Jacinto Matos
Jacinto Matos (1864-1948) veria o seu nome para sempre
ligado à Quinta de Salgueiros ou Quinta do Ingleses, situada no Lugar de Antas
de Cima, em tempos, junto do então topo norte do Estádio das Antas.
Legenda:
1. Hospital do Conde Ferreira
2. Rua de Costa Cabral
3. Rua Nova de Contumil
4. Rua da Vigorosa
5. Lugar de Antas de Cima
Assim, naqueles terrenos, Jacinto Matos teve os seus
viveiros desde o início do século XX.
Como horticultor, Jacinto de Matos continuava o negócio de
um pequeno horto que seu pai, Zeferino de Matos, tinha na Rua da Boavista.
Aliás, o horto aparece já, fundado, em 1870, no catálogo abaixo.
A partir de 1882, organizou e participou em diversas exposições no Palácio de Cristal do Porto e no Ateneu Portuense
Em 1899, participou na fundação da União dos Jardineiros do
Porto enquanto presidente da assembleia geral (sendo reeleito em Outubro de
1901), sendo José Monteiro da Costa o presidente da direcção.
No livro Jardins Históricos do Porto (Ed.
Inapa, 2001), Teresa Andresen e Teresa Portela Marques enumeram
alguns dos jardins e parques projectados por Jacinto de Matos em todo o país:
Parque de São Roque, jardim da Casa Allen (Casa das Artes), Quinta dos
Salgueiros, jardim da Ordem dos Médicos (à Arca d'Água), Parque da Curia,
Parque das Pedras Salgadas, espelhos de água dos jardins da Presidência do
Conselho de Ministros, Jardim municipal de Nisa.
Palacete, na Avenida da Boavista, nº 2609, mandado construir
por José Zagalo Ilharco, um amante da horticultura que haveria, em colaboração
com Jacinto Matos de criar, em volta da sua casa, na Avenida da Boavista, o
chamado Parque Zagalo Ilharco,
jardim que rodeava a vivenda mandada construir em 1902
Adelaide da Rocha Nogueira Pinto (Leça da Palmeira
26.01.1866 - Leça da Palmeira 21.11.1899), sem descendência, era filha de José
Nogueira Pinto (pai do Conde de Leça), nascido em 1834 e de Rosa Joaquina da
Rocha, nascida em 1832.
Exposição de Flores organizada por Jacinto de Matos, no
Casino Peninsular da Figueira da Foz, em Junho de 1905 - Ed. Ilustração Portuguesa de 24 de Julho de 1905
Aurélio da Paz dos
Reis
Esta personalidade, para além de ter o seu nome ligado à sua
actividade política desenvolvida na cidade do Porto, ficaria imortalizada,
também, por ter sido o realizador e produtor do icónico e primeiro filme
português, "A Saída do Pessoal
Operário da Fábrica Confiança" (Rua de Santa Catarina).
No entanto, a sua actividade profissional principal era
exercida no sector agrícola.
Assim, Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931) tinha a sua casa
de comércio, situada na Praça D. Pedro (Praça da Liberdade), numa loja onde,
mais tarde, se iria instalar a Confeitaria Ateneia.
Aí, na “Flora Portuense”, a loja fundada em 1893, de
comércio de flores, plantas e sementes, instalada na Praça D. Pedro, Aurélio da
Paz dos Reis transacionava os produtos oriundos dos seus viveiros, localizados
em terrenos anexos à sua residência na Rua do Barão de Nova Sintra, nº 125.
No prédio mais afastado, do conjunto de três observados,
tinha Aurélio da Paz dos Reis a sua residência e, a ela anexo, os referidos
viveiros – Fonte: goole maps
Em complemento, no âmbito da fotografia, Aurélio da Paz dos
Reis aproveitava a sua loja na Praça D. Pedro para comercializar alguns
trabalhos fotográficos ou artigos ligados à fotografia.
Ainda neste capítulo, Aurélio da Paz dos Reis ficaria
conhecido pelas excelentes reportagens fotográficas realizadas aquando das
exposições de floricultura levadas a cabo no Palácio de Cristal, nas quais a
“Flora Portuense” costumava participar.
