Oficinas e fábricas de carruagens
Relacionado com os veículos hipomóveis, durante o século
XIX, várias foram as empresas se dedicaram ao sector de actividade ligado à sua
construção e, quando o automóvel triunfou, em toda a linha, algumas delas
evoluíram e associaram-se aos novos tempos, principalmente na construção de
carrocerias.
Nesse tempo,
a burguesia passeava-se, entre outros veículos, de coupé, dog-cart e landau.
Coupé
Dog-cart
Landau
Eram referência, no Porto, na construção de carruagens as
seguintes empresas:
“A fábrica de Emídio Quintela, fundada em 1899, estava sedeada na
Rua Alferes Malheiro, 126 a 138, no Porto, e sempre se destacou pela elevada
qualidade dos seus produtos, tendo sido agraciada com um Grand Prix no Concurso
Internacional de Madrid – a única empresa carroçadora a receber semelhante
distinção – e tendo obtido ainda um Grand Prix e uma Medalha de Ouro na
Exposição do Rio de Janeiro de 1908.
A “Oficina de Carruagens”,
foi fundada em 1860 por Teixeira de Vasconcelos na Rua da Restauração, 438,
também no Porto, tendo-se posteriormente transferido para a Rua Nova do
Palácio. Como o próprio nome da empresa indica, a casa começou por se dedicar
às carruagens de tracção animal e tinha, como especialidade, a construção do
break-tonneau. Em 1908 ou 1909, já sob a direcção de Eduardo Romualdo de
Vasconcelos, reorientou-se, com sucesso, para a indústria automóvel. Numa
entrevista já publicada no início da década de 1930, invocava-se aliás essa
longa experiência como garantia de qualidade.”
Cortesia de José Carlos Barros Rodrigues - Dissertação para
obtenção do Grau de Doutor em História, Filosofia e Património da Ciência e da
Tecnologia (2012)
Break-tonneau
Teixeira de
Vasconcelos fundaria, então, a “Oficina
de Carruagens”, em 1860, na Rua da Restauração, 438.
À direita, na Rua da Restauração, 438, estava em 1860, a “Oficina de Carruagens” de Teixeira de
Vasconcelos - Fonte: Google maps
Mais tarde, a “Oficina
de Carruagens” mudar-se-ia para a Rua Nova do Palácio que, por edital de
Abril de 1877, recebeu a denominação de Rua do Palácio de Cristal (actual Rua
Jorge Viterbo Ferreira, 72).
Em 1908, a firma já estava sob a alçada de Eduardo Romualdo
de Vasconcelos.
A “Oficina de Carruagens” desde c. 1908, na Rua Jorge
Viterbo Ribeiro, 72, mais tarde, como firma “Serralharia mecânica de Eduardo
Romualdo de Vasconcelos” – Fonte: Google maps
Em Dezembro de 2019, o edifício da foto anterior, já estava
por terra.
A oficina de Emídio
Quintela, fundada em 1899, estava sedeada na Rua de Liceiras, 126 a 138
(actual Rua Alferes Malheiro).
À direita, na área ocupada pelo prédio do parque auto,
esteve a Casa Quintela, fabricante
de carruagens – Fonte: Google maps
Outra oficina que se destacava no panorama portuense era a de
Alfredo de Oliveira Gomes. Ter-se-á
localizado no Campo 24 de Agosto e, depois, mudou-se para a Rua Duque de
Palmela, onde construiu em terreno próprio novas instalações.
O pedido de construção desta garagem é de 1914.
Pedido de construção de prédio destinado a oficina de
carruagens de Alfredo de Oliveira Gomes – Fonte: AHMP
Alçado do prédio que iria albergar a oficina de carruagens
de Alfredo de Oliveira Gomes – Fonte: AHMP
Oficina e Aluguer de Carruagens, de Alfredo de Oliveira Gomes, em 1906, ao Campo 24 de Agosto (início
da Rua do Bonfim), com a silhueta da igreja do Bonfim no horizonte
As oficinas e os alugadores de carruagens continuavam a
instalar-se pela cidade.
Pela Rua Garret, nº 51, em 1909, António Joaquim da Rocha
Lamas montava a sua firma de carruagens de aluguer.
Na Rua de Entreparedes estava sedeada a Fábrica de Trens e
Arreios de António Monteiro da Fonseca.
