Em tempos em que o senhorio da cidade era pertença dos
bispos, D. Mafalda haveria de ficar ligada à cidade em virtude de um acordo
feito com o bispo D. Pedro Salvadores, que possibilitou a construção do
convento de S. Domingos, o que originaria, para sempre, o topónimo dado
ao largo fronteiro.
Por aqui, esteve o convento de S. Domingos, alvo de um
incêndio, em 1832, e do qual apenas restou a fachada voltada para o Largo de S.
Domingos
Este prelado tinha convidado os frades dominicanos a
estabelecerem-se na cidade para fazerem o contra-ponto aos frades franciscanos
que na cidade se tinham fixado com a ajuda dos portuenses, ignorando-o.
Sentindo-se despeitado, o bispo ofereceu um terreno aos
dominicanos, em Belomonte, bem perto da morada dos franciscanos, para aí se
estabelecerem.
Não demorou muito, no entanto, que as partes de
desentendessem.
Seria, então, por interferência de D. Mafalda, que pela
região possuía uma imensidão de terras, que a contenda seria dirimida.
D. Mafalda, nascida em Penafiel, em 1195 ou 1196, teria,
então, por possível interferência papal, conseguido que o bispo libertasse a
autorização para que os dominicanos continuassem a construção do seu convento,
doando ao prelado a igreja de Santa Cruz de Riba Leça e área anexa, situado em
Bouças.
D. Mafalda, também conhecida como a Rainha Santa, era a
filha preferida de D. Sancho I e uma das irmãs de D. Afonso II e neta de D.
Afonso Henriques.
Assim, ainda recém-nascida, recebeu como uma prenda de seu
pai o Mosteiro de Bouças (hoje Matosinhos).
Por falecimento precoce de sua mãe D. Dulce de Aragão, seria
educada por D. Urraca Viegas, filha de Egas Moniz e Teresa Afonso.
Por morte de Sancho I, D. Mafalda herdaria um imenso
património que se encontrava disperso por todo o reino, incluindo-se Marco de
Canavezes, Lamego, Arouca, Seia e, ainda, a região do Vale do Sousa.
Do seu pai tinha já recebido, ainda recém-nascida, o
Mosteiro de Bouças (hoje Matosinhos).
Localização actual do antigo Mosteiro de Bouças a partir do
qual nasceu Matosinhos – Fonte: Google maps
Após a morte do seu progenitor, em Março de 1211, D. Mafalda
recebeu o mosteiro de Arouca e, dado que, aquando do falecimento de sua mãe,
ela não tinha feito qualquer testamento, as propriedades da rainha defunta, por
determinação de D. Sancho I, passariam, por sua final e última vontade, para
três das suas seis filhas: Teresa, Sancha e Mafalda.
Tal decisão viria a provocar um litígio entre o rei D.
Afonso II e as irmãs atrás referidas.
Teresa e Sancha veriam a situação resolvida, apenas, quando
D. Sancho II se tornou rei. No caso de Teresa estava em causa Montemor-o-Velho
e no de Sancha, Alenquer.
No que dizia respeito a Mafalda, a questão que subiria a
decisão do Vaticano, centrava-se, principalmente, com a vila de Seia e mais
remotamente com Bouças.
Desconhece-se até que ponto a mediação encetada por D.
Mafalda, entre o bispo do Porto e os dominicanos, não tenha uma possível
relação com uma tentativa de aproximação ao Vaticano, no seio do conflito que a
opôs ao seu irmão.
Em 1230, D. Mafalda a exemplo do que tinha feito com o
mosteiro de Arouca, com a autorização do bispo de Lamego, voltou-se para o
mosteiro beneditino de Bouças e transformou-o, também, numa comunidade
Cisterciense.
Diga-se que, relativamente a Bouças, mais tarde e após
litígio (mediado pelo Papa) com o seu irmão D. Afonso II, viria a perder a
favor do reino a posse de Bouças que, entretanto, tinha sido dada anteriormente
em doação, à Ordem do Hospital.
Tendo vivido D. Mafalda no convento de Arouca, veio a morrer
no convento de Rio Tinto aos 90 anos por doença, aquando de uma sua visita em
peregrinação ao Porto, diz-se em veneração à Nossa Senhora da Silva, com culto
na Sé do Porto, onde deixava enormes oferendas.
D. Mafalda, senhora de uma fortuna imensa, teria um funeral,
entre Rio Tinto e Arouca, onde ficou sepultada, que continua a estar assinalado
nos dias de hoje.
