O traçado da actual Rua de D. João IV foi executado em
vários momentos.
Assim, a ligação entre o Largo do Padrão das Almas (Largo do
Padrão) e o convento dos Capuchos (Biblioteca Municipal) correspondia à Viela
dos Capuchos, que desapareceria quando, em 1843, começou a ser aberta a Rua D.
João IV em direcção ao Monte de Santa Catarina, onde se encontraria com a Rua
da Alegria e a Calçada do Luciano (Rua da Escola Normal).
No fim da década de 1880, a rua ficaria concluída.
Seria, até aos nossos dias, a Rua de D. João IV identificada
por outros topónimos, tendo começado por se chamar Rua da Duquesa de Bragança,
em honra de D. Amélia de Beaucharnais, da Baviera, que foi a segunda mulher de
D. Pedro, primeiro imperador do Brasil, o nosso D. Pedro IV, duque de Bragança.
Em 16 de Julho de 1912, já na República, a comissão
municipal republicana sugeriu à Câmara do Porto que à Rua da Duquesa de
Bragança se desse o nome de D. Rodrigo Soriano, deputado espanhol que os nossos
republicanos consideravam como "um dos maiores amigos de Portugal".
O pedido não foi aceite. E, em Setembro do mesmo ano, foi feita nova sugestão:
pedia-se à Câmara que mudasse o nome de Duquesa de Bragança para Rua
dos Heróis de Chaves.
Queria-se com esta mudança lembrar o combate que naquela
cidade transmontana se travou, em 1912, durante as denominadas "Incursões
do Norte". Desta vez a sugestão foi aceite. Só muito mais tarde a
denominação da rua voltou a mudar. Desta vez deram-lhe o nome do rei
restaurador, D. João IV.
“A Rua de D. João IV
tem menos de duzentos anos. Pois, mas neste espaço de tempo, relativamente
curto, já mudou de nome três vezes. Não figura ainda, por exemplo, na chamada planta de Costa Lima, elaborada em
1839. Mas, cinco anos depois, numa outra planta topográfica, a de Perry Vidal (1844) já aparece, embora
apenas em esboço, seguindo o traçado de um antigo e tortuoso caminho rústico
que já lá existia desde tempos muito antigos. O projeto inicial desta nova artéria previa que ela fosse de S. Lázaro
à Cruz das Regateiras, na Rua de Costa Cabral, junto ao hospital do Conde de
Ferreira. Tem, efetivamente, o seu início junto ao jardim de S. Lázaro, mas
acaba na Rua da Alegria, junto ao monumental edifício da Cooperativa dos
Pedreiros. Logo no início, ou seja, junto ao jardim de S. Lázaro, as obras só
começaram depois da expropriação dos pardieiros da antiquíssima viela dos
Capuchos e do alargamento desta (…).
Quando a nova rua
começou a ser construída, do lado nascente havia campos de cultivo; quintas
muradas "com suas vinhas e pomares"; e extensos terrenos alagadiços,
de que nos ficou na memória a travessa do Poço das Patas (alusão a zonas
alagadas onde predominavam aquelas aves).
Do lado poente
começava a nascer, por essa altura, uma cidade nova. Atente-se, por exemplo, no
traçado assimétrico das ruas deste bairro, em flagrante contraste com as ruelas
tortuosas do Porto medieval. Era a cidade do liberalismo que despontava e que
viria a ser procurada, especialmente, por brasileiros "de
torna-viagem" para aí construírem as suas residências apalaçadas muitas
das quais persistem na Rua de D. João IV.
A rua só ficou
concluída em 1875.
Com a devida vénia a Germano Silva
Antes e depois, um troço da Rua D. João IV junto à Rua das
Oliveirinhas, à direita
A Rua das Oliveirinhas da foto anterior está inserida num quarteirão
habitacional dos mais curiosos e típicos desta zona da cidade. Todos estes
arruamentos ao redor foram rasgados em terrenos que outrora pertenceram a uma
enorme quinta de que era proprietário um tal Brás de Abreu Guimarães, rico
negociante portuense que nestes sítios montou uma fábrica de seda que chegou a
dar nome a uma das ruas deste bairro que hoje não é possível identificar e que
nos fins do século XVIII ainda tinha existência: Rua da Seda; Rua
da Fábrica da Seda; Rua Direita da Fábrica da Seda, Rua
da Fábrica da Seda de Brás de Abreu; Rua da Fábrica das Almas.
O tortuoso caminho a amarelo no seu início, coincidia com o traçado da
futura Rua Duquesa de Bragança, a azul. O restante traçado a amarelo daria
origem à Rua Dr. Alves da Veiga que antes se chamou de Malmerendas.
No local da foto acima esteve, desde 1907, a “Auto-Motora” que no dia da sua
inauguração teve milhares de visitantes a apreciar as novidades auto.
A Rua D. João IV termina, praticamente, próximo do cume do antigamente
conhecido como Monte de Santa Catarina, onde se junta à Rua da Alegria que,
vinda da Praça dos Poveiros, continua até encontrar a Rua de Costa Cabral,
constituindo o acesso ao cabeço pela vertente sul.
O acesso pela vertente a poente é proporcionado pelas ruas
Firmeza (conectando com a Rua da Alegria) e Rampa da Escola Normal (antiga
Calçada do Luciano).
O alto do Monte de Santa Catarina, Monte dos Congregados ou
Monte do Tadeu é o ponto mais alto, geograficamente, da cidade do Porto.
Em 1680, uns frades, da ordem de S. Filipe Nery, construíram
na cidade a sua casa, no local onde hoje está a Igreja dos Congregados, em
frente à Estação de S. Bento.
Em 1715, obtiveram para seu recreio um vasto espaço com casa
que também servia de hospital no Monte de Santa Catarina.
Este topónimo radica numa capela de Santa Catarina situada
na base do monte, em Fradelos, na margem esquerda da ribeira de Fradelos, e que
viria a dar origem à Capela das Almas.
Em 1834, com a vitória dos liberais, como epílogo do Cerco
do Porto, foram dadas como extintas as ordens religiosas.
Um tal de Moreira, que ainda hoje tem nome de rua nas
imediações, licitou a antiga propriedade dos frades. Mais tarde, é adquirida
por uma tal Tadeu (daí o topónimo).
Por lá, funcionou uma pedreira, mas no início do século XX, no
cume do monte foram instalados os depósitos que iriam abastecer de água a
cidade com a sua distribuição ao domicílio.
À direita, os depósitos de água que abastecem a cidade e, à
esquerda, o alto edifício da Cooperativa dos Pedreiros
In revista “O Tripeiro”, Série VI, Ano XI
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