Santa Rita (Formiga)
e a Quinta da Mão Poderosa
Desde o século XIX, que os romeiros demandam Ermesinde, em Maio,
para assistirem e participarem nas festividades que têm subjacente a veneração a
Santa Rita de Cássia.
Santa Rita de Cássia foi uma monja agostiniana da diocese de
Espoleto, em Itália.
Nascida como Margherita Lotti, em 1381, e falecida a 22 de
Maio de 1457, em Cássia, são-lhe atribuídos vários milagres, tendo a Santa Sé
instituído a sua beatificação em 1627 e a canonização em 1900.
“Na capela da Formiga
teve lugar no domingo, 24 de Maio, com muita pompa, a festividade de Santa
Rita.
Houve arraial de
tarde, onde, apesar da chuva que caía, afluiu bastante gente desta cidade e
aldeias”.
In jornal “O Noticiador Portuense” de 26 de Maio de 1857
“No Convento da
Formiga realiza-se nos próximos domingo e 2ª Feira, 22 e 23 do corrente, a grande
romaria a Santa Rita de Cássia, muito venerada pela população nortenha como
advogada do impossível e por isso de muito especial devoção dos bravos
pescadores que, na hora das suas aflicções em alto-mar, a ela recorrem em suas
preces.
Haverá arraial com
vários atractivos”.
In “Jornal de Notícias” de 19 de Maio de 1949
“A Igreja de Santa
Rita ou Igreja de Santa Rita da Mão Poderosa localiza-se na freguesia
portuguesa de Ermesinde, concelho de Valongo, distrito do Porto.
Começou a ser
construída na segunda metade do século XVIII, a primeira pedra foi colocada em
1749. É de estilo barroco.
Está ladeada por duas
torres sineiras e o seu pórtico é rematado por um frontão triângular
interrompido por um nicho barroco onde está colocada a imagem de São Pedro. No
interior da Igreja, destaca-se a excelente talha dourada nas capelas laterais,
no altar-mor e na estatuária religiosa.
O Santuário de Santa
Rita em Ermesinde é um dos santuários do Norte de Portugal mais visitados e
alvo de peregrinação. Esta santa é alvo de grande devoção na cidade e também em
todo o país.
A romaria de Santa
Rita realiza-se no segundo Domingo de Junho. A imagem de Santa Rita localiza-se
no interior da igreja do lado direito. O dia de Santa Rita celebra-se a 22 de
Maio. Santa Rita é conhecida como a santa dos casos impossíveis”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”
A primeira pedra do novo templo, que substitui a primitiva
ermida existente, foi lançada em 14 de Outubro de 1749, ultrapassado que foi,
por intervenção de D. João V e da rainha (oriunda da Áustria), o processo de
embargo da doação da propriedade, que envolvia um processo de enfiteuse, pelo
seu senhorio directo.
A partir daí, o templo gozaria da protecção real.
Ambos os santuários tiveram como máxima devoção a Nossa
Senhora do Bom Despacho, muito adorada em terras da Maia.
Passados 30 anos, o novo santuário seria inaugurado,
envolvendo três dias de festejos no fim do mês de Agosto: a 27 de Agosto, dia
de Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho; a 28 de Agosto, dia de Santo Agostinho,
o patrono da actividade da comunidade que dirigia o Santuário e o Convento Real
da Mão Poderosa; e a 29 de Agosto, o dia que evoca o martírio de S. João
Baptista.
Santa Rita, cujo dia de festejo é 22 de Maio, aparece
associada ao santuário e alvo de devoção por ser, no âmbito da devoção, a
exemplo de Nossa Senhora do Bom Despacho, uma intermediária entre os crentes e
Cristo e, ainda, da devoção do casal real.
As origens austríacas da rainha determinariam que na fachada
do templo fosse exibida, até aos dias de hoje, a característica águia de duas
cabeças.
