Inauguração, Exposições e Equipamentos
Uma lei do Ministro
Fontes Pereira de Melo pretendia que se organizassem sociedades agrícolas em
todas as capitais de distrito. Reconhecia-se, nela, que “a agricultura
era o recurso mais valioso e fonte mais abundante da riqueza nacional”.
No Porto, por influência
do Governador Civil, Barão do Valado, foi criada a Sociedade Agrícola do
Distrito do Porto, em Dezembro de 1854.
O Dr. António Cruz,
na História da Cidade do Porto coordenada pelo historiador Dr. Artur de
Magalhães Basto, escreve:
“Dispondo agora
de todos os meios de que carecia, a comissão respectiva escolheu o Campo da
Torre da Marca com a quinta adjacente, então já denominada de Carlos Alberto,
como local mais indicado para a implantação de pavilhões e barracas destinados
a recolher os produtos e animais que seriam expostos. Foi de 3 dias - 12, 13 e
14 de Julho de 1857- o prazo estabelecido para manter a Exposição Agrícola
aberta ao público. Não era de prever que a exposição despertasse, da parte do
público, o interesse que ficou a assinalá-la. Interesse que não era apenas
evidente através da quantidade de expositores e qualidade dos produtos expostos
porque o era também – e não esqueçamos que tudo isto se passou há um século e
que foi esta a primeira grande exposição realizada em Portugal – através do
subido número de forasteiros que acorreram nos 3 dias, ao Campo da Torre da
Marca: nada menos de 10.000 pessoas.
Uma vez mais o
Porto foi o primeiro””.
In portoarc.blogspot
Gravura da Exposição da Sociedade Agrícola do Porto, na Torre da Marca
A exposição agrícola haveria de repetir-se, em 1860,
dizendo-se que teve ainda mais sucesso do que a anterior, dada a qualidade dos
produtos expostos e a categoria dos expositores. Ela haveria de contar com a
presença do rei D. Pedro V, e dos Infantes D. Luís e D. João.
No Porto, apenas em 1857, com a inauguração simultânea, a 12
de Julho, das exposições da A.I.P. (Associação Industrial do Porto) e da Sociedade
Agrícola do Porto, se começaram a divulgar as actividades económicas através daqueles
certames.
A primeira, partiu da iniciativa de Gouveia Pinto e consistiu,
inicialmente, numa mostra permanente, com lugar nas instalações da A.I.P., no
Largo do Corpo da Guarda, próximo da Sé, passando, posteriormente, devido à
exiguidade de espaço, para o que viria a receber o Asilo da Mendicidade, nas
Fontainhas.
Em 1861, teve lugar no edifício da Bolsa uma exposição
Industrial, que teve a presença de 650 expositores, sendo, alguns deles, espanhóis
e que foi um sucesso. Estava, assim, criada a necessidade de encontrar um espaço digno e que servisse à realização de todos estes eventos. Esse espaço seria o Palácio de Cristal (1865-1951), construído em terrenos da freguesia de Massarelos, no antigo Campo da Torre da Marca, que pertenciam à Câmara, e toda uma área pertença de particulares, que teve de ser expropriada.
Foi, então, criada a
Sociedade do Palácio de Cristal, tendo sido emitidas acções de 100$000, num
total de 100 contos de reis, podendo o capital subir a 200 contos de reis.
A companhia fundadora do Palácio de Cristal, sonho do médico-cirurgião
Dr. António Ferreira Braga, para o qual alistou o visconde de Vilar d’Allen,
acabaria por surgir.
Diga-se que o Dr. Braga era um grande capitalist, que
acabaria por morrer em 1870, na mais profunda miséria, ao pôr na execução do seu
sonho todos os seus capitais, o que o viria a desgraçar.
O Campo da Torre da Marca, após as lutas liberais, chegou a chamar-se, em homenagem a D. Pedro IV, Campo do Duque de Bragança, nome que
não vingou.