Quanto à oficina de
José de Oliveira e Silva ela localizava-se na Rua Duque de Loulé, entre a
padaria Bijou e a Rua de S. Lázaro e, em 1907, solicitava licença camarária
para construir um anexo que irá obter o nº 49/1907.
Na vertente de reparações de carruagens, há registos da
existência, no Porto, das firmas V. H.
Fabião e J. Oliveira.
A construção de carroçarias para automóveis teve início em
1903 e incrementou-se a partir de 1905.
No início do século XX, as fábricas e oficinas de carruagens
tiveram que adaptar-se aos novos tempos, passando a produzir também carroçarias
para automóveis.
Assim, em Fevereiro de 1905, Emídio Quintela requer à Câmara
do Porto a ampliação daquelas instalações e, em 1910, a demolição do edifício
no mesmo local, com o nº de polícia, 124/126.
Em Março de 1916, Emídio Quintela requer o levantamento de
uma nova fachada do prédio com nº 128.
Requerimento para levantamento de nova fachada de prédio na
Rua de Liceiras, 128 – Fonte: AHMP
Desenho de projecto de nova fachada de uma oficina de automóveis
na Rua de Liceiras, 128 – Fonte: AHMP
Com o despontar da indústria automóvel, sucediam-se a constituição
de firmas ligadas ao sector.
Em 14 de Fevereiro de 1907, era constituída a firma Auto-Motora do Porto, com sede na
“garage” da Rua Duquesa de Bragança, para estabelecer
carreiras de automóveis, transporte de mercadorias, comprar e vender e alugar
automóveis, “bicyclettes”, etc.
Requerimento de pedido de licenciamento à Câmara do Porto,
em 14 de Dezembro de 1907, para construção de uma garagem com frente para as
ruas Duquesa de Bragança (Rua D. João IV) e das Malmerendas (Rua Dr. Alves da
Veiga) – Fonte: AHMP
Desenho de fachada, voltada para a Rua D. João IV, apenso ao
projecto apresentado à Câmara do Porto, para licenciamento de construção de
garagem – Fonte: AHMP
Fachada actual, voltada para a Rua D. João IV, do prédio que
albergou a antiga “Auto-Motora do Porto” – Fonte: Google maps
Fachada actual, voltada para a Rua Dr. Alves da Veiga, do
prédio que albergou a antiga “Auto-Motora do Porto” – Fonte: Google maps
No dia 4 de Junho de 1909, realizar-se-ia nas instalações
da Auto-Motora, aproveitando as excelentes condições do piso para a prática de
patinagem, que começava a despontar entre as camadas mais privilegiadas da
população, uma demonstração daquela nova modalidade desportiva.
Assim, foram realizadas, naquele dia, concorridas sessões de
patinagem, organizadas pelo Futebol Clube do Porto e abrilhantadas pela
actuação da banda do Asilo do Terço, destacando-se nas artísticas habilidades
apresentadas as meninas Lucrécia Ermida, Raquel Dias Pimentel, Gardina Andresen
e irmã, Sofia Meireles e os meninos Luís Vanzeller Cabral, Carlos Chambers,
José Rosas, Vasconcelos de Faria e David Rodrigues Boleu, entre outros.
Durante vários anos, as provas de patinagem continuaram a
ser organizadas neste local e também na nave do Palácio de Cristal.
Passado, praticamente, uma semana sobre aquele evento, no
dia 10 de Junho, realizar-se-ia na Auto-Motora, um grande comício de propaganda
organizado pela Comissão Municipal Republicana. Presidiu à reunião José Relvas,
tendo usado da palavra, para além do presidente, os doutores Bernardino
Machado, Duarte Leite, Pádua Correia e Alexandre de Barros.
Bernardino Machado anuncia que com a colaboração do Dr.
Alfredo Magalhães e de Pádua Correia, se iria fundar no Porto a “Liga
Republicana das Senhoras Portuguesas.”
Na década de 1930, já por aqui estava a firma "Pinto
Basto & Leite, Lda", representante da marca de automóveis “Auburn”.
Representante na cidade do automóvel "Auburn", na Rua Heróis
de Chaves
Alguns anos antes, em 1910, "Pinto Basto & Leite” estava
sedeada no Largo dos Lóios com a representação dos veículos da marca Darracq.
