Ao lugar onde se fundou este mosteiro (em frente de Miragaia, na margem
esquerda do rio Douro) chamava-se até então, Vale de Amores.
Deu-se-lhe este nome, porque sendo um matagal, com árvores silvestres,
era o alcoice (local de prostituição) dos moradores do Porto e Gaia. Os frades
mudaram o nome para o de Vale da Piedade.
A congregação que haveria de se instalar neste local, a partir de 1569, era de monges menores da regra de S. Francisco, que receberam a "Quinta de Vale de Amores, fruto de uma doação de Braz Pereira Brandão (pagem de lança do infante D. Fernando, filho do rei D. Manuel I) e de sua mulher, Mécia da Paz, filha de Francisco da Paz.
A Ordem de S. Francisco ficava, então, obrigada a construir na propriedade, um mosteiro e respectiva igreja de evocação a Santo António.
Durante as Invasões
francesas o convento serviu de hospital de apoio ao Hospital de Santo António.
Após as lutas
liberais e dos frades (eram partidários de D. Miguel) terem-no abandonado,
tornou-se propriedade de António José de Castro Silva, que aí edificou, uma
Fábrica de Sabão a Vapor.
Feito visconde de
Santo António de Vale da Piedade, António José de Castro Silva (24 de Abril de
1788 - 23 de Outubro de 1878), por decreto de 11 de Setembro de 1855 do rei
Pedro V, foi um abastado proprietário português do século XIX. Era filho de
José de Castro Silva e Josefa Teresa de Castro Silva. Serviu no conselho da
rainha Maria II e dos reis Pedro V e Luís I e como tenente-coronel do extinto
Batalhão Nacional de Caçadores de Vila Nova de Gaia.
Em 1874, o visconde
haveria de fundar, nas instalações da sua quinta, a Companhia de Lanifícios de
Vale da Piedade, sociedade anónima.
O texto seguinte que
nos descreve os peditórios, costumes e valores, foram baseados no livro «Peditórios, usos e costumes do Convento de
Santo António do Vale da Piedade» de 1815.
“Era uma congregação
mendicante e por via disso dedicavam algum do seu tempo a pedir esmolas. Tinham
uma agenda dos locais e épocas do ano onde se dirigiam.
Assim, por exemplo, em
Janeiro percorriam desde o mar e toda a zona de Gaia, a Maia, terras da Feira a
pedir carne de porco, milho e feijão e na 1ª semana da Quaresma pediam o
azeite, embora no Porto e Amarante fosse pelos Reis.
Todo o azeite
recolhido em Trás-os-Montes e Alto Douro era recolhido na Foz do Tua e trazido
em rabelos. Por outro lado, os vinhos, eram pedidos entre 20 e 30 de Setembro e
reunidos em Baião e Aregos. Logo após os vinhos faziam o peditório de castanha,
etc.
Os peditórios eram
feitos por frades e leigos acompanhados de uma carta do Superior dirigindo-se
aos párocos a pedir asilo e alimentação, rogando que os tratassem «com entranhas de piedade, como a filho de
Nosso Seráfico S. Francisco, o que saberei reconhecer, e toda a comunidade, com
as nossas devotas orações».
Os benfeitores dos
arredores do convento costumavam oferecer orelheira de porco, pelo que esta era
muito abundante nas refeições.
«Os lavradores em outro tempo davam da melhor vontade dez
alqueires de milho, que valem por exemplo 4$800 reis, do que pagam hoje 200 de
côngrua, ou 1$200 de décima».
Em certas épocas do
ano faziam ofertas ano aos seus benfeitores de 1 cabeça de porco, orelheira,
carneiro, velas de candeia, ovos, cebolas, leitão assado, arroz doce etc.
Eram-lhes pedidos
sermões que rendiam 2$400 reis cada um mais 800 reis para o pregador. Eram
muitas dezenas por ano.
Nos funerais recebiam
4$800 reis por cada velório e enterro, mas tendo música e laudes cantadas
recebiam 6$400 reis.
In O Tripeiro Série VI, Ano XII.
