terça-feira, 27 de junho de 2017

(Continuação 19) - Actualização em 25/03/2020



No início da década de 40 do século XX, começam as demolições do casario existente no local que viria a ser conhecido como Praça de D. Filipa de Lencastre.



Casa do tribunal da Picaria


Na foto acima, na actual Praça Filipa de Lencastre, esquina com a Rua da Picaria, está ainda a casa onde funcionou o tribunal em que Camilo foi julgado e absolvido, pela sua ligação com Ana Plácido, numa tarde, de tal tempestade que o povo dizia que “era Deus que não queria a sua condenação”.
Esta casa foi de pessoas que tinham parentesco com os viscondes de Balsemão, que viviam na Praça dos Ferradores, a actual Praça Carlos Alberto.
Era identificada, por isso, como “Casa de Maria Manuel Azevedo” ou “Casa dos Alvo Brandão”.
Hoje, o prédio está ligado à actividade da restauração.
No correr de casas baixas do século XVIII, contíguas ao antigo tribunal esteve também, em tempos, o Cabaret Primavera e na esquina com a Rua da Picaria o cabaret Trianon.
À rua que se desenvolve ainda hoje, à esquerda do edifício da foto acima e que sobe até ao Largo da Picaria, era, como hoje, a Rua da Picaria e o sítio onde se encontra aquele friso de moradias era a Travessa da Picaria que ia até à Rua do Almada.
Desembocando na Rua do Almada, vinda do Laranjal, vê-se na planta abaixo, a Rua dos Lavadouros que, antes, foi Rua de S. António dos Lavadouros.
Esta Rua de Santo António dos Lavadouros, depois, Rua dos Lavadouros, pode dizer-se que era o prolongamento da Travessa da Picaria até ao Laranjal.
Naquela Rua dos Lavadouros predominavam os vendedores de mobílias de pinho que, após a extinção da artéria, se passaram para a Rua da Picaria.
Muito perto da confluência da Rua dos Lavadouros com a Rua do Almada, existiu uma fonte concluída no ano de 1795 e que ficaria conhecida como 1ª Fonte da Rua do Almada.



Planta de George Balck de 1813, onde se vê a Rua dos Lavadouros (trajecto AB) na confluência (A) da Rua das Hortas com a Rua do Almada




Na planta acima, observa-se ainda que, a Rua da Picaria (M) corre paralela à Rua do Almada e que, esta, no seu troço inicial, partia da Rua das Hortas.
A Rua das Hortas corresponderia ao que hoje é o troço inicial da Rua do Almada, entre a Rua dos Clérigos e a Praça D. Filipa de Lencastre.



 Ao fundo da Rua da Picaria



Na foto acima obtida ao fundo da actual Rua da Picaria, observa-se a confluência da antiga Travessa da Picaria (segue pela esquerda) com a antiga Travessa da Fábrica (segue pela direita e mais à frente é, hoje, a Rua de Aviz). Ambas as travessas desapareceram e fazem actualmente parte da Praça de D. Filipa de Lencastre.
No entanto, as casas do lado esquerdo da Travessa da Picaria (na imagem) nunca chegaram a ser demolidas e constituem hoje, a frente Norte da praça, onde funcionou o tribunal que julgou Camilo.
Ao fundo da Travessa da Picaria, vê-se o prédio da garagem de "O Comércio do Porto", na Rua do Almada, que à data da foto já estava concluído.
Aliás, por consulta, mais abaixo, da planta de Telles Ferreira, pode constatar-se que o edifício da garagem de "O Comércio do Porto" e o próprio edifício do jornal “O Comércio do Porto”, na Avenida dos Aliados, ocuparam o chão por onde antes corria a Rua dos Lavadouros.
O conjunto de edifícios frontais foi totalmente demolido e agora, está aí, o miolo da praça.



Ao fundo da Rua da Picaria. Em frente a Travessa da Fábrica



Na foto acima, com exclusão do edifício dos telefones (do qual se vê um pouco, do lado direito da imagem), tudo o que é apresentado nesta foto, pelo lado esquerdo, foi demolido, assim como no lado direito, por onde foi traçada a actual Rua de Ceuta. Os espaços ocupados pelas antigas Travessa da Fábrica (em frente) e Travessa da Picaria  (invisível pela esquerda) fazem hoje parte da Praça Dona Filipa de Lencastre.



Planta da área ocupada hoje pela Praça D. Filipa de Lencastre, na planta de Telles Ferreira de 1892. Grosso modo, o edificado na área delimitada pelo polígono em destaque foi demolido para abertura da praça



Publicidade em 1934


Acima um folheto publicitário da Anglo Portuguese Telephone Cª Ltd antecessora dos TLP (Telefones de Lisboas e Porto) sita na Rua da Picaria.
Era num dos edifícios da Travessa da Picaria, que estavam instaladas a redacção, administração e oficinas do célebre jornal "Diário da Tarde" que era dirigido pelo insigne jornalista Eduardo de Sousa.
Por aqui e pela Rua dos Lavadouros, que ligava a Travessa da Picaria ao Laranjal, vendiam-se as caixas feitas de madeira de pinho muito utilizadas pelos emigrantes que iam para o Brasil para o transporte dos seus haveres. Não apenas as caixas, mas também a mo­bília de madeira de pinho era feita e ven­dida em oficinas e estabelecimentos dos La­vadouros e da Picaria.
Desapareceu há poucos anos o último estabelecimento deste género que funcionava num prédio da antiga Travessa da Picaria, já muito per­to da Rua do Almada.
Outra pequena indústria fixada nos Lavadouros era a das lousas, que compreendia: lava-louças para cozinhas; lousas para escolas (o quadro negro); reservatórios de água para uso doméstico; cabe­ceiras para sepulturas; e placas usadas na construção civil.



O antigo tribunal está lá no cimo, à esquerda da foto



No século XXI. Vista descendente da Rua do Almada no ponto onde acabava a Travessa da Picaria



Vista descendente da Rua do Almada, na década de 1930, no mesmo local da foto anterior. À direita era a Travessa da Picaria



Foto tirada da Rua Elísio de Melo. Os prédios frontais seriam demolidos para levantar a praça





Aspecto das demolições



A abertura da Praça D. Filipa de Lencastre



Nas fotos acima pode observar-se a abertura da praça. A Avenida dos Aliados, lá ao fundo, já estava traçada e com os novos edifícios.
A actual Rua de Avis era, à altura, Travessa da Rua da Fábrica. Na esquina dessa travessa com a Rua da Fábrica, ficava a Casa da Fábrica.



Casa da Fábrica, na esquina da Travessa da Fábrica com a Rua da Fábrica



Foto do fim da década de 40 do século XX



Na foto acima ainda não tinha sido aberta a Rua de Ceuta.
Ao cimo da Rua de Ceuta, ligando a Rua da Conceição com a Praça Guilherme Gomes Fernandes, está a Rua José Falcão que foi aberta há mais de 100 anos e que, começou por se chamar Rua de D. Carlos I.
A partir da implantação da República passou a ser a Rua José Falcão.
Esta personagem foi um republicano nascido em Miranda do Corvo, doutorado em Matemática, e conhecido ainda por ter sido pai do 1º governador civil do Porto, após a república.
Depois do malogrado golpe de 31 de Janeiro de 1891, para o qual muito contribuiu a sua obra “Cartilha do Povo”, José Falcão foi incumbido de reestruturar o Partido Republicano.
A rua foi aberta em terrenos da quinta da Conceição, à data nas mãos de Henrique Kendall, que os cedeu à edilidade.






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