O Presépio
“Natal é a festividade
cristã que enaltece o nascimento de Jesus. A origem do Natal é algo controverso
e discutível por muitos entendidos e estudiosos da matéria, no entanto, e
segundo a tradição da religião católica, é comemorado anualmente em 25 de dezembro
pela Igreja Católica Apostólica Romana. Já nos países eslavos e ortodoxos,
cujos calendários eram baseados no calendário Juliano, o Natal é comemorado no
dia 7 de janeiro. O Natal é, de resto, encarado mundialmente por pessoas de
diferentes credos, como o dia consagrado à família, à paz, à fraternidade e à
solidariedade entre os homens. Um dos grandes símbolos religiosos, que retrata
esse evento do Natal e o nascimento de Jesus é o presépio. De acordo com Rafael
Bluteau e Cândido de Figueiredo, a palavra "presépio" provem do
latim praesepium, que
genericamente significa curral, estábulo, lugar onde se recolhe gado e que,
numa outra óptica designa qualquer representação do nascimento de Cristo, de
acordo com os Evangelhos. O presépio de Natal é uma tradição que remonta
ao século XIII e que ainda hoje se cumpre na maior parte dos lares cristãos.
Quanto à origem dos presépios, alguns
pesquisadores reportam-se aos primeiros séculos da era cristã, considerando
como elementos precursores do presépio de Natal, as representações da
natividade em frescos das catacumbas de Santa Priscila, em Roma, bem como na
ornamentação dos sarcófagos nelas recolhidos. Dessas antigas representações da
arte cristã primitiva preservou-se uma cena esculpida sobre um sarcófago datado
do século IV d.C.. Esta comemoração começou em Roma, enquanto no
cristianismo oriental o nascimento de Jesus já era celebrado em conexão com a
Epifania (revelação ou a primeira aparição de Jesus aos Reis Magos), em 6 de
janeiro. Ainda que os presépios já fossem uma tradição pelo menos do
século II a. C., a verdade é que para os pagãos os deuses solares também
nasceram em grutas: Zeus, Dionysius e Agni”.
Fonte: “historiaschistoria.blogspot.com”
O presépio barroco de Natal, em Portugal, desenvolveu-se no
reinado de D. João V (1689 - 1750), recebendo influência dos presépios
congéneres de Nápoles, do mesmo período. Os mais famosos presépios portugueses de
Natal, barrocos, foram atribuídos ao escultor Joaquim Machado de
Castro (1731 - 1822).
Joaquim Machado de
Castro
“Joaquim Machado de
Castro (Sé, Coimbra, 19 de Junho de 1731 - Mártires, Lisboa, 17 de Novembro de
1822) foi um dos maiores e mais renomados escultores portugueses. Machado de
Castro foi um dos escultores de maior influência na Europa do século XVIII e
princípio do século XIX.
(…) Em 1746 foi para
Lisboa, onde trabalhou na oficina do santeiro (comerciante que vende estampas e
imagens de santos) Nicolau Pinto, passando depois pelo atelier de José de
Almeida, que frequentara a Academia de Portugal em Roma. Em 1756, ingressou na
chamada Escola de Escultura de Mafra (criada em 1754 por D. José I),
tornando-se assistente de Giusti. No ano de 1771, era incumbido de esculpir a
Estátua Equestre de D. José I, destinada ao Terreiro do Paço, projectada por
Eugénio dos Santos. A estátua foi inaugurada em 1775 e, posteriormente, foi
chamado a coordenar o programa escultórico da Basílica da Estrela (…).”
Fonte: “pt.wikipedia.org”
O Presépio ou Natividade, geralmente, por cá, é composto por
figuras de barro, na sua maioria dos barristas de Barcelos e, em conjunto,
representam o Nascimento de Jesus Cristo em Belém.
No Porto, o melhor local para os encontrar, para além das
casas dos portuenses devotos, é nas igrejas e em alguns museus.
O primeiro Presépio, como o conhecemos, foi criado por S.
Francisco de Assis em Greccio em 1223, na Itália. Era um Presépio vivo, com pessoas
e animais, como já se viu algumas vezes na Igreja da Lapa, durante a Missa do
Galo.
Em Portugal, no século XVI, já existiam inúmeros exemplos,
mas o período Barroco é que marca o apogeu da arte, destacando-se Machado de
Castro que, no Porto, conta pelo menos com dois exemplares, nas Igrejas de S.