Convento de Santo António de Vale da Piedade
Sobre o desenho acima de 1833 de J. VillaNova escreve-se no Site do Arquivo Distrital do Porto:
“Desenho de
Joaquim Cardoso Vitória Villanova, de 1833, da fachada principal da igreja do
extinto convento de Santo António de Vale de Piedade fundado no ano de 1569,
pelos monges menores da regra de S. Francisco. Situava-se a poente de Gaia e a
sua cerca marginava com o rio Douro. O convento era pequeno, mas a igreja e
claustro eram de boa construção.
Até 1832 todos os
barcos que, de Valbom, iam ao mar eram benzidos por um monge do mesmo convento
pelo que, no seu regresso, todos os chefes das companhias ofertavam o melhor
peixe a Santo António.
Na luta do cerco
do Porto, foi este convento abandonado e, seguidamente, ocupado por tropas de
D. Miguel; todavia, no dia 17 de Dezembro de 1832, atravessaram o rio Douro
algumas tropas liberais com tenções de desalojar do edifício do convento as
tropas ocupantes. Sucedeu, porém, acudirem numerosas tropas miguelistas, que obrigaram
os liberais a retirar-se; mas, antes de o fazer, deitaram o fogo à igreja e
convento, acto desvairado que foi muito censurado por D. Pedro. As ruínas e
cerca do convento foram compradas por António José de Castro Silva, que, em 11
de Setembro de 1855, foi agraciado com o título de Visconde de Vale de
Piedade”.
Desenho do Barão de Forrester publicado em 1835
Os frades
construíram a igreja sem torre. A entrada fazia-se por um cais do Rio Douro,
onde estavam colocados 2 sinos para avisar das cerimónias. Tinha um jardim
muito bem tratado, tendo à entrada as figuras de Santo António e S. Francisco.
A concorrência à missa dominical era muito numerosa e no final os crentes
podiam deleitar-se passeando pelos belos jardins.
Almeida Garrett, no
seu livro “Arco de Santana” escreve:
“ Eu ainda me
lembra, e era bem pequeno, das tardes da trezena do santo em que aquela linda
cerca parecia o jardim Kensington ou o das Tolherias, de povoada que se fazia
pelas mais belas e elegantes damas da cidade, por um concurso imenso de todas
as classes e idades; naqueles 13 dias o Vale da Piedade tornava a ser o Vale de
Amores.
Seria o melhor
passeio público, que o Porto poderia ter, e a rivalizaria com os primeiros do
mundo, se nisso o tivessem convertido: deixava de ser Vale da Piedade e tornava
a ser o Vale de Amores”.
Em O Tripeiro Volume
1 de Julho de 1908 encontrámos o seguinte texto:
“Demolição para
saudades – Está sendo demolida a Igreja de Santo António de Vale da Piedade.
Esta igreja achava-se com a abóbada abatida e sem os ornatos, desde que foi
incendiada no tempo do cerco. Era uma edificação, se não de grande merecimento
artístico, clássico, pelo seu local o segundo templo de Villa Nova e sem outros
na visinhança. É mais uma providência que attesta tristemente da
superintendência do Governo Civil no aproveitamento dos edifícios nacionais.-
Periódico dos Pobres, 27/5/1845”.
No Elucidário do
Viajante no Porto pela pena de Francisco Ferreira Barbosa, Coimbra 1864,
escrevia-se a propósito da brévia (local de retiro e repouso) que os frades
tinham na Cordoaria:
“Os frades tinham
na cidade o seu hospício na Cordoaria, hoje Campo dos Martyres da Pátria, aonde
hoje é o hospício dos expostos ou abandonados, d'antes roda dos enjeitados,
defronte da igreja de S. José das Taypas, ou Almas."
Hoje, é este o edifício que substituiu a igreja e mosteiro
Edifício actual onde esteve o convento de Vale da Piedade
Nos anos 60, do século passado, a quinta onde esteve o
convento pertencia à família do Dr. Leopoldo Mourão.
17.15 Convento da Senhora da
Conceição/ Quinta dos Frades/ Quinta d'Oliveira
Em 1679, foi fundada a Congregação de Nossa Senhora da
Conceição de Oliveira do Douro, pelo padre António Leite de Albuquerque, com o
nome oficial de "Congregação de Nossa Senhora da Conceição da Ordem
Terceira de São Francisco de Oliveira". As Ordens Terceiras são
associações de leigos católicos.
Em 1681, entravam os primeiros irmãos.
