segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

25.30 “Por-fi-ri-os”


Porfírio Augusto de Araújo começaria por abrir uma loja na Rua de Santa Catarina, nº 137 (quase em frente ao Café Majestic), a denominada  “Loja das Gravatas”, na década de 40 do século XX.




Loja das Gravatas, na Rua de Santa Catarina, nº 137



A “Loja das Gravatas” acabaria por mudar para a Rua de Santa Catarina, nº 39, agora com a nova denominação de Porfírios, uma loja que seria a coqueluche dos anos 60 e 70.
“Por-fí-ri-os”, vulgarmente conhecida por “Porfírios”, e também por “Porfírios das Meias”, foi uma loja fundada na Rua de Santa Catarina, por Porfírio Augusto de Araújo, cujo principal artigo era, como se adivinha, as meias.
No filme “A costureirinha da Sé”, um dos 2ºs prémios do concurso “O Vestido de Chita” era oferecido pela “Porfírios das Meias” (Um par de sapatos de nylon).
O 1º prémio era uma máquina de costura.
"A Costureirinha da Sé" é uma longa-metragem portuguesa, realizado por Manuel Guimarães, no ano de 1958.


Cartaz de publicidade ao filme “A Costureirinha da Sé”

 
 
“O filme é uma adaptação de opereta popular de Armando Leite e Heitor Campos Monteiro. A protagonista é a cantora popular Maria de Fátima Bravo, então no auge da sua carreira. A trama conta a história de Aurora, uma jovem das origens humildes do bairro da Sé. Aurora trabalha num atelier de costura e está caida de amores por Armando, motorista de táxi. Mas, o romance causa inveja vizinhança. Há quem queira o rapaz para si. O argumento retrata um Portugal dos anos 50…”
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki


Em 1953, nos Por-fí-ri-os, passavam-se no seu interior, filmes para crianças.



Publicidade a sessões de cinema, passadas na loja dos “Por-fi-ri-os” – In jornal “O Comércio do Porto” em 28 de Setembro de 1953





“Por-fi-ri-os”, à esquerda, na Rua de Santa Catarina, nº 39 (próximo da Praça da Batalha) – 1956




Publicidade distribuída no cinema “Monumental”, em Lisboa, em 1956 – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”; Colecção de Carlos Caria




Pelo panfleto acima se pode observar que à data, a “Por-fi-ri-os”, já tinha também uma loja em Lisboa. Na capital, a “Por-fi-ri-os”, teve um sucesso enorme, promovendo e realizando grandes passagens de modelos e os concursos das Mini-saias.
A loja na capital era gerida por dois irmãos de Augusto, António e Luís Porfírio.




Logo da “”Por-fi-ri-os”




Finalistas do concurso de Mini-saias da “Por-fi-ri-os”, em 1967, em Lisboa (ganhava quem tivesse mais aplausos)




“Qual o Portuense que não entrou ou comprou alguma coisa nos "gandas malucos": 
Quem diz jardim diz flores; Quem diz praia diz areias; Quem diz paixão diz amores; Quem diz Porfírios diz meias”. 
Fonte: JPortojo




Drugstore da “Por-fi-ri-os” na Rua de Santa Catarina



Ao entrar na loja do Porto, deparávamos-nos com uma secção de peças mais pequenas, cintos, meias e outras bugigangas, seguindo-se um corredor escuro que tentava recrear o ambiente das “boîtes” da altura, que terminava numa secção de homem/senhora, em moldes de “Drugstore”.
Este espaço era composto por barracas de madeira, comercializando cada qual, determinados produtos, onde eram expostos desenhos de clientes, sujeitos mensalmente a um concurso.
As calças à “boca-de-sino”, as famosas mini-saias, as camisas floridas, os collants coloridos, pulseiras, colares, óculos escuros (de aros enormes), cintos (tipo Texas), blusões estampados, etc, tinham venda assegurada.
Os jovens mais politizados, com simpatia por ideologias de esquerda, sobre os artigos da “Por-fi-rios” tinham uma opinião bem definida – “eram artigos pró foleiro”.




O atendimento pelas empregadas da “Porfirios”- Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”




Publicidade da “Por-fi-ri-os”



Com a abertura do mercado nacional aos produtos estrangeiros, após o 25 de Abril e a instalação entre nós de marcas consagradas, como a Zara, Berska, Stradivarius, etc, a “Por-fi-ri-os” não teve possibilidade de concorrer com elas e as lojas de Lisboa e Porto acabariam por fechar, em 2001.



