“A abertura da Rua de
Álvares Cabral, ligando o então Campo da
Regeneração à Rua de Cedofeita, ficou concluída em 1898. No entanto, esta
rua, assim como o local onde ela foi rasgada, tem uma história que merece ser
conhecida.
Em 1837, o então
presidente da câmara, Luciano Simões de Carvalho, mostra o interesse e o empenho da câmara na abertura
de arruamentos que ligassem o então Jardim de Santo Ovídio (Praça da
República) à já citada Rua de Cedofeita.
Estas necessidades
eram motivadas pelo facto de o Porto se ter tornado uma cidade em constante
crescimento, motivado por uma dinâmica económica invejável, obrigando os
poderes públicos a encetar os processos que conduziam à modernização e
remodelação urbanística.
Em 1881, o então
governador do Porto, José Augusto C. Barros, voltou a manifestar interesse na
abertura da rua, mas teriam ainda de passar 17 anos para que tal acontecesse.
Se analisarmos o mapa
do Porto referente ao ano de 1865 (mapa de Perry Vidal), vemos que próximo da
Praça da República existia uma quinta que ocupava um vasto terreno que ia desde
dessa praça até Cedofeita, tendo a Rua da Boavista a limitá-la a norte”.
Fonte: César Santos Silva, In “porto-desaparecido”
Primitivamente a quinta atrás referida, era conhecida pela
denominação de Quinta da Boavista. Pertenceu ao desembargador João
Carneiro de Morais, que nela mandou construir uma capela dedicada a S. Bento e
Santo Ovídio, há muito desaparecida.
Os herdeiros venderam a quinta, na segunda metade do século
XVIII, a Manuel de Figueiroa, contador da Fazenda Real. A Travessa da
Figueiroa existe em memória deste fidalgo.
A quinta que era da Boavista, começou então, a ser conhecida
por Quinta dos Figueiroas.
Em 1784, seria Manuel Pamplona Figueiroa, 1º visconde de Beire, que deu gratuitamente à
Câmara parte da sua propriedade para abertura de uma rua que foi aquela que
tomou o nome da quinta ou seja, Rua da Boavista, entre o Campo de Santo Ovídio
e as Águas Férreas.
O troço da Rua da Boavista para poente só foi aberto depois
do cerco do Porto e chamou-se primitivamente Rua dos Jasmins, tendo
tomado a partir de 1835 o topónimo de Rua 25 de Julho em memória daquele
dia do ano de 1833, em que se travou durante o cerco do Porto, uma importante
refrega junto da Pasteleira.
“Após a morte de Manuel
Figueiroa em 1775 a quinta passou para o seu descendente e afilhado D. Manoel
de Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto Miranda de Figueiroa (1774-1849) 1º
Visconde de Beire, que comandou o regimento de Infantaria n.º18 durante a
Guerra Peninsular e Vereador na cidade do Porto. Foi este proprietário que
mandou edificar o palacete e traçar e plantar os seus jardins. Nos finais do
século XVIII, foi este Figueiroa que cedeu o terreno no limite norte da sua
propriedade para a abertura da rua destinada a ligar o Campo de Santo Ovídio
com a rua de Cedofeita (rua dos Jasmins, rua 25 de Julho e finalmente rua da
Boavista), a que não é alheio o facto de desempenhar o cargo de Vereador. A
Quinta era então conhecida como Quinta
do Pamplona.
A sua filha D. Maria
Balbina Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto de Figueiroa (1819-1890),
condessa de Rezende pelo casamento com D. António Benedito de Castro
(1820-1865), 4º Conde de Rezende, e a filha destes, Maria Emília de Castro Eça
de Queiroz (1857-1934), casou em 1886, na capela da quinta com o escritor José
Maria Eça de Queiroz (1845-1900). A Quinta foi por isso também conhecida
como Quinta dos Resende”.
Fonte: Blogue “doportoenaoso”
O escritor Eça de Queiroz casou, no dia 10 de Fevereiro de
1886, na capela da quinta, com D. Emília de Castro Pamplona, filha dos condes
de Resende.