Em 20 de Novembro de 1688, por Patente do Ministro
Provincial, frei João da Apresentação a congregação foi aceite à obediência da
Província de Portugal.
Esta congregação além do convento de Nossa Senhora da
Conceição de Oliveira do Douro teve no Porto um hospício situado na Rua das
Flores e, nesta rua, a Congregação extraía um importante rendimento de casas
que aí possuía.
Depois de obter licença para construir um hospital numa sua
propriedade, em Oliveira do Douro, o fundador desta congregação formou, aí, uma
comunidade de Terceiros que atendia pobres e entrevados. Inicialmente, dependia
do Comissário da Fraternidade da Ordem Terceira do Porto, passando depois a
obedecer ao guardião do Convento de São Francisco da mesma cidade.
Importa distinguir os cônegos regulares dos seculares. Os primeiros,
são os que vivem em comunidade, fazendo os três votos: de castidade, pobreza e
obediência. Os seculares são os que vivem no mundo, servindo numa igreja
catedral ou numa igreja colegial. Mas, tanto os regulares como os seculares são
sacerdotes dedicados à celebração do Ofício Divino numa igreja determinada.
“A Congregação de
Nossa Senhora da Conceição foi instituída por D. António Leite de Albuquerque
em 1679, na quinta rural da família, na freguesia de Santa Eulália de Oliveira
em Vila Nova de Gaia. A comunidade, sob Regra da Ordem Terceira de S.
Francisco, dotada dos bens do fundador e sob protecção régia propõe uma vida
religiosa afastada do mundo. Dedicada à oração e exercícios espirituais,
vocacionada para o acolhimento de sacerdotes doentes ou desvalidos do bispado
do Porto constitui-se como obra ao serviço de Deus e salvação da alma do seu
fundador.
(…) D. António Leite
de Albuquerque (1632-1698) era filho de António do Amaral Albuquerque, que foi
vereador na Câmara do Porto e de D. Maria Pereira Leite, parente de D. Nicolau
Monteiro, moradores na Rua das Flores. Fez carreira eclesiástica em Évora, como
Beneficiado (1670), em época de intensa actividade inquisitorial e na Sé de
Faro, como Cónego. Regressado ao Porto por morte de seu irmão, João de Amaral
de Albuquerque que seguira a carreira das armas é nomeado por D. Nicolau
Monteiro (bispo de 1671-1672) Visitador Geral do Bispado.
D. António, que fora
Ministro da Ordem Terceira Secular de S. Francisco da Cidade do Porto (1677)
toma para si o projecto de edificar um Hospital, que os Terceiros do Porto por
falta de recursos não concretizam. Apenas em 1686 seria ali construído o
Recolhimento de Santa Isabel Rainha da Hungria, sendo co-fundadora e benemérita
sua irmã, D. Isabel de Albuquerque.
Concebe uma comunidade
instalada na quinta herdada dos pais, sob os Estatutos e Regra da Ordem
Terceira de S. Francisco do Porto, em obediência ao Provincial de S. Francisco
da Observância”.
Com a devida vénia a Susana Maria Simões Moncóvio
Igreja da Quinta dos Frades
Quinta dos Frades
“A fachada da igreja encontrava-se ligada às
antigas dependências conventuais, por um lado, e por outro à torre sineira. A
arquitectura chã marca todo o edifício, e a frontaria do templo apresenta uma
arcaria que antecede o portal. Sobre esta, rasgam-se as janelas do coro, de
moldura rectilínea, e o frontão triangular com óculo central. Dois pináculos
laterais marcam os cunhais, e uma cruz ergue-se sobre o frontão.
Do interior, restam ainda alguns elementos que testemunham a antiga decoração
do templo em talha dourada, principalmente ao nível da capela-mor e do seu
retábulo.
Com a extinção das
ordens religiosas, a Quinta foi adquirida por Marcelino Máximo de Azevedo e
Melo (1794-1853), primeiro visconde de Oliveira do Douro, que desempenhou,
entre outros, o cargo de Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda. Foi
sepultado na igreja do mosteiro, em 1853. A propriedade manteve-se, depois, na
posse desta mesma família”.
