A antiga igreja de Cedofeita conhecida, também, por Igreja
de S. Martinho de Cedofeita ou Igreja Românica de Cedofeita, sagrada pelo bispo
Lucrécio de Braga, em 560, foi fundada pelo rei ariano (suevo) Theodomiro, no
ano de 559, o qual se teria convertido ao catolicismo e abandonado o arianismo.
Este facto parece dar razão àqueles que dizem que, por aquelas
ocasiões, ainda o Porto não tinha bispo.
A Diocese do Porto foi administrada pelos prelados de Braga até à
eleição de D. Hugo.
“Conta a lenda que
Teodomiro, desesperado porque não encontrava cura para a doença do Ariamiro,
recorreu a São Martinho de Tours, enviando a esta cidade embaixadores com
ofertas de prata e ouro em peso igual ao do seu filho. Acabou por ser o bispo
de Braga São Martinho de Dume o portador de uma relíquia de São Martinho de
Tours, perante a exposição da qual o filho do rei foi curado, e todo o povo
suevo presente convertido ao catolicismo. Esta relíquia está guardada nesta
igreja de Cedofeita, juntamente com outras do evangelizador dos suevos, o bispo
de Braga e de Dume. Teodomiro ordenou o início da construção de uma nova igreja
em honra do referido santo. O templo foi construído com tal celeridade que se
terá dito acerca dele Cito Facta, o que significa Feita Cedo, derivando em
Cedofeita”.
In Wikipédia
Há outros historiadores, no entanto, que referem que a
conversão dos suevos se deverá ao antecessor de Theodomiro, conhecido por
Cariarico, embora outros há, que afirmam, que se trata da mesma personagem e que
Theodomiro seria o nome de Cariarico após o baptismo.
De notar que S. Martinho de Tours viveu no século IV e S.
Martinho de Dume, ou de Braga, ou Apóstolo dos Suevos viveu no século VI.
“S. Martinho de
Tours, antes de ser Santo foi soldado do Imperador. Uma vez ia montado no
seu cavalo num dia tempestuoso de chuva e vento muito embrulhado na sua capa de
soldado.
Surgiu-lhe num caminho
um pobrezinho de mão estendida muito magra semi-nu a tremer de frio e também de
fome. O Moço cavaleiro ficou abalado, e depois de dar umas moedas ao pobre
desceu do cavalo e com a própria espada cortou a capa que trazia ao meio dando
uma parte ao pobre, para ele se cobrir e ficando com a outra metade para si.
Passados momentos o temporal amainou as nuvens foram desaparecendo,
transformando-se a tempestade num dia de sol brilhante, raro na estação do
Outono.
Eis a Lenda do Verão
de S. Martinho, Santo que é comemorado no dia 11 de Novembro, geralmente com um
serão de família e amigos”.
In Site: lendarium.org
S. Martinho de Dume estabeleceu um mosteiro em Dume, uma aldeia das
proximidades de Bracara Augusta, a partir do qual começou a irradiar a sua
pregação. Estabeleceu a Diocese de Dume (caso único na história cristã –
confinada ao referido Mosteiro de Dume, a que presidia), da qual foi primeiro
bispo, em 556.
Foi ainda tradutor e para além de batalhador pela ortodoxia contra os
arianos, foi também um fecundo escritor, tendo instituído a designação actual
em português dos dias da semana, ignorando a designação anterior latina.
Ao mosteiro de Cedofeita se refere uma «Carta de Jusgo» concedida em 755, por um senhor
da cidade do Porto, quando o território estava nas mãos dos muçulmanos.
“Em 755, durante
o domínio muçulmano, os cristãos das terras do Mosteiro de Cedofeita receberam
um salvo-conduto para a cidade do Porto e permissão para a prática da fé cristã
dentro de portas fechadas, mediante um pagamento anual de 50 pesantes. Esta permissão
foi dada através de uma «Carta de Jusgo» a troco de outros 50 pesantes,
reproduzida por Egidio Johanes em 1229:
É esta carta de
jusgo e consentimento de Abdalassis Abhrem Mahomet per illah illalah, senhor da
cidade do Porto, e da gente de Nazaré, pela qual ordeno que os presbíteros e
cristãos do Mosteiro de Cedofeita que moram junto à dita cidade do Porto, e o
seu mosteiro, possuam os seu bens em paz e quietação, sem opressão, vexame ou
força dos Sarracenos; com a condição que não digam as missas senão com as
portas fechadas, e não toquem as suas campainhas: e paguem pelo consentimento
50 pesantes de boa prata anualmente, e possam sair e vir à cidade com liberdade
e quando quiserem, e não vão fora das terras do meu mando sem o meu
consentimento e vontade: assim o mando; e faço esta carta de salvo conduto, e a
dou ao dito mosteiro para que a possua para o seu sossego (jusgo)”.
