terça-feira, 6 de junho de 2017

(Continuação 9) - Actualização em 08/05 e 23/09/2019 e 13/04/2021



Ao lugar onde se fundou este mosteiro (em frente de Miragaia, na margem esquerda do rio Douro) chamava-se até então, Vale de Amores.
Deu-se-lhe este nome, porque sendo um matagal, com árvores silvestres, era o alcoice (local de prostituição) dos moradores do Porto e Gaia. Os frades mudaram o nome para o de Vale da Piedade.
A congregação que haveria de se instalar neste local, a partir de 1569, era de monges menores da regra de S. Francisco, que receberam a "Quinta de Vale de Amores, fruto de uma doação de Braz Pereira Brandão (pagem de lança do infante D. Fernando, filho do rei D. Manuel I) e de sua mulher, Mécia da Paz, filha de Francisco da Paz. 
A Ordem de S. Francisco ficava, então, obrigada a construir na propriedade, um mosteiro e respectiva igreja de evocação a Santo António.
Durante as Invasões francesas o convento serviu de hospital de apoio ao Hospital de Santo António.
Após as lutas liberais e dos frades (eram partidários de D. Miguel) terem-no abandonado, tornou-se propriedade de António José de Castro Silva, que aí edificou, uma Fábrica de Sabão a Vapor.
Feito visconde de Santo António de Vale da Piedade, António José de Castro Silva (24 de Abril de 1788 - 23 de Outubro de 1878), por decreto de 11 de Setembro de 1855 do rei Pedro V, foi um abastado proprietário português do século XIX. Era filho de José de Castro Silva e Josefa Teresa de Castro Silva. Serviu no conselho da rainha Maria II e dos reis Pedro V e Luís I e como tenente-coronel do extinto Batalhão Nacional de Caçadores de Vila Nova de Gaia.
Em 1874, o visconde haveria de fundar, nas instalações da sua quinta, a Companhia de Lanifícios de Vale da Piedade, sociedade anónima.
O texto seguinte que nos descreve os peditórios, costumes e valores, foram baseados no livro «Peditórios, usos e costumes do Convento de Santo António do Vale da Piedade» de 1815. 



“Era uma congregação mendicante e por via disso dedicavam algum do seu tempo a pedir esmolas. Tinham uma agenda dos locais e épocas do ano onde se dirigiam.
Assim, por exemplo, em Janeiro percorriam desde o mar e toda a zona de Gaia, a Maia, terras da Feira a pedir carne de porco, milho e feijão e na 1ª semana da Quaresma pediam o azeite, embora no Porto e Amarante fosse pelos Reis.
Todo o azeite recolhido em Trás-os-Montes e Alto Douro era recolhido na Foz do Tua e trazido em rabelos. Por outro lado, os vinhos, eram pedidos entre 20 e 30 de Setembro e reunidos em Baião e Aregos. Logo após os vinhos faziam o peditório de castanha, etc. 
Os peditórios eram feitos por frades e leigos acompanhados de uma carta do Superior dirigindo-se aos párocos a pedir asilo e alimentação, rogando que os tratassem «com entranhas de piedade, como a filho de Nosso Seráfico S. Francisco, o que saberei reconhecer, e toda a comunidade, com as nossas devotas orações».
Os benfeitores dos arredores do convento costumavam oferecer orelheira de porco, pelo que esta era muito abundante nas refeições. 
«Os lavradores em outro tempo davam da melhor vontade dez alqueires de milho, que valem por exemplo 4$800 reis, do que pagam hoje 200 de côngrua, ou 1$200 de décima». 
Em certas épocas do ano faziam ofertas ano aos seus benfeitores de 1 cabeça de porco, orelheira, carneiro, velas de candeia, ovos, cebolas, leitão assado, arroz doce etc.
Eram-lhes pedidos sermões que rendiam 2$400 reis cada um mais 800 reis para o pregador. Eram muitas dezenas por ano.
Nos funerais recebiam 4$800 reis por cada velório e enterro, mas tendo música e laudes cantadas recebiam 6$400 reis.
In O Tripeiro Série VI, Ano XII.