Igreja de Santa Rita em Ermesinde
Colégio da Formiga
- Convento dos Eremitas de Santo Agostinho
«Data dos princípios
do Sec. XVIII a primeira referência à “Quinta da Mão Poderosa”, em S. Lourenço
de Asmes, hoje Ermesinde. Era pertença de Francisco da Silva Guimarães,
negociante do Porto, e o conjunto mais notável seria a casa e ermida dedicada a
N.ª S.ª do Bom Despacho, provavelmente situada no local onde se ergue o
convento.
Em 1745, Francisco da Silva Guimarães e
a sua mulher fazem doação da propriedade aos Eremitas Descalços de St.º Agostinho para fundarem uma igreja e
convento ou hospício com a denominação de N.ª S.ª do Bom Despacho da Mão
Poderosa. A escritura fora lavrada no Porto a 6 de Julho no mesmo ano, tendo
como outorgantes os doadores e Dr. Frei José do Nascimento, como procurador do
Rev. Pe. Mestre Dr. Frei António da Anunciação, Vigário Geral da Congregação.
A doação fora
impugnada por parte do senhorio direto, Francisco Aranha Ferreira, que se
recusava a vender-lhes os seus “direitos dominicais”. Foi preciso recorrer a D.
João V, de quem doadores e religiosos alcançaram a necessária provisão em
19-4-1747. Não esqueceram os religiosos o favor do Rei, alcançado certamente
por sua esposa D. Maria Ana, filha do Imperador Leopoldo I, mandando colocar na
frontaria da Igreja e noutros locais do Convento a águia bicéfala e as armas
imperiais da casa da Áustria.
Em 1842, foi arrematado em
hasta pública por José Joaquim da Silva Pinto. Nesta data funciona no antigo
convento um colégio para as famílias Miguelistas que não puderam emigrar.
Diz-se que os alunos usavam um emblema com uma formiga, recordando o provérbio
da Sagrada Escritura “Vade ad formicam, piger, et disce sapientiam”, e daí a
designação do Colégio da Formiga. Este Colégio terá encerrado em 1848, ficando
o edifício vago durante vários anos.
Em 1867, é arrematado em hasta pública
por Manuel Francisco Cidade. Por seu falecimento em 1875, ficou a pertencer a
sua filha D. Margarida Duarte Cidade, que veio a casar com José Joaquim Ribeiro
Teles.
Em 1877, Frei João de Santana Gertrudes
transfere para o antigo convento a secção masculina do Colégio de Paço de
Sousa.
Em 1878, o Pe. José
Rodrigues Cosgaya, emigrado político de Espanha em 1868, toma conta do Colégio.
Em 1886, o mesmo Dr.
Cosgaya renova o contrato de arrendamento do antigo convento com validade até
1900.
No entanto, em 1894, instalou-se no antigo convento
a Congregação do Espírito Santo.
Nesta altura o Colégio do Dr. Cosgaya, denominado Colégio da Formiga, passaria
a funcionar num edifício próximo: “Colégio
do Rego de Água”.»
Cortesia: “colegiodeermesinde.com/”
O primeiro proprietário da quinta da “Mão Poderosa” foi o
negociante Francisco da Silva Guimarães, morador às Hortas, e falecido em 1756.
Entre outros, tinha negócios de exportação de vinhos para o
Brasil.
Aquando da doação, o casal doador deixou expresso que eles e
seus descendentes, seriam sepultados na Igreja, a erguer e na qual seriam rezadas
duas missas diárias, enquanto “o mundo
for mundo” pelas suas almas.
Os Eremitas Descalços de Santo Agostinho (Grilos), à data da
doação, estavam no Porto, pelo campo de Santo Ovídio, pois ainda não se tinham
instalado na Sé, na Igreja de S. Lourenço que, poucos anos mais tarde (1780),
seria por eles ocupada pelo abandono forçado dos jesuítas e pela sua compra à
Universidade de Coimbra.
“Primeiro seriam
construídos os Dormitórios do Convento, sendo posteriormente erguida a Igreja
(1749), sobre as ordens do Frei António da Anunciação, doutor de Teologia e
professor da Rainha D. Vitoria. Não admirando por isso que entre as várias
doações e legados que permitiram a construção desta Igreja, se destaque, o real
patrocínio desta rainha, cujas armas para sempre ficaram gravadas no templo.