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Cedofeita
A igreja de Cedofeita foi alvo de sucessivas transformações, adquirindo
um traço românico no início do século XII.
As datas das sucessivas intervenções na igreja e no Mosteiro de
Cedofeita, que junto dela existiu, permanecem imprecisas.
A igreja, quanto ao seu aspecto, terá, no entanto, apresentado, no
século XVIII, aquele com que chegou à grande intervenção executada pelo Estado
Novo, em meados do século XX.
No excerto da planta abaixo é possível vislumbrar uma parte
do percurso da Ribeira de Vilar que, por aqui, toma o nome de ribeira de Cavamãos.
Aliás, como é óbvio, estas comunidades de monges, situadas
em lugares ermos, tinham sempre por perto algum curso de água.
Igreja, cemitério e convento da Colegiada de Cedofeita e respectiva
envolvente, na Planta de Teles Ferreira de 1892
Actualmente, a igreja de Cedofeita situada no Largo do
Priorado, antigamente, estava no centro do Couto
de Cedofeita, o qual abarcava uma extensa área envolvente ao templo.
A existência do Couto de Cedofeita está provada, pelo menos,
desde meados do século XIII, constando nas Inquirições Gerais de D. Afonso III,
de 1258.
A respectiva carta de couto teria sido conferida por D. Afonso
Henriques que, aquando da doação, em 1148, do Couto de Cedofeita juntou, também,
a do curato de Massarelos.
Em termos religiosos um curato era um sítio com um pastor permanente
que tinha a obrigação de ministrar os sacramentos aos fiéis.
“Um documento datado de 1849 pormenoriza que
o Couto começava no fim da Rua da Rainha (hoje de Antero de Quental), corria
pelo Monte Pedral até ao Carvalhido, na Rua da Natária, e confrontava com
Paranhos. Do Carvalhido seguia pela Rua da Carcereira até à Cova do Monte, fim
da Quinta do Vanzeller, partia com Ramalde e com a estrada para Lordelo e vinha
ao Douro. Acompanhava o rio até ao começo da Calçada de Monchique (que ficava
já dentro do COUTO) e daí subindo à Rua dos Carrancas partia com Miragaia.
Continuava até ao Adro dos Enforcados (traseiras do Hospital de Santo António)
onde confrontava com Santo Ildefonso, seguia pelo Rua do Paço até à cerca dos
frades do Carmo, Travessa do Carregal, chegava ao canto do Hospital do Carmo,
circuitava a Praça dos Ferradores (hoje de Carlos Alberto) até ao cunhal do
Palácio dos Balsemões, Rua das Oliveiras e Sovela, Campo de Santo Ovídio, Rua
da Lapa e lado poente da Rua da Rainha até Paranhos”.
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Cedofeita
O sítio de Asneiros e a Quinta do Priorado ficavam onde é
hoje o Largo da Paz, e faziam no fim do século XVIII parte dos terrenos
administrados pela Colegiada de S. Martinho de Cedofeita, que vivia junto da
igreja.
Uma colegiada designa um conjunto de dignidades instituídas numa igreja
paroquial e que a tornavam semelhante ao cabido de uma sé catedral. As
colegiadas eram presididas por um prior, enquanto os cabidos o eram por um
bispo.
D. Nicolau de Santa Maria diz que já antes de 1118 a Colegiada existia
e que tinha Prior e Cónegos que viviam segundo a regra de Santo
Agostinho.
“A Colegiada de
São Martinho de Cedofeita pertencia ao bispado ou diocese do Porto.
A igreja românica
data dos princípios do século XII. Antes de 1118, a colegiada tinha prior,
designado por abade. Os cónegos viviam em comum, segundo a regra de Santo
Agostinho. Secularizou-se em 1191, no tempo de D. Martinho, bispo do
Porto.
