terça-feira, 3 de dezembro de 2019

25.74 Duas Romarias que dizem muito aos portuenses


Santa Rita (Formiga) e a Quinta da Mão Poderosa

Desde o século XIX, que os romeiros demandam Ermesinde, em Maio, para assistirem e participarem nas festividades que têm subjacente a veneração a Santa Rita de Cássia.
Santa Rita de Cássia foi uma monja agostiniana da diocese de Espoleto, em Itália.
Nascida como Margherita Lotti, em 1381, e falecida a 22 de Maio de 1457, em Cássia, são-lhe atribuídos vários milagres, tendo a Santa Sé instituído a sua beatificação em 1627 e a canonização em 1900.



“Na capela da Formiga teve lugar no domingo, 24 de Maio, com muita pompa, a festividade de Santa Rita.
Houve arraial de tarde, onde, apesar da chuva que caía, afluiu bastante gente desta cidade e aldeias”.
In jornal “O Noticiador Portuense” de 26 de Maio de 1857


“No Convento da Formiga realiza-se nos próximos domingo e 2ª Feira, 22 e 23 do corrente, a grande romaria a Santa Rita de Cássia, muito venerada pela população nortenha como advogada do impossível e por isso de muito especial devoção dos bravos pescadores que, na hora das suas aflicções em alto-mar, a ela recorrem em suas preces.
Haverá arraial com vários atractivos”.
In “Jornal de Notícias” de 19 de Maio de 1949



“A Igreja de Santa Rita ou Igreja de Santa Rita da Mão Poderosa localiza-se na freguesia portuguesa de Ermesinde, concelho de Valongo, distrito do Porto.
Começou a ser construída na segunda metade do século XVIII, a primeira pedra foi colocada em 1749. É de estilo barroco.
Está ladeada por duas torres sineiras e o seu pórtico é rematado por um frontão triângular interrompido por um nicho barroco onde está colocada a imagem de São Pedro. No interior da Igreja, destaca-se a excelente talha dourada nas capelas laterais, no altar-mor e na estatuária religiosa.
O Santuário de Santa Rita em Ermesinde é um dos santuários do Norte de Portugal mais visitados e alvo de peregrinação. Esta santa é alvo de grande devoção na cidade e também em todo o país.
A romaria de Santa Rita realiza-se no segundo Domingo de Junho. A imagem de Santa Rita localiza-se no interior da igreja do lado direito. O dia de Santa Rita celebra-se a 22 de Maio. Santa Rita é conhecida como a santa dos casos impossíveis”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”



A primeira pedra do novo templo, que substitui a primitiva ermida existente, foi lançada em 14 de Outubro de 1749, ultrapassado que foi, por intervenção de D. João V e da rainha (oriunda da Áustria), o processo de embargo da doação da propriedade, que envolvia um processo de enfiteuse, pelo seu senhorio directo.
A partir daí, o templo gozaria da protecção real.
Ambos os santuários tiveram como máxima devoção a Nossa Senhora do Bom Despacho, muito adorada em terras da Maia.
Passados 30 anos, o novo santuário seria inaugurado, envolvendo três dias de festejos no fim do mês de Agosto: a 27 de Agosto, dia de Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho; a 28 de Agosto, dia de Santo Agostinho, o patrono da actividade da comunidade que dirigia o Santuário e o Convento Real da Mão Poderosa; e a 29 de Agosto, o dia que evoca o martírio de S. João Baptista.
Santa Rita, cujo dia de festejo é 22 de Maio, aparece associada ao santuário e alvo de devoção por ser, no âmbito da devoção, a exemplo de Nossa Senhora do Bom Despacho, uma intermediária entre os crentes e Cristo e, ainda, da devoção do casal real.
As origens austríacas da rainha determinariam que na fachada do templo fosse exibida, até aos dias de hoje, a característica águia de duas cabeças.



