Localizada no concelho de Tabuaço, na freguesia de Valença
do Douro, a Quinta do Seixo tem uma história bem antiga.
Em 1788, nas demarcações marianas (D. Maria I), a área que a
Quinta do Seixo ocupava, viria, finalmente, a ser incluída na marca vinhos de
Feitoria, ou seja, área de vinhos para exportação através da Feitoria Inglesa
do Porto.
Sobre a decisão inicial, de não inclusão da propriedade
naquela qualidade, verificada ainda no consulado do Marquês do Pombal
recorreria, sem êxito, José Ribeiro Monteiro, em 1759.
Já, em pleno século XVIII, a Quinta do Seixo pertenceria a
Miguel Almeida Caiado, proprietário de terras no Alto Douro e 9º Morgado da
Pesqueira e 7º de Penedono.
A família Almeida Caiado tinha residência em S. João da
Pesqueira, na actual freguesia de Trevões, cabeça de concelho até 1836. Posteriormente,
a Quinta do Seixo passa para o filho António Almeida Coutinho Lemos, 1º Barão
do Seixo (título criado por D. Maria I, a 19 de Julho de 1845).
O 1º Barão do Seixo (1818-1869) foi fidalgo cavaleiro e
administrador do vínculo dos Almeida Caiado, em Trevões e dos da Pesqueira e
Penedono e Senhor das Quintas do Seixo e do Cachão, atingindo simultaneamente o
estatuto de grande negociante e proprietário no Douro.
Cavaleiro da Ordem da Torre e da Espada desempenhou, ainda,
entre 1858 e 1867, o cargo de Presidente da Direcção da Administração da
Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, criada por Pombal em
1756.
Notícia de reunião da Companhia Geral da Agricultura das
Vinhas do Alto Douro presidida pelo Barão do Seixo – In jornal “O Commercio do
Porto” de 30 de Setembro de 1861
Em 1851, o Barão do Seixo terá passado por algumas
dificuldades económicas, razão pela qual, um seu credor, Constantino do Vale
Pereira Cabral (1806-1873), um capitalista e negociante da praça do Porto e
proprietário da Quinta de Sarzedinho, vai tornar-se dono de um grande stock de
vinhos do Barão do Seixo.
Na mesma ocasião, Constantino do Vale Pereira Cabral adquire
a Quinta do Cachão, também propriedade do Barão do Seixo, procedendo, em 1853, à
construção da adega.
Esta quinta localizava-se na freguesia de Vale da Figueira,
concelho de São João da Pesqueira, tendo apenas existência, a partir de 22 de
Outubro de 1792, com o rompimento e destruição do bloco granítico, que atravessava o rio
Douro, de lado a lado, no Cachão, cuja execução tinha começado em 1780, permitindo, então, a navegação do rio até à
fronteira e possibilitando, assim, o aproveitamento dos terrenos nessa região.
Por esse motivo, a Quinta do Cachão foi por muito tempo
conhecida como «Quinta Nova».
Terá sido fundada, então, em 1845 pelo Barão do
Seixo, que iniciaria a plantação da vinha.
Por outro lado, para administrar o património que
Constantino do Vale Pereira Cabral obteve do Barão do Seixo, vai ser incumbido
da função um sobrinho de Constantino Cabral, conhecedor do negócio dos vinhos,
Miguel de Sousa Guedes (1829-1913), que irá expandi-lo, a partir da década de
1880, de tal modo que, já na posse da Quinta de Valdigem, irá acabar por
adquirir para seu próprio património a Quinta do Seixo, a Quinta das Carvalhas,
a Quinta das Baratas, a Quinta das Covadas, a Quinta de Santo António ou do
Zeferino e a Quinta da Pedra Caldeira.
Desde a abolição dos vínculos, em 1863, que tinham começado
a surgir no território novas propriedades e houve quem soubesse tirar partido
da situação.
Em 1909, Miguel de Sousa Guedes irá dar sociedade ao seu
irmão mais novo, Agostinho Pereira Cabral de Sousa Guedes (1846-1931), com a
firma “Miguel de Sousa Guedes & Irmão”, entretanto, formada e que, passaria
a ser, uma referência no negócio dos vinhos.