Em 27 de Fevereiro de 1862, a direcção da Sociedade do
Palácio de Cristal pede o aforamento ou concepção do terreno de domínio
municipal para a construção do Palácio; a sociedade propõe-se abrir uma nova
rua (hoje, a Rua Jorge Viterbo Ferreira) a ligar o Largo da Boa Nova com a Rua
da Restauração cedendo, a dita sociedade, o que fosse preciso da quinta
expropriada de Sete-Campos.
A área pretendida para execução do projecto, na sua totalidade, contemplaria diversas propriedades.
A área pretendida para execução do projecto, na sua totalidade, contemplaria diversas propriedades.
Planta do Largo da
Torre da Marca e imediações
Legenda:
1. Campo do Duque de
Bragança
2. Quinta dos Sete
Campos (de Maria Constância)
3. Conde de Terena
4. Rua da
Restauração
5. Capela de Carlos
Alberto
6. Quartel
7. Campo ou Largo da
Torre da Marca
8. Rua do Triunfo
9. Antigo caminho
público
10. De João da Rocha
Sousa
11. Quinta do
Passadiço de José Cardoso de Lucena
12. Quinta do
Sacramento dos herdeiros de António Ferreira Pinto Basto
13. Viela de
Entre-Quintas
14. Escadas de
Entre-Quintas
15. Rua de Vilar
16. Capela
17. Rua da Boa Nova
18. Quintas de João
Pacheco Pereira
19. De Joaquim José
de Sousa Reis
20. Teodora Joaquina
da Cunha
21. Herdeiros de
Rosa Emília da Fonseca
22. Diversos
O Palácio de Cristal, da autoria do arquitecto inglês Thomas
Dillen Jones, foi construído em granito, ferro e vidro, tendo o Crystal Palace
londrino de John Praxton, por modelo, apresentando três naves e três pisos: cave, rés-do-chão
e um piso.
O edifício do Palácio de Cristal portuense, com as suas três
naves, media 150 m de comprimento por 72 m de largura.
A nave central tinha uma abóboda em vidro com 19 metros de
altura e 107m de profundidade e 23,4 m de largura. De menor volume, as naves
laterais ficavam-se pelos 8,3 metros de largura e 94m de comprimento.
Na fachada, a inscrição “Progredior” anunciava os novos
tempos de progresso que o Palácio de Cristal encarnava.
Foi integrado num amplo jardim, da autoria de Émile David, arquitecto
paisagista alemão que projectou também os jardins da Cordoaria e do Passeio
Alegre, onde estavam colocadas duas fontes, um lago, um chalet, um circo, e
diversos equipamentos de jardim.
Em 1933, o edifício e os respectivos jardins foram
adquiridos pela Câmara Municipal do Porto.
O Palácio de Cristal sendo visível o portão de acesso aos
jardins
“Segundo o boceto histórico do sr. Conde de
Samodães, em 30 de Agosto de 1861, reuniram-se no edifício da Bolsa, os
fundadores do Palácio de Cristal, sob a presidência do sr. Guilherme Augusto
Machado Pereira, sendo eleitos para a direcção e conselho fiscal os srs.
Alfredo Allen, Francisco Pinto Bessa, Visconde da Trindade, José Joaquim
Pereira de Lima e José Frutuoso Aires de Gouveia Osório.
Em 3 de Setembro do mesmo ano, fez-se a
inauguração do Palácio de Cristal, presidida por D. Pedro V. O soberano
inaugurou os trabalhos lançando um punhado de terra em um carrinho de serviço.
A planta, perfil, alçado e cortes do edifício foram feitos pelo arquitecto
inglês Thomas Dillen Jones.