Com a devida vénia a Rosário Carvalho
“A igreja é de planta
retangular composta por nave antecedida por galilé e capela-mor mais estreita,
esta com cobertura em falsa abóbada de berço de estuque, intensamente iluminada
pelos vãos da fachada principal e lateral. Fachadas com cunhais apilastrados,
coroados por pináculos. Fachada principal com remate em frontão triangular,
acedendo-se à galilé por triplo arco de volta perfeita, tendo no interior o
portal axial, de verga reta encimada por decoração, e janelas laterais. Sobre a
galilé, abrem-se janelas retilíneas e, no tímpano, um óculo. No lado direito,
dispõe-se torre sineira, construída em 1747, de dois registos separados por
friso e cornija, tendo no superior sineira, na frontaria duas sineiras, em arco
de volta perfeita, e remate simples em friso, cornija e pináculos. Interior com
coro-alto em arco abatido, capela lateral profunda e arco triunfal de volta
perfeita assente em pilastras toscanas, encimado por nicho. Capela-mor com
vestígios de pintura mural nas paredes e cantarias, e amplo nicho para albergar
o retábulo-mor Do convento subsiste corpo retangular na fachada posterior da
igreja, onde se localizava o refeitório setecentista, com fachadas de dois
pisos, regularmente rasgadas por vãos retilíneos, correspondendo no segundo
piso a janelas de sacada. No exterior de um dos portões da quinta, conserva o
pavimento em lajes mandado executar em finais do séc. 18, pelo Rev. Superior
Manuel de São José Oliveira”.
Fonte site: “monumentos.pt/”
Em 1834, no âmbito da "Reforma Geral Eclesiástica"
empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar,
executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de
30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e
casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas,
sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do
encerramento definitivo.
Com a extinção das ordens religiosas, a quinta de Oliveira
do Douro foi adquirida por Marcelino Máximo de Azevedo e Melo (1794-1853),
primeiro visconde de Oliveira do Douro, que desempenhou, entre outros, o cargo
de Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e de Juiz Ordinário no Concelho
de Gaia e ainda, presidente da Câmara de Gaia em 1839 e 1840. Foi sepultado na
igreja do mosteiro, em 1853.
A propriedade foi-se mantendo na posse desta família na
posse desta mesma família.
Capela-mor em 2004 – Ed. Susana Maria Simões Moncóvio
No início do século XX, já estava na posse do visconde d’Oliveira,
conselheiro Manuel Maria da Costa Leite, que foi director da Escola
Médico-Cirúrgica do Porto.
A quinta passaria, depois, para a posse de Gaspar da Costa
Leite, filho do visconde d’Oliveira.
Na década de 1950, já eram os filhos de Gaspar da Costa
Leite a deter a sua posse.
Então, fizeram o arrendamento (pagamento de “12 contos e
vinho a meias”) da propriedade, a um afilhado de seu pai, que lá se
estabeleceu com a sua família.
A propriedade era adornada com um lago artificial e
fontanários com bicas que faziam brotar a água fresca da mina; também havia
belas cameleiras e diversas árvores de fruto.
O vinho americano, lá
produzido, tinha fama na região.
Assim, elementos naturais e artificiais atraíam à Quinta
d’Oliveira, muitos visitantes.
Na segunda metade do século XX era usual, ao Domingo,
organizarem-se excursões a partir da Ribeira do Porto, para visitar a quinta.
Os excursionistas juntavam-se no adro da Igreja dos Frades, ainda
fora da quinta, mas não perdiam a oportunidade de obter a respectiva
autorização para nela entrar.
Acontece que, a tradição já vinha do século anterior, pois Ramalho Ortigão descreve essas excursões nas "Farpas".
Aos domingos de Verão,
o picheleiro do Souto, o guarda-soleiro da Bainharia, o ourives ou o mercador
de panos da Rua das Flores, ia com o romper do dia à missa das almas a S.
Francisco ou aos Congregados; comprava depois o melão, a melancia e as laranjas
na Feira do Anjo, e, às seis horas da manhã, na frescura aquática do Cais da
Ribeira, embarcava com a família em barco de toldo para a Oliveira, para
Avintes ou para Quebrantões”.
Ramalho Ortigão, In Farpas IV
Ramalho Ortigão, In Farpas IV
Na década de 1980, os túmulos da igreja foram vandalizados.
