sexta-feira, 28 de julho de 2017

(Continuação 18) - Actualização em 28/05/2019 e 04/02/2021

 
Para lá do cruzamento com a Rua de Passos Manuel todo um mundo de comércio se nos deparava e continua a deparar.
 
 

Rua de Santa Catarina, em 1970 – Cortesia de JG Magalhães
 
 
 
Na caminhada, pela esquerda, no sentido ascendente, ainda se nos apresenta o Salão de Chá Império, outro estabelecimento histórico que abriu as suas portas em 1944, quase fronteiro ao Majestic.
Um pouco antes, durante boa parte do século XX, esteve sedeada, no nº 123, a papelaria "Papélia" que rivalizava com uma sua vizinha, a papelaria "Nicola".
 
 
 

Papelaria Papélia, c. 1938
 
 
Na foto, acima, observa-se o stand da Renault com o Renault Juvaquatre com carroçaria "hatchback" (começado a produzir, em 1937, com o modelo de 3 portas) modelo familiar de 5 portas, exposto na montra. Este modelo viria a ser substituído, em 1953, pelo Renault 4CV conhecido em Portugal como "Joaninha".
Continuando, encontramos hoje a Confeitaria Império, inaugurada em 1941 e, a poucos metros, a Confeitaria Mengos, inaugurada em 1977, e que substituiu nesse local o Pomar de Santa Catarina, inaugurado em 1933, que atraía a curiosidade dos portuenses por apresentar algumas peças de caça (perdizes e lebres) penduradas na sua entrada.
 
 

Rua de Santa Catarina, em 1941
 
 
 
 
Na foto acima, observa-se, em primeiro plano, uma nesga de uma farmácia, seguindo-se as instalações da Confeitaria Império e, do outro lado da entrada do prédio, o Pomar de Santa Catarina.
Grande parte dos terrenos a poente da rua, nomeadamente onde mais tarde foi erguido o Grande Hotel do Porto, na primeira metade do século XIX, eram quintas e terrenos lavradios pertencentes à grande empresária D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha do vinho do Porto.
Como se pode observar mais abaixo, na planta de Baldwin & Cradock (Londres 1833), grande parte daquela área estava por urbanizar.
O Grande Hotel do Porto inaugurado em 1880 é um dos hotéis de maior prestígio da cidade, e nasceu por vontade de Daniel Moura Guimarães, um rico comerciante de arte que foi para o Brasil com 17 anos e regressou ao Porto em 1867. Aqui chegado desafiou o arquitecto Silva Sardinha para traçar um hotel de referência na cidade.



“O “Hotel do Porto”, talhado desde os alicerces para ser uma casa de hospedagem de primeira ordem, é propriedade do sr. Daniel Martins de Moura Guimarães e entra amanhã em exercício das suas funções de hospitalidade, inaugurando-se com o jantar ao bando que festeja a execução capital do menos perverso do Judas, o de palha.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 26 de Março de 1880; Fonte: Guido de Monterey – Porto 2, pág.588


Como se observa na notícia acima, o hotel foi inaugurado em Sábado de aleluia.
O Grande Hotel do Porto passaria das mãos de Daniel Moura Guimarães, trisavô do cantor Pedro Abrunhosa, para as da bisavó do cantor, Isabel, (uma pianista e cantora lírica nos salões dos amigos) e, nos anos 30, acabaria no regaço de Álvaro Machado (avô de Pedro Abrunhosa).
O quarteirão entre o que são hoje as ruas de Santa Catarina, Sá da Bandeira, Passos Manuel e Formosa pertencia a Francisco da Cunha Magalhães e a D. Antónia Ferreira.
Os terrenos onde foi levantado o Grande Hotel do Porto, pertenceram a D. Adelaide Ferreira, vulgo a “Ferreirinha” da Régua que tinha uma casa apalaçada no local que viria a ser do hotel.
Essas terras eram atravessadas por um ribeiro que vinha desde a Rua das Carvalheiras na Fontinha onde nascia e junto à Estação de S. Bento era um dos cursos de água que formavam o rio da Vila e alimentava uma fonte, já demolida, na esquina da Rua de Santa Catarina e da antiga Viela das Pombas (actual António Pedro) que por isso se chamava Fonte das Pombas.
Na frontaria essa fonte tinha gravada uma alusão à batalha efectivada na Ponte Ferreira durante o Cerco do Porto.
O terreno onde ficava a fonte foi a partir de 1904 disputadíssimo, tendo saído vencedor o proprietário da vizinha Camisaria Confiança que indemnizou um outro pretendente que aí já tinha começado a construir, tendo acabado um ano depois por vendê-lo a outro, de nome Avelino Correia, num negócio deveras escuro, que acabaria com a Fazenda a processar o Cunha da camisaria e o Avelino, por simulação de negócio.
A água daquele ribeiro viria mais tarde a ser utilizada nos sanitários do Café Brasil ao fundo da Rua da Madeira.



