quinta-feira, 8 de junho de 2017

18. Jardins, Praças e Outros Lugares com História


“Este estabelecimento data da reforma da antiga Academia da Marinha e Comércio da Cidade do Porto, a qual, por decreto de 13 de Janeiro de 1837, passou a denominar-se Academia Polytechnica do Porto, ampliada com maior número de cursos e, por isso mesmo, com maior número de cadeiras, entre as quais a de Botânica, Agricultura e Veterinária. Por esse mesmo decreto foi criado, juntamente com um Gabinete de História Natural Industrial, Gabinete de Máquinas, Laboratorio Químico e Oficina Metarlúrgica, um Jardim Botânico Experimental, que serviria também para uso da Escola Medico-Cirúrgica, pertencendo a sua intendência ao lente de Botânica, ao director da Academia e ao Conselho Académico.

“…Porém, só por decreto de 20 d'Outubro de 1852, por ocasião da visita de S.M. a snrª D. Maria II á cidade do Porto, é que foi concedida uma parte da cêrca do extincto convento dos carmelitas,  situado na Praça do Duque de Beja, e comprehendida no espaço que mede «78 metros pela face voltada ao sul, 128 pela face voltada a leste e 113 pela face voltada ao poente» ou cêrca de 6.285 metros quadrados de terreno para alli se estabelecer o Jardim  Botanico, logar onde existe. 
Concedido o terreno á Academia para a organização do Jardim ou Eschola Botanica e Agricola, era rasoavel conceder-se-lhe tambem desde logo subsidio proprio para elle;  mas não aconteceu assim, e por alguns tempos esteve o terreno inculto e abandonado, podendo dizer-se que no periodo que decorre desde a data da concessão até dezembro de 1864, epocha em que, debaixo d'um plano geral e definitivo, começaram as obras necessarias para este estabelecimento, pouco ou nenhum incremento teve o jardim. 
É, pois, d'esta data em diante que a Academia começa a receber regularmente o diminuto subsidio de que dispoe o Jardim, elevado hoje a 240$00 reis, que este estabelecimento de instrucção pratica começa a apresentar-se-nos sob um novo aspecto e a poder satisfazer ao fim para que foi creado.
O terreno em declive de norte a sul era em socalcos e os muros que os sustentavam, arruinados até aos alicerces, não podiam com os reparos e obras d'arte proprias; foi preciso reedifical-os todos, tornar o terreno o mais plano possivel e dar aos socalcos que ainda ficaram, melhor e mais regular direcção.
É na verdade com muita lentidão que téem continuado estas obras, faltando ainda, por ser mui diminuta a respectiva dotação, entre outras obras d'arte, a construção de uma estufa, parte essencial n'um jardim d'esta natureza, mas é de esperar, do zelo e dedicação do conselho academico, que em breve a veremos concluida. (...)”  
In, Jornal de Horticultura Pratica, pag, 204, 1880, Porto

O antigo Jardim Botânico a que alude o texto anterior, instituído em 1837 só teria existência prática a partir de 1852 e, em 1880, ainda se encontrava em instalações deficientes.
Estas instalações situavam-se no terreno onde se encontra hoje a Morgue do Porto e no terreno a ela adjacente, sendo ainda bem visível na foto abaixo, o muro e gradeamento que dá para a Rua Clemente Menéres (antiga Praça Duque de Beja), notando-se em destaque os pilares da entrada do jardim ainda existentes.



Entrada do antigo Jardim Botânico na Rua Clemente Menéres


Em 1864, continuavam os trabalhos de instalação do Jardim Botânico e, em 1867, o responsável pelo mesmo, Joaquim de Silva Vieira deslocava-se a Lisboa pra recolher 300 espécies de plantas oferecidas pelo Jardim da Ajuda.
De Coimbra, Braga e Aveiro chegariam outros exemplares, ao mesmo tempo que era construída uma estufa e, no meio do jardim, um lago para plantas aquáticas. Desenvolvendo-se o terreno afecto ao jardim Botânico num ligeiro declive, à cota baixa seria construída a Escola Botânica.
O primeiro-oficial do jardim Joaquim da Silva Vieira haveria de deixar o cargo em favor de Joaquim Casimiro Barbosa, em virtude de ser chamado a exercer funções docentes no Instituto Industrial.