Convento de Santo António de Vale da Piedade



Sobre o desenho acima de 1833 de J. VillaNova escreve-se no Site do Arquivo Distrital do Porto:

“Desenho de Joaquim Cardoso Vitória Villanova, de 1833, da fachada principal da igreja do extinto convento de Santo António de Vale de Piedade fundado no ano de 1569, pelos monges menores da regra de S. Francisco. Situava-se a poente de Gaia e a sua cerca marginava com o rio Douro. O convento era pequeno, mas a igreja e claustro eram de boa construção.
Até 1832 todos os barcos que, de Valbom, iam ao mar eram benzidos por um monge do mesmo convento pelo que, no seu regresso, todos os chefes das companhias ofertavam o melhor peixe a Santo António.
Na luta do cerco do Porto, foi este convento abandonado e, seguidamente, ocupado por tropas de D. Miguel; todavia, no dia 17 de Dezembro de 1832, atravessaram o rio Douro algumas tropas liberais com tenções de desalojar do edifício do convento as tropas ocupantes. Sucedeu, porém, acudirem numerosas tropas miguelistas, que obrigaram os liberais a retirar-se; mas, antes de o fazer, deitaram o fogo à igreja e convento, acto desvairado que foi muito censurado por D. Pedro. As ruínas e cerca do convento foram compradas por António José de Castro Silva, que, em 11 de Setembro de 1855, foi agraciado com o título de Visconde de Vale de Piedade”. 



Desenho do Barão de Forrester publicado em 1835



Os frades construíram a igreja sem torre. A entrada fazia-se por um cais do Rio Douro, onde estavam colocados 2 sinos para avisar das cerimónias. Tinha um jardim muito bem tratado, tendo à entrada as figuras de Santo António e S. Francisco. A concorrência à missa dominical era muito numerosa e no final os crentes podiam deleitar-se passeando pelos belos jardins. 
Almeida Garrett, no seu livro “Arco de Santana” escreve: 

“ Eu ainda me lembra, e era bem pequeno, das tardes da trezena do santo em que aquela linda cerca parecia o jardim Kensington ou o das Tolherias, de povoada que se fazia pelas mais belas e elegantes damas da cidade, por um concurso imenso de todas as classes e idades; naqueles 13 dias o Vale da Piedade tornava a ser o Vale de Amores. 
Seria o melhor passeio público, que o Porto poderia ter, e a rivalizaria com os primeiros do mundo, se nisso o tivessem convertido: deixava de ser Vale da Piedade e tornava a ser o Vale de Amores”. 


Em O Tripeiro Volume 1 de Julho de 1908 encontrámos o seguinte texto: 

“Demolição para saudades – Está sendo demolida a Igreja de Santo António de Vale da Piedade. Esta igreja achava-se com a abóbada abatida e sem os ornatos, desde que foi incendiada no tempo do cerco. Era uma edificação, se não de grande merecimento artístico, clássico, pelo seu local o segundo templo de Villa Nova e sem outros na visinhança. É mais uma providência que attesta tristemente da superintendência do Governo Civil no aproveitamento dos edifícios nacionais.- Periódico dos Pobres, 27/5/1845”. 


No Elucidário do Viajante no Porto pela pena de Francisco Ferreira Barbosa, Coimbra 1864, escrevia-se a propósito da brévia (local de retiro e repouso) que os frades tinham na Cordoaria:

“Os frades tinham na cidade o seu hospício na Cordoaria, hoje Campo dos Martyres da Pátria, aonde hoje é o hospício dos expostos ou abandonados, d'antes roda dos enjeitados, defronte da igreja de S. José das Taypas, ou Almas."



Hoje, é este o edifício que substituiu a igreja e mosteiro




Edifício actual onde esteve o convento de Vale da Piedade 



Nos anos 60, do século passado, a quinta onde esteve o convento pertencia à família do Dr. Leopoldo Mourão.