Rua Santa Catarina (ao meio na vertical) em planta de Baldwin & Cradock (Londres 1833)


Na planta acima é possível ver o percurso do ribeiro referido que nasce nas Carvalheiras e o traçado da Rua de Santa Catarina a meio, na vertical, partindo dos largos de Santo Ildefonso e da Batalha e ainda, notar, como é óbvio, que as ruas de Sá da Bandeira, começada em 1877 e de Passos Manuel começada em 1874 e o Mercado do Bolhão (por cujo solo passa o referido ribeiro), ainda não tinham surgido. Para urbanizar a actual Rua do Ateneu Comercial do Porto foi necessário encanar o ribeiro.
Quando o imperador D. Pedro II e sua mulher, a imperatriz Teresa Cristina Maria, vieram exilados para a cidade do Porto, em 1889, aquando da implantação da República no Brasil, foi no Grande Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina que se hospedaram e, num dos seus quartos, que a imperatriz morreu na manhã do dia 28 de Dezembro de 1889.
Eça de Queirós era seu hóspede frequente, e o Duque de Windsor também aqui esteve, e tem sala com o seu nome. Nele esteve também preso o primeiro-ministro Afonso Costa, em Dezembro de 1917, aquando do golpe de estado de Sidónio Pais.
Foi o hotel onde ficaram alojados Gago Coutinho e Sacadura Cabral, alguns meses após a sua travessia do Atlântico Sul, e foram alvo de uma manifestação de carinho popular, por parte da população, a 4 de Dezembro de 1922.



Grande Hotel do Porto na homenagem aos aviadores - Fonte: monumentosdesaparecidos


Terraço do Grande Hotel do Porto - Fonte: monumentosdesaparecidos



À direita o Grande Hotel do Porto com os carros estacionados à sua porta



Junto do Grande Hotel do Porto nasceria a "Bela Jardineira" que, mais tarde, passaria a Camisaria Confiança.
Como “caixa” da famosa Camisaria Confiança, lá trabalhou, durante uns tempos, o pintor Amadeo de Souza-Cardoso, nascido em Manhufe, Amarante, e falecido prematuramente aos 30 anos.
O fundador da “Camisaria Confiança”, António José da Silva Cunha era um republicano de Vila Meã, Amarante que foi vereador da câmara do Porto, e fundador do Centro Democrático do Norte e do Clube Fenianos Portuenses.
A primeira denominação da camisaria onde chegaram a trabalhar diariamente mais de mil operárias foi de, “Bela Jardineira”, tendo sido levantada no local de um outro edifício, entretanto demolido, onde funcionou o Teatro de Santa Catarina.
Em 1883, a camisaria começou por ser uma modesta indústria para fazer face a uma necessidade do mercado nacional e, em 1894, depois de um grande esforço de modernização, em maquinaria, é inaugurada a “Fábrica Confiança”, cujo edifício teve o traço do arquitecto Joel da Silva Pereira (1861-1899). Este projectista, que cursou na Escola de Belas-Artes de Paris, após retornar à cidade em 1890, faria uma exposição dos seus trabalhos no Ateneu Comercial.


 
 

In “Jornal do Porto” de 30 de Agosto de 1890
 
 
 
“Em 1883, António Silva e Cunha instalou na Rua de Santa Catarina, um pequeno estabelecimento comercial de camisas e roupa branca, lançando as base para a confeção de roupa branca, progredindo pouco a pouco e ampliando as suas instalações, adquirindo as mais modernas máquinas, para em 1894 inaugurar a “Fábrica Confiança”. A primitiva “Camisaria Confiança” ocupava o estabelecimento de vendas e oficinas anexas. Estava localizada ao lado do Grande Hotel do Porto. Nesta fábrica trabalharam cerca de mil mulheres, que com o seu trabalho nas 125 máquinas de costura movidas a eletricidade produzida por uma central a vapor, permitiram conquistar o mercado do ultramar português e brasileiro.
Numa área de 1300 metros quadrados, a fábrica dividia-se nas seguintes secções: ateliers de corte; ateliers das costureiras; lavandaria com secador a vapor; oficina de brunis; ateliers de roupa branca para homem e em especial para roupas de senhora e criança; fabrico de caixas de cartão e finalmente, o luxuoso e vasto salão de vendas”.
Fonte: “gisaweb.cm-porto.pt/”


Em 1896, Aurélio Paz dos Reis realizou nesta rua, aquele que é considerado o primeiro filme do cinema português, a “Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança”, cujas instalações eram contíguas às do Grande Hotel do Porto.
Há quem diga, porém, que o pioneiro do cinema é, todavia, Francisco Pinto Moreira que, em 1896, se antecipou uns meses a Aurélio Paz dos Reis.



