quinta-feira, 5 de março de 2020

(Conclusão) - Actualização em 02/10/ e 10/12/2020


Oficinas e fábricas de carruagens


Relacionado com os veículos hipomóveis, durante o século XIX, várias foram as empresas se dedicaram ao sector de actividade ligado à sua construção e, quando o automóvel triunfou, em toda a linha, algumas delas evoluíram e associaram-se aos novos tempos, principalmente na construção de carrocerias. 
Nesse tempo, a burguesia passeava-se, entre outros veículos, de coupé, dog-cart e landau.

 

 


Coupé

 

 


Dog-cart

 

 


Landau



Eram referência, no Porto, na construção de carruagens as seguintes empresas:


 

 


No Porto, dois fabricantes se irâo destacar: Teixeira de Vasconcelos e Emídio Quintela.

 
A fábrica de Emídio Quintela, fundada em 1899, estava sedeada na Rua Alferes Malheiro, 126 a 138, no Porto, e sempre se destacou pela elevada qualidade dos seus produtos, tendo sido agraciada com um Grand Prix no Concurso Internacional de Madrid – a única empresa carroçadora a receber semelhante distinção – e tendo obtido ainda um Grand Prix e uma Medalha de Ouro na Exposição do Rio de Janeiro de 1908.
A “Oficina de Carruagens”, foi fundada em 1860 por Teixeira de Vasconcelos na Rua da Restauração, 438, também no Porto, tendo-se posteriormente transferido para a Rua Nova do Palácio. Como o próprio nome da empresa indica, a casa começou por se dedicar às carruagens de tracção animal e tinha, como especialidade, a construção do break-tonneau. Em 1908 ou 1909, já sob a direcção de Eduardo Romualdo de Vasconcelos, reorientou-se, com sucesso, para a indústria automóvel. Numa entrevista já publicada no início da década de 1930, invocava-se aliás essa longa experiência como garantia de qualidade.”
Cortesia de José Carlos Barros Rodrigues - Dissertação para obtenção do Grau de Doutor em História, Filosofia e Património da Ciência e da Tecnologia (2012)
 
 
 
 
Break-tonneau
 
 
 
 
Teixeira de Vasconcelos fundaria, então, a “Oficina de Carruagens”, em 1860, na Rua da Restauração, 438.
 
 
 

À direita, na Rua da Restauração, 438, estava em 1860, a “Oficina de Carruagens” de Teixeira de Vasconcelos - Fonte: Google maps
 
 
 
Mais tarde, a “Oficina de Carruagens” mudar-se-ia para a Rua Nova do Palácio que, por edital de Abril de 1877, recebeu a denominação de Rua do Palácio de Cristal (actual Rua Jorge Viterbo Ferreira, 72).
Em 1908, a firma já estava sob a alçada de Eduardo Romualdo de Vasconcelos.

 
 
A “Oficina de Carruagens” desde c. 1908, na Rua Jorge Viterbo Ribeiro, 72, mais tarde, como firma “Serralharia mecânica de Eduardo Romualdo de Vasconcelos” – Fonte: Google maps
 
 
 
Em Dezembro de 2019, o edifício da foto anterior, já estava por terra.
A oficina de Emídio Quintela, fundada em 1899, estava sedeada na Rua de Liceiras, 126 a 138 (actual Rua Alferes Malheiro).


 

Fábrica de Carruagens de Emídio Quintela

 
 

Casa Quintela, fabricante de carruagens na Rua de Liceiras, 126 a 138 – Cartão Comercial



 

À direita, na área ocupada pelo prédio do parque auto, esteve a Casa Quintela, fabricante de carruagens – Fonte: Google maps
 
 
 
Outra oficina que se destacava no panorama portuense era a de Alfredo de Oliveira Gomes. Ter-se-á localizado no Campo 24 de Agosto e, depois, mudou-se para a Rua Duque de Palmela, onde construiu em terreno próprio novas instalações.
O pedido de construção desta garagem é de 1914.
 
 
 
 

Pedido de construção de prédio destinado a oficina de carruagens de Alfredo de Oliveira Gomes – Fonte: AHMP

 
 

Alçado do prédio que iria albergar a oficina de carruagens de Alfredo de Oliveira Gomes – Fonte: AHMP



 

Oficina e Aluguer de Carruagens, de Alfredo de Oliveira Gomes, em 1906, ao Campo 24 de Agosto (início da Rua do Bonfim), com a silhueta da igreja do Bonfim no horizonte


 

Campo 24 de Agosto e perspectiva semelhante da foto anterior, no começo da década de 1930
 
 
 
As oficinas e os alugadores de carruagens continuavam a instalar-se pela cidade.
Pela Rua Garret, nº 51, em 1909, António Joaquim da Rocha Lamas montava a sua firma de carruagens de aluguer.
Na Rua de Entreparedes estava sedeada a Fábrica de Trens e Arreios de António Monteiro da Fonseca.


