quinta-feira, 12 de março de 2020

25.84 Um Porto pitoresco


1. Bairros unifamiliares de continuidade (fora de vista)


Houve uma época em que foi prática dos proprietários particulares abrirem arruamentos de serventia nos seus terrenos e, aí, construírem, normalmente, em terrenos que tinham sido as quintas onde a população mais abastada do séc. XIX passava os meses de Verão.
Essas práticas começaram no ocaso desse século, tendo continuado até 1940, apesar da legislação que desincentivava a prática.
Surgiram, assim, as Ruas Particulares e os Bairros Particulares.
A actividade ligada ao negócio do imobiliário, nos seus diferentes aspectos prosperou, nuns casos, noutros, nem tanto.
As novas soluções exploravam as possibilidades de optimização do lote de terreno aproveitando a sua profundidade, dispondo, aí, conjuntos de moradias em banda, com o propósito de substituição dos pardieiros utilizados pela classe operária por casas airosas que integravam os novos padrões de conforto mínimo. Estas propostas de iniciativa privada situavam-se num patamar intermédio de qualidade entre a “ilha” e a pequena casa burguesa.
Em alguns casos, a construção das habitações tem por objectivo, tornar visível um tipo de habitação correntemente escondida do olhar público ou na maioria deles ao usar a estratégia dos construtores de “ilhas”, configuram uma casa melhorada sobre a face da rua, escondendo o restante conjunto no interior do lote.



Bairro Abílio Braga e D. Maria Braga



Bairro Abílio Braga e D. Maria Braga, na Rua de Monsanto, nºs 271-295


Identificados em tempos como se dois bairros se tratassem, afinal, é um só, conhecido por Bairro Silva Braga, com projecto de 1928 e começado a construir em 1930.



Pedido de alterações solicitado à C. M. Porto pela “Construtora Portuense de Casas Económicas, Lda”, ao projecto aprovado com a licença, nº 326 do ano 1928, referente ao que se viria a chamar Bairro Silva Braga – Fonte: AHMP



Planta do Bairro Silva Braga, anexa ao requerimento supra – Fonte: AHMP



O bairro com “42 moradas de casas” haveria de tomar o nome daqueles que foram os seus senhorios mais importantes.
Foi sempre um bairro de propriedade privada, mas em 1977, começou a ser vendido aos seus ocupantes que introduziram alterações importantes nas fachadas das habitações.
Dos primeiros tempos, restam meia dúzia de casas onde se pode ainda vislumbrar a arquitectura dos anos trinta do século XX.
Com entrada para o complexo habitacional pela Rua de Monsanto, tem a passar, nas suas traseiras devidamente encanado, o ribeiro que passando na Prelada e atravessando a Rua de Requesende, vai em Ramalde do Meio juntar-se a um outro, vindo do Padrão da Légua dando, a partir daí, origem à Ribeira da Granja.





Bairro Maria Albertina



Eduardo da Rocha Mendes, em Junho de 1929, solicitava à C. M. Porto a construção do que viria a ser o Bairro Particular de Maria Albertina. Aquele empreendedor, que tinha residência na Avenida Rodrigues de Freitas, possuía inúmeros terrenos na Rua do Duque de Saldanha e em ruas próximas.




Requerimento para licenciamento de construção de dois prédios na Rua Duque de Saldanha e, entre eles, numa rua particular perpendicular àquela, mais 20 casas



Alçado da frente de duas casas e acesso, a meio delas, a bairro de 20 casas na Rua de Duque Saldanha – Fonte: AHMP



Prédios na Rua Duque de Saldanha fazendo parte do Bairro Maria Albertina, ladeando a entrada para a Rua Particular – Ed. MAC



Entrada do Bairro (Rua Particular Maria Albertina), na Rua Duque Saldanha a poucos metros do Bloco de Duque de Saldanha, com a mesma perspectiva da do desenho anterior – Ed. MAC




Na foto, em Outubro de 1937, o começo da construção do Bloco Camarário da Rua de Duque Saldanha, sendo visível, a meio da foto, as traseiras, voltadas a Norte, de uma correr de casas do Bairro Particular Maria Albertina






Bairro Particular na Rua Pedro Hispano, 937



O bairro situado actualmente na Rua de Pedro Hispano, 937 e, que, à data de construção, tinha morada na Rua da Carcereira, com o mesmo número de polícia, foi mandado construir por João Machado Fonseca de Castro em 1927, de acordo com o pedido de licenciamento abaixo.
Encontra-se próximo da entrada das urgências da Casa de Saúde da Boavista.



Pedido de licenciamento para construção de bairro na Rua da Carcereira, 937


A memória descritiva do projecto deste bairro fala em 20 casas, das quais 18 (térreas) que se posicionavam em 2 grupos de 9, com frente para um arruamento de serventia de 6 metros de largo e com cerca de 67 m de comprido, sendo dotadas de um pequeno quintal com c. 93 m2.
As restantes 2 casas, independentes, separadas do bairro por um quintal, situar-se-iam à entrada do arruamento (de cada lado) e seriam de rés-do-chão e 1º andar (entretanto demolidas para alinhamento da rua).



Entrada do bairro na Rua de Pedro Hispano, 937 – Fonte: Google maps



Interior do Bairro da Rua de Pedro Hispano, 937 – Ed. MAC




Bairro Particular de Vale Formoso



Na actual Rua Alcácer Ceguér



Entre Dezembro de 1938 e o mês seguinte, João Pimentel Júnior apresenta requerimentos à C. M. Porto, para licenciamento do que viria a ser o Bairro Particular de Vale Formoso – Fonte: AHMP



A construção do Bairro Particular do Vale Formoso compreende o levantamento de 14 casas identificadas no desenho apenso ao processo de licenciamento submetido à C. M. Porto, neste caso, para 6 moradias (coloridas) – Fonte: AHMP


(Continua)

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