Entre localidades,
as carreiras regulares para serviço de transporte colectivo de passageiros
tiveram a sua origem na expansão das malas-postas.
Diligência para
transporte de mala-posta e passageiros
“Convém recordar
que até à segunda metade do século XVIII, quando se procurou estabelecer em
Portugal os serviços de transporte de correio da Mala Posta, as escassas vias e
as más condições das que existiam obrigavam a que as pessoas continuassem a
deslocar-se se a pé ou com o recurso a animais, como vinham fazendo durante a
Idade Média, destacando-se neste desgastante labor a secular figura do
almocreve ou do recoveiro. As calçadas romanas, originalmente criadas para a
deslocação dos exércitos imperiais, mas em grande parte arruinadas por falta de
manutenção e confinadas a espaços muito reduzidos, continuavam, ainda assim, a
servir como a única alternativa ao movimento da população e à manutenção da
vida económica de muitas regiões do interior. Nessa época o transporte de
correio fazia-se a pé, de sacola às costas, no dorso de lentos muares, ou, mais
raramente a cavalo”.
Fonte: “portoarc.blogspot.com/”
Em 9 de Setembro de
1851, correspondendo ao plano de viação então traçado pelo Governo, foi
celebrado um contrato para que a denominada Companhia de Viação Portuense, tendo como principais accionistas os
capitalistas José Pedro de Barros Lima, Joaquim Augusto Kopke Schewirin de
Sousa (barão de Massarelos) e António Gomes dos Santos, promovesse o
melhoramento das estradas da província do Minho.
A Companhia de Viação Portuense, em Maio de 1852, já tinha
construído a ligação por estrada entre o Porto e Famalicão e, passado um ano,
chegava a Braga com as obras praticamente concluídas, o que viria a acontecer
em 1855.
“Apesar de a estrada
só ter ficado inteiramente concluída em 1855, com excepção da ponte pênsil da
Trofa que teve de aguardar ainda mais três anos - as carreiras de diligências
entre o Porto e Vila Nova de Famalicão iniciaram-se logo em 5 de Maio de 1852,
tendo alcançado a Cidade dos Arcebispos a 4 de Maio do ano seguinte. Enquanto
as obras desse troço final não se concluíram, os passageiros eram obrigados a
apear-se na travessia do viaduto de Arnoso, uma obra de certa envergadura, que
terá talvez justificado a colocação de um obelisco de granito - que ainda hoje
ali se encontra, na berma da EN 14 -, precisamente na fronteira entre os
concelhos de Vila Nova de Famalicão e de Braga.”
Cortesia de Lopes Cordeiro, In Jornal Público de 19 de Maio
de 2002
Sobre a EN14, que ligava o Porto a Braga, atrás referida, originalmente,
começava na EN12, no cruzamento do Amial, passando por São Mamede de Infesta e
pela Maia, sendo este troço sido desclassificado, depois da construção da via
norte.
A continuação para Braga era feita atravessando a Trofa e
Famalicão.
No dia 4 de Maio de 1853, começou a mala-posta entre Porto e
Braga. Saía às seis horas da manhã de Rua de S. Lázaro e chegava a Braga cerca
do meio-dia. Cada passageiro pagava 1440 ou 1200 reis consoante o lugar que
ocupava. Tinha 3 mudas durante o percurso. De Braga saía às 3 horas da tarde,
chegando ao Porto às 9 horas da noite. Uma pessoa poderia sair do Porto de
manhã, almoçar em Braga e regressar no mesmo dia.
Até à sua conclusão integral em 1855 (excepção da ponte da
Trofa), os passageiros tinham que apear-se em Arnoso, Famalicão, devido à
construção de um viaduto. Hoje, desse facto, resta na berma da EN 14, um
obelisco, que o assinala em 3 placas de bronze.
Obelisco de Arnoso, Famalicão - Fonte: Google maps
“Inaugurada em 1858 e
tida como uma das “mais elegantes do Reino", como escreveu Alberto
Pimental na sua obra "Santo Tirso de Riba d'Ave", a construção da
Ponte Pênsil da Trofa, como ficou oficialmente designada, eliminou
definitivamente o problema da travessia sobre o rio Ave, até então feita com
recurso à utilização de barcas.