Em 1679, foi fundada a Congregação de Nossa Senhora da Conceição de Oliveira do Douro, pelo padre António Leite de Albuquerque, com o nome oficial de "Congregação de Nossa Senhora da Conceição da Ordem Terceira de São Francisco de Oliveira". As Ordens Terceiras são associações de leigos católicos.
Em 1681, entravam os primeiros irmãos.
Em 20 de Novembro de 1688, por Patente do Ministro Provincial, frei João da Apresentação a congregação foi aceite à obediência da Província de Portugal. 
Esta congregação além do convento de Nossa Senhora da Conceição de Oliveira do Douro teve no Porto um hospício situado na Rua das Flores e, nesta rua, a Congregação extraía um importante rendimento de casas que aí possuía.
Depois de obter licença para construir um hospital numa sua propriedade, em Oliveira do Douro, o fundador desta congregação formou, aí, uma comunidade de Terceiros que atendia pobres e entrevados. Inicialmente, dependia do Comissário da Fraternidade da Ordem Terceira do Porto, passando depois a obedecer ao guardião do Convento de São Francisco da mesma cidade. 
Importa distinguir os cônegos regulares dos seculares. Os primeiros, são os que vivem em comunidade, fazendo os três votos: de castidade, pobreza e obediência. Os seculares são os que vivem no mundo, servindo numa igreja catedral ou numa igreja colegial. Mas, tanto os regulares como os seculares são sacerdotes dedicados à celebração do Ofício Divino numa igreja determinada.



“A Congregação de Nossa Senhora da Conceição foi instituída por D. António Leite de Albuquerque em 1679, na quinta rural da família, na freguesia de Santa Eulália de Oliveira em Vila Nova de Gaia. A comunidade, sob Regra da Ordem Terceira de S. Francisco, dotada dos bens do fundador e sob protecção régia propõe uma vida religiosa afastada do mundo. Dedicada à oração e exercícios espirituais, vocacionada para o acolhimento de sacerdotes doentes ou desvalidos do bispado do Porto constitui-se como obra ao serviço de Deus e salvação da alma do seu fundador.
(…) D. António Leite de Albuquerque (1632-1698) era filho de António do Amaral Albuquerque, que foi vereador na Câmara do Porto e de D. Maria Pereira Leite, parente de D. Nicolau Monteiro, moradores na Rua das Flores. Fez carreira eclesiástica em Évora, como Beneficiado (1670), em época de intensa actividade inquisitorial e na Sé de Faro, como Cónego. Regressado ao Porto por morte de seu irmão, João de Amaral de Albuquerque que seguira a carreira das armas é nomeado por D. Nicolau Monteiro (bispo de 1671-1672) Visitador Geral do Bispado.
D. António, que fora Ministro da Ordem Terceira Secular de S. Francisco da Cidade do Porto (1677) toma para si o projecto de edificar um Hospital, que os Terceiros do Porto por falta de recursos não concretizam. Apenas em 1686 seria ali construído o Recolhimento de Santa Isabel Rainha da Hungria, sendo co-fundadora e benemérita sua irmã, D. Isabel de Albuquerque.
Concebe uma comunidade instalada na quinta herdada dos pais, sob os Estatutos e Regra da Ordem Terceira de S. Francisco do Porto, em obediência ao Provincial de S. Francisco da Observância”.
Com a devida vénia a Susana Maria Simões Moncóvio




Igreja da Quinta dos Frades




Quinta dos Frades



 “A fachada da igreja encontrava-se ligada às antigas dependências conventuais, por um lado, e por outro à torre sineira. A arquitectura chã marca todo o edifício, e a frontaria do templo apresenta uma arcaria que antecede o portal. Sobre esta, rasgam-se as janelas do coro, de moldura rectilínea, e o frontão triangular com óculo central. Dois pináculos laterais marcam os cunhais, e uma cruz ergue-se sobre o frontão. 
Do interior, restam ainda alguns elementos que testemunham a antiga decoração do templo em talha dourada, principalmente ao nível da capela-mor e do seu retábulo.
Com a extinção das ordens religiosas, a Quinta foi adquirida por Marcelino Máximo de Azevedo e Melo (1794-1853), primeiro visconde de Oliveira do Douro, que desempenhou, entre outros, o cargo de Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda. Foi sepultado na igreja do mosteiro, em 1853. A propriedade manteve-se, depois, na posse desta mesma família”. 
Com a devida vénia a Rosário Carvalho