No dia seguinte à inauguração partiu D. Pedro
V para Lisboa, tendo-lhe sido entregue, antes de embarcar, o diploma de
presidente honorário da Sociedade. A obra de pedra, ferro e cristal, segundo o
dr. Carlos de Passos, tomaram-na os empreiteiros C. D. Young & Cª por 108
contos, sob a inspecção do engenheiro F. W. Shields e direcção do engenheiro
Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa. Emilio David, jardineiro-paisagista alemão,
encarregou-se do desenho dos jardins e do parque. As decorações foram entregues
a um pintor inglês e a direcção coube a Shilds”.
Fonte – Site: portoantigo.org
Em 17 de Agosto de 1865, seria criada a “Agência de Polícia
Civil" do Porto, a primeira do país, por iniciativa do Governador do Porto, Sebastião
Lopes de Calheiros e Menezes, para prestar auxílio aos visitantes da futura “Exposição
Internacional Portuense”, com que se inaugurou o Palácio de Cristal. Era, assim,
autorizado o estabelecimento de uma força policial, de cariz urbano e civilista,
quase desarmada, a exemplo da Metropolitan Police de Londres,
criada em 1829.
Dois anos depois, seria esta força instituída em Lisboa e por
carta de lei, surgiria a autorização para todas as capitais de distrito.
O Palácio de Cristal foi concebido para acolher a grande
Exposição Internacional do Porto, organizada pela então Associação Industrial
Portuense, hoje, Associação Empresarial de Portugal.
A Exposição Industrial, para além de contar com a visita
oficial do rei D. Luís, de Dona Maria Pia e do príncipe herdeiro, contou ainda
com 3.139 expositores, dos quais 499 franceses, 265 alemães, 107 britânicos, 89
belgas, 62 brasileiros, 24 espanhóis, 16 dinamarqueses e ainda representantes
da Rússia, Holanda, Turquia, Estados Unidos e Japão.
Em 18 de Setembro de 1865, o rei D. Luís I, D. Maria Pia, o
príncipe D. Fernando II (consorte da rainha D. Maria II) e o infante D. Augusto
(Duque de Coimbra, 7º filho de D. Maria II e de D. Fernando II) inauguraram o
Palácio de Cristal.
Nave central do Palácio de Cristal na exposição de 1865
Nave lateral do Palácio de Cristal na Exposição de 1865 (mostra de Belas Artes)
Encerrada que foi a exposição, em 2 de Fevereiro de 1866, pelo rei D. Luís, muito pouca coisa aconteceria.
A denominada Sociedade do Palácio de Cristal, responsável pelo lançamento do empreendimento, passou a fazer a gestão de todo o complexo construído, o que se viria a revelar uma tarefa ciclópica.
De vez em quando, Henrique Burnay e o seu sócio Heitor
Guichard, da firma Burnay & Guichard, que tinham tomado de arrendamento o
espaço, incluindo os bazares e os jardins, planeavam um espectáculo
pirotécnico, que de pouco beneficiavam os accionistas do recinto.
Mais tarde, levaram à cena pequenas exposições, espectáculos
de ginástica, concertos musicais, etc.
Aos Domingos e Quintas-Feiras havia música no coreto.
No carnaval e, não só, os bailes do Palácio ganharam fama.
Uma dessas festas, relacionada com o carnaval, era o
Mi-Carême, uma festa de origem francesa, localizada fora do período de carnaval
tradicional, de modo a atenuar o largo período de abstinência imposto pela
Quaresma.
Os portugueses, com o mesmo espírito do Mi-Carême, têm os bailes da Pinhata.
Os portugueses, com o mesmo espírito do Mi-Carême, têm os bailes da Pinhata.
A nave principal do Palácio de Cristal foi, muitas vezes, usada para expôr grandes equipamentos.
Dirigível exposto na nave principal do Palácio de Cristal
Aeroplano, em exposição no Palácio de cristal presente, em 1912, num festival aéreo que decorreu junto do Castelo do Queijo
Apesar das realizações levadas a cabo nas suas instalações,
foram sempre insuficientes os proventos obtidos para as finanças de tão grande
nau.
