sábado, 10 de junho de 2017

(Continuação 2) - Actualização em 12/12/2017, 15/11/2018 e 03/05/2021

Inauguração, Exposições e Equipamentos


Uma lei do Ministro Fontes Pereira de Melo pretendia que se organizassem sociedades agrícolas em todas as capitais de distrito. Reconhecia-se, nela, que “a agricultura era o recurso mais valioso e fonte mais abundante da riqueza nacional”.
No Porto, por influência do Governador Civil, Barão do Valado, foi criada a Sociedade Agrícola do Distrito do Porto, em Dezembro de 1854.
O Dr. António Cruz, na História da Cidade do Porto coordenada pelo historiador Dr. Artur de Magalhães Basto, escreve:

 

“Dispondo agora de todos os meios de que carecia, a comissão respectiva escolheu o Campo da Torre da Marca com a quinta adjacente, então já denominada de Carlos Alberto, como local mais indicado para a implantação de pavilhões e barracas destinados a recolher os produtos e animais que seriam expostos. Foi de 3 dias - 12, 13 e 14 de Julho de 1857- o prazo estabelecido para manter a Exposição Agrícola aberta ao público. Não era de prever que a exposição despertasse, da parte do público, o interesse que ficou a assinalá-la. Interesse que não era apenas evidente através da quantidade de expositores e qualidade dos produtos expostos porque o era também – e não esqueçamos que tudo isto se passou há um século e que foi esta a primeira grande exposição realizada em Portugal – através do subido número de forasteiros que acorreram nos 3 dias, ao Campo da Torre da Marca: nada menos de 10.000 pessoas.
Uma vez mais o Porto foi o primeiro””  
In portoarc.blogspot



Gravura da Exposição da Sociedade Agrícola do Porto, na Torre da Marca


A exposição agrícola haveria de repetir-se, em 1860, dizendo-se que teve ainda mais sucesso do que a anterior, dada a qualidade dos produtos expostos e a categoria dos expositores. Ela haveria de contar com a presença do rei D. Pedro V, e dos Infantes D. Luís e D. João.
No Porto, apenas em 1857, com a inauguração simultânea, a 12 de Julho, das exposições da A.I.P. (Associação Industrial do Porto) e da Sociedade Agrícola do Porto, se começaram a divulgar as actividades económicas através daqueles certames.
A primeira, partiu da iniciativa de Gouveia Pinto e consistiu, inicialmente, numa mostra permanente, com lugar nas instalações da A.I.P., no Largo do Corpo da Guarda, próximo da Sé, passando, posteriormente, devido à exiguidade de espaço, para o que viria a receber o Asilo da Mendicidade, nas Fontainhas.
Em 1861, teve lugar no edifício da Bolsa uma exposição Industrial, que teve a presença de 650 expositores, sendo, alguns deles, espanhóis e que foi um sucesso.
Estava, assim, criada a necessidade de encontrar um espaço digno e que servisse à realização de todos estes eventos. Esse espaço seria o Palácio de Cristal (1865-1951), construído em terrenos da freguesia de Massarelos, no antigo Campo da Torre da Marca, que pertenciam à Câmara, e toda uma área pertença de particulares, que teve de ser expropriada. 
Foi, então, criada a Sociedade do Palácio de Cristal, tendo sido emitidas acções de 100$000, num total de 100 contos de reis, podendo o capital subir a 200 contos de reis. 
A companhia fundadora do Palácio de Cristal, sonho do médico-cirurgião Dr. António Ferreira Braga, para o qual alistou o visconde de Vilar d’Allen, acabaria por surgir.
Diga-se que o Dr. Braga era um grande capitalist, que acabaria por morrer em 1870, na mais profunda miséria, ao pôr na execução do seu sonho todos os seus capitais, o que o viria a desgraçar.
O Campo da Torre da Marca, após as lutas liberais, chegou a chamar-se, em homenagem a D. Pedro IV, Campo do Duque de Bragança, nome que não vingou.
Em 27 de Fevereiro de 1862, a direcção da Sociedade do Palácio de Cristal pede o aforamento ou concepção do terreno de domínio municipal para a construção do Palácio; a sociedade propõe-se abrir uma nova rua (hoje, a Rua Jorge Viterbo Ferreira) a ligar o Largo da Boa Nova com a Rua da Restauração cedendo, a dita sociedade, o que fosse preciso da quinta expropriada de Sete-Campos.
A área pretendida para execução do projecto, na sua totalidade, contemplaria diversas propriedades.