Em 1237, em
Setembro, Nuno Soeiro, prelado da igreja de São Martinho de Cedofeita
concedeu-lhe foral”.
Fonte – Site: Arquivo Nacional da Torre do Tombo
(Entenda-se no texto
anterior a palavra “secularização” como “o processo
de desencantamento” em que a igreja se despe de costumes e crenças
baseadas em tradições herdadas ou aprendidas que se apoiam em pilares fixos, e
parte para outras organizações, e que o bispo Martinho, não é outro que não
Martinho Rodrigues, que exerceu a cátedra entre 1190-1235, tendo ficado
conhecido pelo seu envolvimento em polémicas com o rei D. Sancho II).
A vida em comunidade (todos os membros eram iguais) na colegiada
de Cedofeita permaneceu até 1504.
Em 31 de Outubro, foi introduzida uma diferenciação no seio da
colegiada, por provisão do bispo D. Diogo de Sousa, ligado à fundação da
Misericórdia do Porto.
Assim, os bens comuns da Colegiada foram divididos, atribuindo dois
terços ao abade, ou mesa prioral, e um terço aos cónegos. Mandou, ainda,
dividir ao meio os emolumentos paroquiais, por serem todos compárocos.
Há muito, durante o bispado (1191-1235) de D. Martinho Rodrigues que se
tinha assistido a processo semelhante e o conflito que, então, surgiria entre o
bispo e o cabido, foi intenso.
No tempo do deão Duarte da Cunha d'Eça, pelo facto da Igreja Colegiada
se encontrar em lugar ermo e despovoado, as dignidades e cónegos de Cedofeita
dirigiram uma petição ao bispo do Porto, D. Rodrigo Pinheiro, pretendendo
mudar-se para a Rua de São Miguel, lugar de uma antiga sinagoga, no interior do
burgo. Em 1571, por despacho de 7 de Janeiro, o bispo solicitou um parecer ao
Cabido. A 19 de Março, a resposta deste apontava inconvenientes que o bispo
mandou registar por despacho de 22 de Maio. Tratava-se de um lugar muito
próximo da Sé, mais precisamente na antiga judiaria do Olival, de onde os
judeus haviam sido expulsos, por ordem de D. Manuel I, setenta e cinco anos
antes, em 1496. Também ainda não existia o mosteiro dos monges beneditinos,
que só começou a ser construído em 1597.
"A outro arrabalde que está muito
afastado chamam Massarelos, cuja paróquia é o mosteiro de Cedofeita, que é habitado
por cónegos seculares da Ordem de Santo Agostinho; mosteiro assaz deleitoso de
muitas frutas, jardins e fontes e que é habitado não só por cónegos mas também
por chantres e mestres -escola, presidindo a tudo, o prior".
Fonte – João de
Barros, In “Geografia D'Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes"
Em 1748, D. Frei José Maria da Fonseca e Évora, bispo do Porto, era
comendador da Insigne colegiada de São Martinho de Cedofeita e prior do
Mosteiro de São Pedro de Ferreira e, em 1753, era prior da Colegiada D. José de
Lucerna e Noronha.
Em 24 de Janeiro de 1753, a vereação, em reunião, deixou lavrado em acta
que, tendo aquele prior solicitado à Câmara autorização para demolir o templo românico, por ser "acanhado e as suas diminutas
dimensões não satisfazerem as necessidades da população", tal
pretensão não teria o apoio do município.
D. José de Lucerna
comprometia-se a construir uma nova igreja, de maiores dimensões, e para
satisfazer os gastos previstos para a nova obra, solicitava à Câmara que autorizasse
"a imposição de um real de água (uma
taxa ou imposto) nos subúrbios do Porto". A Câmara não autorizou o
imposto e, sem verba para as obras, não se construiu uma igreja nova, e a
antiga lá continuou até aos nossos dias.
Em 1835, teve início uma questão sobre as terras da Colegiada
relativamente às quais se opunham os representantes da Coroa, defendendo que
tinham sido dadas à igreja por D. Afonso I, e os da Colegiada que defendiam que
lhe pertenciam já antes da fundação de Portugal, sendo de origem
particular.