A Igreja seria
dedicada à Beata Virgem Maria, mas com invocação à Nossa Senhora do Bom
Despacho. Aparece também desde o início a referência da Santa Rita de Cássia,
que desde sempre foi venerada por esta Congregação e cujo nome sobrepôs o da
invocação.
Nas lutas liberais,
entre D. Pedro IV e seu irmão D. Miguel, quando ocorreu o cerco à cidade do
Porto (1832-33), este Convento serviu de Hospital de sangue, para o exército
absolutista. O próprio D Miguel esteve aqui várias vezes, em visita às suas
tropas. No Adro da Igreja foram depositados, em vala comum, inúmeros soldados
de mortos durante esta guerra civil.
O volumoso imóvel de
Santa Rita, surge flanqueado por duas torres sineiras, bem proporcionadas e
discretas, enquadrando um frontispício marcado pela sobriedade de linhas. O
pórtico rematado por frontão triangular interrompido, é encimado por um nicho
barroco, onde está uma imagem pétrea representando a Padroeira.
Adossada à esquerda do
templo surge a antiga estrutura monástica, de planta quadrangular. Temos acesso
à outrora conventual Igreja, por uma bem delineada escadaria fronteira.
Importante centro de
culto, esta Igreja, ainda hoje, como no passado, é local onde convergem todos
os domingos centenas de peregrinos, a prestar culto à Santa Rita e a cumprir as
suas promessas.”
Fonte: “www.jf-ermesinde.pt”
Colégio da Formiga - Cortesia: “colegiodeermesinde.com/”
Em 1860, o Colégio da Formiga continuava em funcionamento, sob
a direcção de um tal Keghels, como prova o anúncio publicado para esse ano lectivo
no jornal Comércio do Porto, em 1 de Outubro.
Segundo o texto que se segue, em 1861, o Colégio da Formiga mantinha-se
em funcionamento.
Texto de Júlio César Machado, da obra “Scenas da Minha
Terra” (1861)
No texto anterior, extraído da obra de Júlio César Machado, "Scenas da Minha Terra", no capítulo Recordações do Porto, e na sequência duma passagem pela cidade do Porto efectuada em 1861, o escritor diz que na Quinta da Formiga visitou uma fábrica de sola do industrial Pinto da Silva (José Joaquim da Silva Pinto) que, em 1842, tinha adquirido a propriedade em hasta pública e as restantes instalações do convento, que tinham servido os fins que mencionou.
Colégio da Formiga - Cortesia: “colegiodeermesinde.com/”
«Em 1910, com a implantação da República, encerrou o Colégio do
Espírito Santo iniciado em 1894 pelos padres dessa Congregação.
Em 1911, no opúsculo
“Educação e Instrução”, à laia de propaganda política, é apresentado o antigo
convento e ilustrado com diversas fotografias, como “Futuro Instituto Grandella - Escola Guerreiro”.
Neste ano, Amadeu Vilar, presidente da Junta de Paróquia de S. Lourenço de Asmes, propõe ao governo provisório de então que a localidade se passasse a chamar Ermezinde.
Em 12-09-1912, Pe. Manuel
da Silva Pontes e Pe António Luís Moreira concluem com o seu legítimo
proprietário, José Joaquim Ribeiro Teles, o contrato de arrendamento do antigo
Convento.
Em 28-12-1912, por
despacho do então Presidente da República, Manuel de Arriaga, é deferida a
petição de José Joaquim Ribeiro Teles e Pe Manuel Moreira Reimão de criar “um
instituto particular de ensino secundário em Ermesinde, sob a denominação de
COLÉGIO DE ERMEZINDE” – Alvará N.º 712.
No ano letivo de
1913-14 figuram como diretores Manuel Moreira da Silva Pontes, Dr. António de
Castro Meireles, Dr. Gaspar Augusto Pinto da Silva e Manuel Moreira
Reimão.