“A igreja é de planta retangular composta por nave antecedida por galilé e capela-mor mais estreita, esta com cobertura em falsa abóbada de berço de estuque, intensamente iluminada pelos vãos da fachada principal e lateral. Fachadas com cunhais apilastrados, coroados por pináculos. Fachada principal com remate em frontão triangular, acedendo-se à galilé por triplo arco de volta perfeita, tendo no interior o portal axial, de verga reta encimada por decoração, e janelas laterais. Sobre a galilé, abrem-se janelas retilíneas e, no tímpano, um óculo. No lado direito, dispõe-se torre sineira, construída em 1747, de dois registos separados por friso e cornija, tendo no superior sineira, na frontaria duas sineiras, em arco de volta perfeita, e remate simples em friso, cornija e pináculos. Interior com coro-alto em arco abatido, capela lateral profunda e arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras toscanas, encimado por nicho. Capela-mor com vestígios de pintura mural nas paredes e cantarias, e amplo nicho para albergar o retábulo-mor Do convento subsiste corpo retangular na fachada posterior da igreja, onde se localizava o refeitório setecentista, com fachadas de dois pisos, regularmente rasgadas por vãos retilíneos, correspondendo no segundo piso a janelas de sacada. No exterior de um dos portões da quinta, conserva o pavimento em lajes mandado executar em finais do séc. 18, pelo Rev. Superior Manuel de São José Oliveira”.
Fonte site: “monumentos.pt/”



Em 1834, no âmbito da "Reforma Geral Eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo. 
Com a extinção das ordens religiosas, a quinta de Oliveira do Douro foi adquirida por Marcelino Máximo de Azevedo e Melo (1794-1853), primeiro visconde de Oliveira do Douro, que desempenhou, entre outros, o cargo de Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e de Juiz Ordinário no Concelho de Gaia e ainda, presidente da Câmara de Gaia em 1839 e 1840. Foi sepultado na igreja do mosteiro, em 1853. 
A propriedade foi-se mantendo na posse desta família na posse desta mesma família. 



Capela-mor em 2004 – Ed. Susana Maria Simões Moncóvio



No início do século XX, já estava na posse do visconde d’Oliveira, conselheiro Manuel Maria da Costa Leite, que foi director da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
A quinta passaria, depois, para a posse de Gaspar da Costa Leite, filho do visconde d’Oliveira.
Na década de 1950, já eram os filhos de Gaspar da Costa Leite a deter a sua posse.
Então, fizeram o arrendamento (pagamento de “12 contos e vinho a meias”) da propriedade, a um afilhado de seu pai, que lá se estabeleceu com a sua família.
A propriedade era adornada com um lago artificial e fontanários com bicas que faziam brotar a água fresca da mina; também havia belas cameleiras e diversas árvores de fruto.
O vinho americano, lá produzido, tinha fama na região.
Assim, elementos naturais e artificiais atraíam à Quinta d’Oliveira,  muitos visitantes.
Na segunda metade do século XX era usual, ao Domingo, organizarem-se excursões a partir da Ribeira do Porto, para visitar a quinta.
Os excursionistas juntavam-se no adro da Igreja dos Frades, ainda fora da quinta, mas não perdiam a oportunidade de obter a respectiva autorização para nela entrar.
Acontece que, a tradição já vinha do século anterior, pois Ramalho Ortigão descreve essas excursões nas "Farpas".


Aos domingos de Verão, o picheleiro do Souto, o guarda-soleiro da Bainharia, o ourives ou o mercador de panos da Rua das Flores, ia com o romper do dia à missa das almas a S. Francisco ou aos Congregados; comprava depois o melão, a melancia e as laranjas na Feira do Anjo, e, às seis horas da manhã, na frescura aquática do Cais da Ribeira, embarcava com a família em barco de toldo para a Oliveira, para Avintes ou para Quebrantões”.
Ramalho Ortigão, In Farpas IV


Na década de 1980, os túmulos da igreja foram vandalizados.
Lá se encontravam os restos mortais do fundador da Congregação de Nossa Senhora da Conceição, D. António Leite de Albuquerque e de Marcelino Máximo de Azevedo e Melo, o 1º Visconde de Oliveira do Douro, que foi um dos fundadores do Banco de Portugal.
Depois de passar pela posse do, também, proprietário da Quinta da Paradela, em Pedroso, V. N. de Gaia, hoje, a Quinta dos Frades pertence ao grupo Yeatman.




