Porfírio Augusto de Araújo começaria por abrir uma loja na
Rua de Santa Catarina, nº 137 (quase em frente ao Café Majestic), a denominada “Loja das Gravatas”, na década de 40 do século
XX.
Loja das Gravatas, na Rua de Santa Catarina, nº 137
A “Loja das Gravatas” acabaria por mudar para a Rua de Santa
Catarina, nº 39, agora com a nova denominação de Porfírios, uma loja que seria
a coqueluche dos anos 60 e 70.
“Por-fí-ri-os”, vulgarmente conhecida por “Porfírios”, e
também por “Porfírios das Meias”, foi uma loja fundada na Rua de Santa
Catarina, por Porfírio Augusto de Araújo, cujo principal artigo era, como se
adivinha, as meias.
No filme “A costureirinha da Sé”, um dos 2ºs prémios do
concurso “O Vestido de Chita” era
oferecido pela “Porfírios das Meias” (Um par de sapatos de nylon).
O 1º prémio era uma máquina de costura.
"A Costureirinha da Sé" é uma longa-metragem portuguesa,
realizado por Manuel Guimarães, no ano de 1958.
Cartaz de publicidade ao filme “A Costureirinha da Sé”
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki
Em 1953, nos Por-fí-ri-os, passavam-se no seu interior, filmes para crianças.
Publicidade a sessões de cinema, passadas na loja dos
“Por-fi-ri-os” – In jornal “O Comércio do Porto” em 28 de Setembro de 1953
“Por-fi-ri-os”, à esquerda, na Rua de Santa Catarina, nº 39
(próximo da Praça da Batalha) – 1956
Publicidade distribuída no cinema “Monumental”, em Lisboa,
em 1956 – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”; Colecção de Carlos Caria
Pelo panfleto acima se pode observar que à data, a
“Por-fi-ri-os”, já tinha também uma loja em Lisboa. Na capital, a
“Por-fi-ri-os”, teve um sucesso enorme, promovendo e realizando grandes passagens
de modelos e os concursos das Mini-saias.
A loja na capital era gerida por dois irmãos de Augusto,
António e Luís Porfírio.
Logo da “”Por-fi-ri-os”
Finalistas do concurso de Mini-saias da “Por-fi-ri-os”, em
1967, em Lisboa (ganhava quem tivesse mais aplausos)
“Qual o Portuense que
não entrou ou comprou alguma coisa nos "gandas malucos":
Quem diz jardim diz flores; Quem diz praia diz areias;
Quem diz paixão diz amores; Quem diz Porfírios diz meias”.
Fonte: JPortojo
Drugstore da “Por-fi-ri-os” na Rua de Santa Catarina
Ao entrar na loja do Porto, deparávamos-nos com uma secção de
peças mais pequenas, cintos, meias e outras bugigangas, seguindo-se um corredor
escuro que tentava recrear o ambiente das “boîtes” da altura, que terminava
numa secção de homem/senhora, em moldes de “Drugstore”.
Este espaço era composto por barracas de madeira,
comercializando cada qual, determinados produtos, onde eram expostos desenhos
de clientes, sujeitos mensalmente a um concurso.
As calças à “boca-de-sino”, as famosas mini-saias, as
camisas floridas, os collants coloridos, pulseiras, colares, óculos escuros (de
aros enormes), cintos (tipo Texas), blusões estampados, etc, tinham venda
assegurada.
Os jovens mais politizados, com simpatia por ideologias de
esquerda, sobre os artigos da “Por-fi-rios” tinham uma opinião bem definida – “eram artigos pró foleiro”.
O atendimento pelas empregadas da “Porfirios”- Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”
Publicidade da “Por-fi-ri-os”
Com a abertura do mercado nacional aos produtos estrangeiros,
após o 25 de Abril e a instalação entre nós de marcas consagradas, como a Zara,
Berska, Stradivarius, etc, a “Por-fi-ri-os” não teve possibilidade de concorrer
com elas e as lojas de Lisboa e Porto acabariam por fechar, em 2001.
Concurso dos Vestidos
de Chita
A propósito dos Concursos
do Vestido de Chita, referido anteriormente, diga-se que foram patrocinados
durante várias décadas, pelo Jornal de Notícias e as respectivas finais
decorriam com grandes audiências, nos Jardins do Palácio de Cristal, sendo que
o texto seguinte nos faz uma descrição do certame.