José das Taipas e das Almas do Corpo Santo de Massarelos.
Assim, num presépio exposto no mini-museu da igreja de S.
José das Taipas, é possível observar-se que ele apresenta um 4º mago.
No tempo em que S. Francisco de Assis instituiu que o
nascimento de Jesus se passasse a fazer por intermédio de um presépio alusivo,
as figuras dos reis magos estariam em linha com o que vinha transcrito na
bíblia. Seriam reis que viriam de longas paragens, adorar o menino. Seriam, em
suma, representantes do mundo conhecido à data, que compreendia 3 continentes:
Europa, Ásia e África.
O presépio da igreja de S. José das Taipas (que tudo indica
tem a autoria de Machado de Castro ou pelo menos tem origem na sua escola) será
de um tempo em que já a humanidade tinha conhecimento de um quarto continente –
o americano. Daí, a representação do 4º mago, na pessoa de um índio conduzindo
o seu lama.
Não se sabe, porém, quem teria sido o primeiro detentor do
presépio ou quando entrou na posse da Irmandade de S. José das Taipas.
Depois de recuperado está agora em exposição permanente.
Presépio exposto na Igreja de S. José das Taipas – Ed. Graça Correia
Em ampliação da foto anterior, no canto superior, à direita,
dentro da oval amarela, divisa-se um índio conduzindo um lama
Na igreja das Almas do Corpo Santo de Massarelos, existe
exposto no seu Núcleo Museológico, um presépio muito parecido com o de S. José
das Taipas, que se julga ser de Machado de Castro, que também exibe 4 reis
magos.
Encontrando-se na posse da confraria desde tempos que não se
tem memória, aquele presépio foi recuperado para ser apreciado, há cerca de 2
anos, pela quantia de 6000 euros.
Presépio da igreja das Almas do Corpo Santo de Massarelos –
Ed. Graça Correia
O 4º mago, representando o continente americano, está na
foto anterior, no canto superior direito, um pouco encoberto pelo corpo de um
anjo e em destaque, na ampliação seguinte, dentro da elipse amarela.
Presépio da igreja das Almas do Corpo Santo de Massarelos
com 4º Mago, em destaque – Ed. Graça Correia
Outros presépios podem ser apreciados durante a época
natalícia e, embora sem confirmação, alguns deles, dizem que possuem algumas
características atribuídas a Machado Castro.
É o caso dos exibidos nas igrejas de S. Lourenço (igreja
dos Grilos) e de Nossa Senhora da Esperança (S.
Lázaro).
Igreja de São Lourenço ou dos Grilos. Presépio de Natal do
século XVII, construído em madeira, papel, metal e vidro, de autor desconhecido
Presépio da igreja dos Grilos
Presépio da igreja dos Grilos – Fonte: “pt.wikipedia.org”
A igreja de Nossa Senhora da Esperança, a S. Lázaro, também
tem um presépio guardado na sacristia que pela época natalícia é exposto, que
dizem ser da escola de Machado de Castro.
Presépio da igreja de Nossa Senhora da Esperança - Ed. Graça Correia
Mas, espalhados pela cidade, muitos outros presépios podem
ser dignos de registo.
Este presépio costuma estar em exposição na Igreja de Santo Ildefonso
No presépio da foto anterior, o Menino Jesus ainda não está colocado porque,
segundo a tradição, por nascer no dia 25 de Dezembro, só neste dia pode ser
colocado.
Presépio que
costuma ser armado na igreja do Carmo
Presépio que se armava a meio do Mercado do Bolhão
Anúncio do “Jornal do Porto” em 25 de Dezembro de 1891
O “Jornal do Porto” com Redacção e Administração na Rua dos
Caldeireiros, nº 26, com a entrada do ano 1892, começou a ser publicado à
tarde.
Construindo um
presépio
Há três personagens fundamentais para contar a história.
Pai, Mãe e Menino. O cenário, segundo as escrituras, apresenta um telheiro
(manjedoura), umas palhas (servindo de berço) e uns animais (uma vaca e um
burrito e umas ovelhas) para dar movimento ao estábulo.
A construção com método impõe que, até ao dia 24 de
Dezembro, apenas estejam como figurantes, os progenitores.
No dia seguinte, instala-se o rebento e uns pastores para
dar movimento e uma estrela anunciadora e condutora de magos.
Assim se vai seguindo as escrituras.