(…) As diligências,
carruagens puxadas por duas ou três parelhas de cavalos, levavam uma média
de 6 a 7 horas na ligação Porto-Braga, incluindo o tempo gasto nas
paragens em vendas ou estalagens, que existiam ao longo do percurso Durante
esse período a travessia do Ave, era efectuada sobre uma rudimentar ponte de
madeira.
Apesar das tentativas
da população e das autoridades locais para o evitar, esta ponte foi demolida em
1934, por ser demasiado exígua e não reunir as devidas condições de segurança.
Em seu lugar iria ser construída a actual ponte de cimento armado, melhor
preparada para o intenso tráfego de uma região e um País em desenvolvimento.”
Cortesia de Jorge Paulo Oliveira
Ponte da Trofa
Ponte Pênsil da Trofa
Em 1860, a Companhia de Viação Portuense chegava a
Guimarães.
Em 28 de Setembro de 1861, seriam eleitos os diversos órgãos
de gestão da Companhia de Viação Portuense.
Preços praticados pela Companhia de Viação Portuense, em
anúncio no “Jornal do Porto”, em 30 de Setembro de 1870
Raimundo dos Santos Natividade, nasceu em Leiria, em 1838, e
faleceu no Porto, em 1890. Durante muitos anos foi um dos mais prestimosos
funcionários dos Correios, tendo a seu cargo a condução de malas (mala-posta)
entre o Porto e Coimbra.
Mais tarde, abandonou os CTT e montou uma alquilaria (casa
ou lugar onde se alugam transportes que são puxados por bestas), que instalou
nas proximidades da “Porta do Olival” antes de se fixar na sua casa da Rua
Formosa.
A alquilaria de Raimundo dos Santos Natividade, na Rua
Formosa, esteve, onde mais tarde, se instalou a “Lã Maria”, conhecida casa de
artigos para o lar.
As cavalariças eram ao fundo do terreno e ele, por hábito, estava sentado num banco, à porta do estabelecimento.
Os trens, as parelhas arreios, librés dos cocheiros estavam
sempre um primor.
O Raimundo prestava o seu serviço a Casamentos, baptizados,
funerais e passeatas.
Era um cavaleiro exímio e um negociante sabedor da raça
cavalar.
A empresa primitiva tinha a firma de Raymundo dos Santos
Natividade & Cia, passando depois a Raymundo dos Santos Natividade &
Filhos e tinha clientes de nomeada como Joaquim Cândido de Sotto-Maior, morador
na Praça Marquês do Pombal, o banqueiro Joaquim Pinto da Fonseca, Francisco José
de Araújo, entre outros, que tinham sempre de reserva os serviços da
alquilaria.
As carruagens eram puxadas, umas a parelha, outras a um só
cavalo, sendo o fardamento dos cocheiros de cor bege, ou azul-escuro, ou
verde-escuro, a dizer com a cor dos trens que quase sempre eram coupés de dois
e quatro lugares.
Quando morreu, Raimundo dos Santos Natividade, ficaram três
filhos: Raimundo, Alfredo e Manuel.
O primeiro e o último, sobre a firma de Raimundo & Irmão
continuaram a explorar a alquilaria até ao aparecimento do automóvel que acabou
com o negócio.
A carruagem da foto acima, com rodas de borracha e estofada
a seda lavrada e prateada azul-claro e branco, com as lanternas em prata e os
seus vidros com a gravação RI (Raimundo & Irmão), pertenceu a Raimundo dos
Santos Natividade, tendo acabado por servir em Lisboa.
Em 22 de Dezembro de 1899, jornais da época davam conta de
que, na alquilaria de Raimundo & Irmão, estacionavam doze magníficas
parelhas de grande luxo, seis brancas e seis castanhas, destinadas a serviços
de casamento e baptizado.
Raimundo Santos Natividade & Cia, com o serviço de
mala-posta, fez boa fortuna, assegurando a carreira da Régua e, mais tarde,
chegando a V. Real, de acordo com publicidade abaixo.