 
 




Quanto à oficina de José de Oliveira e Silva ela localizava-se na Rua Duque de Loulé, entre a padaria Bijou e a Rua de S. Lázaro e, em 1907, solicitava licença camarária para construir um anexo que irá obter o nº 49/1907.
Na vertente de reparações de carruagens, há registos da existência, no Porto, das firmas V. H. Fabião e J. Oliveira.
A construção de carroçarias para automóveis teve início em 1903 e incrementou-se a partir de 1905.
No início do século XX, as fábricas e oficinas de carruagens tiveram que adaptar-se aos novos tempos, passando a produzir também carroçarias para automóveis.
Assim, em Fevereiro de 1905, Emídio Quintela requer à Câmara do Porto a ampliação daquelas instalações e, em 1910, a demolição do edifício no mesmo local, com o nº de polícia, 124/126.
Em Março de 1916, Emídio Quintela requer o levantamento de uma nova fachada do prédio com nº 128.



 
Requerimento para levantamento de nova fachada de prédio na Rua de Liceiras, 128 – Fonte: AHMP



 

Desenho de projecto de nova fachada de uma oficina de automóveis na Rua de Liceiras, 128 – Fonte: AHMP
 
 
 
Com o despontar da indústria automóvel, sucediam-se a constituição de firmas ligadas ao sector.
Em 14 de Fevereiro de 1907, era constituída a firma Auto-Motora do Porto, com sede na “garage” da Rua Duquesa de Bragança, para estabelecer carreiras de automóveis, transporte de mercadorias, comprar e vender e alugar automóveis, “bicyclettes”, etc.





Requerimento de pedido de licenciamento à Câmara do Porto, em 14 de Dezembro de 1907, para construção de uma garagem com frente para as ruas Duquesa de Bragança (Rua D. João IV) e das Malmerendas (Rua Dr. Alves da Veiga) – Fonte: AHMP



Desenho de fachada, voltada para a Rua D. João IV, apenso ao projecto apresentado à Câmara do Porto, para licenciamento de construção de garagem – Fonte: AHMP



Fachada actual, voltada para a Rua D. João IV, do prédio que albergou a antiga “Auto-Motora do Porto” – Fonte: Google maps



Fachada actual, voltada para a Rua Dr. Alves da Veiga, do prédio que albergou a antiga “Auto-Motora do Porto” – Fonte: Google maps



No dia 4 de Junho de 1909, realizar-se-ia nas instalações da Auto-Motora, aproveitando as excelentes condições do piso para a prática de patinagem, que começava a despontar entre as camadas mais privilegiadas da população, uma demonstração daquela nova modalidade desportiva.
Assim, foram realizadas, naquele dia, concorridas sessões de patinagem, organizadas pelo Futebol Clube do Porto e abrilhantadas pela actuação da banda do Asilo do Terço, destacando-se nas artísticas habilidades apresentadas as meninas Lucrécia Ermida, Raquel Dias Pimentel, Gardina Andresen e irmã, Sofia Meireles e os meninos Luís Vanzeller Cabral, Carlos Chambers, José Rosas, Vasconcelos de Faria e David Rodrigues Boleu, entre outros.
Durante vários anos, as provas de patinagem continuaram a ser organizadas neste local e também na nave do Palácio de Cristal.
Passado, praticamente, uma semana sobre aquele evento, no dia 10 de Junho, realizar-se-ia na Auto-Motora, um grande comício de propaganda organizado pela Comissão Municipal Republicana. Presidiu à reunião José Relvas, tendo usado da palavra, para além do presidente, os doutores Bernardino Machado, Duarte Leite, Pádua Correia e Alexandre de Barros.
Bernardino Machado anuncia que com a colaboração do Dr. Alfredo Magalhães e de Pádua Correia, se iria fundar no Porto a “Liga Republicana das Senhoras Portuguesas.”
Na década de 1930, já por aqui estava a firma "Pinto Basto & Leite, Lda", representante da marca de automóveis “Auburn”.




