“Este estabelecimento
data da reforma da antiga Academia da Marinha e Comércio da Cidade do Porto, a
qual, por decreto de 13 de Janeiro de 1837, passou a denominar-se Academia
Polytechnica do Porto, ampliada com maior número de cursos e, por isso mesmo, com
maior número de cadeiras, entre as quais a de Botânica, Agricultura e
Veterinária. Por esse mesmo decreto foi criado, juntamente com um Gabinete de
História Natural Industrial, Gabinete de Máquinas, Laboratorio Químico e
Oficina Metarlúrgica, um Jardim Botânico Experimental, que serviria também para
uso da Escola Medico-Cirúrgica, pertencendo a sua intendência ao lente de
Botânica, ao director da Academia e ao Conselho Académico.
“…Porém, só por
decreto de 20 d'Outubro de 1852, por ocasião da visita de S.M. a snrª D. Maria II á cidade do Porto, é
que foi concedida uma parte da cêrca do extincto convento dos carmelitas,
situado na Praça do Duque de Beja, e comprehendida no espaço que mede «78 metros pela face voltada ao sul,
128 pela face voltada a leste e 113 pela face voltada ao poente» ou
cêrca de 6.285 metros quadrados de terreno para alli se estabelecer o Jardim
Botanico, logar onde existe.
Concedido o terreno á
Academia para a organização do Jardim ou Eschola Botanica e Agricola, era
rasoavel conceder-se-lhe tambem desde logo subsidio proprio para elle;
mas não aconteceu assim, e por alguns tempos esteve o terreno inculto e
abandonado, podendo dizer-se que no periodo que decorre desde a data da
concessão até dezembro de 1864, epocha em que, debaixo d'um plano geral e
definitivo, começaram as obras necessarias para este estabelecimento, pouco ou
nenhum incremento teve o jardim.
É, pois, d'esta data
em diante que a Academia começa a receber regularmente o diminuto subsidio de
que dispoe o Jardim, elevado hoje a 240$00 reis, que este estabelecimento de
instrucção pratica começa a apresentar-se-nos sob um novo aspecto e a poder
satisfazer ao fim para que foi creado.
O terreno em declive
de norte a sul era em socalcos e os muros que os sustentavam, arruinados até
aos alicerces, não podiam com os reparos e obras d'arte proprias; foi preciso
reedifical-os todos, tornar o terreno o mais plano possivel e dar aos socalcos
que ainda ficaram, melhor e mais regular direcção.
É na verdade com muita
lentidão que téem continuado estas obras, faltando ainda, por ser mui diminuta
a respectiva dotação, entre outras obras d'arte, a construção de uma estufa,
parte essencial n'um jardim d'esta natureza, mas é de esperar, do zelo e
dedicação do conselho academico, que em breve a veremos concluida. (...)”
In, Jornal de
Horticultura Pratica, pag, 204, 1880, Porto
O antigo Jardim Botânico a que alude o texto anterior,
instituído em 1837 só teria existência prática a partir de 1852 e, em 1880,
ainda se encontrava em instalações deficientes.
Estas instalações situavam-se no terreno onde se encontra hoje
a Morgue do Porto e no terreno a ela adjacente, sendo ainda bem visível na foto
abaixo, o muro e gradeamento que dá para a Rua Clemente Menéres (antiga Praça
Duque de Beja), notando-se em destaque os pilares da entrada do jardim
ainda existentes.
Entrada do antigo Jardim Botânico na Rua Clemente Menéres
Em 1864, continuavam os trabalhos de instalação do Jardim
Botânico e, em 1867, o responsável pelo mesmo, Joaquim de Silva Vieira
deslocava-se a Lisboa pra recolher 300 espécies de plantas oferecidas pelo
Jardim da Ajuda.
De Coimbra, Braga e Aveiro chegariam outros exemplares, ao
mesmo tempo que era construída uma estufa e, no meio do jardim, um lago para
plantas aquáticas. Desenvolvendo-se o terreno afecto ao jardim Botânico num
ligeiro declive, à cota baixa seria construída a Escola Botânica.