”Ora havia naquela
mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam durante as vigílias da
noite o seu rebanho. E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do
Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse:
Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para
todo o povo. Pois, na cidade de Davi (Belém), vos nasceu hoje o Salvador, que é
Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em
panos, e deitado numa manjedoura.”
(Lucas 2:8-12)
A 6 de Janeiro, acrescentam-se três reis magos. Os mais
eruditos poderão acrescentar o quarto rei mago, o tal índio, representando o
Continente Americano.
“E, tendo eles ouvido
o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante
deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. E,
vendo eles a estrela, alegraram-se muito com grande alegria. E, entrando na
casa acharam o menino com Maria sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e,
abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra.”
(Mateus 2:9-11)
No Porto, o dia de Reis e o período que o antecede, já foi
de grandes festejos, a exemplo do que se passa na vizinha Espanha.
É Germano Silva que disso nos dá conta.
“Em tempos idos houve,
no Porto, uma festa que chegou a ombrear com a do S. João. Foi a festa aos três
Reis Magos, também referenciados como “três santos reis Magos”
Em tempos idos houve,
no Porto, uma festa que chegou a ombrear com a do S. João. Foi a festa aos três
Reis Magos, também referenciados como “três santos reis Magos”, que se celebra
entre os dias 1 e 6 de Janeiro.
O costume é antigo e
evoca os três reis do oriente que, segundo uma antiquíssima tradição, mais ou
menos fantasiosa, se chamavam Baltasar, Gaspar e Belchior. Estes Magos aparecem
tratados como santos, pela primeira vez (1133), nas obras do arcebispo
Hildeberto, do Tours, em França. A palavra Mago é de origem indo - europeia e
não hebraica, como às vezes se tem escrito, e significa “grande, ilustre”.
Os Magos da lenda eram
originários da Pérsia. Logo nos começos da era cristã uma tradição conferiu –
lhes o título de “reis”. A lenda diz que eram três. Mas os cristãos orientais
contaram doze e, nas pinturas e nos mosaicos primitivos, aparecem dois, três,
quatro ou mais. A Igreja fixou-lhe o número de três.
Pois era a e estes
três reis Magos que, em tempos antigos, o Porto fazia uma grande festa. Grupos
de pessoas, mais ou menos organizados, por ruas, a “trupe das Eirinhas ”; por
profissões, “o grupo dos empregados da Carris”; por coletividades, “os
reiseiros dos Unidinhos da Sé ”, percorriam as ruas da cidade cantando os reis
de porta em porta, sempre de noite, em atenção ao pormenor de os Magos terem
sido guiados por uma estrela, logo de noite. A festa era animada e chegou, em
certas épocas, a rivalizar, em popularidade e entusiasmo popular, com a do
tradicional S. João tripeiro.
O costume era antigo.
Na ata de uma reunião camarária do século XV, por exemplo, aparece referenciada
a petição de um grupo de cidadãos, moradores à Cruz do Souto, que solicitam da
Câmara autorização para, no sítio onde moram, montarem um tablado a fim de
sobre ele realizarem uma pantomina em louvor dos três reis Magos.
O costume chegou até
aos primeiros anos do século XX. Por essa altura os festejos eram organizados
em torna da capela dos Três Reis Magos que existiu, contigua ao palácio onde,
na praça de D. Pedro, atual praça da Liberdade, funcionou, por quase um século,
a Câmara Municipal do Porto. Tudo agora é passado: o edifício onde esteve a
Câmara e a capela, apeadas para a abertura da avenida dos Aliados e a própria
festa que já só é recordada em louváveis evocações de ranchos folclóricos”.
Hotel Francfort em 1905
Sobre a foto acima considerar que: a rua que sobe pela
direita é a antiga e desaparecida Rua D. Pedro, que a partir de 1910 será a Rua
Elias Garcia e, hoje, é sensivelmente a via lateral ascendente da Avenida dos
Aliados; no local da fachada frontal do Hotel Francfort estará hoje a estátua da
“Menina da Avenida”; a rua pela esquerda, apenas parcialmente visível, era a
Rua do Laranjal, onde, nesse troço inicial, pela esquerda, encontrávamos a
capela dos Três Reis Magos (Por pouco não a vislumbramos nesta foto).
A Rua do Laranjal também desapareceu para ser construída a
actual Avenida dos Aliados e, o seu leito corria, sensivelmente, pelo chão que
é hoje o meio daquela avenida.
(Continua)
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