Cronologia

“1632 - construção de uma capela na quinta em Oliveira do Douro; 14 julho - o bispo D. João de Valadares autoriza a celebração de missa e outros atos na capela da quinta; 1652, 12 junho - data do nascimento de António Leite de Albuquerque, filho de António do Amaral Albuquerque e de D. Maria Pereira Leite, fidalgos naturais do Porto, o qual mais tarde segue a carreira eclesiástica; posteriormente, regressa a Portugal, devido à morte de seu irmão João de Albuquerque, e passa a viver recolhido na quinta; o bispo D. Nicolau, seu primo nomeia D. António de Albuquerque Visitador Geral do Bispado; este resolve fundar uma Congregação para recolher todos os sacerdotes pobres e inabitados, elaborando para tal os respectivos estatutos e doando todos os seus bens à nova Congregação; 1679, 15 dezembro - data da colocação da primeira pedra para construção do recolhimento, anexo à capela já existente na sua quinta; 1681, 27 julho - alvará de D. Pedro II aprova os estatutos da Congregação e o seu hospital; 1682, 22 setembro - entra no hospital o primeiro doente, o reverendo Jerónimo Goulão dos Santos, para ser tratado dos achaques; a congregação, tendo inicialmente 8 clérigos residentes, resolve adquirir, em homenagem ao seu fundador, uma imagem de Santo António e dar essa invocação à capela onde se celebra diariamente missa; 1684, 12 janeiro - D. António de Albuquerque manda tocar os sinos da capela, convocando os freires para uma reunião do Capítulo, para se proceder à eleição trienal para os pelouros da comunidade; o fundador é nomeado diretor perpétuo da comunidade; 07 março - D. António de Albuquerque preside à cerimónia do lançamento da primeira pedra da capela atual, tendo-se aproveitado para altar a antiga capelinha de Santo António; 1688, 25 janeiro - confirmação da nomeação de D. António de Albuquerque como director perpétuo da comunidade pelo Núncio Apostólico; 1689, 11 junho - alvará de D Pedro II concede um auxílio de 400$000 à comunidade; posteriormente, por meio de outro alvará, o rei concede mais 50$000;(…)
(…) 1976 - despacho de classificação com homologação superior de Imóvel de Interesse Público; 1980 - novo despacho de classificação com homologação superior de Imóvel de Interesse Público; 1984 - é adquirido pela GAF, Ltd.; 1985, Março - novo Despacho de classificação com homologação superior de Imóvel de Interesse Público”.
Fonte, site: “monumentos.pt”




“O Mosteiro de São Domingos das Donas de Vila Nova de Gaia, também referido como Convento de Corpus Christi e Instituto do Bom Pastor, localiza-se junto ao Cais de Gaia, na freguesia de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia.
O mosteiro foi fundado em 1345 por D. Maria Mendes Petite, uma fidalga de Gaia, filha de Soeiro Mendes Petite, viúva do trovador dionisino Estevão Coelho, e mãe de Pero Coelho, um dos responsáveis pelo assassínio de D. Inês de Castro. A família estava ligada à fundação do poderoso Mosteiro de Grijó.
A fundadora dedicou o mosteiro ao Augusto Sacramento da Eucaristia, dotou-o de avultados bens e entregou-o à Ordem de São Domingos, filiando-se no Mosteiro de São Domingos das Donas de Santarém. Um conflito jurídico com o Bispo do Porto, que à época se opôs à sua fundação, provocou atraso significativo na abertura do mosteiro, o que veio a acontecer apenas em 1354.
A primitiva igreja do convento sofreu uma degradação gradual devido às cheias do rio Douro (junto ao qual se localizava), o que levou à edificação de um novo templo, cujas obras tiveram início na segunda metade do século XVII com traça do padre Pantaleão da Rocha de Magalhães (responsável por várias obras no Porto e arredores), seguindo o modelo do templo lisboeta do Mosteiro do Bom Sucesso de Santa Maria de Belém, pertencente à mesma ordem, e ajustado, nos coros, ao local e às necessidades da congregação, por Gregório Fernandes.
Já no século XVIII foi construída a fachada em estilo barroco que antecede o portal da igreja, e onde é patente a influência de Nicolau Nasoni.
As funções conventuais extinguiram-se em 1894 com a morte da última freira, Marcelina Cândida Viana.
Em 1930, o edifício foi entregue às irmãs do Instituto do Bom Pastor que criaram um Instituto Feminino de Educação e Regeneração. O aumento das internadas levou à construção, em 1940, da ala poente do convento, de arquitetura tipicamente do Estado Novo e que se desenvolveu tendo por referência o primitivo claustro.
No início da década de 1990, tendo-se retirado as religiosas, foi o conjunto entregue à Ordem Soberana e Militar de Malta, que através da Fundação Frei Manuel Pinto da Fonseca, continuou a afirmar o antigo convento como centro de apostolado.
Revertendo para a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia em 2003, o convento sofreu recentes obras de remodelação, albergando agora um espaço cultural - o Espaço Corpus Christi - e ainda um pólo de mestrado da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto”.
Cortesia da C. M. Vila Nova de Gaia



