segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

(Continuação 3)


O Presépio


“Natal é a festividade cristã que enaltece o nascimento de Jesus. A origem do Natal é algo controverso e discutível por muitos entendidos e estudiosos da matéria, no entanto, e segundo a tradição da religião católica, é comemorado anualmente em 25 de dezembro pela Igreja Católica Apostólica Romana. Já nos países eslavos e ortodoxos, cujos calendários eram baseados no calendário Juliano, o Natal é comemorado no dia 7 de janeiro. O Natal é, de resto, encarado mundialmente por pessoas de diferentes credos, como o dia consagrado à família, à paz, à fraternidade e à solidariedade entre os homens. Um dos grandes símbolos religiosos, que retrata esse evento do Natal e o nascimento de Jesus é o presépio. De acordo com Rafael Bluteau e Cândido de Figueiredo, a palavra "presépio" provem do latim praesepium, que genericamente significa curral, estábulo, lugar onde se recolhe gado e que, numa outra óptica designa qualquer representação do nascimento de Cristo, de acordo com os Evangelhos. O presépio de Natal é uma tradição que remonta ao século XIII e que ainda hoje se cumpre na maior parte dos lares cristãos. Quanto à origem dos presépios, alguns pesquisadores reportam-se aos primeiros séculos da era cristã, considerando como elementos precursores do presépio de Natal, as representações da natividade em frescos das catacumbas de Santa Priscila, em Roma, bem como na ornamentação dos sarcófagos nelas recolhidos. Dessas antigas representações da arte cristã primitiva preservou-se uma cena  esculpida sobre um sarcófago datado do século IV d.C..  Esta comemoração começou em Roma, enquanto no cristianismo oriental o nascimento de Jesus já era celebrado em conexão com a Epifania (revelação ou a primeira aparição de Jesus aos Reis Magos), em 6 de janeiro. Ainda que os presépios já fossem uma tradição pelo menos do século II a. C., a verdade é que para os pagãos os deuses solares também nasceram em grutas: ZeusDionysius e Agni”
Fonte: “historiaschistoria.blogspot.com”




O presépio barroco de Natal, em Portugal, desenvolveu-se no reinado de D. João V (1689 - 1750), recebendo influência dos presépios congéneres de Nápoles, do mesmo período. Os mais famosos presépios portugueses de Natal, barrocos, foram atribuídos  ao escultor Joaquim Machado de Castro (1731 - 1822).



Joaquim Machado de Castro


“Joaquim Machado de Castro (Sé, Coimbra, 19 de Junho de 1731 - Mártires, Lisboa, 17 de Novembro de 1822) foi um dos maiores e mais renomados escultores portugueses. Machado de Castro foi um dos escultores de maior influência na Europa do século XVIII e princípio do século XIX.
(…) Em 1746 foi para Lisboa, onde trabalhou na oficina do santeiro (comerciante que vende estampas e imagens de santos) Nicolau Pinto, passando depois pelo atelier de José de Almeida, que frequentara a Academia de Portugal em Roma. Em 1756, ingressou na chamada Escola de Escultura de Mafra (criada em 1754 por D. José I), tornando-se assistente de Giusti. No ano de 1771, era incumbido de esculpir a Estátua Equestre de D. José I, destinada ao Terreiro do Paço, projectada por Eugénio dos Santos. A estátua foi inaugurada em 1775 e, posteriormente, foi chamado a coordenar o programa escultórico da Basílica da Estrela (…).”
Fonte: “pt.wikipedia.org”




