O que é que terá a ver com a cidade do Porto, a Taça de
Portugal todos os anos entregue a uma equipa de futebol, após um jogo realizado,
normalmente, no Jamor?
A prova nos moldes em que, actualmente, é disputada, foi
instituída na época 1938/39.
A conexão é antiga tendo o seu início cerca de 100 anos
antes da data em que foi executado o troféu que premeia o vencedor. Vamos à
história.
José Pinto Leitão (1798-1866) com 24 anos, em 1822, registou
o punção (marca pessoal de fabrico) “JPL” e abriu o seu negócio na Rua das
Flores, o clássico arruamento dos ourives do ouro no Porto.
Bem perto na Confraria de Santo Elói, onde hoje é a Praça do
Infante, junto ao Palácio da Bolsa, se faziam à época os exames e as provas
para os ourives do ouro.
Em 1837, José Pinto Leitão lança-se definitivamente e em
grande escala na actividade que vinha já exercendo (após o seu casamento com
Maria Delfina), com a ajuda do seu sogro, um abastado comerciante, de seu nome,
José Teixeira da Trindade.
José Pinto Leitão dedica-se, a partir de então, ao trabalho
do ouro que vinha do Brasil, com uma loja-oficina aberta na Rua das Flores,
dando assim continuidade nesse local ao negócio do seu sogro, destacado cidadão
ligado ao comércio com o Brasil e ao negócio do ouro.
Diga-se que José Teixeira da Trindade tinha estabelecido
relações particulares com D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil, desde o Cerco
do Porto em 1832.
Em 1862, são os filhos de José Pinto Leitão, Thomaz Pinto
Leitão e Olindo José Pinto Leitão, que tomam conta do negócio e fundam a firma
“Leitão & Irmão”.
Em 1872, “Leitão & Irmão” recebe o título de “Ourives da
Casa Imperial do Brasil”.
Em 1877, a firma sita na Rua das Flores, começa a dar corpo
ao projecto de mudança de instalações para a Praça D. Pedro.
Entretanto, naquele mesmo ano de 1877, a firma abre em
Lisboa, no Largo do Loreto ou Largo das Duas Egrejas, hoje, Largo do Chiado,
uma sumptuosa loja.
No dia 1 de Dezembro de 1877, D. Luís atribuiu à casa Leitão
& Irmão o título de “Joalheiros da Coroa” que adquire um novo punção, com número
de ordem 33, sendo actualmente a mais antiga ourivesaria portuguesa com punção
próprio.
Punção de “Leitão & Irmão”
Projecto de montra da loja da “Leitão & Irmão”, em 1877, para a
Praça D. Pedro – Fonte: “gisaweb.cm-porto.pt”
Publicidade à Ourivesaria “Leitão & Irmão” já na Praça
D. Pedro, 42-44, e com instalações também em Lisboa
Publicidade a ourivesarias da cidade do Porto – Fonte “O Illustrado
da Tarde” – 28/08/1880; Cortesia de José Leite administrador de
“restosdecoleccao.blogspot.com”
Contemporâneas com “Leitão & Irmão”, sita na Praça D.
Pedro, são as ourivesarias citadas no quadro publicitário anterior, em 1880.
Nos dias de hoje, a “Leitão & Irmão” continua, apoiada
em várias lojas, a exercer a sua actividade na capital.
Entretanto, no Porto, a firma encerrou a actividade há
muitos anos (em data que não é possível precisar) transferindo-se integralmente
para Lisboa.
São inúmeras as obras célebres e requintadas da “Leitão
& Irmão” que ficaram para a história.
Peças célebres
executadas por “Leitão & Irmão”
-1888- Cálice oferecido por D. Luís ao Papa Leão XIII, para
a comemoração do Seu Jubileu em 1888. Com particular demonstração de agrado, o
Papa Leão XIII celebrou a missa do Jubileu com o cálice oferecido pelo Rei de
Portugal.