Planta do Largo da Torre da Marca e imediações


Legenda:

1. Campo do Duque de Bragança
2. Quinta dos Sete Campos (de Maria Constância)
3. Conde de Terena
4. Rua da Restauração
5. Capela de Carlos Alberto
6. Quartel
7. Campo ou Largo da Torre da Marca
8. Rua do Triunfo
9. Antigo caminho público
10. De João da Rocha Sousa
11. Quinta do Passadiço de José Cardoso de Lucena
12. Quinta do Sacramento dos herdeiros de António Ferreira Pinto Basto
13. Viela de Entre-Quintas
14. Escadas de Entre-Quintas
15. Rua de Vilar
16. Capela
17. Rua da Boa Nova
18. Quintas de João Pacheco Pereira
19. De Joaquim José de Sousa Reis
20. Teodora Joaquina da Cunha
21. Herdeiros de Rosa Emília da Fonseca
22. Diversos


O Palácio de Cristal, da autoria do arquitecto inglês Thomas Dillen Jones, foi construído em granito, ferro e vidro, tendo o Crystal Palace londrino de John Praxton, por modelo, apresentando três naves e três pisos: cave, rés-do-chão e um piso. 
O edifício do Palácio de Cristal portuense, com as suas três naves, media 150 m de comprimento por 72 m de largura.
A nave central tinha uma abóboda em vidro com 19 metros de altura e 107m de profundidade e 23,4 m de largura. De menor volume, as naves laterais ficavam-se pelos 8,3 metros de largura e 94m de comprimento.
Na fachada, a inscrição “Progredior” anunciava os novos tempos de progresso que o Palácio de Cristal encarnava.
Foi integrado num amplo jardim, da autoria de Émile David, arquitecto paisagista alemão que projectou também os jardins da Cordoaria e do Passeio Alegre, onde estavam colocadas duas fontes, um lago, um chalet, um circo, e diversos equipamentos de jardim.
Em 1933, o edifício e os respectivos jardins foram adquiridos pela Câmara Municipal do Porto.


O Palácio de Cristal, ainda na fase de construção, entre 1861 e 1865


O Palácio de Cristal sendo visível o portão de acesso aos jardins



“Segundo o boceto histórico do sr. Conde de Samodães, em 30 de Agosto de 1861, reuniram-se no edifício da Bolsa, os fundadores do Palácio de Cristal, sob a presidência do sr. Guilherme Augusto Machado Pereira, sendo eleitos para a direcção e conselho fiscal os srs. Alfredo Allen, Francisco Pinto Bessa, Visconde da Trindade, José Joaquim Pereira de Lima e José Frutuoso Aires de Gouveia Osório.
Em 3 de Setembro do mesmo ano, fez-se a inauguração do Palácio de Cristal, presidida por D. Pedro V. O soberano inaugurou os trabalhos lançando um punhado de terra em um carrinho de serviço. A planta, perfil, alçado e cortes do edifício foram feitos pelo arquitecto inglês Thomas Dillen Jones.
No dia seguinte à inauguração partiu D. Pedro V para Lisboa, tendo-lhe sido entregue, antes de embarcar, o diploma de presidente honorário da Sociedade. A obra de pedra, ferro e cristal, segundo o dr. Carlos de Passos, tomaram-na os empreiteiros C. D. Young & Cª por 108 contos, sob a inspecção do engenheiro F. W. Shields e direcção do engenheiro Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa. Emilio David, jardineiro-paisagista alemão, encarregou-se do desenho dos jardins e do parque. As decorações foram entregues a um pintor inglês e a direcção coube a Shilds”.
Fonte – Site: portoantigo.org