Concurso dos Vestidos de Chita


A propósito dos Concursos do Vestido de Chita, referido anteriormente, diga-se que foram patrocinados durante várias décadas, pelo Jornal de Notícias e as respectivas finais decorriam com grandes audiências, nos Jardins do Palácio de Cristal, sendo que o texto seguinte nos faz uma descrição do certame.


“Chita é um tecido de algodão barato e de pouca qualidade, estampado com cores fortes, geralmente florais, e tramas simples. As estamparia é feita sobre o tecido conhecido como morim. 
As características principais são cores primárias e secundárias em massas chapadas que cobrem totalmente a trama, tons vivos, grafite delineando os desenhos, e a predominância de uma cor. As cores intensas servem, não só para embelezar o tecido, mas também para disfarçar irregularidades, como eventuais aberturas e imperfeições.
O nome chita vem do sânscrito chintz, surgiu na Índia medieval e conquistou europeus, antes de se implantar no Brasil. Com o fim da guerra, a chita continuava a vestir os trabalhadores braçais e os moradores das regiões rurais, sendo o pano característico das festas populares.
Recordo com alguma nostalgia o tempo dos concursos de vestidos de chita que via frequentemente no teatro ao ar livre do Palácio de Cristal, em noites de verão, em que o calor imperava e muita gente acorria ao evento. As revistas femininas da época ditavam a moda que nos chegava de Paris e ensinavam o comportamento feminino ideal; a mulher era a fada do lar com aptidões para se tornar a submissa dona de casa, como era suposto acontecer naquela época.
O concurso era patrocinado por um jornal da cidade e com toda a projeção que este evento alcançava, as costureiras que nele participavam com modelos muito originais e de grande criatividade, viam o resultado do seu trabalho completamente recompensado ao ser mostrado a milhares de pessoas que adoravam o desfile. Os modelos iam de trajes de passeio até vestidos de cerimónia e de noiva.
Tempos felizes, esses, em que passávamos horas agradáveis sem despender muito dinheiro e a alegria era nota dominante”.
Com o devido crédito “palavrasesentidos.blogs.sapo.pt”


Nos concursos do Vestido de Chita era eleita a Rainha das Costureiras, sendo que o certame implicava uma grande rivalidade entre bairros e freguesias da cidade.
Disso nos dá conta a notícia seguinte:
 
«Rainha das Costureiras: eleita ontem no Palácio de Cristal: a menina Maria Arminda da Silva. Começou a polémica».
In jornal “A Montanha”, 14 Abr.1930, p. 1



No dia 10 de Setembro de 1944, tinha lugar nos jardins do Palácio de Cristal uma grandiosa festa presidida por Maria do Carmo Carmona, esposa do Presidente da República, durante a qual foi eleita como Rainha das Costureiras, Albertina Novais que como vencedora do primeiro prémio do concurso recebe uma máquina de costura "Husqvarna". 
A primeira máquina de costura nacional da marca "Oliva", fabricada em S. João da Madeira, só virá para o mercado em 1948.
Pela mesma época, passou a ocorrer, em moldes semelhantes a eleição no concurso Cantadeiras do Fado, da Rainha do Fado.


 
«Da lista das concorrentes, cada vez maior, destacamos dois nomes, Maria Albertina e Maria Fernanda. Porque destacamos da lista enorme apenas estes dois nomes? Por uma razão simples, mas decisiva – são irmãs. Vivem no mesmo lar, comungam na mesma vida. Lar modesto, sem luxos, em que a única riqueza são as suas canções, os seus fados. É essa a luz que as alumia, que faz desaparecer as suas tristezas. Das duas, qual cantará melhor? Elas, irmãs e amigas, entendem-se bem. A Maria Fernanda, simpática, diz que a Maria Albertina, canta melhor. Mas a Maria Albertina, modesta, protesta: “não é verdade, a tua voz é mais bonita do que a minha”.
Foram inscrever-se, juntas, ao posto do Portuense Rádio Clube. Porque se inscreveram? Responde, arregalando os lindos olhos negros, a Maria Albertina.
– Porque nos inscrevemos? Porque gostamos de cantar.
– Só por isso?
A Maria Fernanda, não podendo conter-se:
– Só por isso, não. A verdade manda Deus que se diga. Foi isso – e pela máquina de costura (…)»
In “Jornal de Notícias”, 16 de Agosto de 1949



A assistência à final do Concurso do Vestido de Chita no Palácio de Cristal, em 1968


As finalistas ao Concurso do Vestido de Chita no Palácio de Cristal em 1968


À data, os Jardins do Palácio de Cristal, tinham um recinto com bancadas, onde se realizavam sessões de variedades, na área hoje ocupada pela Biblioteca Almeida Garrett.