Após a extinção
das colegiadas pela Carta de Lei de 16 de Junho de 1848, e instruções do
cardeal patriarca de Lisboa, de 17 de Setembro, só foram conservadas as
colegiadas insignes: de São Martinho de Cedofeita, de Nossa Senhora da Oliveira
de Guimarães, de Santa Maria da Alcáçova de Santarém, da real capela de Vila
Viçosa, da real capela do Paço da Bemposta, de S. João Baptista de Coruche, de
Santa Maria de Barcelos, de Santo Estêvão de Valença do Minho, extintas mais
tarde, pelo Decreto de 1 de Dezembro de 1869, artº 1º, tendo a Colegiada de
Nossa Senhora da Oliveira permanecido, pelo seu grande prestígio, até ao
advento da República, em 1910, quando foi extinta sendo, porém, restaurada em
1967.
Alguns priores foram
personalidades importantes, tais como D Gonçalo Pereira deão da Sé do Porto,
Arcebispo de Braga e depois de Lisboa e que era avô de S. Nuno de Santa Maria e
D. Henrique que foi Arcebispo de Braga, de Évora e depois Cardeal e Rei de
Portugal e já agora o 2º Inquisidor-mor da Santa Inquisição em Portugal.
A Colegiada de
Cedofeita tinha rendimentos avultados, pois o seu couto era vasto e muito
fértil.
Para além da
administração das propriedades que possuía, a colegiada de Cedofeita gozou do direito de pescado desde Aveiro até
à Galiza e desde a foz do Douro até Massarelos, e os dízimos do sal nas salinas
de Massarelos.
Por isso, no séc. XIII, onde agora passa a Alameda Basílio
Teles existiram umas salinas que ficaram célebres por causa das demandas a que
deram origem entre os cónegos da Colegiada de Cedofeita, a Coroa e o próprio
Bispo do Porto, porque todos se julgavam com direitos aos foros provenientes do
comércio do sal.
Tal privilégio foi concedido ao couto de Cedofeita por D.
Dinis.
Era, ainda,
rendimento da colegiada os dízimos eclesiásticos decorrentes da administração
do Padroado de Cedofeita.
Assim, a partir de
1302 surge, após uma doação, o Padroado de Cedofeita, originando uma fonte de
rendimento – dízimos eclesiásticos (extintos totalmente, por Mouzinho da
Silveira, em 30 de Julho de 1832).
O Padroado de Cedofeita fez parte de uma doação de vários
padroados de igrejas do Minho, com suas jurisdições, direitos e servidão feita
por D. Berengária Aires ao bispo do Porto, em 12 de Agosto de 1302.
O padroado foi
criado através de sucessivas e gradativas bulas pontifícias, como resultado de
uma longa negociação da Santa Sé com os Reinos Ibéricos, Portugal e Espanha.
Por meio destas bulas, que assumiram valor jurídico no período da expansão
ultramarina, a Santa Sé delegava aos monarcas católicos ou outro administrador
civil, a administração e organização da Igreja Católica em seus domínios
conquistados e por conquistar. Em contrapartida, o nomeado, que arrecadava os
dízimos eclesiásticos, deveria construir e prover as igrejas, com todo o
necessário para o culto, nomear os párocos por concursos e propor nomes de
bispos, sendo estes depois formalmente confirmados pelo Papa.
Os rendimentos e benefícios que fossem vagando eram aplicados para
sustentação do culto e do clero.
Por vezes, outros rendimentos eram afectos à colegiada como é o caso ocorrido no século XIII, quando por
testamento, Abril Peres, cónego da Sé do Porto e prior da Colegiada de
Cedofeita, em 1295, deixou aos clérigos de Cedofeita, 5 libras para pitança.
A área administrada
pela colegiada foi integrada na cidade, em 1710, juntamente com Massarelos que,
até aí, também lhe pertencia.
Porém, a colegiada
manteve-se separada da diocese até 1910.
Nos começos do século XIX, D. Abade de Cedofeita começou a
aforar terrenos para a construção de casas. Este processo de urbanização deu
continuidade à Rua de Cedofeita que foi rasgada ao longo de uma velha estrada.
A Rua de Cedofeita que se rasgou até à Carvalhosa foi construída em terrenos do
casal da Cruz. Por isso esse troço chegou a chamar-se Rua da Cruz.
Também foram aforados terrenos do casal da Arioza que ficava
onde é hoje o Largo da Paz e deu origem às ruas da Torrinha e da Paz.