Igreja de Santa Rita em Ermesinde




Colégio da Formiga - Convento dos Eremitas de Santo Agostinho

«Data dos princípios do Sec. XVIII a primeira referência à “Quinta da Mão Poderosa”, em S. Lourenço de Asmes, hoje Ermesinde. Era pertença de Francisco da Silva Guimarães, negociante do Porto, e o conjunto mais notável seria a casa e ermida dedicada a N.ª S.ª do Bom Despacho, provavelmente situada no local onde se ergue o convento.
Em 1745, Francisco da Silva Guimarães e a sua mulher fazem doação da propriedade aos Eremitas Descalços de St.º Agostinho para fundarem uma igreja e convento ou hospício com a denominação de N.ª S.ª do Bom Despacho da Mão Poderosa. A escritura fora lavrada no Porto a 6 de Julho no mesmo ano, tendo como outorgantes os doadores e Dr. Frei José do Nascimento, como procurador do Rev. Pe. Mestre Dr. Frei António da Anunciação, Vigário Geral da Congregação.
A doação fora impugnada por parte do senhorio direto, Francisco Aranha Ferreira, que se recusava a vender-lhes os seus “direitos dominicais”. Foi preciso recorrer a D. João V, de quem doadores e religiosos alcançaram a necessária provisão em 19-4-1747. Não esqueceram os religiosos o favor do Rei, alcançado certamente por sua esposa D. Maria Ana, filha do Imperador Leopoldo I, mandando colocar na frontaria da Igreja e noutros locais do Convento a águia bicéfala e as armas imperiais da casa da Áustria.
Em 1842, foi arrematado em hasta pública por José Joaquim da Silva Pinto. Nesta data funciona no antigo convento um colégio para as famílias Miguelistas que não puderam emigrar. Diz-se que os alunos usavam um emblema com uma formiga, recordando o provérbio da Sagrada Escritura “Vade ad formicam, piger, et disce sapientiam”, e daí a designação do Colégio da Formiga. Este Colégio terá encerrado em 1848, ficando o edifício vago durante vários anos.
Em 1867, é arrematado em hasta pública por Manuel Francisco Cidade. Por seu falecimento em 1875, ficou a pertencer a sua filha D. Margarida Duarte Cidade, que veio a casar com José Joaquim Ribeiro Teles.
Em 1877, Frei João de Santana Gertrudes transfere para o antigo convento a secção masculina do Colégio de Paço de Sousa.
Em 1878, o Pe. José Rodrigues Cosgaya, emigrado político de Espanha em 1868, toma conta do Colégio.
Em 1886, o mesmo Dr. Cosgaya renova o contrato de arrendamento do antigo convento com validade até 1900.
No entanto, em 1894, instalou-se no antigo convento a Congregação do Espírito Santo. Nesta altura o Colégio do Dr. Cosgaya, denominado Colégio da Formiga, passaria a funcionar num edifício próximo: “Colégio do Rego de Água”
Cortesia: “colegiodeermesinde.com/”



O primeiro proprietário da quinta da “Mão Poderosa” foi o negociante Francisco da Silva Guimarães, morador às Hortas, e falecido em 1756.
Entre outros, tinha negócios de exportação de vinhos para o Brasil.
Aquando da doação, o casal doador deixou expresso que eles e seus descendentes, seriam sepultados na Igreja, a erguer e na qual seriam rezadas duas missas diárias, enquanto “o mundo for mundo” pelas suas almas.
Os Eremitas Descalços de Santo Agostinho (Grilos), à data da doação, estavam no Porto, pelo campo de Santo Ovídio, pois ainda não se tinham instalado na Sé, na Igreja de S. Lourenço que, poucos anos mais tarde (1780), seria por eles ocupada pelo abandono forçado dos jesuítas e pela sua compra à Universidade de Coimbra.