Outras personalidades
do mundo da jardinagem
A título pessoal, em regime de amadorismo, muitos burgueses
portuenses se dedicaram ao arranjo dos seus jardins, que rodeavam
espectaculares palacetes, numa actividade que pressupunha que fossem aplicados
grossos cabedais.
De facto, era uma actividade cara, pois, na maioria das
situações, era necessário, para sobressair, fazer importações de espécies raras
e recorrer a serviços de entendidos profissionais, que se faziam pagar bem.
Entre muitos outros, ficaram célebres as intervenções do Conde de Silva Monteiro.
Apaixonado pela jardinagem, Silva Monteiro, para além de
cuidar dos seus jardins do palacete situado na Rua da Restauração, tinha um
espaço imenso em V. N. de Gaia, que transformou numa propriedade agrícola e de
recreio, a Quinta da Lavandeira, pertencente
também a seu irmão, onde a praticava e que, é hoje, o Parque Municipal da
Lavandeira, à data, confinando com a Quinta do Sardão.
Nesta propriedade mandou construir Silva Monteiro, entre
1881 e 1883, na fundição do Ouro, uma estufa monumental em ferro e vidro, tendo
dessa sua paixão pela jardinagem, chegado a receber alguns prémios em
exposições efectuadas no Palácio de Cristal.
Outro apaixonado pela jardinagem foi o Conde das Devezas, Francisco Pereira Pinto de Lemos (1849-1916),
que na sua quinta, em V. N. de Gaia, se dedicou à sua paixão – a floricultura,
na qual sobressaiam vários exemplares de camélias.
Presentemente, com o antigo solar da quinta, em ruínas, os
seus jardins foram transformados no “Parque da Quinta das Devesas”, um equipamento municipal aberto ao público,
situado na Rua Leonor de Freitas.
Terá sido pela Quinta
Vilar d’Allen, já sob a responsabilidade de Alfredo Allen, que terão
sido introduzidas uma série de plantas
exóticas em Portugal.
Esta quinta, situada
ao fundo da Rua do Freixo, em Campanhã, nº 194, foi obra de João Allen, ou mais,
precisamente, John Francis Allen, um cidadão inglês ligado ao comércio do vinho
do Porto, que comprou, primitivamente, em 1838, a Quinta da arcádia.
Seria, no entanto,
um seu filho, Alfredo Allen, 1º visconde de Villar d’Allen, quem iria ampliar a
propriedade anexando à área adquirida por seu pai, as quintas da Vesada e a de
Vila Verde e exercer uma acção decisiva sobre os jardins da propriedade.
“Os jardins da Quinta
de Vilar d'Allen têm vários elementos de interesse como o lago, a zona da mata,
a estufa, o Jardim dos Cisnes, vários exemplares de camélias e um jardim
formal. Há uma grande quantidade de camélias de cerca de 180 variedades
diferentes no jardim. Há, ainda, esculturas e ornamentos arquitetónicos da
autoria de Nicolau Nasoni, assim como uma fonte do antigo Mosteiro de
Monchique.
A Casa e a Quinta
foram classificadas como Imóvel de Interesse Público em 2010 e pode ser
visitada, por marcação”.
Fonte: “ambiente.cm-porto.pt/”
Alfredo Allen era enólogo, agricultor e jardineiro.
Foi um dos impulsionadores da Sociedade do Palácio de Cristal Portuense
tendo, anteriormente, sido, na companhia do filho de Francisco Van Zeller,
Roberto Van Zeller (1818-1868), director da Feira Agrícola do Porto, realizada
de 12 a 14 de Julho de 1857, pela sociedade Agrícola do Porto, em terrenos da
Torre da Marca onde, em 1865, haveria de nascer o Palácio de Cristal.
“A Norte, o
aterro cria uma zona individualizada, cercada por um pequeno bosque, onde
Alfredo Allen, filho de João Allen e 1º Visconde de Villar d'Allen, introduziu
na propriedade, e em Portugal, alguns exemplares de plantas e arbustos
exóticos, entre os quais se destacam as famosas camélias de Villar d'Allen.
Este tratamento paisagista tem vindo a ser considerado como um dos primeiros no
nosso país que segue a tipologia dos jardins paisagistas e pituresques que
procuram reproduzir a espontaneidade da natureza; sendo, muito possivelmente,
inspirado nos livros trazidos de Londres e que ainda hoje integram o espólio da
biblioteca de Villar d'Allen, entre os quais se destacam William Kent e
Capability Brown. Nos jardins surgem, amiúde, pedras trabalhadas e falsas
ruínas, entre as quais se destacam os fogaréus e os "cestos de fruta"
atribuídos a Nicolau Nasoni e muito possivelmente provenientes do vizinho
Palácio do Freixo, concebido por este arquitecto”.