“Chita é um tecido de
algodão barato e de pouca qualidade, estampado com cores fortes,
geralmente florais, e tramas simples. As estamparia é feita sobre o tecido
conhecido como morim.
As características
principais são cores primárias e secundárias em massas chapadas que cobrem
totalmente a trama, tons vivos, grafite delineando os desenhos, e a
predominância de uma cor. As cores intensas servem, não só para embelezar o
tecido, mas também para disfarçar irregularidades, como eventuais
aberturas e imperfeições.
O nome chita vem do
sânscrito chintz, surgiu na Índia medieval e conquistou europeus, antes de
se implantar no Brasil. Com o fim da guerra, a chita continuava a
vestir os trabalhadores braçais e os moradores das regiões rurais, sendo o
pano característico das festas populares.
Recordo com alguma
nostalgia o tempo dos concursos de vestidos de chita que via frequentemente no
teatro ao ar livre do Palácio de Cristal, em noites de verão, em que o calor
imperava e muita gente acorria ao evento. As revistas femininas da época
ditavam a moda que nos chegava de Paris e ensinavam o comportamento
feminino ideal; a mulher era a fada do lar com aptidões para se tornar a
submissa dona de casa, como era suposto acontecer naquela época.
O concurso era
patrocinado por um jornal da cidade e com toda a projeção que este evento
alcançava, as costureiras que nele participavam com modelos muito originais e
de grande criatividade, viam o resultado do seu trabalho completamente
recompensado ao ser mostrado a milhares de pessoas que adoravam o desfile.
Os modelos iam de trajes de passeio até vestidos de cerimónia e de noiva.
Tempos felizes, esses,
em que passávamos horas agradáveis sem despender muito dinheiro e a alegria era
nota dominante”.
Com o devido crédito “palavrasesentidos.blogs.sapo.pt”
Nos concursos do Vestido de Chita era eleita a Rainha das
Costureiras, sendo que o certame implicava uma grande rivalidade entre bairros
e freguesias da cidade.
Disso nos dá conta a notícia seguinte:
«Rainha das
Costureiras: eleita ontem no Palácio de Cristal: a menina Maria Arminda da
Silva. Começou a polémica».
In jornal “A Montanha”, 14 Abr.1930, p. 1
No dia 10 de Setembro de 1944, tinha lugar nos jardins do Palácio de Cristal uma grandiosa festa presidida por Maria do Carmo Carmona, esposa do Presidente da República, durante a qual foi eleita como Rainha das Costureiras, Albertina Novais que como vencedora do primeiro prémio do concurso recebe uma máquina de costura "Husqvarna".
A primeira máquina de costura nacional da marca "Oliva", fabricada em S. João da Madeira, só virá para o mercado em 1948.
Pela mesma época, passou a ocorrer, em moldes semelhantes a
eleição no concurso Cantadeiras do Fado, da Rainha do Fado.
«Da lista das concorrentes, cada vez maior, destacamos dois
nomes, Maria Albertina e Maria Fernanda. Porque destacamos da lista enorme
apenas estes dois nomes? Por uma razão simples, mas decisiva – são irmãs. Vivem
no mesmo lar, comungam na mesma vida. Lar modesto, sem luxos, em que a única
riqueza são as suas canções, os seus fados. É essa a luz que as alumia, que faz
desaparecer as suas tristezas. Das duas, qual cantará melhor? Elas, irmãs e
amigas, entendem-se bem. A Maria Fernanda, simpática, diz que a Maria
Albertina, canta melhor. Mas a Maria Albertina, modesta, protesta: “não é
verdade, a tua voz é mais bonita do que a minha”.
Foram inscrever-se, juntas, ao posto do Portuense Rádio
Clube. Porque se inscreveram? Responde, arregalando os lindos olhos negros, a
Maria Albertina.
– Porque nos inscrevemos? Porque gostamos de cantar.
– Só por isso?
A Maria Fernanda, não podendo conter-se:
– Só por isso, não. A verdade manda Deus que se diga. Foi
isso – e pela máquina de costura (…)»
In “Jornal de Notícias”, 16 de Agosto de 1949
A assistência à final do Concurso do Vestido de Chita no
Palácio de Cristal, em 1968
As finalistas ao Concurso do Vestido de Chita no Palácio de
Cristal em 1968
À data, os Jardins do Palácio de Cristal, tinham um recinto
com bancadas, onde se realizavam sessões de variedades, na área hoje ocupada
pela Biblioteca Almeida Garrett.