Em 17 de Agosto de 1865, seria criada a “Agência de Polícia Civil" do Porto, a primeira do país, por iniciativa do Governador do Porto, Sebastião Lopes de Calheiros e Menezes, para prestar auxílio aos visitantes da futura “Exposição Internacional Portuense”, com que se inaugurou o Palácio de Cristal. Era, assim, autorizado o estabelecimento de uma força policial, de cariz urbano e civilista, quase desarmada, a exemplo da Metropolitan Police de Londres, criada em 1829.
Dois anos depois, seria esta força instituída em Lisboa e por carta de lei, surgiria a autorização para todas as capitais de distrito.
O Palácio de Cristal foi concebido para acolher a grande Exposição Internacional do Porto, organizada pela então Associação Industrial Portuense, hoje, Associação Empresarial de Portugal.
A Exposição Industrial, para além de contar com a visita oficial do rei D. Luís, de Dona Maria Pia e do príncipe herdeiro, contou ainda com 3.139 expositores, dos quais 499 franceses, 265 alemães, 107 britânicos, 89 belgas, 62 brasileiros, 24 espanhóis, 16 dinamarqueses e ainda representantes da Rússia, Holanda, Turquia, Estados Unidos e Japão.
Em 18 de Setembro de 1865, o rei D. Luís I, D. Maria Pia, o príncipe D. Fernando II (consorte da rainha D. Maria II) e o infante D. Augusto (Duque de Coimbra, 7º filho de D. Maria II e de D. Fernando II) inauguraram o Palácio de Cristal.



Nave central do Palácio de Cristal na exposição de 1865



Nave lateral do Palácio de Cristal na Exposição de 1865 (mostra de Belas Artes)


Encerrada que foi a exposição, em 2 de Fevereiro de 1866, pelo rei D. Luís, muito pouca coisa aconteceria. 
A denominada Sociedade do Palácio de Cristal, responsável pelo lançamento do empreendimento, passou a fazer a gestão de todo o complexo construído, o que se viria a revelar uma tarefa ciclópica.
De vez em quando, Henrique Burnay e o seu sócio Heitor Guichard, da firma Burnay & Guichard, que tinham tomado de arrendamento o espaço, incluindo os bazares e os jardins, planeavam um espectáculo pirotécnico, que de pouco beneficiavam os accionistas do recinto.
Mais tarde, levaram à cena pequenas exposições, espectáculos de ginástica, concertos musicais, etc.
Aos Domingos e Quintas-Feiras havia música no coreto.
No carnaval e, não só, os bailes do Palácio ganharam fama.
Uma dessas festas, relacionada com o carnaval, era o Mi-Carême, uma festa de origem francesa, localizada fora do período de carnaval tradicional, de modo a atenuar o largo período de abstinência imposto pela Quaresma.
Os portugueses, com o mesmo espírito do Mi-Carême, têm os bailes da Pinhata.



Baile (Mi-Carême), na nave principal do Palácio de Cristal, em 1902



A nave principal do Palácio de Cristal foi, muitas vezes, usada para expôr grandes equipamentos.