Também foram aforados os campos do Prado e do Carvalho, bem
como os casais do Coxo, que deram origem às ruas do Breyner e da Boa-Hora e, ainda, o casal do Ribeiro.
Muito possivelmente, seria por estas paragens que se
localizava ainda, em 1673, o "casal do Ribeiro, junto à Carvalhosa".
Este "ribeiro", também conhecido pelo "rio de Cavamãos",
tinha a sua nascente por alturas do Monte Pedral. Nas imediações do Largo de
Alexandre de Sá Pinto, juntava-se a outros pequenos cursos de água, vindos das
alturas de S. Brás e da Lapa, formando, a partir daí, o rio de Vilar, que
desagua no rio Douro, junto ao cais de Massarelos, depois de percorrer o
subsolo da Rua da Piedade. Estes ribeiros continuam a sulcar os seus velhos
leitos mas agora devidamente encanados.
Havia, também, o "casal de Magnetos", onde agora
está o cemitério da Agramonte, mas cujos domínios se estendiam até ao antiquíssimo
lugar da Carvalhosa.
A palavra "casal" tem que ser entendida com o
significado de "pequeno povoado" ou " conjunto de pequenas
propriedades rústicas", ou o lugar, ou lugarejo de uma determinada
freguesia.
Sobre esta parte da cidade escreveu Germano Silva:
“Estávamos em 1806. A
cidade começava a sair da apertada muralha fernandina em que vivera durante
séculos e estendia os seus tentáculos ao longo dos terrenos arrabaldinos. Jerónimo Pereira Leite, proprietário do
Casal do Pombal deve ter chegado à conclusão, lógica, aliás, de que o tempo de
se viver à custa do rendimento dos campos tinha os dias contados e decidiu-se
pela urbanização daquela sua propriedade. Ofereceu à Câmara terrenos seus para neles
se construírem novas artérias pedindo em troca autorização para construir
moradias ao longo dos dois lados das novas artérias. A este projecto, no
entanto, opôs-se a Colegiada de Cedofeita sob a alegação de que sobre as terras
a urbanizar tinha o direito de cobrar foros e dízimos do género, um frango por
cada chão (talhão) de vinte e cinco palmos. Esta questão arrastou-se por muitos
anos nos tribunais mas acabou por vencer o projecto do proprietário porque com a revolução liberal de 1820 foram
extintos os dízimos e o princípio do domínio directo. Com efeito foi só a
partir de 1851 que verdadeiramente se começaram a retalhar e a dividir em
talhões para construção de casas as várias quintas e propriedades que havia
fora dos muros da cidade.
E agora o Prazo do
Coxo. Era vizinho, digamos assim, do Casal do Pombal. Abrangia uma área onde
depois foram abertas partes das ruas de Cedofeita, Torrinha, Boa Hora,
anteriormente chamada da Boa- Morte, por causa da existência por ali perto de
uma capela desta invocação; do Rosário e do Breiner. Esta propriedade também
era foreira da Colegiada de Cedofeita. No século XVIII pertencia a uma senhora
viúva, D. Floriana Flora de Bettencourt de Azevedo. A actual Rua do Breiner,
que homenageia o liberal Pedro de Melo Breiner, que morreu nas prisões de D.
Miguel, começou a ser aberta nos começos do século XIX, mas, quando se traçou a
primeira planta topográfica da cidade, a chamada Planta Redonda de George
Balck, ainda não estava toda construída e eram muito poucas as casas construídas.
Por essa altura ainda não lhe havia sido dado um nome. A designação actual é de
1839.
Voltemos ao Casal do
Pombal. A artéria que tomou o nome desta propriedade e que agora se chama de
Adolfo Casais Monteiro, na parte que vai da antiga Rua dos Quartéis, actual Rua
de D. Manuel II, até à esquina da Rua de Miguel Bombarda, em 1839, mais de
trinta anos depois de feito o pedido para a urbanização da propriedade, ainda
não passava de "uma estreita e tortuosa azinhaga". Com aspecto de
artéria e já com casas construídas, de um lado e do outro, estava apenas o
troço compreendido entre a Rua de Miguel Bombarda, que antes se chamou Rua do Príncipe, em homenagem ao
príncipe regente D. João, futuro rei D. João VI.”
