sábado, 18 de novembro de 2023

25.213 Comerciantes que escolheram a Foz do Douro para aí residirem

 
 
Localizada no concelho de Tabuaço, na freguesia de Valença do Douro, a Quinta do Seixo tem uma história bem antiga.

 
 

Quinta do Seixo, em Valença do Douro
 
 
 
Em 1788, nas demarcações marianas (D. Maria I), a área que a Quinta do Seixo ocupava, viria, finalmente, a ser incluída na marca vinhos de Feitoria, ou seja, área de vinhos para exportação através da Feitoria Inglesa do Porto.
Sobre a decisão inicial, de não inclusão da propriedade naquela qualidade, verificada ainda no consulado do Marquês do Pombal recorreria, sem êxito, José Ribeiro Monteiro, em 1759.
Já, em pleno século XVIII, a Quinta do Seixo pertenceria a Miguel Almeida Caiado, proprietário de terras no Alto Douro e 9º Morgado da Pesqueira e 7º de Penedono.
A família Almeida Caiado tinha residência em S. João da Pesqueira, na actual freguesia de Trevões, cabeça de concelho até 1836. Posteriormente, a Quinta do Seixo passa para o filho António Almeida Coutinho Lemos, 1º Barão do Seixo (título criado por D. Maria I, a 19 de Julho de 1845).
O 1º Barão do Seixo (1818-1869) foi fidalgo cavaleiro e administrador do vínculo dos Almeida Caiado, em Trevões e dos da Pesqueira e Penedono e Senhor das Quintas do Seixo e do Cachão, atingindo simultaneamente o estatuto de grande negociante e proprietário no Douro.
Cavaleiro da Ordem da Torre e da Espada desempenhou, ainda, entre 1858 e 1867, o cargo de Presidente da Direcção da Administração da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, criada por Pombal em 1756.

 
 

Notícia de reunião da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro presidida pelo Barão do Seixo – In jornal “O Commercio do Porto” de 30 de Setembro de 1861
 
 
 
 
Em 1851, o Barão do Seixo terá passado por algumas dificuldades económicas, razão pela qual, um seu credor, Constantino do Vale Pereira Cabral (1806-1873), um capitalista e negociante da praça do Porto e proprietário da Quinta de Sarzedinho, vai tornar-se dono de um grande stock de vinhos do Barão do Seixo.


 
 

Quinta do Seixo, em Valença do Douro – Ed. Revista Visão

 
 
Na mesma ocasião, Constantino do Vale Pereira Cabral adquire a Quinta do Cachão, também propriedade do Barão do Seixo, procedendo, em 1853, à construção da adega.
Esta quinta localizava-se na freguesia de Vale da Figueira, concelho de São João da Pesqueira, tendo apenas existência, a partir de 22 de Outubro de 1792, com o rompimento e destruição do bloco granítico, que atravessava o rio Douro, de lado a lado, no Cachão, cuja execução tinha começado em 1780,  permitindo, então, a navegação do rio até à fronteira e possibilitando, assim, o aproveitamento dos terrenos nessa região.
 
 
 

Cachão da Valeira – Albumina de Emílio Biel
 
 
 
Por esse motivo, a Quinta do Cachão foi por muito tempo conhecida como «Quinta Nova». 
Terá sido fundada, então, em 1845 pelo Barão do Seixo, que iniciaria a plantação da vinha.
Por outro lado, para administrar o património que Constantino do Vale Pereira Cabral obteve do Barão do Seixo, vai ser incumbido da função um sobrinho de Constantino Cabral, conhecedor do negócio dos vinhos, Miguel de Sousa Guedes (1829-1913), que irá expandi-lo, a partir da década de 1880, de tal modo que, já na posse da Quinta de Valdigem, irá acabar por adquirir para seu próprio património a Quinta do Seixo, a Quinta das Carvalhas, a Quinta das Baratas, a Quinta das Covadas, a Quinta de Santo António ou do Zeferino e a Quinta da Pedra Caldeira.
Desde a abolição dos vínculos, em 1863, que tinham começado a surgir no território novas propriedades e houve quem soubesse tirar partido da situação.
Em 1909, Miguel de Sousa Guedes irá dar sociedade ao seu irmão mais novo, Agostinho Pereira Cabral de Sousa Guedes (1846-1931), com a firma “Miguel de Sousa Guedes & Irmão”, entretanto, formada e que, passaria a ser, uma referência no negócio dos vinhos.
Miguel de Sousa Guedes irá ser vice-cônsul dos Estados Unidos da América e Agostinho de Sousa Guedes, cônsul do México no Porto.
Estes dois irmãos, que no negócio dos vinhos conseguiram uma fortuna colossal, acabariam por escolher a Foz do Douro para residirem.
Assim, em 1888, Miguel de Sousa Guedes pela licença de obra nº 341, construía o seu palacete no ângulo da Rua do Passeio Alegre e Rua da Bela Vista.