Lá se encontravam os restos mortais do fundador da
Congregação de Nossa Senhora da Conceição, D. António Leite de Albuquerque e de
Marcelino Máximo de Azevedo e Melo, o 1º Visconde de Oliveira do Douro, que foi
um dos fundadores do Banco de Portugal.
Depois de passar pela posse do, também, proprietário da
Quinta da Paradela, em Pedroso, V. N. de Gaia, hoje, a Quinta dos Frades
pertence ao grupo Yeatman.
Cronologia
“1632 - construção de
uma capela na quinta em Oliveira do Douro; 14 julho - o bispo D. João de
Valadares autoriza a celebração de missa e outros atos na capela da quinta;
1652, 12 junho - data do nascimento de António Leite de Albuquerque, filho de
António do Amaral Albuquerque e de D. Maria Pereira Leite, fidalgos naturais do
Porto, o qual mais tarde segue a carreira eclesiástica; posteriormente,
regressa a Portugal, devido à morte de seu irmão João de Albuquerque, e passa a
viver recolhido na quinta; o bispo D. Nicolau, seu primo nomeia D. António de
Albuquerque Visitador Geral do Bispado; este resolve fundar uma Congregação
para recolher todos os sacerdotes pobres e inabitados, elaborando para tal os
respectivos estatutos e doando todos os seus bens à nova Congregação; 1679, 15
dezembro - data da colocação da primeira pedra para construção do recolhimento,
anexo à capela já existente na sua quinta; 1681, 27 julho - alvará de D. Pedro
II aprova os estatutos da Congregação e o seu hospital; 1682, 22 setembro -
entra no hospital o primeiro doente, o reverendo Jerónimo Goulão dos Santos,
para ser tratado dos achaques; a congregação, tendo inicialmente 8 clérigos
residentes, resolve adquirir, em homenagem ao seu fundador, uma imagem de Santo
António e dar essa invocação à capela onde se celebra diariamente missa; 1684,
12 janeiro - D. António de Albuquerque manda tocar os sinos da capela,
convocando os freires para uma reunião do Capítulo, para se proceder à eleição
trienal para os pelouros da comunidade; o fundador é nomeado diretor perpétuo
da comunidade; 07 março - D. António de
Albuquerque preside à cerimónia do lançamento
da primeira pedra da capela atual, tendo-se aproveitado para altar a antiga
capelinha de Santo António; 1688, 25 janeiro - confirmação da nomeação de
D. António de Albuquerque como director perpétuo da comunidade pelo Núncio
Apostólico; 1689, 11 junho - alvará de D Pedro II concede um auxílio de 400$000
à comunidade; posteriormente, por meio de outro alvará, o rei concede mais
50$000;(…)
(…) 1976 - despacho de
classificação com homologação superior de Imóvel de Interesse Público; 1980 -
novo despacho de classificação com homologação superior de Imóvel de Interesse
Público; 1984 - é adquirido pela GAF, Ltd.; 1985, Março - novo Despacho de
classificação com homologação superior de Imóvel de Interesse Público”.
Fonte, site: “monumentos.pt”
“O Mosteiro de São
Domingos das Donas de Vila Nova de Gaia, também referido como Convento de
Corpus Christi e Instituto do Bom Pastor, localiza-se junto ao Cais de Gaia, na
freguesia de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia.
O mosteiro foi fundado
em 1345 por D. Maria Mendes Petite, uma fidalga de Gaia, filha de Soeiro Mendes
Petite, viúva do trovador dionisino Estevão Coelho, e mãe de Pero Coelho, um
dos responsáveis pelo assassínio de D. Inês de Castro. A família estava ligada
à fundação do poderoso Mosteiro de Grijó.
A fundadora dedicou o
mosteiro ao Augusto Sacramento da Eucaristia, dotou-o de avultados bens e
entregou-o à Ordem de São Domingos, filiando-se no Mosteiro de São Domingos das
Donas de Santarém. Um conflito jurídico com o Bispo do Porto, que à época se
opôs à sua fundação, provocou atraso significativo na abertura do mosteiro, o
que veio a acontecer apenas em 1354.