A Candidinha
 

Enquanto ia decorrendo o século XX e iam proliferando o aparecimento dos pronto-a-vestir que permitiam o acesso do povo a artigos mais em conta para a sua bolsa, por outro lado, uma burguesia endinheirada continuava a servir-se em ateliers de alta-costura, as mulheres nas modistas e, os homens, nas alfaiatarias.
Aqui, a moda era ditada pelas capitais europeias e fazia-se pagar bem.
No que diz respeito a modistas, no Porto, uma se destacaria no século XX – a Candidinha.
 
 
“Cândida Celeste Nogueira Alves nasceu no Porto em 1893, e desde jovem se tornou costureira. Rapidamente se torna famosa e ao seu ateliê acorrem as elites femininas da cidade que faziam questão que fosse a Candidinha, como era simpaticamente conhecida, a sua estilista oficial. O termo na época não existia e a palavra modista, era a única que se usava para designar a função, que só passado muitos anos é que se viu projectada para o lugar que ocupa hoje no mundo da moda.
A Candidinha tinha o seu ateliê na Rua da Boa Nova n.º 15, e os bordados também eram uma das suas imagens de marca, quiçá a mais importante. A importância da sua casa podia ser aferida pelo facto de ser uma das poucas no país que estavam autorizadas a usar o nome da casa Dior de Paris.
Quando se dá o 25 de Abril, Candidinha e a sua família foram para o Brasil, onde Candidinha acabou por falecer, em 1980.
A rua que a consagra é recente e é a serventia de uma série de moradias que foram construídas numa zona, até então, ainda não urbanizada da Foz. Por esse motivo, abriu se este arruamento”.
Cortesia do historiador do Porto, César Santos Silva

 
No texto anterior, existe um erro na morada expressa, que será, de facto, Rua da Boa Hora, n.º 15.
Em 3 de Maio de 1949, foi notícia na cidade do Porto um desfile de alta-costura promovido pela Candidinha em sua casa.
Em 29 de Março de 1955, a passagem de modelos promovida pela Candidinha, já tem lugar nas instalações do Hotel Infante de Sagres.



Publicidade à "Candidinha" em 1970



Na publicidade acima apresentada observa-se que Maria F. Marques Gomes já se apresentava como representando o atelier.
Na realidade, em 25 de Março de 1975, cerca de um ano após a revolução, o Diário do Governo, IIIª série, n.º 71, dava conta da formação de uma nova sociedade denominada Candidinha – Alta-Costura, Lda, na qual eram sócios Maria Francelina Nogueira Alves Marques Gomes e Armando Marques Gomes e Manuel Alves Coelho.
 
 

Texto de introdução à formação da sociedade "Candidinha – Alta-Costura, Lda" – Fonte: Diário do Governo, IIIªsérie, n.º 71




Placa Toponímica referente à Rua Cândida Alves, no entroncamento com a Rua Trinitária, à Foz do Douro – Fonte: Google maps



Candidinha no Brasil/Manaus, em Agosto de 1976 - Fonte: Revista "O Tripeiro", 7ª Série, Ano XIII, Nov.1994



2 comentários:

  1. Se me lembro dos Por-fi-rios...!
    Comprei là uma bolsa militar para a máscara anti-gás, que ainda trazia uma embalagem com o creme de limpeza das ópticas da referida máscara.
    Usei-a durante dezenas de anos!
    Comprei também um saco à marinheiro, com uma roda-de-leme e uma âncora estampadas. Era um tecido parecido com o linho, mas muito fino.

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  2. Ainda tenho a minha roupa que levei ao baptizado da minha filha faz 21anos
    . Os casacos de napa de motard que eles vendiam era top cheguei a comprar 2

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