«Após cinco meses de noivado casaram-se Eça de Queirós e
D. Emília de Castro Pamplona (Resende), no dia 10 de Fevereiro de 1886, no
Oratório particular da Quinta de Santo Ovídio no Porto, pertencente à família
da noiva, já desaparecido em virtude da abertura da rua Álvares Cabral, que
liga a rua da Cedofeita ao Campo Mártires da Pátria.»
A quinta, com sua vivenda apalaçada, seus belos e bem
cuidados jardins, um extenso parque e a enorme propriedade rústica, tinha a
entrada principal voltada para o Campo de Santo Ovídio, hoje Praça da
República. Era, na opinião de um cronista do século XVIII, "a mais agradável vivenda do Porto".
Os condes de Resende, num gesto fidalgo, franqueavam aos
domingos e feriados, os jardins da sua quinta ao público. A frequência era
enorme, sobretudo na noite de S. João.
A quinta era enorme, povoada de secular arvoredo e, onde
hoje está o entroncamento das ruas de Álvares Cabral, Cedofeita e Travessa da
Figueiroa tinha no muro de vedação que a envolvia, um amplo portão armoriado.
Será curioso referir, que a água que abastecia a quinta
vinha de uma mina situada para os lados de Costa Cabral, seguindo a água por S.
Brás e Campo de S. Ovídio, entrando depois na quinta.
Quinta do visconde de Beire na planta de Perry Vidal em 1865
Fachada principal virada para nascente e para o Campo da Regeneração
Palacete de Santo Ovídio em 1833 (fachada poente)
Palacete da Quinta de Santo Ovídio (fachada poente) - Ed.
facebook.com/PortoDesaparecido
“Em 1892, os condes de
Resende iniciaram o processo que viria a culminar na alienação da quinta,
vendida em 144 lotes, o que favoreceu os interesses fundiários orientados para
uma clientela rica que podia pagar o alto preço pedido pelos respectivos lotes
(entre 750.000 reis e 1.250.000), oferecendo os condes de Resende à Câmara um
arruamento que rasgava a quinta de nascente a poente.
A vasta e linda
propriedade foi então retalhada e feita a abertura da Rua de Álvares Cabral.
O processo de abertura
de uma rua nos terrenos da Quinta dos Pamplonas, originou uma rua aristocrática
com belíssimas moradias, muito ao gosto das classes abastadas da época.
Hoje, apesar dos inúmeros desmandos
arquitectónicos, a rua ainda mantém um ar elegante, o que a torna única no contexto
da zona.
A artéria inicialmente
chamava-se Rua dos Pamplonas, mas,
depois, a câmara quis imortalizar o descobridor do Brasil Pedro Álvares Cabral.
Este inicialmente
chamava-se Pedro Álvares de Gouveia e só depois trocou o último nome por
Cabral. Segundo dos sete filhos de Fernão Cabral e Isabel de Gouveia, Pedro
Álvares não podia usar o sobrenome do pai. Isso era privilégio apenas do filho
mais velho. Quando veio ao Brasil, em 1500, ele usava o sobrenome da mãe. Era
Pedro Álvares Gouveia. Ele só ganhou o sobrenome paterno depois da morte do
irmão mais velho. O navegador nasceu em Belmonte em 1467 e morreu em Santarém
em 1520”.
Fonte: César Santos Silva, In “porto-desaparecido”
Traçado da nova rua, entretanto abandonado por pressão de
proprietários
Na planta anterior projectava-se a Rua de Cedofeita com
ligação em linha recta à Rua Gonçalo Cristovão.
Quinta dos Pamplonas (fachada poente)
“A fachada poente do palacete, também com dois corpos
avançados, abria, por uma porta de acesso coroada por frontão interrompido com
volutas, para um terraço com balaústres de onde se descia por uma escadaria que
dava acesso ao jardim.
(…) A Alameda central tendo ao fundo um pavilhão com
brasão, que dava acesso à Rua de Cedofeita e á igreja de Cedofeita”.
Fonte: Blogue "doportoenaoso"
Praça da República
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