Torre de Pedro Sem e
Torre da Marca
Nas traseiras do Paço da Mitra pode ver-se a “Torre”,
falsamente denominada de “Torre da Marca”, mandada construir entre os anos 1336
e 1341, por Pedro do Sem ou Docém, cavaleiro nobre da rainha Santa Isabel e ouvidor
e chanceler-mor de Dom Afonso IV. Daquele fidalgo, descenderam os «Brandões»,
proprietários da torre e do palacete que lhe está acoplado a Sul.
Quando Luís Brandão de Mello Pereira de Lacerda, construiu a casa junto à
Torre, na segunda metade do século XVIII, c. 1758, a torre
estaria completamente destruída interiormente.
A torre está
classificada como Monumento Nacional.
Torre de Pedro Sem
Junto desta torre e nas imediações do Cemitério dos Ingleses
situava-se o Casal do Pombal (segundo
um documento de 1805), junto do actual Largo da Maternidade de Júlio Dinis que,
ainda há relativamente pouco tempo se chamava, Campo Pequeno.
O referido documento é uma petição do negociante Jerónimo
Pereira Leite, no qual solicita autorização Régia para poder "sub-emprazar chãos (alugar
terrenos) do seu Casal do Pombal"
a fim de neles poderem ser construídas casas. Acontece que do tal casal era senhorio
directo a Colegiada de Cedofeita, que se mostrou contrária ao empreendimento. O
caso, por isso, teve que ser resolvido nos tribunais.
O Casal do Pombal era atravessado por um tortuoso caminho,
espécie de estreita azinhaga que após a urbanização do sítio se transformou em
artéria pública tomando o nome da propriedade com a designação de Rua
do Pombal. Trata-se da actual Rua de Adolfo Casais Monteiro.
A Rua de Jorge de Viterbo Ferreira, que corre entre os
jardins do Palácio de Cristal e os terrenos anteriormente ocupados pelo
quartel, só foi aberta em 1865, ano da inauguração no novo palácio e da grande
exposição internacional. Por esse motivo, a artéria em causa tomou o nome de Rua
Nova do Palácio e mais tarde (1877) deram-lhe nova denominação: Rua
do Palácio de Cristal.
O nome de Viterbo Ferreira, antigo administrador da empresa
da Ferreirinha, é já dos nossos dias.
Para servir a Exposição Colonial Portuguesa, aberta nos anos
30 do século XX, e permitir um rápido acesso ao Palácio de Cristal, foi aberta
desde as imediações da Torre de Pedro Sem, a Rua Júlio Dinis.
Mas, seria a famosa e verdadeira Torre da Marca, uma baliza para quem navegava no rio Douro, que deu
nome a um largo, próximo do quartel e ao Palácio dos Brandões ou dos Terena ou
dos Monfalim (Paço Episcopal desde 1919) situado na esquina das ruas de Júlio
Dinis e da Boa Nova.
Essa verdadeira Torre da Marca (baliza) era uma referência
dos navios que demandavam a barra do Douro e seria construída pela Câmara em
1542, a pedido do rei D. João III, em substituição de um pinheiro que ali
existia com as mesmas funções, nos terrenos onde hoje se situa o Palácio de
Cristal, ao fundo da Avenida das Tílias, perto de onde está a Capela de Carlos Alberto. Esta torre foi
muito danificada pela artilharia miguelista, acantonada no alto do Castelo de
Gaia, para atingir os liberais que, à sua sombra, ali tinham instalado uma
bateria, durante o Cerco do Porto, e a sua reparação, embora decidida em 1839,
nunca chegou a ser levada a efeito.
A evocação da velha Torre da Marca sobrevive, então, também
erradamente, no chamadouro popular da Torre de Pedro Sem, que se ergue junto ao
antigo Paço Episcopal, como também é ainda hoje conhecido, e foi propriedade
dos Brandões que se juntaram aos marqueses de Terena e depois aos marqueses de
Monfalim, mas, como já sabemos, nada tem a ver com a torre que servia de baliza à
navegação no rio Douro.
Por curiosidade diga-se que, Camilo no romance “O Senhor do
Paço de Ninães” escreve que o Sr. Marquês de Monfalim era casado com a Srª Marquesa
de Terena, habitando no lugar de Reboredo, no Minho.
A verdadeira Torre da Marca à esquerda, e sobre a direita ao longe, o forte de S. João da Foz - Gravura de Manuel Marques de Aguilar
Torre da Marca
A gravura inglesa
acima, talvez do Coronel Betty, tirada do Monte da Arrábida – 1829 – ainda se
vê a Torre da Marca, ao fundo, pois só foi destruída no cerco do Porto em 1832.