A primitiva igreja do
convento sofreu uma degradação gradual devido às cheias do rio Douro (junto ao
qual se localizava), o que levou à edificação de um novo templo, cujas obras
tiveram início na segunda metade do século XVII com traça do padre Pantaleão da
Rocha de Magalhães (responsável por várias obras no Porto e arredores),
seguindo o modelo do templo lisboeta do Mosteiro do Bom Sucesso de Santa Maria
de Belém, pertencente à mesma ordem, e ajustado, nos coros, ao local e às
necessidades da congregação, por Gregório Fernandes.
Já no século XVIII foi
construída a fachada em estilo barroco que antecede o portal da igreja, e onde
é patente a influência de Nicolau Nasoni.
As funções conventuais
extinguiram-se em 1894 com a morte da última freira, Marcelina Cândida Viana.
Em 1930, o edifício
foi entregue às irmãs do Instituto do Bom Pastor que criaram um Instituto
Feminino de Educação e Regeneração. O aumento das internadas levou à
construção, em 1940, da ala poente do convento, de arquitetura tipicamente do
Estado Novo e que se desenvolveu tendo por referência o primitivo claustro.
No início da década de
1990, tendo-se retirado as religiosas, foi o conjunto entregue à Ordem Soberana
e Militar de Malta, que através da Fundação Frei Manuel Pinto da Fonseca,
continuou a afirmar o antigo convento como centro de apostolado.
Revertendo para a
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia em 2003, o convento sofreu recentes obras
de remodelação, albergando agora um espaço cultural - o Espaço Corpus Christi -
e ainda um pólo de mestrado da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do
Porto”.
Cortesia da C. M. Vila Nova de Gaia
Tudo parece indicar,
para alguém que visite o convento, que a edificação da fachada deve ter sido
posterior à sua edificação, o que estará de acordo com o anterior texto.
Para além disso, a construção do templo que substituiria o
primitivo, que o texto anterior diz ser, com traço de Pantaleão da Rocha, foi
erguido com as pedras de teracenas que lhe eram próximas.
As teracenas eram estruturas cobertas onde se procedia à
construção e reparação de navios que, ao contrário dos estaleiros navais,
descobertos, tinham as mesmas funções.
“Assim, para o autor,
a única base documental sólida que possuímos da existência destas estruturas
remontam ao século XVI. Deste século vem-nos também a única descrição que delas
existe, elaborada pelo procurador real Francisco Dias: «da banda de Vila Nova
estão umas outo casas armadas sobre arcos, muito compridas: afirma-se que se
fizeram para ali meterem galés em tempo de inverno e bem parece ser para esse
efeito; e porque isto é muito antigo, serve agora uma parte delas para se matarem
e fazerem as carnes de el-rei para suas armadas.
A estas estruturas se
chamava num documento de 1620 «tarracenas de el-rei» e quase um século depois,
ainda em 1703 ainda eram as «teracenas de sua Majestade», não obstante um
alvará régio de 1675 ter feito já doação da pedra dos seus arcos às freiras
de Corpus Christi para
reedificarem a igreja. Em 1758, o que restava destas estruturas era apenas
«um lugar emparedado e fechado» que somente era utilizado «para recolher as
madeiras e fábrica real». Não admira, portanto, que pouco tempo depois, em
1760, se tenha doado o terreno ao brigadeiro João de Almada. Há igualmente uma
referência à Quinta das Taracenas ainda
no século XVII, cujo proprietário - Manuel Teixeira da Costa - vendeu quando
foi para o Brasil.”
Cortesia de Nuno Cruz, “aportanobre.blogs.sapo.pt”
Viaje de Cosme de Médicis por España y Portugal (1668-1669)
Ilustrações Pier Maria Baldi
Da gravura acima, em que nos é apresentada uma panorâmica da
cidade do Porto, a partir de V. N. de Gaia, é possível fazer uma ampliação do
canto inferior esquerdo, apresentada a seguir.
À esquerda da gravura, observa-se, talvez, o que resta duma
teracena
A ampliação da gravura de Baldi permite colocar em destaque
uma estrutura cercada por parede em arcos, sensivelmente sobre o canto inferior
esquerdo, no local onde hoje está o convento Corpus Christi. Será, talvez, o
que resta das teracenas de sua Majestade.
Relativamente ao que hoje se constata, as instalações primitivas
do convento e da igreja estavam situadas mais próximas da margem do rio, pelo
que, houve a necessidade de recuá-las, devido às inundações frequentes.
