Na Praça D. Pedro, actual Praça da Liberdade e, antigamente, a
Praça Nova, existiu, até à entrada da década de 30 do século XX, um quiosque que
convivia bem de perto com a estátua do rei-soldado.
Em primeiro plano o Quiosque do Sebastião
Quem explorava o quiosque era o Sebastião, conhecido como o
Correligionário, pois, fosse de que partido político fosse o freguês que lhe
comprava o jornal, ele cumprimentava-o da seguinte forma: Então como passa o
correligionário?
Diga-se em abono da verdade que o quiosque não era
propriedade do Sebastião que, de facto, o tinha arrendado à Câmara.
Naquele espaço, o Sebastião fazia o comércio de jornais,
tabacos, lotarias, postais ilustrados e outras bugigangas e tinha como clientes
os lojistas do sítio, os jornalistas que trabalhavam na redacção dos jornais,
por ali instalados, os frequentadores dos cafés e restaurantes próximos e
outros passantes.
Antes, o Sebastião teve balcão montado, a nascente da praça, com vistas para a estátua equestre de D. Pedro IV, quase na esquina do edíficio com fachadas voltadas para aquela praça e para o Largo da Feira de S. Bento. Em 1892, ainda o Sebastião estava por aqui.
O negócio era feito através do peitoril de uma janela para o passeio.
O senhorio, o banqueiro Pinto da Fonseca necessitou de fazer obras no prédio e foi necessário reconstruí-lo.
Foi quando o Sebastião se instalou no quiosque de ferro, propriedade da Câmara.
Um dos jornais que se destacavam naqueles tempos, ficava bem
próximo e, em frente, no palacete das Cardosas, num primeiro andar, mesmo por
cima do arco da entrada para o espaço da anterior cerca do antigo convento. Era
o Diário da Tarde.
Em 1900, a redacção do Diário da Tarde, à esquerda, com
tabuleta no 1º andar. O jornal que se tinha publicado entre 1871 e 1874, já tinha
voltado às bancas
Bem junto, no mesmo edifício, tinha existência a “Laporte”
que comercializava artigos para a caça e onde esteve em exposição, em 1894, uma bicicleta fabricada na oficina de
Figueiredo Júnior, à Rua do Campo Pequeno (já desaparecida e ficava para as
bandas, do que é hoje, o Largo da Maternidade Júlio Dinis).
A nascente da praça, pontificava o Café Central, hoje o
MacDonalds, o restaurante “O Camanho” e o café/cervejaria "Porto Club".
A poente, ficava “A Flora Portuense” onde Aurélio da Paz dos
Reis tinha a sua casa de venda de sementes, flores e outros artigos similiares
e, ainda, algo que estivesse ligado à sua grande paixão - a fotografia e o
cinema.
Ao lado, a Cervejaria Sá Reis que duraria até 2017, com as
portas abertas.
Sebastião Vieira de Magalhães no seu quiosque
Vista para a Praça da Liberdade, no início do século XX –
Fonte: “Porto – Os Recantos do Passado” de Germano Silva, Porto Editora
Na foto acima, é visível, à esquerda, na Praça da Liberdade,
o quiosque do Sebastião, nessa época e fruto de intervenções urbanísticas,
situado isoladamente numa placa da dita praça.
Sobre a revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891, o
Sebastião conhecia todos os pormenores, pois assistiu de "palanque" à metralha lançada pelas batarias da Polícia Municipal sobre os revoltosos entrincheirados na
Câmara.
Sobre o Sebastião Vieira de Magalhães, conta-nos o comediante
Arnaldo Leite a seguinte história:
A Tabacaria Arnaldo Soares, vinda dos Lóios, havia de ter uma primitiva
instalação, na esquina do prédio, com fachadas voltadas para a Praça D. Pedro e Largo da Feira de S. Bento.
A casa bancária dos Pinto da Fonseca era, inicialmente, no 1º andar, com entrada pela
praça, entre a Tabacaria de Arnaldo Soares e uma pastelaria, que teve vida
efémera.
Esta, seria substituída por uma filial da camisaria de José Melo, dos
Clérigos.
Foi, pois, o chão desta loja, que não vingou, o local onde se
estabeleceu a Tabacaria Arnaldo Soares, que cedeu o seu primitivo lugar, na esquina
do prédio, à casa Pinto da Fonseca que, para aí, estendeu o seu negócio
bancário.
A inauguração das novas instalações ocorreu no dia 7 de Dezembro de 1901.
Mais tarde, para instalação do Banco Nacional Ultramarino, seria acrescentado mais um andar ao prédio e anexados mais dois, que lhe eram contíguos.
O Sebastião na sua pileca – caricatura de Manuel Monterroso
O Pirolito, semanário humorístico de Arnaldo Leite e
Carvalho Barbosa, caricaturava em 7 de Março de 1931, a propósito da demolição
do célebre Quiosque do Sebastião (Sebastião Vieira de Magalhães usava o típico
barrete judaico e barba e faleceu nos anos 20 do século passado).
O mesmo semanário "Pirolito",
nº 9, de 21 de Março de 1931, com alusão às estátuas da Menina Nua e do rei D.
Pedro IV e à remoção do quiosque, escrevia:
"Havia um tempo já, que a praça era
catita,
E frequentava a mesma, uma rapariguita,
De risonho perfil, mágico e expressivo,
Elegante e roliça, olhar esperto e
vivo,
Vestida de mãe Eva, de frio a tiritar.
Mas uma vez D. Pedro, fitou-a ao
passar:
"diz-me cá, que é isso?... Andas nua,
safada?..."
"É a moda futura", responde a
descarada.
"Ah, sim, bem sei, adiante. Tens ar fino
e matreiro,
Não sabes do quiosque, meu velho
companheiro?…"
Àcerca do famigerado quiosque dizia Alberto Pimentel: “…ali está e há de estar, através dos
tempos, o quiosque de ferro que resistiu à revolução de Janeiro”.
Esta profecia teve termo em 1927 quando a Câmara em virtude
de um arranjo urbanístico o demoliu.
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