Paço da Mitra ou
Palacete dos Brandões ou Palacete dos Terena ou Palacete dos Monfalim
Em frente à entrada dos jardins do Palácio de Cristal,
encontra-se o Paço da Mitra ou Solar dos Terenas, que já foi Paço Episcopal
após a implantação da República quando abandonou as instalações na Sé, que
foram ocupadas, mais tarde, pela Câmara Municipal depois da demolição das que
tinha na Praça D. Pedro, e após breve passagem pelo palacete da quinta de
Sacais.
O chamado Palácio da Torre da Marca pertenceu, em tempos
idos, a três poderosas e influentes famílias portuenses os Brandões, a que
andaram ligados Diogo e Fernão Brandão, poetas do Cancioneiro; os condes e
marqueses de Terena; e os primeiros e únicos marqueses de Monfalim, que
morreram sem descendência. No brasão ainda existente na fachada do nobre
edifício estão representadas, exactamente, as armas dessas três famílias.
Foram os herdeiros dos Monfalim que venderam o imóvel à
Diocese do Porto. No edifício funcionou um colégio, esteve instalado o Asilo
Profissional do Terço, antes de se transferir para as suas actuais instalações
na Praça do Marquês de Pombal e, a partir de 1910, com o surgimento da Lei da
Separação e a ocupação, pelo Estado, do antigo Paço Episcopal, junto à Sé, o
antigo Palácio da Torre da Marca, que ficava no que chegou a chamar-se, Largo
da Torre da Marca, serviu de residência aos bispos do Porto.
Do site do Centro de
Cultura Católica retirámos as seguintes passagens:
“Chamou-se-lhe,
em eras campónias que o tempo soterrou, Quinta da Boavista. Ainda o Porto se
remetia à Sé e a S. Nicolau e à Vitória, situava-se aquela granja no então
Couto e Honra de Cedofeita. É um rosário de gerações até hoje… Diz a lenda que
um tal Pedrossen, negociante hamburguês terá vindo para o Porto no último
quartel do séc. XVII e se estabeleceu na freguesia de S. Nicolau, e ali
enriqueceu. É com este Pedrossen que Pinho Leal relaciona a lenda do negociante
rico e orgulhoso, senhor da Torre do mesmo nome, que, ao ver os seus navios
entrarem a barra carregados de mercadorias preciosas, desafiou o próprio Deus:
Agora nem Deus seria capaz de me fazer pobre. Acto contínuo, uma tempestade
destroçou todos os barcos e reduziu-o à miséria, obrigando-se, o pobre, a andar
pelas ruas a pedir: dai esmola a Pedro Sem, que já teve e agora não tem… Como
quer que seja, sabe-se que, por escritura lavrada no tabelião Pedro Fernandes
do Porto, em 26 de Fevereiro de 1492, a Torre e os seus anexos, ali
identificados como Quinta da Boa Vista, passou das mãos de um outro Pero do
Sem, sobrinho de Martim do Sem, para os seus parentes colaterais João Sanchez,
fidalgo castelhano, e sua mulher Isabel Brandoa, da Casa dos Condes da Feira.
Esta é a razão por que a Torre aparece depois identificada como de Brandão ou
dos Brandões...
…Terá sido um seu
descendente, Luís Brandão de Mello Pereira de Lacerda, que construiu a casa
junto à Torre, na segunda metade do século XVIII e ali terá nascido, em 1793, o
seu filho José Maria Brandão de Mello que casou, em 1814, com D. Maria Emília
Correia de Sá, filha do primeiro Marquês de Terena. A neta deste José Maria, D.
Eugénia Maria Brandão de Mello, 3ª Marquesa e 4ª Condessa de Terena e 3ª
viscondessa de S. Gil de Perre, casou em 29 de Julho de 1861, com o seu tio
materno D. Filipe de Sousa Holstein, 1º Marquês de Monfalim e filho dos Duques
de Palmela. Deste casamento não houve descendência, pelo que a Casa e a Torre
foram deixadas a suas sobrinhas D. Mariana e D. Eugénia de Jesus de Sousa Holstein.
Esta, nascida a 7 de Março de 1866, professou na Congregação das Irmãs de Santa
Doroteia em 1897 e veio a falecer em 31 de Maio de 1937…”
Quando, em 1914, o
Bispo do Porto, D. António Barroso regressou do exílio em Remelhe, Barcelos,
instalou-se, por empréstimo, na Quinta de Sacais. O seu sucessor D. António
Barbosa Leão, apoiado por uma subscrição dos fiéis da cidade, adquire, aos
herdeiros dos Marqueses de Monfalim, a Casa da Torre da Marca para aí instalar
a residência Episcopal. Assim, desde os finais de 1919 até 1964 esta foi
ocupada por D. António Barbosa Leão, D. António Augusto de Castro Meireles, D.