Dirigível exposto na nave principal do Palácio de Cristal




Aeroplano, em exposição no Palácio de cristal presente, em 1912, num festival aéreo que decorreu junto do Castelo do Queijo



Apesar das realizações levadas a cabo nas suas instalações, foram sempre insuficientes os proventos obtidos para as finanças de tão grande nau.
No dia 20 de Fevereiro de 1916, no cartório notarial do Dr. António Mourão, era assinada a escritura de arrendamento do Palácio de Cristal, pelo prazo de dezanove anos, a uma parceria de que eram directores César Ramos e Romualdo Torres.
O Palácio e seus jardins inaugurados em 1865, vieram a ser adquiridos pela Câmara Municipal do Porto em 1933, e o Palácio demolido em Dezembro de 1951, pois, em 1949, aquando do centenário da Associação Industrial Portuense, tinha ficado decidido que se construiria um novo edifício, o "Pavilhão dos Desportos", hoje chamado, Pavilhão Rosa Mota.








Palácio de Cristal


Vista nocturna do Palácio de Cristal e do jardim de entrada, c. 1905



Miniatura do primitivo Palácio de Cristal - Modelo da autoria de Agostinho Conceição Gonçalves Teixeira



Ao longo dos seus 86 anos de existência, o Palácio de Cristal acolheu muitas outras exposições, destacando-se a 1ª Exposição de Rosas, ocorrida em 17 de Junho de 1866, na nave central do Palácio de Cristal, sob direcção do jardineiro-paisagista Emílio David, com participação dos horticultores Marques Loureiro, Gentil Gomes da Silva e dezenas de amadores, e a de 1879 ou a de 1899, inaugurada a 6 de Maio, bem como a de 1907, todas subordinadas ao mesmo tema; a exposição agrícola em 1903, a exposição automóvel em 1914 e a Exposição Colonial, inaugurada em Junho de 1934. 
 
 

Peça jornalística do jornal “A Voz Pública” de 31 de Março de 1907, sobre a Exposição de Rosas a ser realizada naquele ano, no Palácio de Cristal


Desta última exposição sobrevive o Monumento ao Esforço Colonizador Português, actualmente colocado no topo oeste da Avenida do Marechal Gomes da Costa, na Praça do Império.
Na transição do século XIX para o século XX, foi director do Palácio de Cristal e ficou durante anos, na memória dos portuenses, José Vieira da Cruz.
Na sua imponência, o Palácio de Cristal, feito principalmente para acolher grandes exposições agrícolas e industriais, continha duas salas de espectáculos: a Nave Central ou Teatro Popular; e o Teatro Gil Vicente.
Ambos se tornaram palcos regulares para a música, acolhendo os primeiros concertos sinfónicos no Porto e aproveitando o esplendoroso órgão de 2750 tubos.
O Teatro Gil Vicente ocupava a antiga Sala de Leitura e Conferências, tendo sido inaugurado em 14 de Agosto de 1868, como forma de minorar os problemas financeiros da Sociedade.
Em 2 de Abril de 1916, ocorre a estreia do grande pianista polaco Rubinstein no teatro Gil Vicente, com inauguração da luz elétrica no teatro, por iniciativa do Orfeão Portuense.
Ainda por iniciativa do Orfeão Portuense apresenta-se naquele teatro em 7 de Março de 1917, o grande pianista Paulo Loyonnet, artista de fama mundial.
Alguns meses antes, a 1 de Dezembro de 1916, tinha ocorrido a inauguração do novo cinema, instalado na cave do Palácio de Cristal.



Concerto sinfónico em 1906 - Ed. Aurélio da Paz dos Reis



No texto seguinte é feita uma descrição do edifício e envolvente:


