quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

25.78 Prédios antigos que ainda mantêm a traça inicial


Prédio na Rua do Ouro, nº 200




Prédio da “Cardosa”, na Rua do Ouro, nº 200 - Fonte: Google maps



Fachada principal de prédio localizado próximo à Fonte do Ouro - Fonte: AHMP


A Fonte do Ouro e, à direita, a “Casa da Cardosa” – Ed. J. Bahia Junior, 1909



O pedido de licenciamento para a construção do prédio, sito como próximo à Fonte do Ouro, foi solicitado em 12 de Março de 1862, por Joaquina Margarida Cardoso.
Este prédio era identificado em 1892, na planta de Telles Ferreira, como “Casa da Cardosa” e localizava-se na esquina da Rua do Ouro com a Calçada do Ouro, confrontando, a nascente, com a Fábrica do Gás.



A Casa da “Cardosa” (à esquerda) e a Fábrica do Gás



Aqui, morou, até ao seu falecimento em 21 de Agosto de 1890, Joaquina Margarida Cardoso, casada em 2ªs núpcias com Francisco Cardoso da Cunha, que foi seu testamenteiro e que haveria de falecer dois anos depois.
Joaquina Margarida Cardoso havia sido casada, antes, com Manuel Cardoso dos Santos, seu primo, de cujo casamento resultaram três filhos: António Cardoso dos Santos, Joaquim Cardoso dos Santos e Joaquina Cardoso dos Santos.
Manuel Cardoso dos Santos (1796-1851), nascido na Quinta da Granja, Lugar de S. Martinho de Lordelo, foi um Brasileiro de torna-viagem, um dos Contratadores do Tabaco e havia adquiri­do o edifício, que era uma ala inacabada do Convento dos Lóios (ou Convento Novo de Santa Maria da Consolação, ou Convento dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista), com vista a terminar o edifí­cio.
A Quinta da Granja situava-se no Lugar de Lordelo e dava o nome a uma ribeira que desagua a poucas dezenas de metros, no rio Douro e, que, pelo seu trajecto, vai tomando o nome dos lugares por onde passa: Ribeira da Agra, Ribeira de Ramalde, Ribeira de Lordelo, Ribeira de Grijó, Ribeira de Penoucos, Ribeira do Ouro e finalmente Ribeira da Granja.
À Ribeira da Granja, já praticamente na sua foz, vem desaguar o Rio Escuro (entubado) que vem lá dos lados da Capela de Nossa Senhora da Ajuda, umas centenas de metros mais a montante.
À data do nascimento de Manuel Cardoso dos Santos, S. Martinho de Lordelo ainda pertencia ao concelho de Bouças (Matosinhos) e só integraria o concelho do Porto, como freguesia, com o decreto de 6 de Novembro de 1836.



Fotografia aérea de Lordelo do Ouro em 1939-40 – Fonte: AHMP


Legenda:
1 Rio Douro
2 Foz da Ribeira da Granja
3 Ilha do Frade
4 Terrenos da Quinta da Granja
5 Granja de Cima
6 Largo António Calém
7 Manutenção Militar
8 Estaleiro do Ouro
9 Pasteleira



Decreto de expropriação, em 1919, dos terrenos para construção do Bairro Operário de Lordelo do Ouro, em terrenos da Granja de Cima



Regressando à remodelação do convento dos Lóios, acontece que em virtude do falecimento de Manuel Cardoso dos Santos, não lhe foi possível completar essa tarefa e seria a sua mulher, a quem chamavam “A Cardosa”, a fazê-lo.
À sua morte, Manuel Cardoso dos Santos possuía uma fortuna, que depois de deduzido o dote da mulher, montava em 484.552$315 réis.
Para além dos muitos edifícios no Porto, Gaia, Vila do Conde, Almada, Lisboa e Brasil, tinha um enor­me lote de títulos de crédito, de embarcações, cortinados bordados e de damasco, muitos diamantes, inúmeras joias, faqueiro e muitos objectos de prata, rico mobiliário e piano. Dizem, porém, que nem um único livro possuía.




Moradia na Rua de Alexandre Herculano, nº 289



Moradia na esquina da Rua de Alexandre Herculano e Rua Duque de Loulé – Fonte: Google maps



A moradia localizada na Rua Alexandre Herculano, nº 289 (teve o nº de polícia, 207), esteve durante muitos anos devoluta e em situação de degradação, entrou no ano 2020, em processo de recuperação.
O seu primeiro proprietário foi Joaquim José Dias Pereira, um grande capitalista, dono de uma vasta fortuna, que a mandou erguer em 1888.
Aí, primeiro enviuvou e, depois, faleceu em 1919.
Foi casado com Rita Augusta da Silva Pereira, casamento do qual resultaram 6 filhos (3 rapazes e 3 raparigas).
Em testamento, agindo sobre a sua quota disponível, o prédio foi deixado para as suas duas filhas, Ângela e Alcina.



