A antiga designação de Palácio dos Carrancas, atribuída ao
edifício do actual Museu Soares dos Reis, ter-se-á ficado a dever à alcunha
dada ao industrial Luís de Almeida Morais, que tinha uma fábrica de
passamanarias na vizinha Rua dos Carrancas (actual Rua Alberto Aires de
Gouveia) e patriarca, também, dos descendentes que edificariam aquele palácio.
Antes, a família tinha vivido na Rua de Cima do Muro, junto
da Porta Nova, e quando passam a residir no sítio da "Carranca", a
Rua da Restauração ainda não existia.
Em 1794, falecera Luís de Almeida Morais, um cristão-novo,
que fora cônsul napolitano no Porto, homem abastado que tinha feito fortuna no
tempo dos Almadas, e a sua viúva, Brites Maria Felizarda de Castro (filha de
Luiz de Miranda de Castro, Administrador dos Tabacos e de Mariana de Alvim),
juntamente com os seus filhos, Manuel Mendes de Morais e Castro (1º barão de
Nevogilde, título criado em Maio de 1836 por D. Maria II) e Henrique Mendes de
Morais e Castro (2º Barão de Nevogilde), começam por adquirir na então
denominada Rua dos Quartéis, na Torre da Marca, uma série de lotes de terreno
numa área onde já se registavam algumas construções, para aí edificarem a sua
residência, e onde instalariam, também, uma pequena unidade fabril de
passamanarias que transitava da antiga morada.
O arquitecto escolhido para desenhar o palácio foi Lima
Sampaio que tinha desenhado a Feitoria Inglesa e que acompanhou a construção do
Hospital de Santo António, tudo construções de estilo Neo-clássico.
O palácio, propriamente dito, apresentava três pisos e águas
furtadas, com planta em forma de U.
Essa residência ficaria conhecida como Paço dos Morais e
Castro ou Palácio de Moraes.
As raízes desta família tinham os seus ancestrais, ligados a
actividades comerciais.
Fonte: “Jornal de Notícias” de 12 de Janeiro de 2020
Do casamento de Luís de Almeida Morais e de D. Brites
Felizarda de Castro, realizado em 1744, tinha resultado uma prole de treze
filhos e de, entre eles, o 1º barão de Nevogilde, Manuel Mendes de Morais e
Castro (1752;1837), o 2º barão de Nevogilde, Henrique José Mendes de Morais e
Castro, António Mendes de Morais e Castro, Isidoro Luís de Morais e Castro,
Rita Maria de Morais e Castro, Luísa Delfina de Morais e Castro, Felisberta
Henriqueta de Morais e Castro, Matilde Delfina de Morais e Castro.
Futuros barões de Nevogilde, os Morais e Castro não olharam
a tostões e adornaram o seu palácio com belíssimos jardins e ricas cavalariças.
Em frente ao edifício, possuíam ainda um terreno semicircular, cortado pelo
muro do outrora, Horto de Moreira da Silva; esta meia-laranja destinava-se a
evitar que os Morais e Castro se vissem obrigados a impor aos seus cavalos,
quando regressassem a casa, manobras apertadas e deselegantes.
Ao longo das primeiras décadas do século XIX, o Palácio dos
Carrancas desempenhou papel de relevo e acolheu hóspedes significativos. Por
ocasião das invasões francesas, foi primeiro habitado pelo general Soult e,
depois, pelos comandantes ingleses Wellesley e Beresford.
Durante o Cerco do Porto, D. Pedro IV instalou aqui o seu
quartel-general, mas viu-se obrigado a abandonar o palácio por este se
encontrar demasiado exposto ao fogo dos miguelistas, aquartelados em Vila Nova
de Gaia.
Entretanto, nos anos que se seguiram, o Palácio dos
Carrancas passou a funcionar como residência da família real, aquando das suas
visitas à cidade substituindo, nessas mesmas funções, as instalações do Paço
Episcopal.
Sendo falecidos o 1º barão de Nevogilde e o 2º barão de
Nevogilde, ambos sem descendência, finalmente, já na segunda metade do século,
em 1861, Carlota Rita Borges de Morais e Castro (Porto, 10 Nov. 1810; Porto, 29
Fev. 1880), 3ª baronesa de Nevogilde, vendeu o lar dos seus antepassados.
D. Carlota era filha de Felisberta Henriqueta Borges de
Morais Alvim e Castro (Porto 06 Agosto 1770; 15 Agosto 1843), casada com o
desembargador António Manuel Borges da Silva e irmã do 1º e 2º barão de
Nevogilde e ainda, de Matilde Delfina de Morais e Castro, nascida em 1772 e
casada, em 1800, com o barão de Perafita.
A 3ª baronesa de Nevogilde teve um primeiro casamento, a 12
de Fevereiro de 1835, com o seu primo Luiz d'Almeida de Morais e Castro (1800;
1841), major adido a veteranos da Foz do Douro, e um segundo casamento, em 19
de Outubro de 1856, com João José de Faria Machado (1826; 1857), alferes do
exército, falecido em missão em Moçambique.
Dos dois casamentos da baronesa de Nevogilde, apenas, do
primeiro enlace, resultou um descendente de seu nome David Castro.
In jornal “O Comércio do Porto” de 2 de Março de 1880
Não tendo sido possível encontrar um comprador e dar
sequência ao anúncio anterior, a propriedade foi colocada novamente no mercado
com uma proposta base de 40 contos de réis, livres para a vendedora, a baronesa
de Nevogilde.
Um mês depois, o negócio concretizar-se-ia por um valor um
pouco inferior.
A propriedade pagava, à data, foros enfitêuticos ao Barão de
Massarelos, a João Pacheco Pereira e ao cabido de Cedofeita.
A família real
portuguesa não tinha uma residência oficial no Porto, pelo que, quando nos
visitava, ficava no Paço Episcopal.
Assim, em 25/6/1861.
D. Pedro V comprou o Palácio dos Carrancas por 35 contos de reis e, a partir de
então, foi aí que passou a funcionar o Paço Real no Porto.
Entretanto, a
baronesa de Nevogilde, passou a viver com David Castro, o seu único filho e
nora, no nº 17 da Travessa da Picaria (hoje, a Rua de Avis), em terrenos onde
hoje está o café Avis.
À data, junto da
residência, funcionava o Teatro Minerva de que David Castro era o dono e aí se
exibia em sessões de ilusionismo.
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