Lado Poente
Do lado Poente da Praça D. Pedro, existia um conjunto de
edifícios dos séculos XVIII e XIX, com transformações e adaptações sucessivas e,
ainda, o chafariz da Praça D. Pedro, do fim do século XVIII.
Nesta zona, estávamos, sobretudo, em presença de casas de
pasto e modestos restaurantes, entre os quais sobressaía o “Cascata”.
Por aí, também estiveram, no chão que é hoje o do Banco de
Portugal, o Hotel Central do Porto e o Restaurante Europa.
À esquerda da foto, o “Hotel Central do Porto”, em 1908, durante a visita de D. Manuel II
À esquerda da foto, observa-se uma nesga do edifício onde
esteve o Restaurante Europa
A foto anterior apresenta um grupo de jovens integrando a
chamada 1ª “Festa da Flor”, que se realizou em Março de 1917, promovida pelo jornal
“O Século” e pela “Cruzada das Mulheres Portugueses”, para angariar fundos a
favor dos combatentes do Corpo Expedicionário Português na Primeira Grande
Guerra.
No início do século XIX, esta área foi, sobretudo, dominada
pela ermida da Natividade, a Fonte da Natividade (antes chamada Fonte da Arca),
o Mercado da Natividade e o chafariz da Praça D. Pedro.
Magalhães Basto referindo-se à Praça D. Pedro de 1850,
escrevia:
«Comecemos pela Praça Nova das Hortas ou de D. Pedro.
Destruída a ermida da Natividade, demolida e entulhada a
monumental Fonte da Arca, e arrasadas as lobregas barracas de madeira do
mercado da Natividade, o antigo largo das Hortas, desobstruído de todas essas
construções que lhe demoravam na parte meridional, ficara airoso e desimpedido.
Sucessivamente, as vereações foram-no aformoseando.
Primeiro regularizaram-lhe o pavimento e fizeram uma
vasta placa central rectangular, deixando à volta uma rua não muito larga para
o trânsito.
Em 1841 ornamentaram-no com odoríferas e umbrosas
acácias, amoreiras e magnólias, dispostas em renques.
Em 1843 encerraram essa parte arborizada num forte
gradeamento com portas a cada canto. (...)
A Praça Nova estava um brinco ... »
Magalhães Bastos “O Porto do Romantismo”
Chafariz da Praça
D. Pedro em 1833 – Desenho de Joaquim Cardoso Villanova
No desenho acima, de Joaquim Cardoso Villanova, que é a única
alusão gráfica que se conhece do chafariz, construído entre 1794 e 1796, vêem-se
também as edificações do lado poente da
praça.
Junto a esse local,
onde hoje está o Banco de Portugal, existiu a Rua de Entre Vendas, delimitada também pelos barracões do
mercado da Natividade e por onde esteve também a ermida da Natividade e a Viela do Polé que ligava à Rua das
Hortas, hoje conhecida como, Rua do Almada.
A Viela do Polé do
lado direito, onde estão as escadas e o prédio recuado
Ao fundo da foto, à esquerda, espreita o Palacete das Cardosas.
A Viela do Polé era
um beco muito antigo, que existia sensivelmente a meio da frente urbana poente
da Praça D. Pedro, ligando-a à Rua do Almada. Em 1913, Alberto Pimentel
escrevia:
"a antiga viela da Polé, hoje entaipada,
em atenção à higiene pública, por duas portas de ferro, numa e noutra
extremidade".
As forças da ordem
eram frequentemente chamadas à Viela do Polé, para acalmar desordens e socorrer
os feridos. Dela saiu a frase tão conhecida no Porto de “sofrer tratos de
polé”.
Poucos anos
volvidos, no processo de abertura da Avenida dos Aliados e do levantamento de
novos e mais imponentes edifícios, em 1917, o Banco de Portugal adquiriu vários
prédios no local, com o objectivo de aí erguer a sua nova delegação no Porto,
incluindo a antiga viela, o que permitiu aumentar a fachada.
Assim, a 3 de Julho de 1918, foi assinada a escritura de
venda da viela e dos prédios que com a mesma confinavam, pelo lado do sul,
permitindo que o Banco de Portugal viesse a ser inaugurado em 1934.