A partir de 2023, o antigo palacete foi ocupado por uma unidade hoteleira – Hotel G. A Palace – Fonte: Google maps



Prédio a norte da Praça do Marquês



O prédio que se situa a norte da Praça do Marquês, e que faz esquina e tem entrada pela Rua de Costa Cabral, foi começado a construir em 1864.
Foi seu primeiro proprietário, Francisco Ferreira Zimbres, brasileiro de torna-viagem, negociante no Brasil em sal grosso, com várias casas comerciais e sede em Santos e que, em 28 de Abril de 1864, requeria a respectiva licença de construção, que ficou registada com o nº 8/1864.
À data, a Rua de Costa Cabral já tinha sido aberta desde 1851, e a Rua 27 de Janeiro, que havia depois de ser a Rua da Constituição, também.
Por outro lado, a actual Praça do Marquês era o Largo da Aguardente (já com a sua forma rectangular) e só o deixou de o ser, em 1867, quando passou a ser a Praça da Constituição e, alguns anos depois (1882), passou a ter o topónimo que hoje ostenta.




Prédio de Francisco Ferreira Zimbres, na Praça Marquês de Pombal – Fonte: Google maps





Prédio na Rua Formosa, nº 201-203


Este prédio, sito na Rua Formosa, 201-203, teve licença de construção em meados do ano de 1825.
Foi mandado construir por João Pereira Batista Vieira Soares, bacharel, advogado e juiz de direito criminal substituto, que é citado no processo do julgamento de Camilo Castelo Branco.
Foi esta personalidade, por decisão régia de 1822, nomeado como um dos responsáveis pelo Recolhimento da Porta do Sol / Recolhimento de Nossa Senhora das Dores e de S. José das Meninas Desamparadas.
No ano seguinte, estava sob escrutínio real e impedido de se associar a qualquer sociedade secreta.
Em 1846, o “Directorio Civil, Politico, Commercial, Historico, e Estatistico da cidade do Porto e Vila Nova de Gaia”, apresentava-o como advogado, na Rua Formosa.
Em 1857, depois do prédio ter passado pelas mãos dos herdeiros de João Pereira Batista Vieira Soares, passou a pertencer a Joaquim Pinto da Fonseca (1816-1897) que, naquele ano, solicitava à Câmara uma autorização para acrescentar mais um andar ao edifício.
Os Pinto da Fonseca tinham a sua casa, parque e jardins, um pouco mais a montante da rua, em terreno onde, mais tarde, vieram dar os jardins do “Jardim Passos Manuel”.
Joaquim Pinto da Fonseca foi o fundador da Casa Bancária Pinto da Fonseca & Irmão, fundador do Club Portuense, sócio gerente da Casa Bancária Fonsecas, Santos & Vianna.
Entre 1837 e 1851, esteve emigrado no Brasil, onde se dedicou ao negócio de tráfico de escravos, cuja abolição o faz retornar a Portugal.
Em 1851, é um dos fundadores da Casa Bancária Pinto da Fonseca & Irmão, com o seu irmão Manoel Pinto da Fonseca.
Em 1861, funda a Casa Bancária Fonsecas, Santos & Vianna e torna-se seu sócio gerente até 1890.
A casa bancária Fonsecas, Santos & Viana foi constituída em 27 de Maio de 1861, pelos negociantes António Pinto da Fonseca, Joaquim Pinto da Fonseca, Carlos Ferreira dos Santos Silva e Francisco Isidoro Viana e tinha sede em Lisboa.
Esta casa bancária já em pleno século XX seria o embrião do banco “Fonsecas & Burnay”.
Voltando ao prédio da Rua Formosa, nº 173, diga-se que, em 1930, a proprietária que solicitava uma licença à Câmara do Porto para proceder a obras, era Arminda da Silva Santos Fonseca.



Termo de responsabilidade do arquitecto para proceder a obras na Rua Formosa, nº 173, em 1929




À direita, na Rua Formosa, 201-203, a casa que foi de João Pereira Batista Vieira Soares – Fonte: Google maps



A porta lateral, mais a montante, indicia ser a entrada para a cocheira, o lugar de garagem desses tempos.

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