Agostinho de Jesus e Sousa e D. António Ferreira Gomes, e aqui funcionaram
também os serviços da Cúria Episcopal. Foi nos terrenos desta casa que, em 1934
quando se realizou a Exposição Colonial, se abriu a Rua
de Júlio Dinis, no troço que liga a Praça da Galiza ao Palácio de
Cristal.
A Rua de Júlio Dinis
projectada há anos, só em consequência da Exposição Colonial, seria aberta, em
terrenos expropriados à Mitra.
Em 1964 o Paço da Sé
voltou à posse da Diocese.
Paço da Mitra
Palácio dos Monfalim antes da abertura da Rua de Júlio
Dinis (rasgada pela esquerda da foto)
Rua de Júlio Dinis antes e 70 anos depois com a Torre da
Marca ao fundo - Ed. "facebook.com/PortoDesaparecido/"
A Rua Júlio Dinis no local hoje identificado como Praça da
Galiza passaria junto de um campo em tempos chamado, Campo
do Lagarinho, "na aldeia de Vilar". Ora foi através desse campo
que nos meados do século XIX se rasgou uma nova artéria "que ia desembocar
ao sítio do Padrão de Vilar" a que foi dado o nome de Rua da Torrinha.
Na altura, este novo arruamento corresponderia à actual Rua
da Piedade, na parte que vai do Largo de Alexandre de Sá Pinto até à Praça da
Galiza. A parte que hoje é a Rua da Torrinha tinha, naquele tempo, o nome de Rua
do Priorado por também pertencerem ao D. Prior da Colegiada os terrenos
em que foi aberta.
O topónimo Torrinha designava um casal rústico.
Capela do Senhor
Jesus da Boa Nova
A capela teve origem num padrão que um piloto da carreira da
Índia, Pantaleão Gomes, morador em Miragaia, ali mandou erguer, em 1628 no
cumprimento a uma promessa ao Senhor Jesus de Bouças (Matosinhos) durante uma
tempestade. Para além de mais de um século, o padrão esteve numa encruzilhada
de caminhos por onde passavam os romeiros que se dirigiam às romarias a Bouças
(Matosinhos) e Senhora da Hora.
Para a Senhora da Hora os romeiros passavam pela torre de
Pedro Sem, e rumavam ao seu destino, por Ramalde depois de passar na Falperra
(Ramada Alta).
Para Bouças (Matosinhos) seguiam a Rua de Vilar, subiam a
actual Rua Rainha D. Estefânia e pelo Campo Alegre rumavam ao Senhor de Bouças.
Devido à quantidade apreciável de esmolas angariadas junto do
cruzeiro, foi possível em 1782 construir uma capela nessa encruzilhada de
caminhos, para o que contribuiu com a cedência gratuita de um terreno, o grande
capitalista João Pacheco Pereira que morava à entrada da Rua de Vilar.
Planta de Balck de 1813
Acima mostra-se o percurso (a azul) que os romeiros faziam,
desde a Torre de Pedro Sem em direcção à Ramalda Alta, com destino à Senhora da
Hora.
Igreja de Lordelo do Ouro à direita
Na foto anterior, se vê a passagem de Lordelo para a Foz
Velha pela nova Rua Diogo Botelho em meados do século XX. Por aqui se ia, anos
antes, com destino a Bouças, vindos da zona de Vilar.
À esquerda seria a Rua de Serralves e ao fundo, à direita, a
Paroquial de Lordelo.
Aquela capela do Senhor Jesus da Boa Nova erigiu-a a antiga confraria de S. José
e S. Brás de carpinteiros, escultores enxambladores, violeiros e torneiros, que
haviam estado na capela dos Brandões da Igreja de S. Francisco, no ano de 1782,
no mesmo lugar onde, Pantaleão Gomes mandara levantar o citado padrão em honra
do Senhor Jesus de Bouças.
Mais tarde juntou-se
àquela confraria a irmandade dos Latoeiros e Picheleiros que tinham por patrono
S. Gonçalo e sede na desaparecida capela de S. Roque à entrada da Rua do Souto.
Na casa anexa esteve durante anos o Seminário dos Meninos
Desamparados, actualmente em Campanhã, na Rua do Pinheiro.
O Padrão inicial está guardado no Museu de Arte Sacra, anexo
à Igreja de S. Lourenço (vulgo Grilos).
À entrada da capela, ao nível do degrau superior da pequena
escada exterior que dá acesso à porta principal, do lado da Rua da Boa Nova,
ainda existe uma pedra com restos de uma inscrição já quase imperceptível que
se julga ter pertencido ao referido padrão.
A festa à Senhora da Boa Nova que ficou mais conhecida,
tinha lugar em S. Nicolau.
Capela do Senhor Jesus da Boa Nova
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