Revolta da vereação
no tempo dos Filipes
Esta revolta aconteceu no século XVII, sendo rei Filipe II,
quando foram presos e encarcerados os membros da vereação da cidade, por
defenderem antigos privilégios da mesma e dos seus cidadãos.
A prisão, na altura, funcionava num edifício da actual
Travessa da Rua Chã que, anteriormente, se chamava Viela da Cadeia, em memória,
precisamente, desse mesmo cárcere que aí existiu.
“Vejamos como tudo se
passou: era costume antigo dos vereadores da cidade do Porto, com confirmação
do rei, naturalmente, que o cargo de capitão-mor do Porto fosse desempenhado,
em comum, pelos vereadores do concelho.
Sempre assim
acontecera. Mas, ainda no século XVI, em 1568, o rei D. Sebastião pôs termo ao
antigo privilégio da cidade e, alegando que se tornava necessário defender o
Porto da ameaça de incursões corsárias que pairavam no ar, nomeou para
capitão-mor do Porto João Rodrigues de Sá e Meneses, primeiro conde de
Penaguião.
O Senado, que é como
quem diz a Câmara e os seus cidadãos, é que não gostou da atitude do rei, por
considerar que constituía uma grave ofensa aos direitos do concelho.
Numa tentativa de se
desagravarem, enviaram à Corte dois vereadores, Jorge de Babo Ribeiro e
Jerónimo de Crasto, para "requererem a sua alteza" que respeitasse as
regalias e honras da cidade mantendo o privilégio de serem os vereadores do
concelho a exercer o cargo de capitão-mor da cidade.
A missão, porém, não
resultou e o conde de Penaguião, em julho daquele mesmo ano, preparou-se para
tomar posse oficialmente do cargo. Mas os juízes, vereadores, procuradores da
cidade e procuradores do povo primaram pela ausência e não sancionaram o ato de
posse.
Nos tempos que se
seguiram, o Senado manteve uma atitude de intransigência, disposto a não
reconhecer João Rodrigues de Sá e Meneses no cargo de capitão-mor da cidade.
Houve uma exceção. Em
1570, chegaram ao Porto notícias de que "os luteranos se andavam a armar
para virem sobre os lugares da costa do reino". Então, a Câmara
prontificou-se a colaborar, mas sob protesto.
Com a morte do conde
de Penaguião, vagou o cargo de capitão-mor e o rei nomeou para esse posto o
conde de Tarouca, cunhado do anterior. Estávamos já em 1602, no reinado de
Filipe II. Os vereadores recusaram-se a entregar as chaves da cidade ao novo
capitão-mor e este apressou-se a mandar mensageiros a Valhadolid, onde estava a
Corte, a comunicar o caso ao rei.
A resposta chegou
rápida e sem deixar margens para dúvidas: "conformem-se (os do Porto) com
o que tenho mandado". Ou seja, "não discutam as ordens reais e
entreguem as chaves da cidade ao novo capitão-mor".
Procurados na Câmara,
os vereadores foram informados pelo desembargador da Casa da Relação do Porto,
dr. Belchior Martins de Carvalho, de que "convinha ao serviço d'El-Rei
estarem presos na cadeia pública desta cidade sem lhe guardar menagem nem
qualidade de suas pessoas, conforme a uma carta do dito Senhor".
Perante este
implacável mandado, os vereadores apenas contestaram que, uma vez que iam ser
presos "e não lhes era dada a possibilidade de gozarem dos privilégios,
ali estavam prestes para obedecer a tal mandado mas não sem protestação".
A entrada dos
vereadores na cadeia verificou-se nos primeiros meses de 1602 e a prisão
manteve-se até dezembro seguinte. Nessa altura, o rei, tendo em atenção
"ao bom modo com que se ouverão (os vereadores) na prisão" e
atendendo a que "a ocasião é passado", tinha morrido o conde de
Tarouca e as chaves da cidade voltavam à posse da vereação, o rei, dizíamos,
mandou soltar os vereadores.
A cidade triunfara,
mais uma vez, na defesa dos seus antigos privilégios”.
Com o devido crédito a Germano Silva
Viela da Cadeia – Ed. Teo Dias, administrador do blogue “ruasdoporto.blogspot.com”
“A Viela da Cadeia,
que hoje se chama Travessa da Rua Chã é referida em prazos de 1449 e de
1555...”
Fonte: "Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas
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