No dia 20 de Fevereiro de 1916, no cartório notarial do Dr. António Mourão, era assinada a escritura de arrendamento do Palácio de Cristal, pelo prazo de dezanove anos, a uma parceria de que eram directores César Ramos e Romualdo Torres.
No dia 20 de Fevereiro de 1916, no cartório notarial do Dr. António Mourão, era assinada a escritura de arrendamento do Palácio de Cristal, pelo prazo de dezanove anos, a uma parceria de que eram directores César Ramos e Romualdo Torres.
O Palácio e seus jardins inaugurados em 1865, vieram a ser
adquiridos pela Câmara Municipal do Porto em 1933, e o Palácio demolido em
Dezembro de 1951, pois, em 1949, aquando do centenário da Associação Industrial
Portuense, tinha ficado decidido que se construiria um novo edifício, o
"Pavilhão dos Desportos", hoje chamado, Pavilhão Rosa Mota.
Palácio de Cristal
Vista nocturna do Palácio de Cristal e do jardim de entrada, c. 1905
Miniatura do
primitivo Palácio de Cristal - Modelo da autoria de Agostinho Conceição
Gonçalves Teixeira
Ao longo dos seus 86 anos de existência, o Palácio de
Cristal acolheu muitas outras exposições, destacando-se a 1ª Exposição de
Rosas, ocorrida em 17 de Junho de 1866, na nave central do Palácio de Cristal,
sob direcção do jardineiro-paisagista Emílio David, com participação dos
horticultores Marques Loureiro, Gentil Gomes da Silva e dezenas de amadores, e
a de 1879 ou a de 1899, inaugurada a 6 de Maio, bem como a de 1907, todas
subordinadas ao mesmo tema.
Peça jornalística do jornal “A Voz Pública” de 31 de Março
de 1907, sobre a Exposição de Rosas a ser realizada naquele ano, no Palácio de
Cristal
E muitas outras, entre elas, a Exposição Agrícola em 1903, a Exposição Automóvel em 1914 e a Exposição Colonial inaugurada em Junho de 1934.
Desta última exposição sobrevive
o Monumento ao Esforço Colonizador Português, actualmente colocado no topo
oeste da Avenida do Marechal Gomes da Costa, na Praça do Império.Na passagem do século XIX para o século XX, foi director do Palácio de Cristal e ficou durante anos, na memória dos portuenses, José Vieira da Cruz.
Na sua imponência, o Palácio de Cristal, feito
principalmente para acolher grandes exposições agrícolas e industriais,
continha duas salas de espectáculos: a Nave Central ou Teatro Popular; e o
Teatro Gil Vicente.
Ambos se tornaram palcos regulares para a música, acolhendo
os primeiros concertos sinfónicos no Porto e aproveitando o esplendoroso órgão
de 2750 tubos.
O Teatro Gil Vicente
ocupava a antiga Sala de Leitura e Conferências, tendo sido inaugurado em 14 de
Agosto de 1868, como forma de minorar os problemas financeiros da Sociedade.
Em 2 de Abril de 1916, ocorre a estreia do grande pianista
polaco Rubinstein no teatro Gil Vicente, com inauguração da luz elétrica no
teatro, por iniciativa do Orfeão Portuense.
Ainda por iniciativa do Orfeão Portuense apresenta-se
naquele teatro em 7 de Março de 1917, o grande pianista Paulo Loyonnet, artista
de fama mundial.
Alguns meses antes, a 1 de Dezembro de 1916, tinha ocorrido a inauguração do novo cinema, instalado na cave do Palácio de Cristal.
Alguns meses antes, a 1 de Dezembro de 1916, tinha ocorrido a inauguração do novo cinema, instalado na cave do Palácio de Cristal.
