX, como sejam:
1. O centro das
actividades comerciais e cívicas da cidade foi-se progressivamente deslocando
ao longo da segunda metade do século XIX, das praças da Ribeira e do Infante
para a Praça de D. Pedro.
2. Os bancos e
companhias de seguros então estabelecidos em torno da Praça do Infante, e os
estabelecimentos comerciais e os escritórios, vão ocupando as ruas das Flores e
de Mouzinho da Silveira.
3. O centro composto
pelas ruas de S. João, Flores, Belmonte e Mouzinho da Silveira vai perdendo
importância para o eixo definido pela Cordoaria / Praça D. Pedro / Batalha.
4. No início do século
XX, a Praça de D. Pedro situada entre a Praça de Carlos Alberto e a Praça dos
Voluntários da Rainha no lado poente, e a Praça da Batalha a nascente, são já o
centro do importante eixo comercial, desde a Rua dos Clérigos à Rua de Santo
António e desde a Praça Almeida Garrett até à Praça da Trindade e ao Campo da
Regeneração”.
Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”
«Esta parte do Porto pode chamar-se realmente bella, muito
mais bella que o Chiado: na verdade, não conheço nada em Lisboa n'este estylo
que a possa igualar. Se tomarmos a Praça Nova por um valle como foi
antigamente, e as duas ruas que se levantam em frente uma da outra, cada uma
com a sua eminência coroada por uma bonita e antiga igreja, teremos assim um
quadro muito attractivo que nos encanta pela surpreza”.
In, A Formosa
Lusitânia, tradução de Camilo Castelo Branco
O livro “Fair
Lusitania” foi escrito em 1874 por Lady Catherine Hannah Charlotte
Elliott Jackson, Lady Jackson (1824-1891), que era a esposa do diplomata Sir
George Jackson (1785-1861).
Lady Jackson (no meio do grupo) à porta do Lawrence’s Hotel
em Sintra – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.pt”; Da colecção do Hotel
Lawrence’s
A praça de D. Pedro passa a ser o centro administrativo,
político e cívico.
Era aí que se realizavam as recepções e as manifestações da
cidade, após 1819.
Na gravura acima está representada a proclamação da
República das janelas dos Paços do Concelho do Porto, no 31 de Janeiro de 1891.
"...Tomados de pânico geral, os revoltosos
refugiaram-se no edifício da Câmara e aí se fortificaram.
Então as forças fiéis puseram cerco ao edifício. Uma
força da guarda municipal abrigou-se por detrás do quiosque de ferro que fica
em frente dos Paços do Concelho e varejou as janelas, donde os insurrectos
respondiam, a princípio com fogo nutrido, e pouco a pouco rareando os tiros.
Pouco depois, a bateria de montanha estacionada na Serra
do Pilar desmontava as suas duas peças nos ângulos dos Lóios e S. Bento,
assestava-as contra a fachada do edifício e rompia o fogo, a princípio com
pólvora seca e depois com bala, causando grandes estragos nas salas do primeiro
andar."
In O Primeiro de Janeiro, sobre o malogrado golpe de 31 de
Janeiro
Em 11 de Janeiro de 1890, surge o Ultimato Inglês que visava
absorver as nossas possessões na África Austral e pôr em prática um plano
consequente, para o qual tinha a aquiescência da monarquia e do governo de
então. Principalmente os estudantes contestaram e lavraram o seu protesto em
manifestações por todo o País, dando vivas à república. No Porto, o Teatro do
Príncipe Real seria alvo de um comício que ficou célebre e, principalmente
pelos cafés, passou a congeminar-se algo que desse sentido aos protestos.
Outro comício que deu brado teve lugar nas vésperas do golpe
falhado de 31 de Janeiro de 1891, em frente da casa na Rua de Cedofeita, de
Joaquim de Vasconcelos e Carolina Michaëlis, onde estava hospedado o poeta
Antero Quental que tinha sido chamado de V. do Conde ao Porto, e que da varanda
da casa discursou como presidente da Liga Patriótica para os estudantes
presentes na rua, que levantaram vivas à Liga Patriótica do Norte, a Álvaro
Castelões e a Serpa Pinto.
A recepção a D. Manuel II na Câmara Municipal - In Illustração Portugueza n.º 143,
16 de Novembro 1908
No século XIX é na Praça D. Pedro que se encontram os mais
conhecidos políticos, escritores, artistas, empresários e estudantes, já que,
aqui, estão instalados os mais conhecidos cafés da cidade e a praça funciona,
ainda, como o principal ponto de distribuição dos transportes da cidade.
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