sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

25.222 Um palácio à venda

 

A antiga designação de Palácio dos Carrancas, atribuída ao edifício do actual Museu Soares dos Reis, ter-se-á ficado a dever à alcunha dada ao industrial Luís de Almeida Morais, que tinha uma fábrica de passamanarias na vizinha Rua dos Carrancas (actual Rua Alberto Aires de Gouveia) e patriarca, também, dos descendentes que edificariam aquele palácio.
Antes, a família tinha vivido na Rua de Cima do Muro, junto da Porta Nova, e quando passam a residir no sítio da "Carranca", a Rua da Restauração ainda não existia.
Em 1794, falecera Luís de Almeida Morais, um cristão-novo, que fora cônsul napolitano no Porto, homem abastado que tinha feito fortuna no tempo dos Almadas, e a sua viúva, Brites Maria Felizarda de Castro (filha de Luiz de Miranda de Castro, Administrador dos Tabacos e de Mariana de Alvim), juntamente com os seus filhos, Manuel Mendes de Morais e Castro (1º barão de Nevogilde, título criado em Maio de 1836 por D. Maria II) e Henrique Mendes de Morais e Castro (2º Barão de Nevogilde), começam por adquirir na então denominada Rua dos Quartéis, na Torre da Marca, uma série de lotes de terreno numa área onde já se registavam algumas construções, para aí edificarem a sua residência, e onde instalariam, também, uma pequena unidade fabril de passamanarias que transitava da antiga morada.
O arquitecto escolhido para desenhar o palácio foi Lima Sampaio que tinha desenhado a Feitoria Inglesa e que acompanhou a construção do Hospital de Santo António, tudo construções de estilo Neo-clássico.
O palácio, propriamente dito, apresentava três pisos e águas furtadas, com planta em forma de U.
Essa residência ficaria conhecida como Paço dos Morais e Castro ou Palácio de Moraes.
As raízes desta família tinham os seus ancestrais, ligados a actividades comerciais.


 
Fonte: “Jornal de Notícias” de 12 de Janeiro de 2020
 
 
 
 
Do casamento de Luís de Almeida Morais e de D. Brites Felizarda de Castro, realizado em 1744, tinha resultado uma prole de treze filhos e de, entre eles, o 1º barão de Nevogilde, Manuel Mendes de Morais e Castro (1752;1837), o 2º barão de Nevogilde, Henrique José Mendes de Morais e Castro, António Mendes de Morais e Castro, Isidoro Luís de Morais e Castro, Rita Maria de Morais e Castro, Luísa Delfina de Morais e Castro, Felisberta Henriqueta de Morais e Castro, Matilde Delfina de Morais e Castro.
Futuros barões de Nevogilde, os Morais e Castro não olharam a tostões e adornaram o seu palácio com belíssimos jardins e ricas cavalariças. Em frente ao edifício, possuíam ainda um terreno semicircular, cortado pelo muro do outrora, Horto de Moreira da Silva; esta meia-laranja destinava-se a evitar que os Morais e Castro se vissem obrigados a impor aos seus cavalos, quando regressassem a casa, manobras apertadas e deselegantes.
Ao longo das primeiras décadas do século XIX, o Palácio dos Carrancas desempenhou papel de relevo e acolheu hóspedes significativos. Por ocasião das invasões francesas, foi primeiro habitado pelo general Soult e, depois, pelos comandantes ingleses Wellesley e Beresford.
Durante o Cerco do Porto, D. Pedro IV instalou aqui o seu quartel-general, mas viu-se obrigado a abandonar o palácio por este se encontrar demasiado exposto ao fogo dos miguelistas, aquartelados em Vila Nova de Gaia.
Entretanto, nos anos que se seguiram, o Palácio dos Carrancas passou a funcionar como residência da família real, aquando das suas visitas à cidade substituindo, nessas mesmas funções, as instalações do Paço Episcopal.
Sendo falecidos o 1º barão de Nevogilde e o 2º barão de Nevogilde, ambos sem descendência, finalmente, já na segunda metade do século, em 1861, Carlota Rita Borges de Morais e Castro (Porto, 10 Nov. 1810; Porto, 29 Fev. 1880), 3ª baronesa de Nevogilde, vendeu o lar dos seus antepassados.
D. Carlota era filha de Felisberta Henriqueta Borges de Morais Alvim e Castro (Porto 06 Agosto 1770; 15 Agosto 1843), casada com o desembargador António Manuel Borges da Silva e irmã do 1º e 2º barão de Nevogilde e ainda, de Matilde Delfina de Morais e Castro, nascida em 1772 e casada, em 1800, com o barão de Perafita.
A 3ª baronesa de Nevogilde teve um primeiro casamento, a 12 de Fevereiro de 1835, com o seu primo Luiz d'Almeida de Morais e Castro (1800; 1841), major adido a veteranos da Foz do Douro, e um segundo casamento, em 19 de Outubro de 1856, com João José de Faria Machado (1826; 1857), alferes do exército, falecido em missão em Moçambique.
Dos dois casamentos da baronesa de Nevogilde, apenas, do primeiro enlace, resultou um descendente de seu nome David Castro.


 
 
In jornal “O Comércio do Porto” de 2 de Março de 1880
 
 
 
 
 
Anúncio da venda do palácio das Carrancas, no “Jornal do Porto”, em 30 de Setembro de 1859


 
 
Não tendo sido possível encontrar um comprador e dar sequência ao anúncio anterior, a propriedade foi colocada novamente no mercado com uma proposta base de 40 contos de réis, livres para a vendedora, a baronesa de Nevogilde.
Um mês depois, o negócio concretizar-se-ia por um valor um pouco inferior.
A propriedade pagava, à data, foros enfitêuticos ao Barão de Massarelos, a João Pacheco Pereira e ao cabido de Cedofeita.



 

“Jornal do Porto”, 14 de Maio de 1861

 
 
A família real portuguesa não tinha uma residência oficial no Porto, pelo que, quando nos visitava, ficava no Paço Episcopal.
Assim, em 25/6/1861. D. Pedro V comprou o Palácio dos Carrancas por 35 contos de reis e, a partir de então, foi aí que passou a funcionar o Paço Real no Porto.
 
 
 

Palácio dos Carrancas
 
 
 
 
Entretanto, a baronesa de Nevogilde, passou a viver com David Castro, o seu único filho e nora, no nº 17 da Travessa da Picaria (hoje, a Rua de Avis), em terrenos onde hoje está o café Avis.
À data, junto da residência, funcionava o Teatro Minerva de que David Castro era o dono e aí se exibia em sessões de ilusionismo.

Sem comentários:

Enviar um comentário