Com a devida vénia a Germano Silva
“A primitiva
paróquia de Cedofeita (actual freguesia do mesmo nome e Massarelos), no início
do séc. XIX, pertencia ainda quase exclusivamente à Colegiada de São Martinho
de Cedofeita. Pelo menos, este era o maior senhorio directo, em termos de área,
na metade ocidental da cidade. Aqui e ali existiam algumas propriedades
alodiais, mas a maioria dos habitantes da área eram enfiteutas da Colegiada.
Antiquíssima, muito anterior à nacionalidade, terá sido das mais ricas e
importantes da península. Além das extensas propriedades que possuia, gozou
"do direito de pescado nas costas de Portugal, desde Aveiro até à Galiza e
desde a foz do Douro até Massarellos, e os dízimos do sal nas salinas de
Massarellos". Topograficamente, o "Couto de Cedofeita" (?), era
marcado por um extenso vale. Um conjunto de linhas de água, provenientes de
três direcções principais (Monte Pedral, Praça da República, então Campo de
Santo Ovídio e rua Nossa Senhora de Fátima, ao tempo, rua das Vallas), vinha
juntar-se um pouco a nordeste do actual Largo Alexandre Sá Pinto (em frente à
Escola Infante D. Henrique), constituindo uma área pantanosa, de Iameiros, e
daí partindo, num rio único em direcção ao Douro, num trajecto que contorna
pelo Norte a actual praça da Galiza, segue próximo da rua da Piedade e corre
depois paralelo e próximo da rua D. Pedro V, até Massarelos. No chamado vale de
Massarelos, corria o "ribeirinho", também conhecido por Rio de Vilar
e Rio de Miragaia.
Num sítio um pouco
alcandorado em relação ao vale, encontrava-se o conjunto de edifícios da
Colegiada de Cedofeita: Igreja, cemitério, outras dependências e quinta e
residência do D. Prior. Por fora dos muros da quinta e envolvendo-a, estavam os
Passais.
Entenda-se que Passal
é, em termos gerais, um terreno cultivado anexo e pertencente á residência de
um pároco ou prelado.
Até ao início do
século XIX, esses Passais permaneceram destinados a horta, o que aliás era sua
função. Vai ser precisamente em 1800, que se vai iniciar o processo de
emprazamento dos Passais, para construção de casas e quintais. É normal que
assim fosse e que os conventos, mosteiros e igrejas paroquiais em geral, não
emprazassem os Passais, antes de o fazerem às restantes propriedades que
possuiam, mais afastadas. Até porque não o podiam fazer sem autorização
específica, já que se tratava geralmente de terrenos doados pelos reis com o
fim exclusivo de se destinarem a hortas e pomares. Só depois de conseguir Breve
Apostólico do Papa Pio Sexto e, em 1798, Beneplácito Régio, é que a Colegiada
de Cedofeita pode emprazar os seus Passais, assumindo o processo particular
interesse pelo contexto temporal em que se insere: o crescimento demográfico,
as invasões francesas e as epidemias no centro da cidade, tinham acelerado a
expansão territorial para ocidente; a existência de um centro
"industrial" em Vilar, que progressivamente ia crescendo e fazendo
proliferar oficinas de tecelões, tintureiros, etc., à sua volta, sobretudo
junto ao nó de Vilar, factor de primeiro peso nos primórdios da indústria
têxtil, mais contribuia para aumentar a procura de casas ou terrenos. A divisão
e "venda" dos Passais vai iniciar-se nos Passais de Baixo, nos
chamados Campos da Arioza e Campo do Lameiro e corresponderá à urbanização dos
lados norte das ruas de Asneiros (actual lado nordeste do Largo Sá Pinto) e
Priorado (rua da Torrinha entre o mesmo largo e Carvalhosa). Será emprazada
apenas uma bordadura exterior dos Passais, correspondente a uma faixa com cerca
de 300 palmos (66 metros) de largura, dividida em "Chãos" para casas
e quintais de 25 palmos (5,5 metros) de frente. Nas escrituras de emprazamento,
pelas apegações dos chãos, vê-se que entre estes e os muros da quinta do D.
Prior ficavam ainda por emprazar os Passais de Dentro. Ora, segundo Viterbo, os
Passais correspondiam geralmente a 30 Passos Geométricos (+ou- 50 metros) em
torno da igreja, podendo atingir os 70 Passos (+ou- 115 metros), nas grandes
igrejas, o que é o caso exactamente de Cedofeita.