A panorâmica de Baldi é obtida a partir de Vila Nova sobre o
Porto, observando-se da esquerda para a direita, Massarelos, a Torre da Marca,
Monchique, Miragaia e a muralha a poente da cidade (com o seu baluarte), a
Ribeira e a Sé.
Num muro em pedra, na Rua das Sete Passadas, delimitando um
terreno adjacente ao convento Corpus Christi, é possível observar nesse muro,
algo que faz adivinhar um aproveitamento de anterior construção, em que
sobressaem uns arcos, que fariam, por certo, parte das antigas teracenas aí
existentes.
Restos de um arco em pedra em muro adjacente ao convento de
Corpus Christi na marginal de V. N. de Gaia – Ed. Graça Correia
Na década de 20 do século
passado o Convento de Corpus Christi foi alvo de um incêndio que o destruiu em
parte.
Ruínas do convento
após o incêndio
Convento Corpus Christi
Fachada lateral do convento de Corpus Christi em 1939
Na foto acima
observa-se a:
“Lateral do Convento na antiga calçada das
freiras, hoje Rua de Serpa Pinto. Os carris são do elevador usado para levar os
barris de vinho do Porto dos armazéns e do cais da Cruz para a estação das
Devezas. Um projecto de 1873 da autoria Raul Mesnier de Ponsard. O elevador era
puxado por uma locomotiva que utilizava uma cremalheira para subir a íngreme
calçada das Freiras”.
Com a devida vénia a
Rui Cunha
Fachada da igreja do
Convento Corpus Christi
Muitas personalidades históricas poderão ser referenciadas
com ligação ao convento de Corpus Christi, relevando, entre elas, a de Fernão
de Magalhães.
Amândio Barros, professor da Faculdade de Letras do Porto e
especialista em História Marítima, na sua obra “A Naturalidade de Fernão de
Magalhães Revisitada” realça e prova, que Ponte da Barca é o local de
nascimento do navegador e assinala, ainda, a ligação dele à cidade do Porto.
Entre outros factos, provando esta ligação, o historiador dá
conta de que o navegador antes de encetar a viagem de circum-navegação em 1519,
e durante a qual pereceu numa ilha do Pacífico, a caminho das ilhas Molucas, em
1521, faria o seu testamento e nele exarou uma doação a favor do convento de "santo
domyngo de las dueñas de la ciudad del puerto" que se referirá, por certo, ao convento de S. Domingo das Donas do
Porto, ou seja, o convento do século XIV, que hoje se chama do Corpus Christi,
situado em V. N. de Gaia.
Parece não haver também dúvidas, de que bem junto ao
convento, os pais de Fernão de Magalhães tinham uma quinta onde habitavam,
sendo foreiros ao Cabido da Sé do Porto.
Fernão de Magalhães teria passado, por herança dos pais, a
ser administrador daquela quinta.
Parece também haver provas de que o navegador teria duas
irmãs como religiosas no convento.
A primeira ida ao oriente, de Fernão de Magalhães, foi feita,
integrado na armada de D. Francisco de Almeida, primeiro vice-rei, em 1505,
tendo por lá ficado 8 anos.
Encontra-se aqui, também, a arca tumular de Álvaro de Cernache,
alferes da bandeira da Ala dos Namorados na Batalha de Aljubarrota e a de D. Leonor de Alvim que fez um 2º casamento com D. Nuno Álvares Pereira e morreu no Porto, onde vivia, ao dar à luz a única filha dessa casa, D. Beatriz Pereira de Alvim.
Em 1 de Novembro de 1401, Beatriz casou em Frielas com D.
Afonso, filho ilegítimo do Rei D. João I e de Inês Pires Esteves e futuro Duque
de Bragança.
Também neste
convento se realizavam, em dias de grande festa, os chamados Outeiros, em que
convidados e conhecidos mostravam às meninas recolhidas e freiras os seus dotes
de improvisação poética.
Após graças e boa
disposição, era servida pelas freiras uma refeição com os melhores doces da
casa que, habitualmente, eram conhecidos como os melhores da cidade.
Em 1848, houve um
Outeiro neste convento onde o campeão destas sessões de poesia de improviso, o
poeta satírico Faustino Xavier de Novais foi concorrer.
Tinha ido num velho
carroção. À entrada, declama para as grades do convento onde estavam as
freiras.
(Continua)
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