Não havendo uma unanimidade entre os historiadores, os
memoriais ou marmoirais da Ermida (Penafiel), Sobrado (Castelo de Paiva),
Alpendorada (Marco de Canaveses), Lordelo (já desaparecido, em Baião) e Santo
António (Arouca), estarão, segundo a lenda, relacionados com D. Mafalda.
São tradiccionalmente referidos como pontos de paragem no
traslado do seu corpo de Rio Tinto para o Mosteiro de Arouca, ou como locais de
homenagem à sua vida e obra.
A configuração dos marmoirais comporta, normalmente, um
arco, verificando-se uma excepção para o caso de Sobrado (Castelo de Paiva).
Memorial da Ermida – Fonte: CM Penafiel
Quinta dos Bispos
O território entregue por D. Mafalda ao bispado do Porto
haveria de ser convertido por D. Rodrigo Pinheiro, entre 1552 e 1572, num local
de repouso e divertimento para ele e seus sucessores.
“O bosque, o rio Leça,
as ramadas, as múltiplas fontes, cascatas, ermidas, capelinhas e elementos
escultóricos mandados erigir por ele, assim como a magnífica casa contribuíram
significativamente para o sucesso do projeto.
Durante os séculos seguintes os bispos do Porto aí encontraram um refúgio acolhedor. E, com eles, entraram na quinta alguns dos mais destacados homens de letras e artes dos seus tempos. Eis alguns exemplos: D. Rodrigo da Cunha, Manuel Faria e Sousa, frei Bartolomeu dos Mártires ou frei Luís de Sousa.
Entre 1741 e 1752 o famoso arquiteto italiano Nicolau Nasoni é responsável por uma série de intervenções na Quinta por encomenda do bispo D. José Fonseca e Évora. É assim que surge, entre outros elementos arquitetónicos, a belíssima entrada barroca voltada para o Largo da Igreja.
Infelizmente este é um dos poucos elementos que se pode contemplar uma vez que desde 1939, após várias décadas de abandono, pilhagem e destruição, este foi transformado em colónia penal, encontrando-se inacessível ao público.”
Fonte: CM Matosinhos
Durante os séculos seguintes os bispos do Porto aí encontraram um refúgio acolhedor. E, com eles, entraram na quinta alguns dos mais destacados homens de letras e artes dos seus tempos. Eis alguns exemplos: D. Rodrigo da Cunha, Manuel Faria e Sousa, frei Bartolomeu dos Mártires ou frei Luís de Sousa.
Entre 1741 e 1752 o famoso arquiteto italiano Nicolau Nasoni é responsável por uma série de intervenções na Quinta por encomenda do bispo D. José Fonseca e Évora. É assim que surge, entre outros elementos arquitetónicos, a belíssima entrada barroca voltada para o Largo da Igreja.
Infelizmente este é um dos poucos elementos que se pode contemplar uma vez que desde 1939, após várias décadas de abandono, pilhagem e destruição, este foi transformado em colónia penal, encontrando-se inacessível ao público.”
Fonte: CM Matosinhos
Largo da Igreja, fronteiro à entrada para a Quinta dos
Bispos
Obras, em 1933, de adaptação da Quinta de Santa Cruz do
Bispo a Cadeia Civil do Porto
Meus Caros "Bloggers" Américo Conceição e Simão Gomes
ResponderEliminarA propósito da história da Rainha Santa Mafalda, contada no Vosso Blog "Porto de Antanho" em Maio deste ano queria dar uma informação que talvez seja útil. A Rainha, senhora de extensas e férteis terras, de ambos os lados do Rio Douro, conheceu as misérias dos pobres sofrendo de Lepra, ou de outras doenças da Pele, com exuberâncias diversas. Condoída por tal, aproveitou as qualidades das Águas Termais, Quentes e Sulfurosas, das nascentes das Caldas de Aregos - situadas nos seus domínios -para aí fundar uma "Enfermaria ou Gafaria" para tratar esses doentes. O que ainda hoje é, localmente, evocado para dar crédito aos benefícios de tais águas.
E, por isso, ainda se diz que os benefícios dessas águas remontam à Rainha Santa Mafalda, que terá fundado a tal unidade para tratamento desse tipo de doenças.
Cumprimentos,
A Martins da Silva
martinsdasilva.antonio@gmail.com
ams@icbas.up.pt
Agradeço a informação que aqui ficará exarada para sempre. Espero que continue a seguir o blogue que estará sempre aberto a todas as contribuições.
EliminarCumprimentos
Américo Conceição