Jardim Botânico da Academia Polytechnica do Porto


“Havendo a absoluta necessidade de ampliar o quartel da Guarda Municipal, o Jardim foi deslocado em 1903 para a Cordoaria, mas por muito pouco tempo, pois a Academia não tinha qualquer autoridade sobre esta praça, pelo que a única coisa que lhe era permitido fazer era classificar e etiquetar as plantas lá existentes. Desta forma, o Porto ficou privado do seu Jardim Botânico cerca de meio século.”
Fonte: “jardimbotanico.up.pt”


“Em 1802, o francês Jean Pierre Salabert, fabricante de "chapéus finos", comprou a Quinta Grande, outrora pertencente à Ordem de Cristo, que passou a ser conhecida como "Quinta Grande do Salabert". Após as Invasões Francesas foi confiscada pelo Estado ao seu proprietário, tal como muitas outras propriedades de cidadãos desta nacionalidade. Por altura da Revolução Liberal de 1820, já era propriedade de João José da Costa e, posteriormente de Arnaldo Ribeiro Barbosa.
Em 27/2/1875, a propriedade foi adquirida à viúva de Arnaldo Ribeiro Barbosa, D. Carolina Augusta da Costa Barbosa por João Pereira da Silva Monteiro, "brasileiro de torna viagem", por 6 contos de reis. Este ordenou a demolição da antiga habitação e a construção de um palacete na então denominada Quinta do Campo Alegre.
Tendo, porém, tido necessidade de voltar ao Brasil, Silva Monteiro não regressou e não terminou a sua construção, pelo que não chegou habitá-lo.
Este “brasileiro”, João Pereira da Silva Monteiro era também dono da Quinta da Lavandeira (V.N. de Gaia) e irmão de António, depois Conde de Silva Monteiro.
Vinte anos depois, em 1895, a Quinta passou para a posse de João Henrique Andresen Júnior e de sua mulher, Joana Andresen, que concluíram o projecto de renovação da casa e dos jardins.
João Andresen era filho do homónimo industrial e comerciante de vinho do Porto, e foi avô dos escritores Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e Ruben A. (1920-1975).
(…) A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto debateu-se com falta de espaço para as actividades lectivas e de investigação logo nas primeiras décadas de funcionamento. Em reunião do Senado Universitário de 9 de Agosto de 1937, Américo Pires de Lima, vogal e director da FCUP, fez aprovar por unanimidade a seguinte proposta: expor ao Governo a necessidade de aquisição da quinta que pertencera a Joana e Henrique Andresen, para nela instalar o Jardim Botânico, o Observatório Astronómico e um campo de jogos. Logo no mês seguinte, a U. Porto enviou ao Ministro da Educação Nacional o pedido dos "seus bons ofícios para a aquisição da Quinta Grande de "Salabert", na Rua do Campo Alegre, n.ºs 757 a 771, a qual se destinaria a Jardim Botânico e à instalação de Museus, de campos de jogos e de cultura física da mocidade universitária".
No final do ano, o Reitor informou os membros do Senado de que a compra da Quinta de Salabert tinha sido aprovada pelo Governo.
Porém, apesar das pretensões da Faculdade de Ciências, a compra da quinta permanecia por efectuar em 1943. Por esta altura, o Director da Faculdade, em ofício dirigido ao Reitor, exprime a sua mágoa perante o abandono a que o terreno e a moradia tinham sido votados: "O parque, jardins e estufas estão em risco de deterioração por falta de cuidados apropriados".