“Após a exposição de 1865, o Palácio de Cristal foi palco de muitos outros certames, a par de iniciativas desportivas, culturais e recreativas. No interior da nave central, ao fundo, foi instalado um famoso órgão, tido por muitos como um dos melhores do mundo. Junto da nave lateral, para nascente, abriu o Teatro Gil Vicente, com capacidade para 1.000 espetadores e, na extremidade oposta, as estufas com plantas tropicais. Nas naves laterais encontravam-se serviços de apoio, tais como o gabinete de leitura, os bazares e as salas de exposição e venda de belas artes. Do lado oeste, sobre os jardins e o lago, encontrava-se um requintado restaurante.
O Palácio de Cristal foi assim, ainda, um importante espaço de cultura, contendo esse órgão de tubos que era dos maiores do mundo. Foi neste palácio que se realizaram importantes concertos do compositor Viana da Mota ou da virtuosa violoncelista Guilhermina Suggia.
Em volta do palácio, o espaço era igualmente muito acolhedor e rapidamente se tornou num autêntico local de desfile da fina flor da sociedade portuense. No coreto da conhecida avenida das Tílias, todos os domingos e feriados havia música por conta de bandas regimentais. Mais à frente, a concha, ainda existente, apresentava peças de teatro e recitais. Ao fundo da avenida, à direita, havia um chalé alpino, de onde se apreciavam desafogadas vistas sobre a foz do rio e o mar. Nas proximidades estavam as coleções zoológicas, a aldeia dos macacos e a gaiola das águias. À volta, o compacto arvoredo convidava ao passeio e à tranquilidade.
Nas primeiras décadas do século XX, a deficitária exploração do palácio começou a comprometer a sua boa manutenção e o edifício foi revelando sinais crescentes de degradação. Em 1933, a Câmara Municipal do Porto comprou o recinto por 2.000 contos (10.000 euros), com o objetivo de aí realizar a Exposição Colonial Portuguesa no ano seguinte. Como sinal de afirmação do Estado Novo e da política colonial, nos jardins do palácio foram erguidas réplicas idealizadas de aldeias autóctones das colónias portuguesas de então, “animadas” por nativos trazidos propositadamente para o efeito. Nesse ano de 1934, milhares de portuenses acorreram ao palácio para admirar os “indígenas”, com o mesmo espanto que sentiam perante animais exóticos num jardim zoológico. Este foi o último grande evento realizado no palácio.
Em 1941, o violento ciclone que assolou a região agravou seriamente o estado de ruína em que já se encontrava a cobertura do edifício. A persistente exiguidade do orçamento camarário foi adiando sucessivamente reparações profundas, que tanto tinham de urgentes como de dispendiosas.
Sob a presidência do coronel Licínio Presa, por deliberação camarária de dezembro de 1951, foi decidido demolir o Palácio de Cristal. O pretexto foi a necessidade urgente de se construir um recinto moderno para acolher o campeonato mundial de hóquei em patins a realizar no ano seguinte. Desta forma inglória, pôs-se fim ao Palácio de Cristal, símbolo ímpar da arquitetura do ferro em Portugal e que tão fortemente marcou a vida económica, social e cultural da cidade”.
Com a devida vénia a Manuel de Sousa



“Com 2750 tubos, o órgão do Palácio de Cristal era um instrumento imponente, na linha dos grandes órgãos românticos, ou sinfónicos, cuja invenção se deve ao organeiro francês Aristide Cavaillé-Coll (1811/1899) … Construído em 1862 em Londres por J. William Wolber e vendido para o Porto por sete contos de reis… Para acompanhar a montagem e propiciar a instrução necessária à sua eficiente utilização, deslocou-se ao Porto o já então célebre organista e compositor francês Charles-Marie Widor (Lion 1844 – Paris 1937), personalidade marcante da música europeia, embora hoje bastante esquecido.”
Maestro Manuel Ivo Cruz, In O Tripeiro Série VII, Ano XIX, Nº. 9


Na sessão inaugural deste órgão, Widor tocou uma peça musical por si composta propositadamente para esse concerto. Esta peça foi de novo executada em 1995 no concerto de inauguração do órgão romântico da Igreja da Lapa.