Tudo parece indicar, para alguém que visite o convento, que a edificação da fachada deve ter sido posterior à sua edificação, o que estará de acordo com o anterior texto.
Para além disso, a construção do templo que substituiria o primitivo, que o texto anterior diz ser, com traço de Pantaleão da Rocha, foi erguido com as pedras de teracenas que lhe eram próximas.
As teracenas eram estruturas cobertas onde se procedia à construção e reparação de navios que, ao contrário dos estaleiros navais, descobertos, tinham as mesmas funções.


“Assim, para o autor, a única base documental sólida que possuímos da existência destas estruturas remontam ao século XVI. Deste século vem-nos também a única descrição que delas existe, elaborada pelo procurador real Francisco Dias: «da banda de Vila Nova estão umas outo casas armadas sobre arcos, muito compridas: afirma-se que se fizeram para ali meterem galés em tempo de inverno e bem parece ser para esse efeito; e porque isto é muito antigo, serve agora uma parte delas para se matarem e fazerem as carnes de el-rei para suas armadas.
A estas estruturas se chamava num documento de 1620 «tarracenas de el-rei» e quase um século depois, ainda em 1703 ainda eram as «teracenas de sua Majestade», não obstante um alvará régio de 1675 ter feito já doação da pedra dos seus arcos às freiras de Corpus Christi para reedificarem a igreja. Em 1758, o que restava destas estruturas era apenas «um lugar emparedado e fechado» que somente era utilizado «para recolher as madeiras e fábrica real». Não admira, portanto, que pouco tempo depois, em 1760, se tenha doado o terreno ao brigadeiro João de Almada. Há igualmente uma referência à Quinta das Taracenas ainda no século XVII, cujo proprietário - Manuel Teixeira da Costa - vendeu quando foi para o Brasil.”
Cortesia de Nuno Cruz, “aportanobre.blogs.sapo.pt”



Viaje de Cosme de Médicis por España y Portugal (1668-1669) Ilustrações Pier Maria Baldi



Da gravura acima, em que nos é apresentada uma panorâmica da cidade do Porto, a partir de V. N. de Gaia, é possível fazer uma ampliação do canto inferior esquerdo, apresentada a seguir.



À esquerda da gravura, observa-se, talvez, o que resta duma teracena



A ampliação da gravura de Baldi permite colocar em destaque uma estrutura cercada por parede em arcos, sensivelmente sobre o canto inferior esquerdo, no local onde hoje está o convento Corpus Christi. Será, talvez, o que resta das teracenas de sua Majestade.
Relativamente ao que hoje se constata, as instalações primitivas do convento e da igreja estavam situadas mais próximas da margem do rio, pelo que, houve a necessidade de recuá-las, devido às inundações frequentes.
A panorâmica de Baldi é obtida a partir de Vila Nova sobre o Porto, observando-se da esquerda para a direita, Massarelos, a Torre da Marca, Monchique, Miragaia e a muralha a poente da cidade (com o seu baluarte), a Ribeira e a Sé.
Num muro em pedra, na Rua das Sete Passadas, delimitando um terreno adjacente ao convento Corpus Christi, é possível observar nesse muro, algo que faz adivinhar um aproveitamento de anterior construção, em que sobressaem uns arcos, que fariam, por certo, parte das antigas teracenas aí existentes.