Passagem da obra “Praça
Nova” de Alberto Pimentel
A igreja dos Clérigos, ao fundo, numa vista para Poente
Com a igreja dos Clérigos, em fundo, em 1895 - Ed.
desconhecido
Nesta parte da praça onde em tempos existiu, a partir de
meados do século XIX, a Fonte da Natividade, destacavam-se então, a cervejaria
Sá Reis, a Flora Portuense (estabelecimento pertencente a Aurélio Paz dos
Reis) e o Hotel Central.
Entre a "Navarro" e a "Flora Portuense" estava, em 1913, a cervejaria Sá Reis
Cervejaria Sá Reis, c. 1930, na Praça da Liberdade, nº 54 - Fonte: Gisaweb
Cervejaria Sá Reis antes de fechar portas
Aquela cervejaria encerrou há dias (2017). Era um dos
mais antigos estabelecimentos do Porto do seu género e, curiosamente, teve
origem numa tabacaria, que já existia em 1895, também com o nome de Sá Reis, mas
que funcionava nos baixos do antigo edifício das Cardosas, hoje, Hotel
Intercontinental, na esquina com a Praça de Almeida Garrett onde, depois, esteve
uma alfaiataria e o café Astória.
A tabacaria tinha uma filial, que funcionava no lado poente
da praça, com o mesmo nome, mas dedicando-se ao comércio da venda de cerveja ao
copo.
Quanto ao Aurélio da Paz dos Reis (28 de Julho de 1862-18 de
Setembro de 1931) foi comerciante, filiado no Partido Republicano Português, vice-presidente
da Câmara Municipal do Porto entre 1914 e 1915, presidente do Ateneu Comercial,
da Associação Comercial, fundador do Club Fenianos e do Orfeão Portuense e da
Associação Portuguesa do Asilo de São João, fotojornalista premiado e ficou
ligado ao cinema português pelo primeiro filme feito à saída da Camisaria
Confiança.
Flora Portuense
Em fundo, a casa “Flora Portuense” de Aurélio Paz dos Reis
Na Flora Portuense, a loja de Aurélio da Paz dos Reis, na
Praça de D. Pedro, que abriu em 1893, vendia ele, para além do que produzia no
horto, cache-pots, fitas, lápis para escrever em vasos, carvão, café, champanhe
francês, assinaturas de jornais republicanos e, também, as suas fotografias
estereoscópicas.
No local, onde existiu a Flora Portuense, está hoje a
Confeitaria Ateneia, na Praça da Liberdade. Quanto ao edifício, foi substituído
por outro que, por sua vez, foi remodelado em 2008, pelo proprietário, neto de Aurélio
da Paz dos Reis.
Durante grande parte do século XX, nomeadamente na sua segunda
metade, no lado poente da Praça da Liberdade, entre a Rua dos Clérigos e a
delegação do Banco de Portugal, estiveram em sequência as seguintes entidades:
Casa Navarro (loja de marroquinaria com fundação reportando a 1860) e Cervejaria Sá Reis (no primeiro edifício do século XIX, da foto abaixo), no nº 58, a confeitaria Ateneia, no nº 62, uma central de cabines telefónicas dos TLP, confeitaria Arcádia e Livraria Figueirinhas.
Hoje (2021), no edifício com fachada para a Rua dos Clérigos, representado na foto abaixo, está no seu R/C e 1 º andar, respectivamente, uma loja da ourivesaria/joalharia e um museu dedicado à filigrana, da firma “David Rosas” e, nos restantes andares, um hotel do Grupo Pestana, com 43 quartos de 4 estrelas.
A firma “David Rosas” tem origens numa pequena oficina de
ourivesaria que Mateus dos Santos Rosas começou a explorar, em 1860, em
Gondomar.
Passando de mão em mão pelos descendentes do fundador, em 1930, a empresa passa a ser gerida pelo seu neto Serafim Rosas, e a denominar-se “Rosas de Portugal”.
Em 1980, David Rosas, um bisneto do fundador, cria de parceria com a sua mulher, Maria Luísa, uma empresa com o seu nome, que não pararia de crescer.
Hoje (2021), apresentam uma loja na Praça da Liberdade, inaugurada em 2019, sendo os negócios conduzidos pela designer de joias Luísa Rosas e com a administração a cargo de Pedro Rosas, ambos filhos de David Rosas.
Casa Navarro (loja de marroquinaria com fundação reportando a 1860) e Cervejaria Sá Reis (no primeiro edifício do século XIX, da foto abaixo), no nº 58, a confeitaria Ateneia, no nº 62, uma central de cabines telefónicas dos TLP, confeitaria Arcádia e Livraria Figueirinhas.