O Presépio ou Natividade, geralmente, por cá, é composto por figuras de barro, na sua maioria dos barristas de Barcelos e, em conjunto, representam o Nascimento de Jesus Cristo em Belém.
No Porto, o melhor local para os encontrar, para além das casas dos portuenses devotos, é nas igrejas e em alguns museus.
O primeiro Presépio, como o conhecemos, foi criado por S. Francisco de Assis em Greccio em 1223, na Itália. Era um Presépio vivo, com pessoas e animais, como já se viu algumas vezes na Igreja da Lapa, durante a Missa do Galo.
Em Portugal, no século XVI, já existiam inúmeros exemplos, mas o período Barroco é que marca o apogeu da arte, destacando-se Machado de Castro que, no Porto, conta pelo menos com dois exemplares, nas Igrejas de S. José das Taipas e das Almas do Corpo Santo de Massarelos.
Assim, num presépio exposto no mini-museu da igreja de S. José das Taipas, é possível observar-se que ele apresenta um 4º mago.
No tempo em que S. Francisco de Assis instituiu que o nascimento de Jesus se passasse a fazer por intermédio de um presépio alusivo, as figuras dos reis magos estariam em linha com o que vinha transcrito na bíblia. Seriam reis que viriam de longas paragens, adorar o menino. Seriam, em suma, representantes do mundo conhecido à data, que compreendia 3 continentes: Europa, Ásia e África.
O presépio da igreja de S. José das Taipas (que tudo indica tem a autoria de Machado de Castro ou pelo menos tem origem na sua escola) será de um tempo em que já a humanidade tinha conhecimento de um quarto continente – o americano. Daí, a representação do 4º mago, na pessoa de um índio conduzindo o seu lama.
Não se sabe, porém, quem teria sido o primeiro detentor do presépio ou quando entrou na posse da Irmandade de S. José das Taipas.
Depois de recuperado está agora em exposição permanente.





Presépio exposto na Igreja de S. José das Taipas – Ed. Graça Correia



Em ampliação da foto anterior, no canto superior, à direita, dentro da oval amarela, divisa-se um índio conduzindo um lama 



Na igreja das Almas do Corpo Santo de Massarelos, existe exposto no seu Núcleo Museológico, um presépio muito parecido com o de S. José das Taipas, que se julga ser de Machado de Castro, que também exibe 4 reis magos.
Encontrando-se na posse da confraria desde tempos que não se tem memória, aquele presépio foi recuperado para ser apreciado, há cerca de 2 anos, pela quantia de 6000 euros.



Presépio da igreja das Almas do Corpo Santo de Massarelos – Ed. Graça Correia


O 4º mago, representando o continente americano, está na foto anterior, no canto superior direito, um pouco encoberto pelo corpo de um anjo e em destaque, na ampliação seguinte, dentro da elipse amarela.



Presépio da igreja das Almas do Corpo Santo de Massarelos com 4º Mago, em destaque – Ed. Graça Correia


Outros presépios podem ser apreciados durante a época natalícia e, embora sem confirmação, alguns deles, dizem que possuem algumas características atribuídas a Machado Castro.
É o caso dos exibidos nas igrejas de S. Lourenço (igreja dos Grilos) e de Nossa Senhora da Esperança (S. Lázaro).



Igreja de São Lourenço ou dos Grilos. Presépio de Natal do século XVII, construído em madeira, papel, metal e vidro, de autor desconhecido



Presépio da igreja dos Grilos


Presépio da igreja dos Grilos – Fonte: “pt.wikipedia.org”



A igreja de Nossa Senhora da Esperança, a S. Lázaro, também tem um presépio guardado na sacristia que pela época natalícia é exposto, que dizem ser da escola de Machado de Castro.



Presépio da igreja de Nossa Senhora da Esperança - Ed. Graça Correia


Mas, espalhados pela cidade, muitos outros presépios podem ser dignos de registo.



Este presépio costuma estar em exposição na Igreja de Santo Ildefonso



No presépio da foto anterior, o Menino Jesus ainda não está colocado porque, segundo a tradição, por nascer no dia 25 de Dezembro, só neste dia pode ser colocado.




Presépio que costuma ser armado na igreja do Carmo




Presépio que se armava a meio do Mercado do Bolhão



Anúncio do “Jornal do Porto” em 25 de Dezembro de 1891


O “Jornal do Porto” com Redacção e Administração na Rua dos Caldeireiros, nº 26, com a entrada do ano 1892, começou a ser publicado à tarde.



In Jornal “A Voz Pública”, em 28 de Dezembro 1900, p. 2




Construindo um presépio


Há três personagens fundamentais para contar a história. Pai, Mãe e Menino. O cenário, segundo as escrituras, apresenta um telheiro (manjedoura), umas palhas (servindo de berço) e uns animais (uma vaca e um burrito e umas ovelhas) para dar movimento ao estábulo.
A construção com método impõe que, até ao dia 24 de Dezembro, apenas estejam como figurantes, os progenitores.
No dia seguinte, instala-se o rebento e uns pastores para dar movimento e uma estrela anunciadora e condutora de magos.
Assim se vai seguindo as escrituras.