O primeiro-oficial do jardim Joaquim da Silva Vieira haveria
de deixar o cargo em favor de Joaquim Casimiro Barbosa, em virtude de ser
chamado a exercer funções docentes no Instituto Industrial.
Jardim Botânico da Academia Polytechnica do Porto
“Havendo a
absoluta necessidade de ampliar o quartel da Guarda Municipal, o Jardim foi
deslocado em 1903 para a Cordoaria, mas por muito pouco tempo, pois a Academia
não tinha qualquer autoridade sobre esta praça, pelo que a única coisa que lhe
era permitido fazer era classificar e etiquetar as plantas lá existentes. Desta
forma, o Porto ficou privado do seu Jardim Botânico cerca de meio século.”
Fonte: “jardimbotanico.up.pt”
“Em 1802, o francês
Jean Pierre Salabert, fabricante de "chapéus finos", comprou a Quinta Grande, outrora pertencente à
Ordem de Cristo, que passou a ser conhecida como "Quinta Grande do Salabert". Após as Invasões Francesas foi confiscada pelo Estado ao seu
proprietário, tal como muitas outras propriedades de cidadãos desta
nacionalidade. Por altura da Revolução Liberal de 1820, já era propriedade de
João José da Costa e, posteriormente de Arnaldo Ribeiro Barbosa.
Em 27/2/1875, a propriedade foi adquirida à
viúva de Arnaldo Ribeiro Barbosa, D. Carolina Augusta da Costa Barbosa por João
Pereira da Silva Monteiro, "brasileiro de torna viagem", por 6 contos
de reis. Este ordenou a demolição da antiga habitação e a construção de um
palacete na então denominada Quinta
do Campo Alegre.
Tendo, porém, tido necessidade de voltar ao
Brasil, Silva Monteiro não regressou e não terminou a sua construção, pelo que
não chegou habitá-lo.
Este “brasileiro”, João Pereira da Silva
Monteiro era também dono da Quinta da Lavandeira (V.N. de Gaia) e irmão de
António, depois Conde de Silva Monteiro.
Vinte anos depois, em
1895, a Quinta passou para a posse de João Henrique Andresen Júnior e de sua
mulher, Joana Andresen, que concluíram o projecto de renovação da casa e dos
jardins.
João Andresen era
filho do homónimo industrial e comerciante de vinho do Porto, e foi avô dos
escritores Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e Ruben A. (1920-1975).
(…) A Faculdade de Ciências
da Universidade do Porto debateu-se com falta de espaço para as actividades
lectivas e de investigação logo nas primeiras décadas de funcionamento. Em
reunião do Senado Universitário de 9 de Agosto de 1937, Américo Pires de Lima,
vogal e director da FCUP, fez aprovar por unanimidade a seguinte proposta:
expor ao Governo a necessidade de aquisição da quinta que pertencera a Joana e
Henrique Andresen, para nela instalar o Jardim Botânico, o Observatório
Astronómico e um campo de jogos. Logo no mês seguinte, a U. Porto enviou ao
Ministro da Educação Nacional o pedido dos "seus bons ofícios para a
aquisição da Quinta Grande de
"Salabert", na Rua do Campo Alegre, n.ºs 757 a 771, a qual se
destinaria a Jardim Botânico e à instalação de Museus, de campos de jogos e de
cultura física da mocidade universitária".
No final do ano, o
Reitor informou os membros do Senado de que a compra da Quinta de Salabert
tinha sido aprovada pelo Governo.
Porém, apesar das
pretensões da Faculdade de Ciências, a compra da quinta permanecia por efectuar
em 1943. Por esta altura, o Director da Faculdade, em ofício dirigido ao
Reitor, exprime a sua mágoa perante o abandono a que o terreno e a moradia
tinham sido votados: "O parque, jardins e estufas estão em risco de
deterioração por falta de cuidados apropriados".