Hoje (2021), no edifício com fachada para a Rua dos Clérigos, representado na foto abaixo, está no seu R/C e 1 º andar, respectivamente, uma loja da ourivesaria/joalharia e um museu dedicado à filigrana, da firma “David Rosas” e, nos restantes andares, um hotel do Grupo Pestana, com 43 quartos de 4 estrelas.
Prédio do gaveto da Praça da Liberdade com a Rua dos Clérigos - Fonte: Google maps
Passando de mão em mão pelos descendentes do fundador, em 1930, a empresa passa a ser gerida pelo seu neto Serafim Rosas, e a denominar-se “Rosas de Portugal”.
Em 1980, David Rosas, um bisneto do fundador, cria de parceria com a sua mulher, Maria Luísa, uma empresa com o seu nome, que não pararia de crescer.
Hoje (2021), apresentam uma loja na Praça da Liberdade, inaugurada em 2019, sendo os negócios conduzidos pela designer de joias Luísa Rosas e com a administração a cargo de Pedro Rosas, ambos filhos de David Rosas.
Neste local, numa loja a meio da fachada voltada para a Praça dos Lóios, tinha estado entre 1877 e 1898 uma outra ourivesaria, "Leitão & Irmão", transferida definitivamente para Lisboa, e que cederia o espaço à Livraria Moreira.
Na foto abaixo, observa-se um quiosque que substituiu um outro mais antigo, com a mesma traça, que ocupava o mesmo local.
Na foto abaixo, observa-se um quiosque que substituiu um outro mais antigo, com a mesma traça, que ocupava o mesmo local.
Quiosque
A poucos metros do quiosque da foto anterior, mais para
Norte, existe há décadas um outro
quiosque utilizado pelos STCP, e que se pode ver na foto abaixo.
Quiosque - Fonte: pt.wikipedia.org
O quiosque acima é construído
em betão, de planta rectangular com os cantos cortados, apresenta um estilo Art
déco.
O quiosque está
classificado como Imóvel de Interesse Municipal, na sequência do decreto 67/97,
publicado no Diário da República de 31 de Dezembro.
A Poente da praça, junto ao Banco de Portugal (parcialmente à
direita)
Na foto acima, vê-se o local da livraria Figueirinhas, tendo
estado ao seu lado, durante anos, no piso superior, a filial do Diário de Lisboa,
num edifício de Júlio Brito, e no piso térreo a confeitaria Arcádia, cujo
projecto foi de José Ferreira Peneda.
Vista sobre o lado a
Poente da Praça D. Pedro
Eléctrico na Praça
D. Pedro, c. 1908
Os prédios, à
esquerda, na foto anterior, seriam parcialmente demolidos, para a construção
das instalações da delegação do Banco de Portugal.
Esta delegação tinha
estado, desde a sua abertura, instalada no Largo de S. Domingos, no Convento
de Nossa Senhora dos Fiéis de Deus do Porto, vulgo convento de S. Domingos.
“Em 1917, o Banco de Portugal comprou um
terreno à Câmara do Porto na Rua do Almada e Praça da Liberdade, aproveitando a
oportunidade surgida pela abertura da Av. dos Aliados e, disposto a aí
construir um edifício de raiz, com as características exigidas pela nova via de
comunicação. Em 1918, adquiriu ainda novo imóvel e terreno, na Viela da Polé.
Em 1918, o anteprojeto do edifício é entregue
aos arquitetos Ventura Terra e José Teixeira Lopes. A arquitetura do edifício
tinha em conta a harmonia entre os serviços comerciais, o serviço do Tesouro, o
público e os empregados. Deu-se especial atenção aos materiais empregues
(granito e mármore), às modernas técnicas de ventilação, iluminação e
aquecimento.
Com a morte dos dois arquitetos o projeto
definitivo viria a ser elaborado pelo Eng.º José Abecassis e apresentado em
1922. A estrutura do frontão e as duas estátuas laterais em bronze, são da
autoria do escultor José Sousa Caldas.
Na construção do edifício surgiram problemas,
relacionados com característica dos terrenos de natureza alagadiça, o que
prolongou os trabalhos até Abril de 1934, data da inauguração do novo edifício.