Foi empresário de Praças de Touros e um aficionado da
tauromaquia e proprietário de vastas áreas de terrenos, tendo sido, por uma que
lhe pertencia, que foi aberta a Avenida Antunes Guimarães, à Fonte da Moura.
As diligências da carreira da Régua saíam da Rua Formosa e
custavam, até Valongo, 500 reis, Baltar 800 reis, Paredes 1000 reis, Penafiel
1200 reis, Amarante 2250 reis e Régua 4500 reis; o preço de uma Libra de Ouro.
Anúncio de Raimundo Santos Natividade & Cia – Fonte:
“Jornal do Porto” em 30/07/1871
Diligência no percurso Régua até Lamego
Diligência em Valpaços
Em Dezembro de 1859, foi inaugurada uma carreira de
diligências para a Vila da Feira com partidas do Porto às Segundas, Quartas e
Sextas-feiras e das terras de Santa Maria às Terças, Quintas e Sábados.
Carreira de diligência para a Vila da Feira – Fonte: “Jornal
do porto”, em 24 de dezembro de 1859
Nesse mesmo ano, saindo da cerca do antigo convento dos
carmelitas, ia-se e vinha-se a S. Tirso, no próprio dia, pelo preço de 800 réis
por passageiro.
A estação da mala-posta para Viana do Castelo ficava
defronte da igreja dos carmelitas e pegado ao restaurante “Caldos de Galinha”, no Carmo.
Em meados da década de 1860, viajava-se diariamente para
Braga, Famalicão, Guimarães, Barcelos, Viana do Castelo e Amarante.
Informação sobre o
serviço de diligência para Caldas de Vizela e Guimarães, no “Jornal do Porto”,
em 30 de Setembro de 1871
Em 1871, a concessão atribuída pelo governo, 20 anos antes,
à Companhia de Viação Portuense, foi denunciada e a empresa extinguiu-se nesse
ano.
“O Governo de então,
considerando que a construção das estradas do Minho, um dos seus principais
objectivos, há muito que tinha sido cumprido, decidiu rescindir o contrato, o
que também implicava a cessação da exploração das carreiras de diligências e
mala-postas. Despojada da sua principal fonte de rendimentos, a Companhia de
Viação Portuense não irá sobreviver durante muito mais tempo, dissolvendo-se
ainda nesse mesmo ano, após ter vendido em hasta pública o seu escritório na
Rua de São Lázaro e todo o material de exploração: 94 cavalos, em bom estado;
14 carros ou diligências; 4 mala-postas; 2 americanas de fole; 1 coupé; 4
carros para condução de malas; 66 arreios completos; para além de muitos outros
pertences, incluindo o edifício da estação de Famalicão”.
Cortesia de Lopes Cordeiro, In Jornal Público de 19 de Maio
de 2002
A Companhia de Viação Portuense, que iniciou a sua
actividade em 1852, é substituída por nova firma no mesmo local de acordo com
anúncio abaixo, em 1871. Nascia, assim, a “Nova Companhia de Viação Portuense”.
Esta nova empresa, do "brasileiro" Gaspar Ferreira
Baltar, o "Baltar do Primeiro de Janeiro", como ele próprio se
denominava após ter fundado aquele periódico portuense acabaria, na região, por
continuar a fazer serviço de mala-posta e a exercer a actividade de aluguer de
carruagens.
Anúncio da Nova Companhia de Viação Portuense – Fonte:
“Jornal do Porto” de 08/09/1871
A par das companhias de viação, havia os estafetas ou recoveiros de que são mais
conhecidos o João Branco, com
escritório na Praça Carlos Alberto e o Sebastião
das Neves, com escritório na antiga Rua dos Ferradores que estabeleciam
ligações a Viana do Castelo, Caminha, Monção e Valença do Minho com saídas do
Porto, às Segundas, Quartas-feiras e Sábados e regresso nos mesmos dias.
Paravam junto do Restaurante Caldos de Galinha, na Praça Carlos Alberto.
Para Braga, estacionavam em vários estabelecimentos da Picaria e havia os seguintes: Jacinto Marques, António Valdigem, Manuel José Teixeira, Narciso José Marques, Francisco Mesquita e José António Santa Rita, este último na Travessa da Picaria.