Cartaz publicitário da Fábrica Confiança em 1894


Fábrica Confiança


Loja de exposição e de vendas da Camisaria Confiança


Instalações fabris da Fábrica Confiança na retaguarda da loja


A área ocupada pela Fábrica Confiança estendia-se até à actual Rua do Ateneu Comercial do Porto (Travessa de Passos Manuel).
 
 
 

Armazéns da Fábrica Confiança na Travessa de Passos Manuel, c.1916
 
 
 
Na foto acima observa-se, na Travessa de Passos Manuel (Rua do Ateneu Comercial do Porto), o edifício que servia como armazéns da Fábrica Confiança, sujeito a obras de restauro em 1902, para reparação dos estragos provocados por um incêndio.



Publicidade em 1910


Rua de Santa Catarina, junto da Fábrica Confiança




Rua de Santa Catarina, em 1925




O sucesso da “Confiança” manter-se-ia por todo o século XX, com a loja a tornar-se ponto de encontro incontornável para quem visitava a baixa portuense, até porque, passou, a partir de certa altura, a ter outras valências, como salão de chá. Entretanto, a fábrica já tinha sido há muito encerrada.



A "Confiança", em pleno século XX



Nas últimas décadas do século XX, as instalações da "Confiança", passaram a ser mais uma loja da marca "Tito Cunha" e, desde há alguns anos, uma loja da cadeia Benetton.

 
 

Loja Benetton – Ed. JPortojo (2013)




Depois de passarmos o Grande Hotel do Porto, na esquina da Rua de Santa Catarina com a então denominada, Travessa do Grande Hotel (antes Viela das Pombas), encontrávamos a Grande Confeitaria Parisiense no nº 167/171, de Bastos Lemos Faria & Pedroso.
Este foi o local onde existiu a Fonte das Pombas e onde esteve também a Papelaria Progresso, agora em cave do mesmo prédio com entrada pela Rua de António Pedro. Presentemente funciona lá, uma loja de comércio de roupa interior.




Papelaria Progresso no seu local de instalação primitivo




Grande Confeitaria Parisiense




Interior da Grande Confeitaria Parisiense




A Grande Confeitaria Parisiense era aqui - Ed. MAC




Papelaria Progresso actualmente – Ed. JPortojo



Voltando atrás, pela direita, no sentido ascendente da rua, após passarmos o café Majestic, encontramos a loja da Zara onde, antes, esteve o stand da firma C. Santos, representante da Mercedes, a que se seguia, bem na primeira metade do século XX, sucessivamente, a Camisolândia (Rua de Santa Catarina, nº 180), a Camisaria Inglesa e a Casa das Camisas.

 
 

Camisolândia, Camisaria Inglesa e Casa das Camisas, em 1938

 
 
O prédio que tem como guarda o lampião é onde hoje está a loja da Zara.


 

Loja da Zara – Fonte: JPORTOJO
 
 
 
Ao aproximarmo-nos da Rua Formosa, no nº 206 da Rua de Santa Catarina, deparamo-nos com a casa onde nasceu em 1 de Agosto de 1828, o escritor Arnaldo Gama. 






Casa onde nasceu e viveu Arnaldo Gama – Ed. J Portojo




Casa onde nasceu e viveu Arnaldo Gama




Na viagem que começamos na Praça da Batalha, iremos encontrar agora, a Rua Formosa, que começou a ser aberta por iniciativa do Corregedor João de Almada e Melo em 1784.
Antes e só junto ao mercado do Bolhão, existia a desaparecida Viela do Enforcado em memória de um galego que tinha morto a sua patroa para a roubar e tinha sido executado junto da casa dela.
Na zona desapareceram vários outros topónimos curiosos como Campo da Cavada e Campo da Manada.