Em 8-12-1932, José
Joaquim Ribeiro Teles faz testamento dos seus bens. Depois de contemplar
diversos herdeiros, assim declara na parte final: “Instituo meu único e
universal herdeiro de todo o remanescente da minha herança o Exmo. Senhor D.
António de Castro Meireles, Bispo do Porto... É meu desejo... que minha
propriedade do convento da Formiga seja utilizada em qualquer Seminário ou Colégio,
sob a dependência do Exmo. Senhor D. António Meireles, a fim destes bens
poderem assim prestar alguma utilidade à Igreja Católica, de quem me prezo de
ser filho, pois dela já vieram, e assim úteis à causa de Deus... “.Faleceu o
testador em 22-5-1933.
Por escritura de 29-5-1941 são
transferidos os referidos bens para a posse do “Seminário Maior de N.ª S.ª da
Conceição do Porto” e assim se cumpria a vontade de José Joaquim Ribeiro Teles:
da Igreja vieram, para Ela voltam.
Em 1948, Dr. Gaspar Pinto
da Silva vende à Diocese os bens mobiliários do Colégio e é indemnizado pela
renúncia dos direitos que lhe advinham como arrendatário e como Diretor do
Colégio. Da mesma forma foi indemnizado o Diretor Adjunto e professor Dr.
Francisco da Silva Pinto.
A partir de 1948 o
Colégio passa, assim, a ser propriedade da Diocese do Porto. A entidade Titular
é o Seminário Maior de Nª. Sª. da Conceição, da Diocese do Porto. Os seus
Diretores são nomeados pelo Bispo da Diocese, seus mandatários e representantes
nesta Comunidade Educativa.
Tem como lema Ciência
e Disciplina, Liberdade e Responsabilidade, princípios basilares da formação
pessoal e integração na sociedade.»
Cortesia: “colegiodeermesinde.com/”
Sobre o texto anterior e sobre a referência ao “Instituto
Grandella - Escola Guerreiro”, não há notícia de ter avançado.
Em 1912, o professor António Maria Guerreiro, tenta ampliar a sua acção até à escola da Quinta da Formiga, no entanto, é todo o projecto que até esse momento parecia estar pujante acaba por encerrar, sem que as causas sejam conhecidas.
António Guerreiro, na companhia dos seus filhos Porfírio e Adelina, abala para o Brasil. Por lá viveu, em S. Paulo, por mais 25 anos.
Assim, uma Escola Guerreiro já tinha existido na Rua de Cedofeita, nº 183-187, em 1909, mas dada a exiguidade das instalações, no ano lectivo 1909/1910, transferiu-se para a Rua de Cedofeita, nº 245, onde tinha estado o Colégio de Nossa Senhora do Rosário.
Assim, uma Escola Guerreiro já tinha existido na Rua de Cedofeita, nº 183-187, em 1909, mas dada a exiguidade das instalações, no ano lectivo 1909/1910, transferiu-se para a Rua de Cedofeita, nº 245, onde tinha estado o Colégio de Nossa Senhora do Rosário.
Passado um ano ou dois, o Colégio Guerreiro transferia-se então, na mesma rua, para o palacete do visconde Barreiros, onde funcionou a Administração do 2º Bairro Ocidental do Porto.
Este projecto educativo, como modernamente se diz, tinha sido obra de um professor, de seu nome António Maria Guerreiro, oriundo de Caminha que, em 1908, tinha fundado um colégio na Rua da Fábrica, ocupando instalações, por cima da Livraria Simões Lopes.
Publicidade à Escola Guerreiro - Fonte: Jornal "A Voz Pública" de 19 de Setembro de 1909
Local de instalação da Escola Guerreiro, na Rua de Cedofeita, 183-187 - Planta de Telles Ferreira de 1892
Local de instalação da Escola Guerreiro, na Rua de Cedofeita, 245, onde esteve antes, o Colégio de Nossa Senhora do Rosário - Planta de Telles Ferreira de 1892
(Continua)
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