Entretanto, o Ministério da Educação Nacional teve conhecimento de que parte da Quinta do Campo Alegre iria ser expropriada para garantir a construção de acessos à Ponte da Arrábida. Razão pela qual o Ministério das Obras Públicas e das Comunicações achava não ser conveniente a compra da propriedade pela Universidade do Porto. Mas o Ministério da Educação Nacional não abandonava o seu interesse pela Quinta: "Este Ministério (…) reconheceu a necessidade de se dotar a Universidade do Porto de instalações que não possui; e reconheceu também que o local mais adequado para preencher aquelas necessidades era a Quinta do Campo Alegre. (…) O plano de urbanização há-de ser fixado de harmonia com o interesse público; o fim para que se pede a aquisição é também do interesse público. Na hierarquia destes dois interesses, qual deve ficar em primeiro lugar?"
Em 1944, já é ao Presidente da Câmara Municipal do Porto que o Reitor, António José Adriano Rodrigues, expõe pormenorizadamente as vantagens decorrentes da compra da Quinta do Campo Alegre.
Finalmente, em 1949, a propriedade foi adquirida pelo Estado e no dia 7 de Janeiro do ano seguinte, a Direcção-Geral da Fazenda Pública comunicou ao Reitor da U. Porto a autorização da cessão, a título precário, por parte do Ministério das Finanças, "da propriedade urbana e rústica (…) conhecida pela designação de "Quinta do Campo Alegre", para ser aplicada a diversos fins de interesse dos serviços [da Universidade] que, entretanto, se responsabilizará pela sua guarda e conservação". O Auto de Cessão foi lavrado na Direcção de Finanças do Distrito do Porto.
Para a antiga Casa Andresen foram transferidos os herbários, a biblioteca e os gabinetes do naturalista e auxiliares, para além do gabinete do Inspector do Jardim. A reparação do exterior da moradia ficou a cargo da Direcção dos Edifícios Nacionais que, entre outras intervenções, recuperou os telhados. O interior do palacete, exposto às intempéries durante uma série de anos, foi também objecto de obras de recuperação de grande envergadura.
A Quinta albergava um conjunto de construções residenciais e funcionais, como a casa do antigo proprietário, de 4 sobrados (cave, rés-do-chão, 1.º piso e águas-furtadas), as casas do caseiro e do motorista, court de ténis, estufas, garagem, armazéns, eiras e cortes e, ainda, um jardim de recreio, terrenos agrícolas e mata.
Em 2008, o Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências foi transferido para novas instalações, de igual modo no Pólo 3 da Universidade, e a casa, depois de desocupada, começou a ser remodelada pelo arquitecto Nuno Valentim para acolher a exposição "A Evolução de Darwin", um evento cultural integrado nas Comemorações do I Centenário da U. Porto (2011).
Numa fase inicial, as obras centraram-se no restauro e conservação da habitação, embora também tenham contemplado a introdução de novos espaços, como um elevador panorâmico e uma casa de chá e sushi, prevendo-se que fiquem concluídas com a construção da Galeria da Biodiversidade”.
Fonte: “sigarra.up.pt”



Casa Andresen

Uma festa na Quinta do Campo Alegre


Casa Salabert – Ed. Egídio Santos


Busto de Américo Pires de Lima no jardim



O edifício da foto acima, remanescente da Quinta do Campo Alegre e que é conhecido como Casa Salabert, foi usado até meados da década de 80 do século passado, como casa do guarda do Jardim Botânico. Actualmente, após profundas remodelações internas, alberga um auditório utilizado para diferentes fins como aulas, workshops, cursos e um “e-Learning Café – Botânico” onde os estudantes têm ao seu dispor quatro salas equipadas para o trabalho individual ou em grupo, bem como o acesso a 20 computadores portáteis e à internet de alta velocidade, através da rede wireless da Universidade. 

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