A Candidinha
Enquanto ia decorrendo o século XX e iam proliferando o
aparecimento dos pronto-a-vestir que permitiam o acesso do povo a artigos mais
em conta para a sua bolsa, por outro lado, uma burguesia endinheirada
continuava a servir-se em ateliers de alta-costura, as mulheres nas modistas e,
os homens, nas alfaiatarias.
Aqui, a moda era ditada pelas capitais europeias e fazia-se
pagar bem.
No que diz respeito a modistas, no Porto, uma se destacaria
no século XX – a Candidinha.
“Cândida Celeste Nogueira
Alves nasceu no Porto em 1893, e desde jovem se tornou costureira. Rapidamente
se torna famosa e ao seu ateliê acorrem as elites femininas da cidade que
faziam questão que fosse a Candidinha, como era simpaticamente conhecida, a sua
estilista oficial. O termo na época não existia e a palavra modista, era a
única que se usava para designar a função, que só passado muitos anos é que se
viu projectada para o lugar que ocupa hoje no mundo da moda.
A Candidinha tinha o
seu ateliê na Rua da Boa Nova n.º 15, e os bordados também eram uma das suas
imagens de marca, quiçá a mais importante. A importância da sua casa podia ser
aferida pelo facto de ser uma das poucas no país que estavam autorizadas a usar
o nome da casa Dior de Paris.
Quando se dá o 25 de
Abril, Candidinha e a sua família foram para o Brasil, onde Candidinha acabou
por falecer, em 1980.
A rua que a consagra é
recente e é a serventia de uma série de moradias que foram construídas numa
zona, até então, ainda não urbanizada da Foz. Por esse motivo, abriu se este
arruamento”.
Cortesia do historiador do Porto, César Santos Silva
No texto anterior, existe um erro na morada expressa, que será, de facto, Rua da Boa Hora, n.º 15.
Em 3 de Maio de 1949, foi notícia na cidade do Porto um
desfile de alta-costura promovido pela Candidinha em sua casa.
Em 29 de Março de 1955, a passagem de modelos promovida pela Candidinha, já tem lugar nas instalações do Hotel Infante de Sagres.
Publicidade à "Candidinha" em 1970
Na publicidade acima apresentada observa-se que Maria F.
Marques Gomes já se apresentava como representando o atelier.
Na realidade, em 25 de Março de 1975, cerca de um ano após a revolução, o Diário do Governo, IIIª série, n.º 71, dava conta da formação de uma nova sociedade denominada Candidinha – Alta-Costura, Lda, na qual eram sócios Maria Francelina Nogueira Alves Marques Gomes e Armando Marques Gomes e Manuel Alves Coelho.
Na realidade, em 25 de Março de 1975, cerca de um ano após a revolução, o Diário do Governo, IIIª série, n.º 71, dava conta da formação de uma nova sociedade denominada Candidinha – Alta-Costura, Lda, na qual eram sócios Maria Francelina Nogueira Alves Marques Gomes e Armando Marques Gomes e Manuel Alves Coelho.
Texto de introdução à formação da sociedade "Candidinha –
Alta-Costura, Lda" – Fonte: Diário do Governo, IIIªsérie, n.º 71
Placa Toponímica referente à Rua Cândida Alves, no entroncamento
com a Rua Trinitária, à Foz do Douro – Fonte: Google maps
Candidinha no Brasil/Manaus, em Agosto de 1976 - Fonte: Revista "O Tripeiro", 7ª Série, Ano XIII, Nov.1994
Se me lembro dos Por-fi-rios...!
ResponderEliminarComprei là uma bolsa militar para a máscara anti-gás, que ainda trazia uma embalagem com o creme de limpeza das ópticas da referida máscara.
Usei-a durante dezenas de anos!
Comprei também um saco à marinheiro, com uma roda-de-leme e uma âncora estampadas. Era um tecido parecido com o linho, mas muito fino.
Ainda tenho a minha roupa que levei ao baptizado da minha filha faz 21anos
ResponderEliminar. Os casacos de napa de motard que eles vendiam era top cheguei a comprar 2