”Ora havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam durante as vigílias da noite o seu rebanho. E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo. Pois, na cidade de Davi (Belém), vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura.”
(Lucas 2:8-12)


A 6 de Janeiro, acrescentam-se três reis magos. Os mais eruditos poderão acrescentar o quarto rei mago, o tal índio, representando o Continente Americano.

“E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. E, vendo eles a estrela, alegraram-se muito com grande alegria. E, entrando na casa acharam o menino com Maria sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra.”
(Mateus 2:9-11)


No Porto, o dia de Reis e o período que o antecede, já foi de grandes festejos, a exemplo do que se passa na vizinha Espanha.
É Germano Silva que disso nos dá conta.


“Em tempos idos houve, no Porto, uma festa que chegou a ombrear com a do S. João. Foi a festa aos três Reis Magos, também referenciados como “três santos reis Magos”
Em tempos idos houve, no Porto, uma festa que chegou a ombrear com a do S. João. Foi a festa aos três Reis Magos, também referenciados como “três santos reis Magos”, que se celebra entre os dias 1 e 6 de Janeiro.
O costume é antigo e evoca os três reis do oriente que, segundo uma antiquíssima tradição, mais ou menos fantasiosa, se chamavam Baltasar, Gaspar e Belchior. Estes Magos aparecem tratados como santos, pela primeira vez (1133), nas obras do arcebispo Hildeberto, do Tours, em França. A palavra Mago é de origem indo - europeia e não hebraica, como às vezes se tem escrito, e significa “grande, ilustre”.
Os Magos da lenda eram originários da Pérsia. Logo nos começos da era cristã uma tradição conferiu – lhes o título de “reis”. A lenda diz que eram três. Mas os cristãos orientais contaram doze e, nas pinturas e nos mosaicos primitivos, aparecem dois, três, quatro ou mais. A Igreja fixou-lhe o número de três.
Pois era a e estes três reis Magos que, em tempos antigos, o Porto fazia uma grande festa. Grupos de pessoas, mais ou menos organizados, por ruas, a “trupe das Eirinhas ”; por profissões, “o grupo dos empregados da Carris”; por coletividades, “os reiseiros dos Unidinhos da Sé ”, percorriam as ruas da cidade cantando os reis de porta em porta, sempre de noite, em atenção ao pormenor de os Magos terem sido guiados por uma estrela, logo de noite. A festa era animada e chegou, em certas épocas, a rivalizar, em popularidade e entusiasmo popular, com a do tradicional S. João tripeiro.
O costume era antigo. Na ata de uma reunião camarária do século XV, por exemplo, aparece referenciada a petição de um grupo de cidadãos, moradores à Cruz do Souto, que solicitam da Câmara autorização para, no sítio onde moram, montarem um tablado a fim de sobre ele realizarem uma pantomina em louvor dos três reis Magos.
O costume chegou até aos primeiros anos do século XX. Por essa altura os festejos eram organizados em torna da capela dos Três Reis Magos que existiu, contigua ao palácio onde, na praça de D. Pedro, atual praça da Liberdade, funcionou, por quase um século, a Câmara Municipal do Porto. Tudo agora é passado: o edifício onde esteve a Câmara e a capela, apeadas para a abertura da avenida dos Aliados e a própria festa que já só é recordada em louváveis evocações de ranchos folclóricos”.



Hotel Francfort em 1905


Sobre a foto acima considerar que: a rua que sobe pela direita é a antiga e desaparecida Rua D. Pedro, que a partir de 1910 será a Rua Elias Garcia e, hoje, é sensivelmente a via lateral ascendente da Avenida dos Aliados; no local da fachada frontal do Hotel Francfort estará hoje a estátua da “Menina da Avenida”; a rua pela esquerda, apenas parcialmente visível, era a Rua do Laranjal, onde, nesse troço inicial, pela esquerda, encontrávamos a capela dos Três Reis Magos (Por pouco não a vislumbramos nesta foto).
A Rua do Laranjal também desapareceu para ser construída a actual Avenida dos Aliados e, o seu leito corria, sensivelmente, pelo chão que é hoje o meio daquela avenida.


(Continua)

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