Local do Liceu Central contíguo a prédio na esquina - Ed. MAC




No edifício da foto acima, após cruzarmos a Rua Formosa, esteve o Liceu Central do Porto ou Liceu Portuense e, ainda, alguns departamentos do ministério das Obras Públicas.
O edifício pegado a ele, na esquina, chegou em tempos (1891), a ter no seu rés-do-chão o Café Lusitano e, no 1º andar uma agremiação de cariz republicano. Teria sido entre aquele andar e o café que foi congeminada a revolta de 31 de Janeiro de 1891, sendo que esses locais foram muito frequentados por Alves da Veiga.
No edifício da última foto funcionou, na segunda metade do século XIX, o Liceu Central do Porto onde leccionou Antero Quental.
O referido Liceu Central do Porto ou Liceu Portuense, foi inicialmente instalado na Academia Politécnica e, aí funcionou, entre 1840 até 1862 e esteve depois instalado, num edifício da Rua de Entreparedes, entre 1884 e 1887, onde já tinha funcionado a Companhia Vinícola e viria a funcionar o Instituto Comercial e ainda, o Instituto de Contabilidade e Administração do Porto.
O liceu Central esteve também aqui, entre 1866 e 1879, no edifício da Rua de Santa Catarina, onde viria a funcionar a repartição de Obras Públicas e passaria, ainda, pela Rua de S. Bento da Vitória, onde hoje se encontra Polícia Judiciária.
Para aqui, tinha vindo da Rua Formosa onde esteve entre 1861e 1866.
Entre 1878 e 1884, o Liceu Central do Porto funcionou no Palacete do Cirne ou Casa do Poço das Patas.
A partir de 1906 o liceu foi dividido em dois. Um para a zona oriental da cidade e outro para a ocidental.
Um pouco mais adiante encontra-se o centro comercial Via Catarina do grupo Sonae, inaugurado em 1996, após uma das maiores intervenções urbanísticas da zona, conservando a fachada da antiga sede do jornal portuense “O Primeiro de Janeiro”, é um edifício de destaque no percurso encetado.
Este jornal veio para este edifício em 1921, tendo sido fundado em 1868 inspirado na revolta a Janeirinha ocorrida cerca de um ano antes, a 1 de Janeiro.
A 1 de Janeiro de 1868 nasceu o jornal “A Revolta de Janeiro” lançado por António Augusto Leal. Suspenso em 31 de Agosto, reabriu em 1 de Dezembro com o nome “O Primeiro de Janeiro”. Em 1870, dá-se o grande salto, passando a dispor de boas instalações na Rua de Santa Catarina, em prédio pertencente a Inácio Pinto da Fonseca.



Instalações na Rua Santa Catarina do Jornal “O Primeiro de Janeiro”



Um pouco mais acima do jornal ficava, antes ainda da Capela das Almas, a famosa e histórica sapataria “Branca de Neve” com calçado para crianças que tinha um mini carrocel para fazer as delícias da pequenada.
Presentemente, na Rua de Fernandes Tomás, nº 822, teve uma breve passagem pela Rua de Santa Catarina, nº 304.




A Sapataria Branca de Neve no seu local primitivo



A Branca de Neve no seu novo poiso, na Rua de Fernandes Tomás



A Capela de Santa Catarina ou das Almas, na esquina da Rua de Santa Catarina com a Rua de Fernandes Tomás, construída nos inícios do século XVIII, é um perfeito ex-libris da cidade. Revestida de azulejos, de Eduardo Leite, de 1929, é já um verdadeiro ícone da cidade.





Capela das Almas



Entre a Capela das Almas e a Rua Gonçalo Cristovão, é merecedora de destaque uma padaria histórica da cidade depois, confeitaria, inicialmente, situada bem perto daquela capela e, depois, em instalações do lado oposto da rua.



Padaria Cunha, nos nºs 489-493




Um pouco mais à frente, à direita, surge a Rua Firmeza, que tomou este nome a partir de 1835, numa alusão às lutas do Cerco do Porto.
Acontece que, até Abril de 1851, essa confluência fazia-se por intermédio de uma escadaria de pedra, já que a Rua Firmeza apresentava-se numa cota mais elevada, assentando essa zona de terreno numa pequena pedreira. Na data citada, foi dada a ordem de regularização do terreno e uma ladeira substituiu a referida escadaria.
Um pouco mais acima, continuando pela Rua de Santa Catarina, no sentido ascendente, surgia, à esquerda, o caminho que conduzia ao Largo de Fradelos.
Por esta zona, em pleno século XX, ainda sobravam algumas das velhas ilhas que povoaram o local.