Fonte: “pt.wikipedia.org/”
Construção do novo edifício do Banco de Portugal, em 1923
Na foto acima, veem-se
as casas do lado poente da Rua do Almada e, possivelmente, o engenheiro José Abecassis que substituiu, na condução do projecto, José Teixeira Lopes e
Miguel Ventura Terra, entretanto, falecidos.
Edifício antes da demolição
O edifício da foto acima, uma casa de comércio de materiais
de construção de Arnaldo Lima, ficava situado na esquina da Rua do Almada e Rua
do Dr. Artur de Magalhães Basto, sendo hoje o espaço ocupado pela delegação do
Banco de Portugal.
No início do século XIX, a Poente da Praça Nova, existiam
umas barracas onde alguns comerciantes vendiam os seus produtos e que, com os
prédios que limitavam a referida praça, a Poente, originavam uma rua estreita que
dava pelo nome de Rua de Entre Vendas e o local, por Mercado da Natividade.
Essas barracas envolviam, a denominada Fonte da Natividade, excepto pela parte
sul, que exibia a partir de determinada época, uma cancela para acesso às
bicas.
Em documentos oficiais do ano de 1833, podia-se ler, por
exemplo:
“as pequenas casas,
lojas e barracas que existem dentro, fora e em volta do sitio da Natividade,
etc”.
Outro erudito portuense, o arcebispo de Calcedónia, chamou a
atenção para o facto do mercado do Anjo, autorizado por decreto de 20 de Maio
de 1833, ter uma configuração, que não sendo um trapézio regular, parecia, contudo, ter sido sugerida pela do mercado da Natividade.
Teixeira de Vasconcelos, nascido em 1816, duas vezes se
refere ao mercado da Natividade no seu romance Roberto Valença, publicado em
1848.
Sousa Reis, mais velho do que Teixeira de Vasconcelos, pois
nasceu a 26 de Outubro de 1810, também, num trecho diz:
“as lojas das
differentes fazendas e miudezas que são delineadas na planta ...»
As mercadorias expostas no primitivo mercado volante da
muralha do Campo das Hortas, em que os artigos eram expostos suspensos por
ganchos cravados nas pedras da muralha, tinham permitido o crescimento, no mercado da
Natividade, do comércio de géneros alimentícios e o de bebidas, nas casas da Rua
de Entre-Vendas.
A questão da permanência das barracas, já renovada em 1819,
desde que a Câmara funcionava no edifício por ela adquirido, parecia ir chegar
ao seu termo, com a presença da edilidade. Mas, o que é certo, é que ainda durou
muitos anos. Os barraqueiros voltaram a embaraçar a demolição, quando a Junta
Provisional o ordenou.
A Câmara Municipal, por sua parte, não tinha descurado essa
grande questão das barracas e das casas ao poente, assim, a Junta das
Obras Públicas (composta de vereadores e presidida por um cidadão) já alvitrara
que fossem demolidas mediante indemnização a quem se provasse dever recebê-la.
Quanto à localização do mercado, que Arnaldo Gama diz ser ao
meio da Praça, bastará ouvir o testemunho da pessoa que viu demolir o mercado e, ao tempo da demolição, escrevia na “Chrónica Constitucional do Porto” dizendo
que tinha sido levantado para o lado do sul no canto do poente da Praça Nova,
etc.
Um facto recente veio confirmar tudo quanto a este assunto diz
respeito, que foi, o terem encontrado na Biblioteca Pública do Porto uma planta
da cidade em 1813, a qual indica, nitidamente, o lugar e a configuração da
Fonte da Arca, bem como, portanto, do Mercado da Natividade, que lhe seguia o
desenho e que coincide com a descrição da testemunha da sua demolição, atrás
referido.
Após a vitória de D. Pedro e levantado o cerco à cidade, e após
variadas diligências e algum tempo gasto, em avanços e recuos do processo, foram,
finalmente, as barracas do mercado demolidas, recebendo os seus proprietários
como indemnização apólices amortizáveis em 10% ao ano. Os adelos e outros
vendilhões vão pousar junto ao Postigo do Sol, donde passam, mais tarde, para
os Ferros Velhos.
Praça Nova, c. 1833
Legenda:
1. Fonte da Natividade, em plano inferior no solo, com acesso
por escada às bicas (as carrancas das bicas iriam, mais tarde, para a Praça do
Pão)
2. Barracas de feira envolvendo a Fonte da Natividade
3. Rua de Entre-Vendas
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