“Primeiro seriam construídos os Dormitórios do Convento, sendo posteriormente erguida a Igreja (1749), sobre as ordens do Frei António da Anunciação, doutor de Teologia e professor da Rainha D. Vitoria. Não admirando por isso que entre as várias doações e legados que permitiram a construção desta Igreja, se destaque, o real patrocínio desta rainha, cujas armas para sempre ficaram gravadas no templo.
A Igreja seria dedicada à Beata Virgem Maria, mas com invocação à Nossa Senhora do Bom Despacho. Aparece também desde o início a referência da Santa Rita de Cássia, que desde sempre foi venerada por esta Congregação e cujo nome sobrepôs o da invocação.
Nas lutas liberais, entre D. Pedro IV e seu irmão D. Miguel, quando ocorreu o cerco à cidade do Porto (1832-33), este Convento serviu de Hospital de sangue, para o exército absolutista. O próprio D Miguel esteve aqui várias vezes, em visita às suas tropas. No Adro da Igreja foram depositados, em vala comum, inúmeros soldados de mortos durante esta guerra civil.
O volumoso imóvel de Santa Rita, surge flanqueado por duas torres sineiras, bem proporcionadas e discretas, enquadrando um frontispício marcado pela sobriedade de linhas. O pórtico rematado por frontão triangular interrompido, é encimado por um nicho barroco, onde está uma imagem pétrea representando a Padroeira.
Adossada à esquerda do templo surge a antiga estrutura monástica, de planta quadrangular. Temos acesso à outrora conventual Igreja, por uma bem delineada escadaria fronteira.
Importante centro de culto, esta Igreja, ainda hoje, como no passado, é local onde convergem todos os domingos centenas de peregrinos, a prestar culto à Santa Rita e a cumprir as suas promessas.”
Fonte: “www.jf-ermesinde.pt”




Colégio da Formiga - Cortesia: “colegiodeermesinde.com/”



Em 1860, o Colégio da Formiga continuava em funcionamento, sob a direcção de um tal Keghels, como prova o anúncio publicado para esse ano lectivo no jornal Comércio do Porto, em 1 de Outubro.


 
 

Comércio do Porto de 1 de Outubro de 1860
 
 
Segundo o texto que se segue, em 1861, o Colégio da Formiga mantinha-se em funcionamento.




Texto de Júlio César Machado, da obra “Scenas da Minha Terra” (1861)





No texto anterior, extraído da obra de Júlio César Machado, "Scenas da Minha Terra", no capítulo Recordações do Porto, e na sequência duma passagem pela cidade do Porto efectuada em 1861, o escritor diz que na Quinta da Formiga visitou uma fábrica de sola do industrial Pinto da Silva (José Joaquim da Silva Pinto) que, em 1842, tinha adquirido a propriedade em hasta pública e as restantes instalações do convento, que tinham servido os fins que mencionou.





Colégio da Formiga - Cortesia: “colegiodeermesinde.com/”