Representante na cidade do automóvel "Auburn", na Rua Heróis de Chaves



Alguns anos antes, em 1910, "Pinto Basto & Leite” estava sedeada no Largo dos Lóios com a representação dos veículos da marca Darracq.





Automóvel Darracq 




As construções de garagens, na transição de séculos, começa a ser uma preocupação dos proprietários.
Algumas residências permitem tal desiderato. Noutros casos, foi necessário encontrar outras soluções, das quais se destaca a usada para o bairro que tinha ocupado a antiga quinta do Cirne.
A Quinta do Cativo, desde 1848, era propriedade de Manuel José de Sousa Araújo, que morreu no ano de 1869, passando então a propriedade, a um indivíduo chamado Brandão.
Os terrenos desta quinta, juntamente com os da vizinha quinta do Cirne, acabariam na posse do capitalista Ferreira Cardoso, que os usou, em grande parte, no plano de urbanização da zona, aprovado em 1883, quando foi decidido traçar os novos arruamentos: Rua Ferreira Cardoso, Conde Ferreira, Joaquim António de Aguiar, Duque Palmela, Duque Saldanha e Barão de S. Cosme.
Nesta zona, se estabeleceu uma burguesia em ascensão, em que as residências, com uma arquitectura típica dessa época, ainda podem ser hoje observadas.
De notar, que o automóvel ainda não era serventia para as deslocações e, por isso, aquelas residências, não eram dotadas com garagem. Começava também a ser relançado o transporte público citadino, e o carro eléctrico já começava a destronar o “americano”, as caleches e os trens de praça.
Na primeira década do século XX, os prédios da zona habitacional descrita, com o advento do automóvel, mostram uma carência fundamental – a inexistência de garagens.
Assim, em 1915, José de Oliveira e Sousa decide construir doze garagens, em banda, para servir toda a área especificada. Essa edificação ainda hoje subsiste e pode ser observada localmente.





Pedido de alteração ao projecto apresentado anteriormente (27/10/1915) à C.M. Porto, para a construção de 12 garagens na Rua Joaquim António de Aguiar, em 1915 – Fonte: AHMP





Parte de desenho das fachadas integrante de projecto de 12 garagens na Rua Joaquim António de Aguiar, em 1915 – Fonte: AHMP



Frente para a Rua Joaquim António de Aguiar, de parte das garagens, edificadas em 1915 – Fonte: Google maps




O sector em volta do automóvel nunca mais pararia de se desenvolver.
No dia 26 de Fevereiro de 1921, a denominada "Auto Agência Bolhão", empresa que se destinava à exploração de carros de aluguer e, especialmente, à realização de eventos-auto de luxo, com motoristas e trintanários aristocraticamente fardados, de serviços de casamentos, baptizados, passeios turísticos, etc, fundada por Raúl Teixeira e Amadeu Coelho Pereira, inaugurava as suas novas instalações, nos fundos da Estamparia do Bolhão, à Rua Fernandes Tomás.

 
 

Estamparia do Bolhão, fronteira à entrada para o mercado do Bolhão pela Rua de Fernandes Tomás
 
 
 
Raúl Teixeira tinha usufruído de um dos primeiros automóveis importados para Portugal.
A “Auto Agência Bolhão” tinha como director do pessoal um engenheiro francês de seu nome Paul Barnaud.
Fabricantes de carrocerias eram, também, representantes de automóveis da inglesa Daimler, da americana Mitchel e da alemã Protos.

 
 

Oficina de estofador da “Auto Agência Bolhão”
 
 
 

Construção de carrocerias da “Auto Agência Bolhão”
 
 
 

Daimler com carroceria construída na “Auto Agência Bolhão”



Em 1922, de acordo com o requerimento seguinte, o signatário mostrava-se interessado na abertura de uma oficina de carruagens para a Rua de Camões.

 
 
 

Pedido de licenciamento de oficina de carruagens, em 1922, para a Rua de Camões, nº 405



O Stand de Oscar Latourrette esteve aqui. Actualmente, Rua de Camões, 659



Em 1929, José Ribeiro Gomes tinha a sua oficina de mecânica e construção de carrocerias na confluência da Rua do Bonjardim, nº 1224, e da Travessa de Antero Quental.
 
 

Publicidade in “Guiauto Ilustrado”,  nº 1 (Jul 1929)



Na Rua do Bonjardim, no local, mais tarde, ocupado pelo Colégio Ribadouro estava, em 1929, a oficina de mecânica auto e construção de carrocerias de José Ribeiro Gomes

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