Miguel de Sousa Guedes irá ser vice-cônsul dos Estados
Unidos da América e Agostinho de Sousa Guedes, cônsul do México no Porto.
Estes dois irmãos, que no negócio dos vinhos conseguiram uma
fortuna colossal, acabariam por escolher a Foz do Douro para residirem.
Assim, em 1888, Miguel de Sousa Guedes pela licença de obra
nº 341, construía o seu palacete no ângulo da Rua do Passeio Alegre e Rua da
Bela Vista.
Desenho de fachada voltada para a Rua do Passeio Alegre,
anexo ao projecto afecto à licença nº 341/1888
Em 1889, Miguel de Sousa Guedes pela licença de obra nº 523,
dava os últimos retoques no seu palacete com fachada voltada para a Rua da Bela
Vista.
Desenho de fachada do prédio dos Sousa Guedes, voltada para a Rua da Bela Vista, anexo ao projecto afecto à licença nº 523/1889
Entretanto, em 1884, Miguel de Sousa Guedes já tinha
começado a construir um outro icónico palacete na Rua Alto de Vila, antes, a
Rua de Cimo de Vila, onde ia desembocar a antiga Rua da Florida, que se
passaria a chamar Rua Miguel de Sousa Guedes.
O referido palacete aloja, hoje, um condomínio fechado.
Antigo palacete de Miguel Sousa Guedes (1829-1913), na Rua
Alto da Vila, Foz do Douro, que seria demolido nos anos 80 – Ed. “O Progresso
da Foz”; Álbum: 32 Postais antigos da Foz I, nº 16; AHMP
Por sua vez, Agostinho de Sousa Guedes, co-proprietário dos
bens afectos à firma Miguel Sousa Guedes & Irmão foi, ainda, proprietário
da casa do Outeiro, em Tuias, Marco de Canaveses, da casa de Lagoas, em Lousada
e da Quinta da Fonte Moura, no Porto.
A casa do Outeiro
transformada, actualmente, num alojamento local, a Outeiro Tuias – Manor House,
continua a ser propriedade dos Sousa Guedes.
Agostinho de Sousa Guedes escolheria, também, para sua
residência o Passeio Alegre, num palacete no ângulo daquela rua com a Rua Santa
Anastácia.
A Empresa Miguel de Sousa Guedes & Irmão, Lda,
atravessaria todo o século XX como uma referência na comercialização de vinhos,
mas, em 1973, transferiria para a Real
Companhia Velha todos os bens do seu activo, completando, definitivamente, a integração naquela companhia,
acabando a sociedade constituída pelos irmãos Guedes por ser dada por extinta.
Aliás, já em 1953, Manuel da Silva Reis tinha adquirido a Quinta das Carvalhas.
Nos dias de hoje, quanto às icónicas quintas do Douro, que
foram pertença do Barão do Seixo, no século XIX, a Quinta do Seixo, em 1979,
foi vendida à firma A. A. Ferreira S.A. e, em 1987, quando esta foi adquirida
pela Sogrape Vinhos, passou a fazer parte do seu património, que se estenderia
às marcas “Ferreira”, para vinhos do Porto, e “Casa Ferreirinha”, para os
vinhos Douro.
Quanto à emblemática Quinta do Cachão, acabará nos nossos
dias nas mãos de uma firma bairradina – as Caves Messias.
“Em 1873 o Eng. Afonso
do Valle Coelho Pereira Cabral, herda a quinta de seus pais. A construção da
casa data de 1910. Após a morte deste, em 1946, a Sociedade Agrícola e Comercial
dos Vinhos Messias, S.A. (Caves Messias) adquire a quinta e dois anos mais
tarde começa a sua renovação e integração da Quinta do Rei, comprada à
«Gonzalez Byass». Em 1973 Messias Baptista, fundador das Caves Messias,
retira-se da administração da empresa que passa a ser gerida pelos seus
descendentes. Em 1982, a casa sofre uma nova remodelação”.
Fonte: arquivo.museudodouro.pt/
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