«Em 1910, com a implantação da República, encerrou o Colégio do Espírito Santo iniciado em 1894 pelos padres dessa Congregação.
Em 1911, no opúsculo “Educação e Instrução”, à laia de propaganda política, é apresentado o antigo convento e ilustrado com diversas fotografias, como “Futuro Instituto Grandella - Escola Guerreiro”.
Neste ano, Amadeu Vilar, presidente da Junta de Paróquia de S. Lourenço de Asmes, propõe ao governo provisório de então que a localidade se passasse a chamar Ermezinde.
Em 12-09-1912, Pe. Manuel da Silva Pontes e Pe António Luís Moreira concluem com o seu legítimo proprietário, José Joaquim Ribeiro Teles, o contrato de arrendamento do antigo Convento.
Em 28-12-1912, por despacho do então Presidente da República, Manuel de Arriaga, é deferida a petição de José Joaquim Ribeiro Teles e Pe Manuel Moreira Reimão de criar “um instituto particular de ensino secundário em Ermesinde, sob a denominação de COLÉGIO DE ERMEZINDE” – Alvará N.º 712.
No ano letivo de 1913-14 figuram como diretores Manuel Moreira da Silva Pontes, Dr. António de Castro Meireles, Dr. Gaspar Augusto Pinto da Silva e Manuel Moreira Reimão.  
Em 8-12-1932, José Joaquim Ribeiro Teles faz testamento dos seus bens. Depois de contemplar diversos herdeiros, assim declara na parte final: “Instituo meu único e universal herdeiro de todo o remanescente da minha herança o Exmo. Senhor D. António de Castro Meireles, Bispo do Porto... É meu desejo... que minha propriedade do convento da Formiga seja utilizada em qualquer Seminário ou Colégio, sob a dependência do Exmo. Senhor D. António Meireles, a fim destes bens poderem assim prestar alguma utilidade à Igreja Católica, de quem me prezo de ser filho, pois dela já vieram, e assim úteis à causa de Deus... “.Faleceu o testador em 22-5-1933.
Por escritura de 29-5-1941 são transferidos os referidos bens para a posse do “Seminário Maior de N.ª S.ª da Conceição do Porto” e assim se cumpria a vontade de José Joaquim Ribeiro Teles: da Igreja vieram, para Ela voltam.
Em 1948, Dr. Gaspar Pinto da Silva vende à Diocese os bens mobiliários do Colégio e é indemnizado pela renúncia dos direitos que lhe advinham como arrendatário e como Diretor do Colégio. Da mesma forma foi indemnizado o Diretor Adjunto e professor Dr. Francisco da Silva Pinto.
A partir de 1948 o Colégio passa, assim, a ser propriedade da Diocese do Porto. A entidade Titular é o Seminário Maior de Nª. Sª. da Conceição, da Diocese do Porto. Os seus Diretores são nomeados pelo Bispo da Diocese, seus mandatários e representantes nesta Comunidade Educativa.
Tem como lema Ciência e Disciplina, Liberdade e Responsabilidade, princípios basilares da formação pessoal e integração na sociedade.»
Cortesia: “colegiodeermesinde.com/”



Sobre o texto anterior e sobre a referência ao “Instituto Grandella - Escola Guerreiro”, não há notícia de ter avançado.
Em 1912, o professor António Maria Guerreiro, tenta ampliar a sua acção até à escola da Quinta da Formiga, no entanto, é todo o projecto que até esse momento parecia estar pujante acaba por encerrar, sem que as causas sejam conhecidas.
António Guerreiro, na companhia dos seus filhos Porfírio e Adelina, abala para o Brasil. Por lá viveu, em S. Paulo, por mais 25 anos.
Assim, uma Escola Guerreiro já tinha existido na Rua de Cedofeita, nº 183-187, em 1909, mas dada a exiguidade das instalações, no ano lectivo 1909/1910, transferiu-se para a Rua de Cedofeita, nº 245, onde tinha estado o Colégio de Nossa Senhora do Rosário.
Passado um ano ou dois, o Colégio Guerreiro transferia-se então, na mesma rua, para o palacete do visconde Barreiros, onde funcionou a Administração do 2º Bairro Ocidental do Porto.
Este projecto educativo, como modernamente se diz, tinha sido obra de um professor, de seu nome António Maria Guerreiro, oriundo de Caminha que, em 1908, tinha fundado um colégio na Rua da Fábrica, ocupando instalações, por cima da Livraria Simões Lopes.





Publicidade à Escola Guerreiro - Fonte: Jornal "A Voz Pública" de 19 de Setembro de 1909


Local de instalação da Escola Guerreiro, na Rua de Cedofeita, 183-187 - Planta de Telles Ferreira de 1892



Local de instalação da Escola Guerreiro, na Rua de Cedofeita, 245, onde esteve antes, o Colégio de Nossa Senhora do Rosário - Planta de Telles Ferreira de 1892




(Continua)








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