Concerto sinfónico em 1906 - Ed. Aurélio da Paz dos Reis
No texto seguinte é feita uma descrição do edifício e
envolvente:
“Após a exposição de
1865, o Palácio de Cristal foi palco de muitos outros certames, a par de
iniciativas desportivas, culturais e recreativas. No interior da nave central,
ao fundo, foi instalado um famoso órgão, tido por muitos como um dos melhores
do mundo. Junto da nave lateral, para nascente, abriu o Teatro Gil Vicente, com
capacidade para 1.000 espetadores e, na extremidade oposta, as estufas com
plantas tropicais. Nas naves laterais encontravam-se serviços de apoio, tais
como o gabinete de leitura, os bazares e as salas de exposição e venda de belas
artes. Do lado oeste, sobre os jardins e o lago, encontrava-se um requintado
restaurante.
O Palácio de Cristal
foi assim, ainda, um importante espaço de cultura, contendo esse órgão de
tubos que era dos maiores do mundo. Foi neste palácio que se realizaram
importantes concertos do compositor Viana da Mota ou da virtuosa violoncelista
Guilhermina Suggia.
Em volta do palácio, o
espaço era igualmente muito acolhedor e rapidamente se tornou num autêntico
local de desfile da fina flor da sociedade portuense. No coreto da conhecida
avenida das Tílias, todos os domingos e feriados havia música por conta de
bandas regimentais. Mais à frente, a concha, ainda existente, apresentava peças
de teatro e recitais. Ao fundo da avenida, à direita, havia um chalé alpino, de
onde se apreciavam desafogadas vistas sobre a foz do rio e o mar. Nas
proximidades estavam as coleções zoológicas, a aldeia dos macacos e a gaiola
das águias. À volta, o compacto arvoredo convidava ao passeio e à
tranquilidade.
Nas primeiras décadas
do século XX, a deficitária exploração do palácio começou a comprometer a sua
boa manutenção e o edifício foi revelando sinais crescentes de degradação. Em
1933, a Câmara Municipal do Porto comprou o recinto por 2.000 contos (10.000
euros), com o objetivo de aí realizar a Exposição Colonial Portuguesa no ano
seguinte. Como sinal de afirmação do Estado Novo e da política colonial, nos
jardins do palácio foram erguidas réplicas idealizadas de aldeias autóctones
das colónias portuguesas de então, “animadas” por nativos trazidos
propositadamente para o efeito. Nesse ano de 1934, milhares de portuenses
acorreram ao palácio para admirar os “indígenas”, com o mesmo espanto que
sentiam perante animais exóticos num jardim zoológico. Este foi o último grande
evento realizado no palácio.
Em 1941, o violento
ciclone que assolou a região agravou seriamente o estado de ruína em que já se
encontrava a cobertura do edifício. A persistente exiguidade do orçamento
camarário foi adiando sucessivamente reparações profundas, que tanto tinham de
urgentes como de dispendiosas.
Sob a presidência do
coronel Licínio Presa, por deliberação camarária de dezembro de 1951, foi
decidido demolir o Palácio de Cristal. O pretexto foi a necessidade urgente de
se construir um recinto moderno para acolher o campeonato mundial de hóquei em
patins a realizar no ano seguinte. Desta forma inglória, pôs-se fim ao Palácio
de Cristal, símbolo ímpar da arquitetura do ferro em Portugal e que tão
fortemente marcou a vida económica, social e cultural da cidade”.
Com a devida vénia a Manuel de Sousa
“Com 2750 tubos, o órgão do Palácio de Cristal
era um instrumento imponente, na linha dos grandes órgãos românticos, ou
sinfónicos, cuja invenção se deve ao organeiro francês Aristide Cavaillé-Coll
(1811/1899) … Construído em 1862 em Londres por J. William Wolber e vendido para
o Porto por sete contos de reis… Para acompanhar a montagem e propiciar a
instrução necessária à sua eficiente utilização, deslocou-se ao Porto o já
então célebre organista e compositor francês Charles-Marie Widor (Lion 1844 –
Paris 1937), personalidade marcante da música europeia, embora hoje bastante
esquecido.”