Entretanto, o
Ministério da Educação Nacional teve conhecimento de que parte da Quinta do
Campo Alegre iria ser expropriada para garantir a construção de acessos à Ponte
da Arrábida. Razão pela qual o Ministério das Obras Públicas e das Comunicações
achava não ser conveniente a compra da propriedade pela Universidade do Porto.
Mas o Ministério da Educação Nacional não abandonava o seu interesse pela Quinta:
"Este Ministério (…) reconheceu a necessidade de se dotar a Universidade
do Porto de instalações que não possui; e reconheceu também que o local mais
adequado para preencher aquelas necessidades era a Quinta do Campo Alegre. (…)
O plano de urbanização há-de ser fixado de harmonia com o interesse público; o
fim para que se pede a aquisição é também do interesse público. Na hierarquia
destes dois interesses, qual deve ficar em primeiro lugar?"
Em 1944, já é ao
Presidente da Câmara Municipal do Porto que o Reitor, António José Adriano
Rodrigues, expõe pormenorizadamente as vantagens decorrentes da compra da
Quinta do Campo Alegre.
Finalmente, em 1949, a
propriedade foi adquirida pelo Estado e no dia 7 de Janeiro do ano seguinte, a
Direcção-Geral da Fazenda Pública comunicou ao Reitor da U. Porto a autorização
da cessão, a título precário, por parte do Ministério das Finanças, "da
propriedade urbana e rústica (…) conhecida pela designação de "Quinta do
Campo Alegre", para ser aplicada a diversos fins de interesse dos serviços
[da Universidade] que, entretanto, se responsabilizará pela sua guarda e
conservação". O Auto de Cessão foi lavrado na Direcção de Finanças do
Distrito do Porto.
Para a antiga Casa
Andresen foram transferidos os herbários, a biblioteca e os gabinetes do
naturalista e auxiliares, para além do gabinete do Inspector do Jardim. A
reparação do exterior da moradia ficou a cargo da Direcção dos Edifícios
Nacionais que, entre outras intervenções, recuperou os telhados. O interior do
palacete, exposto às intempéries durante uma série de anos, foi também objecto
de obras de recuperação de grande envergadura.
A Quinta albergava um
conjunto de construções residenciais e funcionais, como a casa do antigo
proprietário, de 4 sobrados (cave, rés-do-chão, 1.º piso e águas-furtadas), as
casas do caseiro e do motorista, court de ténis, estufas, garagem, armazéns,
eiras e cortes e, ainda, um jardim de recreio, terrenos agrícolas e mata.
Em 2008, o
Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências foi transferido para novas
instalações, de igual modo no Pólo 3 da Universidade, e a casa, depois de
desocupada, começou a ser remodelada pelo arquitecto Nuno Valentim para acolher
a exposição "A Evolução de Darwin", um evento cultural integrado nas
Comemorações do I Centenário da U. Porto (2011).
Numa fase inicial, as
obras centraram-se no restauro e conservação da habitação, embora também tenham
contemplado a introdução de novos espaços, como um elevador panorâmico e uma
casa de chá e sushi, prevendo-se que fiquem concluídas com a construção da
Galeria da Biodiversidade”.
Fonte: “sigarra.up.pt”
Casa Andresen
Uma festa na Quinta do Campo Alegre
Casa Salabert – Ed. Egídio Santos
Busto de Américo Pires de Lima no jardim
O edifício da foto
acima, remanescente da Quinta do Campo Alegre e que é conhecido como Casa
Salabert, foi usado até meados da década de 80 do século passado, como casa do
guarda do Jardim Botânico. Actualmente, após profundas remodelações internas,
alberga um auditório utilizado para diferentes fins como aulas, workshops,
cursos e um “e-Learning Café – Botânico” onde os estudantes têm ao
seu dispor quatro salas equipadas para o trabalho individual ou em
grupo, bem como o acesso a 20 computadores portáteis e à internet de alta
velocidade, através da rede wireless da Universidade.
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