Após a compra pela Câmara do Porto, no início do século XIX,
do edifício de Monteiro Moreira, na Praça Nova, foi decidido dotar a fachada do
mesmo com um frontão ornamentado com uma pedra de armas com o brasão da cidade.
Mais tarde, coroando o frontão, foi colocada uma estátua de
um guerreiro, representando o Porto, com um elmo encimado de um dragão, o que
remete para as Armas concebidas por Almeida Garrett em 1837.
No escudo, um brasão, possivelmente, dos inícios do século
XIX, com uma cidade rodeada de muralhas, que encosta ao rio.
Já vem de 1293 a
existência de uma estátua “Porto” ou “Pedra do Porto” que estava na Rua das
Eiras e, segundo o Dr. Artur de Magalhães Basto terá passado, em 1503, para a
Rua Francisca, perto dos Açougues. Sousa Reis refere-se-lhe da forma seguinte:
“…e sobre uma padieira
se levantava em meio relevo e muito mal trabalhado e até monstruoso homem feito
de pedra…e numa mão tinha uma haste, talvez figurando a lança de um guerreiro;
a esta figura chamavam O Porto”.
Desconhece-se onde
este “Porto Velho” foi parar. É
possível que a estátua “O Porto”, hoje colocada, depois de muitas bolandas, na Sé,
onde já tinha estado em dois locais distintos, tenha sido baseada pelos seus
autores, naquele “Porto Velho”.
Envolvida em
polémica está a autoria da estátua do Porto, de 1815. Porém, parece ter ficado
definitivamente aceite que tenha sido o Mestre João da Silva, que cobrou
pelo trabalho trezentos e quarenta réis que a Câmara lhe pagou em três
prestações.
A estátua é de João Silva como o atesta o documento referido
por Magalhães Basto:
"... e por ele, João da Silva Mestre Pedreiro,
morador na freguesia de Pedrozo, foi dito se obrigava a fazer hua figura de
pedra, representado o Porto, para ser prostada (sic) no cume da caza do Passo
do Concelho, sito na Praça Nova, pela quantia de tresentos quarenta e três mil
e duzentos reis, em metal, pagos em três pagamentos iguais sendo o primeiro
adiantado e os demais consecutivos no principio de cada um dos três meses da
data em que se obriga a dar a dita figura pronta e posta no dito logar,
mandando esta ilustríssima Câmara dar-lhe madeira para as pranchas e xaciamento
para xaciar a figura quando houver de s guindar e para maior sigurança desta
sua obrigação apresentoi como fiador e principal pagador a Francisco José de
Moura Almeida Coutinho, morador aos Lavadouros..."
A estátua de “O Porto”, feita em pedra, representa a figura de um
guerreiro, e esteve cerca de 100
anos na frontaria da Câmara do Porto, na Praça Nova até 1915.
Demolida que foi a Câmara
Municipal do Porto situada na Praça D. Pedro, para a abertura da Avenida dos
Aliados, a estátua do “O Porto”, foi sucessivamente deslocada para vários
locais.
Primeiro, para o
Largo da Sé, quando em 1916 a C. M. Porto passou para o Paço Episcopal. Daqui, passou
para a Avenida das Tílias no Palácio de Cristal; mudada, a partir de 16 de
Novembro de 1951, para o Largo Arnaldo Gama, na parte exterior da Muralha
Fernandina, onde existiu a Porta do Sol; foi depois “despachada” de novo para o
Palácio de Cristal, a “olhar” o Roseiral. Há uns anos, foi posta atrás da falsa
torre da Casa dos Vinte e Quatro, virada de costas para a cidade que a deveria
apreciar. Já, em 2013, regressou à Praça da Liberdade, local para onde foi
criada.
Por pouco tempo aqui
esteve. No começo de 2024, voltou para a Sé, para junto da antiga Câmara.
A essa estátua, que
representa “O Porto “, o povo chamava “ O Malhão “, e dedicou-lhe uma quadra:
“O Malhão da Praça nova / tem uma lança na mão /para
matar os traidores que são falsos à Nação…”.
Germano Silva, em seu livro “Caminhos e Memórias” descreve-a
da seguinte forma:
“Há na estátua um
pormenor para o qual pretendemos chamar à atenção do leitor por estas coisas do
passado. Referimo-nos ao escudo que a figura segura na mão esquerda. Nele está
gravado um brasão de armas da cidade que Armando de Matos, um especialista da matéria,
considerou deveras curioso e diz porquê: “…primeiramente tem a incorrecção do
elmo e timbre num brasão de domínio; em segundo lugar… não o encontro senão
desta data (1802) em diante. E a notícia de que estas armas eram as do antigo
Condado Portucalense não tem a menor consistência histórica…”. Outra
curiosidade está nas roupagens e nos adereços. Alberto Pimentel escreveu que “a
clâmide”, a lança e o escudo são gregos; o saio de correias e as grevas são
romanos; o capacete não é grego nem romano, antes será um elmo de cimeira
datando dos fins da idade média ou princípios da Renascença”.
No início do ano de
2024, o guerreiro voltou para junto do edifício que recria a antiga Câmara do
Porto, na Sé, onde já tinha estado.
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