Cálice – Fonte: “Leitão & Irmão”
-1898- Medalha comemorativa dos 400 anos da chegada de Vasco
da Gama à Índia.
Medalha - Fonte: “Leitão & Irmão”
-1900- Baixela Barahona, considerada uma obra-maior da
ourivesaria portuguesa. O desenho e a modelação foram confiados a Columbano
Bordalo Pinheiro, um dos grandes artistas da época.
Baixela Barahona - Fonte: “Leitão & Irmão”
-1907 – Cofre da Cidadania, oferecido ao príncipe D. Luís
Filipe durante a viagem real às colónias portuguesas de África em 1907. Foi
manufaturado nas oficinas do Bairro Alto pelas mãos de dois mestres prateiros
portugueses: João da Silva, um jovem e promissor cinzelador, aprendiz nas
oficinas do Bairro Alto e posteriormente formado em Paris e Genéve, e Júlio
Rodrigues Pinto, chefe da oficina. Em prata cinzelada e com quatro presas de
marfim aplicadas sobre a tampa, assenta em quatro rinocerontes e ostenta nas
arestas figuras de nativos.
Cofre da Cidadania - Fonte: “Leitão & Irmão”
-1922- Taça do vencedor do Campeonato de Portugal
(futebol), entre 1922 e 1938, depois, Taça de Portugal, em prata cinzelada.
“O troféu oficial da
Taça de Portugal, datado de 1922, pertence à Federação Portuguesa de Futebol. O
troféu, totalizando 20 kg de peso, é constituído por uma taça em prata
cinzelada e ricamente ornamentada em estilo manuelino. Consta de um bojo de
prata constituído por caravelas e em segundo plano fragatas. Em cima
encontram-se brasões alternados contendo a Cruz de Cristo e o Escudo Nacional.
Em baixo destaca-se a decoração com quatro florões. As asas do troféu são
elaboradamente entrançadas e encimadas pela esfera armilar e a Cruz de Cristo.
A ligar o bojo à base estão 4 colunas, cada uma ornamentada com 145
flores-de-lis concluídas nas extremidades por meias canas. A base, feita de
madeira, encontra-se ornamentada com 4 florões de prata, coincidentes com os
florões do bojo. A base tem a meio um brasão de prata ricamente estilizado e
termina com uma peanha de madeira onde anualmente são colocados os nomes dos
clubes vencedores em placas de prata”.
Fonte: pt.wikipedia.org/
Base da original Taça de Portugal (contém vencedores,
também, do Campeonato de Portugal) propriedade da Federação Portuguesa de
futebol – Ed. Jornal Sol
Ao vencedor de cada edição da Taça de Portugal é entregue
uma réplica, igualmente ornamentada, mas de menor dimensão, que o original. A
réplica tem 1,695 kg de peso e mede 58 cm de altura.
O troféu original, em disputa na Taça de Portugal, é o mesmo
que presidia ao Campeonato de Portugal (1921-1938), prova que a antecedeu no
calendário futebolístico.
-1942 – Coroa de Nossa Senhora de Fátima, uma das mais
divulgadas joias portuguesa. Oferta dos portugueses em sinal de gratidão pelos
seus filhos terem sido poupados aos dramas da 2ª Grande Guerra. A coroa, em
ouro e pedras preciosas, resultado de uma campanha nacional de ofertas
confiadas à casa Leitão, foi trabalhada durante três meses por doze artífices e
tem cravadas em ouro 313 pérolas e 2679 pedras preciosas. Quase meio século
depois, em 1984, esta obra ganhou outro relevo quando o Papa João Paulo II ofereceu
a Nossa Senhora de Fátima a bala que o atingiu no atentado de 13 de maio de
1981 no Vaticano. A bala encontrou o encaixe perfeito no espaço vazio, deixado
em 1942 na união das oito hastes que constituem a coroa de Rainha.
Coroa de Nossa Senhora de Fátima - Fonte: “Leitão &
Irmão”
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