Nessa época havia serviço diário de diligências para a Régua, que saíam às 18 horas, da Rua Formosa, nº 410, com paragens em Valongo, Baltar, Paredes, Penafiel, Regadas, Três Cancelas e Amarante.
Para a Lixa e Penafiel partiam da alquilaria de Bernardo Branco de Oliveira da Rua D. Pedro, nº 168, às Terças, Quintas e Sábados.
A mala-posta do Porto para Braga ou para Guimarães, partia diariamente às 17,30 horas e voltava às 23, 30 horas.
Para Braga, estacionavam em vários estabelecimentos da Picaria e havia os seguintes: Jacinto Marques, António Valdigem, Manuel José Teixeira, Narciso José Marques, Francisco Mesquita e José António Santa Rita, este último na Travessa da Picaria.
Nessa época havia serviço diário de diligências para a Régua, que saíam às 18 horas, da Rua Formosa, nº 410, com paragens em Valongo, Baltar, Paredes, Penafiel, Regadas, Três Cancelas e Amarante.
Para a Lixa e Penafiel partiam da alquilaria de Bernardo Branco de Oliveira da Rua D. Pedro, nº 168, às Terças, Quintas e Sábados.
A mala-posta do Porto para Braga ou para Guimarães, partia diariamente às 17,30 horas e voltava às 23, 30 horas.
Muitas outras alquilarias existiram espalhadas pela cidade.
Junto ao cruzamento da Avenida Rodrigues de Freitas e da Rua de S. Cosme, esteve a alquilaria Lamas, que servia, então, a vila de Gondomar.
Nas traseiras do Pátio do Paraíso, à Rua do Bonjardim, antes ainda de ele ser ocupado pelos bombeiros, eram recolhidas as diligências e trens da mala-posta, da alquilaria Albano.
Nas traseiras do Pátio do Paraíso, à Rua do Bonjardim, antes ainda de ele ser ocupado pelos bombeiros, eram recolhidas as diligências e trens da mala-posta, da alquilaria Albano.
A construção do caminho-de-ferro levou à extinção dos
serviços de mala-posta que existiam entre o Porto, Guimarães e Braga.
No que diz respeito, em particular, à ligação rodoviária
entre o Porto e Braga, diga-se que, a partir da década de 1870, começou a
fazer-se sentir a concorrência do transporte ferroviário.
Na Linha do Minho, a ligação entre a estação de Campanhã e
Nine, ficou concluída em 20 de Maio de 1875. O ramal entre Nine e Braga é
inaugurado no dia seguinte.
A partir de Maio de 1875, as cidades de Porto e Braga estão,
portanto, unidas por comboio.
A ligação ferroviária que une as cidades do Porto e Valença
(Linha do Minho) seria inaugurada, um pouco mais tarde, em 6 de Agosto de 1882.
Quanto às ligações ferroviárias para norte do Porto, com
saída pela orla costeira, em Outubro
de 1875, foi inaugurada a linha férrea do Porto à Póvoa de Varzim.
Em 19 de Dezembro
de 1876, a “Companhia do Porto à Póvoa de Varzim” foi autorizada a prolongar a
Linha até Famalicão, onde iria encontrar-se com a Linha do Minho. A construção
decorreu sem incidentes, tendo o primeiro troço, até Fontainhas, sido aberto em
7 de Agosto de 1878.
A ligação a
Famalicão foi concluída em 12 de Junho de 1881 e haveria de se estender, até
Guimarães e Fafe.
Em 14 de Janeiro de
1927, a “Companhia do Porto à Póvoa e Famalicão” foi fundida com a “Companhia
do Caminho de Ferro de Guimarães”, formando a “Companhia dos Caminhos de Ferro
do Norte de Portugal” e, em 14 de Março de 1932, seria inaugurado o percurso entre a Senhora da Hora e a Trofa.
Até 1938, a linha
do caminho-de-ferro do Porto à Póvoa de Varzim tinha a sua estação terminal na
Boavista.
A partir daí,
aberto que foi o túnel da Trindade, passou a terminar no centro da cidade.
(Continua)
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