As construções de garagens, na transição de séculos, começa a ser uma preocupação
dos proprietários.
Algumas residências permitem tal desiderato. Noutros casos, foi
necessário encontrar outras soluções, das quais se destaca a usada para o
bairro que tinha ocupado a antiga quinta do Cirne.
A Quinta do Cativo, desde 1848, era propriedade de Manuel José de Sousa
Araújo, que morreu no ano de 1869, passando então a propriedade, a um indivíduo
chamado Brandão.
Os terrenos desta quinta, juntamente com os da vizinha quinta do Cirne,
acabariam na posse do capitalista Ferreira Cardoso, que os usou, em grande
parte, no plano de urbanização da zona, aprovado em 1883, quando foi decidido
traçar os novos arruamentos: Rua Ferreira Cardoso, Conde Ferreira, Joaquim
António de Aguiar, Duque Palmela, Duque Saldanha e Barão de S. Cosme.
Nesta zona, se estabeleceu uma burguesia em ascensão, em que as
residências, com uma arquitectura típica dessa época, ainda podem ser hoje
observadas.
De notar, que o automóvel ainda não era serventia para as deslocações
e, por isso, aquelas residências, não eram dotadas com garagem. Começava também
a ser relançado o transporte público citadino, e o carro eléctrico já começava
a destronar o “americano”, as caleches e os trens de praça.
Na primeira década do século XX, os prédios da zona habitacional
descrita, com o advento do automóvel, mostram uma carência fundamental – a
inexistência de garagens.
Assim, em 1915, José de Oliveira e Sousa decide construir doze
garagens, em banda, para servir toda a área especificada. Essa edificação ainda
hoje subsiste e pode ser observada localmente.
Pedido de alteração ao projecto apresentado anteriormente (27/10/1915)
à C.M. Porto, para a construção de 12 garagens na Rua Joaquim António de
Aguiar, em 1915 – Fonte: AHMP
Parte de desenho das fachadas integrante de projecto de 12 garagens na
Rua Joaquim António de Aguiar, em 1915 – Fonte: AHMP
Frente para a Rua Joaquim António de Aguiar, de parte das garagens,
edificadas em 1915 – Fonte: Google maps
O sector em volta do automóvel nunca mais pararia de se desenvolver.
No dia 26 de Fevereiro de 1921, a denominada "Auto Agência Bolhão", empresa que se destinava à exploração de carros de aluguer e, especialmente, à realização de eventos-auto de luxo, com motoristas e trintanários aristocraticamente fardados, de serviços de casamentos, baptizados, passeios turísticos, etc, fundada por Raúl Teixeira e Amadeu Coelho Pereira, inaugurava as suas novas instalações, nos fundos da Estamparia do Bolhão, à Rua Fernandes Tomás.
No dia 26 de Fevereiro de 1921, a denominada "Auto Agência Bolhão", empresa que se destinava à exploração de carros de aluguer e, especialmente, à realização de eventos-auto de luxo, com motoristas e trintanários aristocraticamente fardados, de serviços de casamentos, baptizados, passeios turísticos, etc, fundada por Raúl Teixeira e Amadeu Coelho Pereira, inaugurava as suas novas instalações, nos fundos da Estamparia do Bolhão, à Rua Fernandes Tomás.
Estamparia do Bolhão, fronteira à entrada para o mercado do Bolhão pela
Rua de Fernandes Tomás
A “Auto Agência Bolhão” tinha como director do pessoal um engenheiro francês de seu nome Paul Barnaud.
Fabricantes de carrocerias eram, também, representantes de automóveis da inglesa Daimler, da americana Mitchel e da alemã Protos.
Oficina de estofador da “Auto Agência Bolhão”
Construção de carrocerias da “Auto Agência Bolhão”
Daimler com carroceria construída na “Auto Agência Bolhão”
Pedido de licenciamento de oficina de carruagens,
em 1922, para a Rua de Camões, nº 405
Em 1929, José Ribeiro Gomes tinha a sua oficina de mecânica
e construção de carrocerias na confluência da Rua do Bonjardim, nº 1224, e da Travessa de
Antero Quental.
Na Rua do Bonjardim, no local, mais tarde, ocupado pelo Colégio
Ribadouro estava, em 1929, a oficina de mecânica auto e construção de
carrocerias de José Ribeiro Gomes
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