"Quando, em 1951 este órgão foi destruído, constou na cidade que os tubos teriam sido levados e “alguém” se teria aproveitado da venda dos metais. Porém a “história” já vem de anos atrás. Em Maio de 1935 a CMP pretendeu mandar reparar o órgão de tubos do Palácio de Cristal. Em 16 de Julho foram abertas 6 propostas de casas portuguesas e estrangeiras, mas a obra não foi adjudicada. Em 1947, a pedido da CMP veio ao Porto o Engº. José Ramos Sampaio, sócio da firma João Sampaio, Lda., organeiros de Lisboa, para examinar o estado do referido órgão. Descreve a sua visita ao palácio da seguinte forma: “Fomos ao Palácio. Não nos queriam deixar entrar, sendo necessário para isso mostrar a carta em que a câmara me participava a aceitação das condições para eu fazer a dita vistoria. Logo atrás de mim veio um outro guarda que disse depois que tinha ouvido a conversa e vinha para auxiliar em qualquer coisa. Depois de pôr uma escada de madeira, restos de um escadote improvisado e termos subido para o estrado do órgão, despimos os casacos e vestimos os fatos de macaco (eu e o Mário). Entrámos lá dentro levando eu a pasta com os apontamentos. Fiquei espantado quando vi que tinham desaparecido todos os tubos. O Mário só encontrou um minúsculo, fino como uma metade de um lápis e que estava caído e quase não se via, por isso escapou. Não havia mais. Nos secretos todos (excepto nos dos Pedais) não havia um tubo de madeira no lugar. Tinham sido todos tirados do lugar para facilitar o roubo e estavam amontoados sobre os secretos. Nos secretos laterais da pedaleira tinham ficado no lugar os tubos grandes de madeira e os funis (só os funis) dos tubos de palheta (os pés de chumbo com as palhetas desapareceram). No secreto surdina (todo dentro de uma caixa expressiva) tinham tirado várias réguas expressivas para entrarem lá dentro e fazer a mesma devastação. Era horrível o aspecto daquilo. Restavam os tubos da fachada, receavam talvez que se vise a falta… o homem disse-me que aquilo estaria assim há muitos anos! Respondi que não pois eu mesmo lá estivera havia 12 anos e não faltavam senão poucos tubos. No outro dia visitei o director dos serviços culturais da câmara”.
In O Tripeiro Série VI, Ano XII



Orgão de Tubos em 1866 - Fonte: “Archivo Pituresco”, In “portoarc.blogspot.pt”



Nave central do antigo Palácio de Cristal. Ao fundo, o órgão de tubos



Nas instalações do Palácio de Cristal funcionaram, no fim do século XIX, umas lojas denominadas de bazares, que pela primeira vez empregaram mulheres como caixeiros, conhecidas por Femmes de Comptoir, que de vestido preto e touca branca esperavam os clientes junto ao balcão.
Os bazares não vingaram, pois, tal tipo de comércio nunca entrou nos hábitos dos portuenses, que preferiam o tradicional, como nos conta Alberto Pimentel no texto seguinte.

 
In revista "O Tripeiro", V série, Ano XV, nº 1, Maio de 1959



O edifício observado em perspectiva


Palácio de Cristal observado de outro ângulo


O Palácio de Cristal em 1910 - Ed. Photo Guedes


Uma vista aérea do extinto Palácio de Cristal



Exposição de Botânica no Palácio de Cristal, em 1879 – Ed. “O Occidente”


Exposição de Cerâmica no Palácio de Cristal, em 1901- Ed. Aurélio da Paz dos Reis; Fonte: Rui Cunha, adm. do blogue “portoarc.blogspot.pt”


Exposição de Crisântemos no Palácio de Cristal, em 1904 - Fonte: Rui Cunha, adm. do blogue “portoarc.blogspot.pt”


Exposição de Floricultura no Palácio de Cristal, em 1908 – Ed. Aurélio da Paz dos Reis


Exposição automóvel no Palácio de Cristal, em 1914


Exposição Industrial no Palácio de Cristal. em 1924 - Fonte: Arq. de Jayme da Costa, Lda



Exposição automóvel no Palácio de Cristal, em 1926 – Fonte: Rui Cunha, adm. do blogue “portoarc.blogspot.pt”