Restos de um arco em pedra em muro adjacente ao convento de Corpus Christi na marginal de V. N. de Gaia – Ed. Graça Correia



Na década de 20 do século passado o Convento de Corpus Christi foi alvo de um incêndio que o destruiu em parte.



Ruínas do convento após o incêndio



Convento Corpus Christi



Fachada lateral do convento de Corpus Christi em 1939



Na foto acima observa-se a:

“Lateral do Convento na antiga calçada das freiras, hoje Rua de Serpa Pinto. Os carris são do elevador usado para levar os barris de vinho do Porto dos armazéns e do cais da Cruz para a estação das Devezas. Um projecto de 1873 da autoria Raul Mesnier de Ponsard. O elevador era puxado por uma locomotiva que utilizava uma cremalheira para subir a íngreme calçada das Freiras”.
Com a devida vénia a Rui Cunha

Fachada da igreja do Convento Corpus Christi 



Muitas personalidades históricas poderão ser referenciadas com ligação ao convento de Corpus Christi, relevando, entre elas, a de Fernão de Magalhães.
Amândio Barros, professor da Faculdade de Letras do Porto e especialista em História Marítima, na sua obra “A Naturalidade de Fernão de Magalhães Revisitada” realça e prova, que Ponte da Barca é o local de nascimento do navegador e assinala, ainda, a ligação dele à cidade do Porto.
Entre outros factos, provando esta ligação, o historiador dá conta de que o navegador antes de encetar a viagem de circum-navegação em 1519, e durante a qual pereceu numa ilha do Pacífico, a caminho das ilhas Molucas, em 1521, faria o seu testamento e nele exarou uma doação a favor do convento de "santo domyngo de las dueñas de la ciudad del puerto" que se referirá, por certo, ao convento de S. Domingo das Donas do Porto, ou seja, o convento do século XIV, que hoje se chama do Corpus Christi, situado em V. N. de Gaia.
Parece não haver também dúvidas, de que bem junto ao convento, os pais de Fernão de Magalhães tinham uma quinta onde habitavam, sendo foreiros ao Cabido da Sé do Porto.
Fernão de Magalhães teria passado, por herança dos pais, a ser administrador daquela quinta.
Parece também haver provas de que o navegador teria duas irmãs como religiosas no convento.
A primeira ida ao oriente, de Fernão de Magalhães, foi feita, integrado na armada de D. Francisco de Almeida, primeiro vice-rei, em 1505, tendo por lá ficado 8 anos.
Encontra-se aqui, também, a arca tumular de Álvaro de Cernache, alferes da bandeira da Ala dos Namorados na Batalha de Aljubarrota e a de D. Leonor de Alvim que fez um 2º casamento com D. Nuno Álvares Pereira e morreu no Porto, onde vivia, ao dar à luz a única filha dessa casa, D. Beatriz Pereira de Alvim. 
Em 1 de Novembro de 1401, Beatriz casou em Frielas com D. Afonso, filho ilegítimo do Rei D. João I e de Inês Pires Esteves e futuro Duque de Bragança.
Também neste convento se realizavam, em dias de grande festa, os chamados Outeiros, em que convidados e conhecidos mostravam às meninas recolhidas e freiras os seus dotes de improvisação poética.
Após graças e boa disposição, era servida pelas freiras uma refeição com os melhores doces da casa que, habitualmente, eram conhecidos como os melhores da cidade.
Em 1848, houve um Outeiro neste convento onde o campeão destas sessões de poesia de improviso, o poeta satírico Faustino Xavier de Novais foi concorrer.
Tinha ido num velho carroção. À entrada, declama para as grades do convento onde estavam as freiras.
 
 
 
 


(Continua)

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