Depois de ter
constituido um dos maiores, se não mesmo o maior obstáculo aos planos de
urbanização dos "Almadas" (finais séc. XVIII), tentando impedir
subemprazamentos para construção de casas, aos seus enfiteutas, alegando entre
outras razões, não poder subsistir sem os dízimos dos cereais, vai agora a
Colegiada tomar a iniciativa de explorar directamente a urbanização de áreas
novas da cidade, provando assim que a questão residia em não ser ela própria a
proceder aos emprazamentos e não a falta dos dízimos. O tipo de procura para os
estreitos chãos dos Passais de Baixo é muito específica. Nuns casos são
emprazados a comerciantes residentes intra-muros, que teriam como objectivo
construir casas para alugar ou subemprazar mais tarde os chãos. Noutros casos,
são residentes na área ou nos lugares vizinhos, geralmente também comerciantes
ou fabricantes, que vêm ali instalar-se de facto. De qualquer forma, tomando o
Recenseamento do Bairro de Cedofeita de 1832-33 ou os Róis de Confessados de
Cedofeita, pode concluir-se que, nos chãos dos Passais de Baixo existem
predominantemente casas de fabricantes, fábricas, anexas ou separadas e ilhas
de operários.
À semelhança do que
acontecia no lugar de Vilar, constituía-se agora, no Priorado, um centro de
concentração de manufacturas têxteis.
Os Passais de Cima e
os Passais de Fora, respectivamente a Noroeste e Norte e Nordeste e Leste,
sofrerão um processo de divisão diferente. Converter-se-ão em Prazos mais
extensos, onde se destaca o de José Vaz de Araújo Veiga que englobará os
Passais de Cima, parte dos de Baixo e de Dentro e ainda "uma porção de Lavradio
que saiu da Quinta e Passais de Fora.
A "Quinta da
Veiga" (viúva do Veiga) é hoje ocupada pelos institutos Araújo Porto e S.
Manuel, da Misericórdia”.
Com a devida vénia a Maria Madalena Magalhães Instituto de
Geografia, FLUP- Aspectos da Industrialização no Porto, 1992
Legenda:
1. Rua da Boavista
2. Quinta dos Pamplonas
3. Rua do Priorado
4. Rua da Torrinha
5. Rua do Príncipe (actual Rua de Miguel Bombarda),
incompleta
6. Rua de Cedofeita
7. Rua do Rosário
8. Rua do Mirante
9. Largo dos Ferradores
10. Campo Pequeno
11. Igreja e convento da colegiada de Cedofeita
Obs- A Rua dos Bragas ainda não foi aberta; A Rua do Breiner
está por urbanizar e nem nome tem.
Pedro de Mello Breyner era um magistrado “que morreu em 1830
na Torre de S. Julião da Barra, onde fora encarcerado dois anos antes, por
ordem de D. Miguel, que não lhe perdoou as confessadas convicções liberais”. “O
Breiner”, como seria tratado pelos seus conterrâneos, nasceu em 1751, foi
desembargador da Relação do Porto e escrivão da Misericórdia do Porto, mas
estes são apenas dois dos vários cargos que ocupou, tendo sido o último de
todos o de conselheiro de Estado. A subida ao poder de D. Miguel ditou a sua
morte na prisão, em Dezembro de 1830, depois de ter sido preso em Maio de
1828.
Segundo o escritor Júlio Dinis na sua obra literária “ Uma
Família Inglesa” haveria, em 1855, anexo à Igreja de Cedofeita um pequeno
cemitério.
Na foto acima pode ver-se à esquerda a Escola Primária que
foi demolida e, ao fundo, à direita, a Faculdade de Farmácia.
Pela observação das imagens acima, pode-se concluir que a
recuperação feita na igreja, em 1930, pelos Edifícios e Monumentos Nacionais,
pouco teve a ver com a realidade anteriormente existente.
Este edifício localizava-se mesmo em frente à Creche de Cedofeita sendo demolido, em 1963, para alargamento do largo do Priorado, na sequência dos
restauros efectuados na igreja românica de Cedofeita, na década de 1930 e do arranque definitivo, em 1963, da construção da igreja paroquial de Cedofeita, que tinha estado parada durante alguns anos.
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