 
 

Desenho de fachada voltada para a Rua do Passeio Alegre, anexo ao projecto afecto à licença nº 341/1888
 
 
 
 
Em 1889, Miguel de Sousa Guedes pela licença de obra nº 523, dava os últimos retoques no seu palacete com fachada voltada para a Rua da Bela Vista.
 

 


Desenho de fachada do prédio dos Sousa Guedes, voltada para a Rua da Bela Vista, anexo ao projecto afecto à licença nº 523/1889
 
 
 
 
 

Palacete da família Sousa Guedes ("Imóvel com Interesse Patrimonial"), na Rua do Passeio Alegre - Fonte: pt.wikipedia.org/

 
 
 
Entretanto, em 1884, Miguel de Sousa Guedes já tinha começado a construir um outro icónico palacete na Rua Alto de Vila, antes, a Rua de Cimo de Vila, onde ia desembocar a antiga Rua da Florida, que se passaria a chamar Rua Miguel de Sousa Guedes.
O referido palacete aloja, hoje, um condomínio fechado.



 

Antigo palacete de Miguel Sousa Guedes (1829-1913), na Rua Alto da Vila, Foz do Douro, que seria demolido nos anos 80 – Ed. “O Progresso da Foz”; Álbum: 32 Postais antigos da Foz I, nº 16; AHMP
 
 
 
 

Vista actual do local da foto anterior – Fonte Google maps
 
 
 
 
Por sua vez, Agostinho de Sousa Guedes, co-proprietário dos bens afectos à firma Miguel Sousa Guedes & Irmão foi, ainda, proprietário da casa do Outeiro, em Tuias, Marco de Canaveses, da casa de Lagoas, em Lousada e da Quinta da Fonte Moura, no Porto.
A casa do Outeiro transformada, actualmente, num alojamento local, a Outeiro Tuias – Manor House, continua a ser propriedade dos Sousa Guedes.
 
 
 

Casa do Outeiro, Tuias – Cortesia de Nelson Garrido

 
 
Agostinho de Sousa Guedes escolheria, também, para sua residência o Passeio Alegre, num palacete no ângulo daquela rua com a Rua Santa Anastácia.



 

Rua do Passeio Alegre, 1012 – Fonte: Google maps
 
 
 
A Empresa Miguel de Sousa Guedes & Irmão, Lda, atravessaria todo o século XX como uma referência na comercialização de vinhos, mas, em 1973, transferiria para a Real Companhia Velha todos os bens do seu activo, completando, definitivamente, a integração naquela companhia, acabando a sociedade constituída pelos irmãos Guedes por ser dada por extinta.
Aliás, já em 1953, Manuel da Silva Reis tinha adquirido a Quinta das Carvalhas.


 




Nos dias de hoje, quanto às icónicas quintas do Douro, que foram pertença do Barão do Seixo, no século XIX, a Quinta do Seixo, em 1979, foi vendida à firma A. A. Ferreira S.A. e, em 1987, quando esta foi adquirida pela Sogrape Vinhos, passou a fazer parte do seu património, que se estenderia às marcas “Ferreira”, para vinhos do Porto, e “Casa Ferreirinha”, para os vinhos Douro.
Quanto à emblemática Quinta do Cachão, acabará nos nossos dias nas mãos de uma firma bairradina – as Caves Messias.
 
 
“Em 1873 o Eng. Afonso do Valle Coelho Pereira Cabral, herda a quinta de seus pais. A construção da casa data de 1910. Após a morte deste, em 1946, a Sociedade Agrícola e Comercial dos Vinhos Messias, S.A. (Caves Messias) adquire a quinta e dois anos mais tarde começa a sua renovação e integração da Quinta do Rei, comprada à «Gonzalez Byass». Em 1973 Messias Baptista, fundador das Caves Messias, retira-se da administração da empresa que passa a ser gerida pelos seus descendentes. Em 1982, a casa sofre uma nova remodelação”.
Fonte: arquivo.museudodouro.pt/
 
 
 

Quinta do Cachão, em 2023 – Ed. Caves Messias

Sem comentários:

Enviar um comentário