A actual Praça de Gomes Teixeira, assim designada desde
1936, mais conhecida por Praça dos Leões, por alusão à fonte com esse nome, que
exibe vários reis da selva, alados, jorrando água pela boca, já teve alguns outros
topónimos.
Em 1835, passou a ser Praça dos Voluntários da Rainha,
quando antes era Largo do Carmo e chegou a ser identificada por Praça do Pão,
por lá se realizar uma Feira de Farinha. Este último topónimo passaria, depois,
para designar a actual Praça Guilherme Gomes Fernandes, cuja feira do pão
chegou ao século XX. Também já foi conhecida como Praça da Universidade.
Poucos portuenses saberão que, praticamente, toda a área do
quarteirão formado pelas praças de Gomes Teixeira, Guilherme Gomes Fernandes e
Carlos Alberto e a Rua Actor João Guedes, fronteiro ao edifício da
Universidade, foi alvo de um projecto do arquitecto Fernando Távora resultante
de concurso para provimento (neste caso para prof. de arquitectura) de lugar de
professores nos diversos grupos da Escola Superior de Belas Artes do Porto e
publicado no “Boletim Especial da Escola Superior de Belas Artes do
Porto 1962-1963”.
Esse projecto nunca
veio a realizar-se, mas, consultando-o, podemos ficar com uma ideia de como
ficaria essa zona da cidade.
«O tema é “Um Centro Comercial” localizado
no quarteirão a norte do edifício da Reitoria e Faculdade de Ciências, “de
configuração rectangular, com cerca de 5600 (cinco mil e seiscentos) metros
quadrados de superfície”. O projecto deve ser integrado no Plano de
Pormenor do Plano Director da Cidade do Porto de Robert Auzelle, que “além
de prever o prolongamento da Avenida de Ceuta” prevê um “novo
sistema de circulações da Praça de Carlos Alberto.”
Távora propõe um edifício com um “corpo
relativamente baixo (cave e 3 pisos) que ocupa praticamente toda a área do quarteirão”
… “com cércea condicionada pela Igreja do Carmo e restantes edifícios, (e
que) «adere» aos alinhamentos tradicionais, que não sentimos
necessidade de alterar na sua essência” a que se opõe “um
corpo alto (cave e 15 pisos), de pequena superfície de implantação,… “de escritórios, e que
“constitui como que uma manifestação de presença em face do anonimato do
corpo baixo que por aderência e simpatia com as formas preexistentes as vai
acompanhando, criando-se assim um jogo de formas que, sabendo respeitar, sabe
também impor-se, dualidade de
atitudes sempre difícil de conseguir não apenas no caso particular da
arquitectura, mas no caso mais amplo da própria vida, de que a arquitectura
constitui aliás, quando autêntica, uma perfeita tradução.”»
Fonte: O texto sobre o projecto de Fernando Távora é da
autoria do administrador do blogue “doportoenaoso.blogspot.pt”, tendo a foto e
as gravuras respeitantes, sido aí, também obtidas.
É de notar que
quando Barry Parker propôs que o edifício da Câmara do Porto fosse levantado no
local cimeiro da que viria a ser a Avenida dos Aliados, era na área proposta
por Fernando Távora para edificação do “Centro Comercial do Carmo”, que o
arquitecto Marques da Silva sugeria que fossem construídos os Paços do
Concelho.
Os Armazéns Cunhas
O local do
projectado centro comercial acabaria até aos nossos dias, por ficar ocupado, em
parte, com o prédio da gravura seguinte, que se destaca a norte da praça.
“A remodelação da fachada dos Armazéns Cunha
segundo um projecto dos arquitectos Manuel Marques (1890-1956) e Amoroso Lopes
(1899-1953) marca o aparecimento de um gosto art-déco como introdução da
modernidade na arquitectura da cidade do Porto. Lembre-se ainda outros
estabelecimentos contemporâneos no centro da cidade de que se destaca a
Farmácia Vitália”.
Com o devido crédito
ao professor Ricardo Figueiredo
A fachada depois de
remodelada – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt/”
Francisco Gomes
Teixeira - Um matemático de excepção
Francisco Gomes Teixeira nasceu em Armamar, na freguesia de
São Cosmado em 1851. Em 1874, licenciou-se em Matemáticas com 20 valores, na
Universidade de Coimbra. No ano seguinte, doutorou-se com igual valor, facto
sem precedentes na universidade.
Aos 25 anos, foi convidado para professor universitário e,
aos 30, já era catedrático de Cálculo Infinitesimal e Integral.
Vai para o Porto, para a Academia Politécnica (antecessora
da Faculdade de Ciências). É nomeado
primeiro reitor da Universidade do Porto (1911-17). Em 1919, atingiu o
limite de idade que o afasta da docência, mas o seu prestígio leva-o à direcção
do Instituto de Investigação Científica da História das Matemáticas
Portuguesas.
Gomes Teixeira morre em 1933, com 82 anos. No seu elogio
fúnebre, Duarte Leite, outro grande matemático e historiador, considerou-o o
maior matemático da Península e um dos mais respeitados da Europa.
Parece que, na altura da sua morte, era mais conhecido e
respeitado no estrangeiro do que em Portugal. Por isso é que, contrariando a
regra de consagrar sítios na cidade com nomes que nada têm a ver com o local, o
nome de Gomes Teixeira merece plenamente estar imortalizado no local a que a
sua carreira docente esteve ligado.
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