Cortesia de Rosário
Carvalho
Sendo que, os
viveiros da propriedade (5 hectares de jardim e mata) continuam em actividade,
ainda há poucos anos, obtiveram o prémio para a melhor Camélia, durante a
Exposição de Camélias do Porto organizada pela Câmara Municipal do Porto..
Também Francisco Van Zeller (1774-1852), proprietário da Quinta de Santo Inácio, localizada na Rua 5 de Outubro, nº
4503, Avintes, V. N. de Gaia, se
destacou ao ser considerado o responsável pela introdução oficial, entre 1808 e
1810, das camélias no nosso país, trazidas justamente para a Quinta de Fiães,
onde, ainda hoje, podem ser admiradas.
Na Quinta de Santo
Isidro, além das camélias, os jardins foram recriados, há poucos anos, aquando
da abertura da quinta ao público, com a inclusão de roseirais e mixed-borders
no jardim formal e, no jardim romântico, uma grande colecção de azáleas e
rododendros.
Jardins da Quinta
de Santo Inácio - Cortesia de Vilma Silva (2005)
A propósito da
introdução das camélias, há quem garanta que a camélia (Camellia japonica) terá
aparecido, primeiro, na primeira metade do século XVI, na Quinta do Campo Belo, sobranceira ao rio Douro, na margem direita
da foz da Ribeira das Azenhas, em V. N. de Gaia, oriunda do Japão.
Adriano de Paiva de
Faria Leite Brandão (1847-1907), 1º
conde do Campo Belo que, a partir de 1872, integrou o quadro de lentes da
Academia Politécnica do Porto, foi um grande matemático e cientista nas áreas
da Termodinâmica e da Óptica.
«O Conde de Campo Belo ficou conhecido nos meios
científicos pelas suas reflexões sobre a telescopia como uma nova aplicação da
eletricidade (1878). Explorou este tema na obra "La Télescopie Électrique
Basée sur l'emploi du Selenium", em 1880, referindo-se a um
"telescópio elétrico com o qual se poderiam transmitir imagens". Este
trabalho teve impacto internacional e inspirou estudos pioneiros no campo da
televisão. Foi lido e estudado durante os anos vinte em Itália, quando o regime
de Mussolini se interessou pelo tema televisivo. Foi também autor de
"These Ex Naturali Philosophia" (1868)».
Fonte: sigarra.up.pt/up/
Paço e jardins da
Quinta do conde de Campo Belo – Fonte: sapoencia.blogs.sapo.pt/
Sobre as plantações da camellia japónica na Quinta do Campo
Belo, a obra de Frederick Meyer, publicada em 1959, intitulada “Plant
explorations: ornamentals in Italy, southern France, Spain, Portugal, England,
and Scotland”, na figura 49, apresentava uma foto, de Teófilo Rego, do primitivo
exemplar com cerca de 400 anos.
Sobre a foto anterior Frederick Meyer dizia:
Curiosamente, Frederick Meyer, na mesma obra, faz referência
à Quinta do Meio que, a partir de
1871, passa a ser arrendada a William
Chester Tait, negociante abastado ligado ao Vinho do Porto e ornitologista,
que acabará por comprá-la em 1900.
O irmão de William Chester Tait, Alfred Welby Tait era um
botânico de reconhecidos méritos, nomeadamente, especialistas em espécies
nativas do Gerês, onde tinha casa.
Por isso, não admira que esta propriedade fosse também
relevada pelos seus jardins e espécies arborícolas.
Actualmente, os jardins anexos ao palacete do 3º visconde Villar d'Allen, Joaquim Ayres de Gouveia Allen, na Rua António Cardoso, da Casa de Serralves, do Palacete dos Andressen (Jardim Botânico), do
Parque Ocidental da Cidade, do Palácio de Cristal e os muitos Jardins Públicos
espalhados pela cidade do Porto, podem dar-nos uma ideia de quanto os portuenses
são afeiçoados a eles.
(Continua)
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