“O I Salão Automóvel, em Portugal, realiza-se na cidade do Porto, no ano de 1914. A ideia para a sua organização surge em 1913, após a realização do primeiro "Circuito do Minho." No final desta prova desportiva, os veículos que nela participam são expostos na nave central do antigo Palácio de Cristal do Porto.
(...)A eclosão da Primeira Grande Guerra, em 1914, vem impedir a realização do evento nos anos que se seguem. A partir de 1922, e até ao início da II Grande Guerra em 1939, o Salão Automóvel do Porto é organizado quase todos os anos no Palácio de Cristal”.
Fonte: “aprenderesds.wikispaces.com”



Exposição das Indústrias Portuguesas, em Outubro de 1926 - Fonte: Revista Ilustração em 16 de Outubro de 1926



Exposição Industrial no Palácio de Cristal, em 1930


Para além do Teatro Gil Vicente funcionou, no interior do edifício do Palácio de Cristal, um restaurante e um casino.



Sala do restaurante do Palácio de Cristal


Grupo de comensais, à entrada do restaurante do Palácio de Cristal, c. 1947







Varanda do restaurante do Palácio de Cristal, em 1920 - Fonte: CMP: Arquivo Histórico Municipal




Em 1950, ainda estava em funcionamento o restaurante do Palácio de Cristal.



Publicidade ao Restaurante do Palácio de Cristal, em 24 Junho de 1950 – In jornal “O Comércio do Porto”







Sala de estar do casino - Ed. Foto Alvão


Casino do Palácio de Cristal - Ed. Foto Alvão



Casino do Palácio de Cristal - Ed. Foto Alvão






As traseiras do Palácio de Cristal – Fonte: AHMP (Arquivo Histórico Municipal do Porto)



Objecto de variadas intervenções ao longo dos anos, o Palácio de Cristal, em meados da década de 1930, seria mais uma vez alvo de obras.
 
 
Vista parcial da fachada sul do Palácio de Cristal e do lago, em obras de beneficiação, c.1934




Finalmente, o palácio seria demolido em 1951, tendo-se erguido no seu lugar uma nave de betão armado, a que foi dado o nome de Pavilhão dos Desportos, segundo projecto do arquitecto Carlos Loureiro e a pretexto do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins. O edifício foi demolido em menos de um ano, sendo destruído à martelada, o órgão de tubos. 
Devido à contestação popular à demolição ocorrida, a designação Palácio de Cristal tem sobrevivido até aos nossos dias, como forma de protesto. 



Estado da demolição do palácio de Cristal em 1952 – Fonte: “frame” de filme do Youtube de António S. Tavares




O novo Pavilhão dos Desportos em início de construção




Cartaz do campeonato de hóquei em patins de 1952



Pelo cartaz acima observa-se que o vencedor do VIII Campeonato do Mundo determinava também o vencedor do XVIII campeão da Europa.


Recinto em acabamento onde se disputaria o campeonato do mundo de 1952



O Campeonato começou em 29/6/1952, mas o novo pavilhão ainda estava por acabar. Foi disputado num pavilhão sem cobertura. A fachada principal do Palácio de Cristal ainda estava de pé.
Na final do torneio Portugal venceria a Itália por 4-0 e era campeão do Mundo e da Europa.
Sob o comando do seleccionador Sidónio Serpa foram campeões, Cruzeiro, Jesus Correia, Emídio, Correia dos Santos, José Dias, Raio, Edgar e Cipriano.
Após a construção de denominado Pavilhão dos Desportos, agora o Pavilhão Rosa Mota, efectuaram-se nele, para além de provas desportivas de diversa índole, várias exposições afectas a diversas actividades económicas.



Pavilhão Rosa Mota



Exposição Automóvel já no novo pavilhão



1ª Exposição Têxtil, em 1958 – Fonte: “portoarc.blogspot.pt”


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