 

Ilha no nº 675 da Rua de Santa Catarina, em 1942


Por iniciativa de João de Almada e Melo de 1784, a Rua de Santa Catarina seria prolongada a partir da Rua Gonçalo Cristovão, mais propriamente desde as proximidades do Lugar de Fradelos até à Alameda da Aguardente, hoje Praça do Marquês de Pombal.
A este prolongamento se deu o nome de Rua Bela da Princesa



Na estratégia dos Almadas de reorganizar as vias de acesso à cidade entre 1774 e 1779 foi aberta uma rua que partia da Batalha até ao sítio de Aguardente, uma rua em dois tramos e que ligava a cidade intra-muros com a estrada de Guimarães.
Ao primeiro tramo da rua foi atribuído o nome de Rua de Santa Catarina.
De acordo com o desenho de embelezamento da cidade foi desenhado e aprovado em 1778 o projecto de Francisco Pinheiro da Cunha para os alçados desse primeiro troço.
O tramo norte da rua aberto a partir da sua aprovação em 1784 foi inicialmente designado por Rua da Boa Hora (1802) mas em 1807 passou a chamar-se de Rua Bella da Princeza.
Rua Bella já que pertencia ao plano de Embelezamento da cidade e da Princeza já que Carlota Joaquina se casou no ano seguinte (1785) com o Príncipe D. João (1767-1826).
Não cumpre aqui fazer a biografia de Carlota Joaquina, mas de facto a Princesa da Rua Bella era Carlota Joaquina Teresa Cayetana de Borbón y Borbón (1775-1830), casada quando tinha apenas dez anos, com o príncipe D. João que se tornaria príncipe herdeiro em 1788, por morte de seu irmão primogénito D. José.
O casamento foi realizado em simultâneo com o casamento da infanta portuguesa D. Mariana Vitória Josefa (1768-1788) com o filho do rei de Espanha Carlos III (1716-1788) D. Gabriel António Francisco Xavier de Bourbon (1752-1788), em Março/Abril de 1785.
Mas só entre 11 e 29 de Junho desse ano se realizam na cidade do Porto os festejos comemorativos do duplo consórcio, promovidos pelo Corregedor e Provedor da Comarca do Porto, Francisco de Almada e Mendonça (1757-1804) o que poderá explicar a atribuição do nome da rua.
D. João em 1799 pela interdição de sua mãe D. Maria I tornou-se oficialmente Príncipe Regente (o que de facto já vinha acontecendo desde 1792) e em 1816, com a morte da rainha, torna-se Rei de Portugal com o nome de D. João VI até à sua morte em 1826.
Carlota Joaquina era filha do rei de Espanha Carlos IV (1748-1819) e de D. Maria Luísa Tereza de Parma e Bourbon (1751-1819). O casamento de conveniência correspondeu a uma aliança entre os dois reinos num período em que para além das disputas de territórios coloniais entre os dois reinos, de França chegavam notícias de convulsões políticas e sociais que eclodiriam na Revolução Francesa.
E se a jovem princesa era retratada (por conveniência?) de uma forma simpática, na realidade de belo, como a Rua, pouco ou nada tinha”.
Com a devida vénia a Ricardo Figueiredo



Rua Bela da Princesa em 1833 (planta da cidade do Porto, publicada por Baldwin & Cradock em Londres, 1833)




De notar no mapa acima o troço da Rua do Bonjardim passando nas Musas e Bairro Alto e, ainda, a antiga Rua do Bolhão (hoje, e desde 1835 Fernandes Tomás) e Fradelos.




Rua Bela da Princesa (colorida) na planta de Perry Vidal 1844/65




Planta de Teles Ferreira, em 1892



Na planta acima, de 1892, a Rua Bela da Princesa (desenvolve-se na vertical vendo-se, à esquerda, o Largo da Fontinha) é já denominada Rua de Santa Catarina, desde a Praça da Batalha até à Praça do Marquês de Pombal. A uniformização dos dois topónimos, neste percurso, tinha já ocorrido em 1860.
E, eis-nos chegados à Praça do Marquês de Pombal, depois de ter deixado para trás, pela esquerda, a Rua de Gonçalo Cristovão e, após alguns metros, pela direita, a Calçada do Luciano que, hoje, é a Rampa da Escola Normal.

3 comentários:

  1. Que maravilha ler hoje isto. Em 1964,65,66 e 67,fui um ferrenho desta zona. Saía das Carmelitas e instalava-me lá, onde como costumava dizer, tinha um Gabinete de Piropos e Galanteios.
    Parabéns Américo e obrigado pelo vosso esforço.]

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    1. Quanto a gabinetes com essa finalidade, o meu, nessa época, devia ser contíguo ao teu. A concorrência, como sabes, era feroz.
      Abraço

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  2. Obrigado por dar-me a conhecer a minha terra. Abraço Manuel Moutinho

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