Maestro Manuel Ivo
Cruz, In O Tripeiro Série VII, Ano XIX, Nº. 9
Na sessão inaugural
deste órgão, Widor tocou uma peça musical por si composta propositadamente para
esse concerto. Esta peça foi de novo executada em 1995 no concerto de
inauguração do órgão romântico da Igreja da Lapa.
"Quando, em
1951 este órgão foi destruído, constou na cidade que os tubos teriam sido
levados e “alguém” se teria aproveitado da venda dos metais. Porém a “história”
já vem de anos atrás. Em Maio de 1935 a CMP pretendeu mandar reparar o órgão de
tubos do Palácio de Cristal. Em 16 de Julho foram abertas 6 propostas de casas
portuguesas e estrangeiras, mas a obra não foi adjudicada. Em 1947, a pedido da
CMP veio ao Porto o Engº. José Ramos Sampaio, sócio da firma João Sampaio,
Lda., organeiros de Lisboa, para examinar o estado do referido órgão. Descreve
a sua visita ao palácio da seguinte forma: “Fomos ao Palácio. Não nos queriam
deixar entrar, sendo necessário para isso mostrar a carta em que a câmara me
participava a aceitação das condições para eu fazer a dita vistoria. Logo atrás
de mim veio um outro guarda que disse depois que tinha ouvido a conversa e
vinha para auxiliar em qualquer coisa. Depois de pôr uma escada de madeira,
restos de um escadote improvisado e termos subido para o estrado do órgão,
despimos os casacos e vestimos os fatos de macaco (eu e o Mário). Entrámos lá
dentro levando eu a pasta com os apontamentos. Fiquei espantado quando vi que
tinham desaparecido todos os tubos. O Mário só encontrou um minúsculo, fino
como uma metade de um lápis e que estava caído e quase não se via, por isso
escapou. Não havia mais. Nos secretos todos (excepto nos dos Pedais) não havia
um tubo de madeira no lugar. Tinham sido todos tirados do lugar para facilitar
o roubo e estavam amontoados sobre os secretos. Nos secretos laterais da
pedaleira tinham ficado no lugar os tubos grandes de madeira e os funis (só os
funis) dos tubos de palheta (os pés de chumbo com as palhetas desapareceram).
No secreto surdina (todo dentro de uma caixa expressiva) tinham tirado várias
réguas expressivas para entrarem lá dentro e fazer a mesma devastação. Era
horrível o aspecto daquilo. Restavam os tubos da fachada, receavam talvez que
se vise a falta… o homem disse-me que aquilo estaria assim há muitos anos!
Respondi que não pois eu mesmo lá estivera havia 12 anos e não faltavam senão
poucos tubos. No outro dia visitei o director dos serviços culturais da câmara”.
In O Tripeiro Série
VI, Ano XII
Orgão de Tubos em
1866 - Fonte: “Archivo Pituresco”, In “portoarc.blogspot.pt”
Nave central do antigo Palácio de Cristal. Ao fundo, o órgão
de tubos
Nas instalações do Palácio de Cristal funcionaram, no fim do século XIX, umas lojas denominadas de bazares, que pela primeira vez
empregaram mulheres como caixeiros, conhecidas por Femmes de Comptoir, que de
vestido preto e touca branca esperavam os clientes junto ao balcão.
Os bazares não vingaram, pois, tal tipo de comércio nunca
entrou nos hábitos dos portuenses, que preferiam o tradicional, como nos conta
Alberto Pimentel no texto seguinte.
O edifício observado em
perspectiva
Palácio de Cristal observado de outro ângulo
O Palácio de Cristal em 1910 - Ed. Photo Guedes
Uma vista aérea do extinto Palácio de Cristal
Exposição de Botânica no Palácio de Cristal, em 1879 – Ed. “O
Occidente”
Exposição de Cerâmica no Palácio de Cristal, em 1901- Ed.
Aurélio da Paz dos Reis; Fonte: Rui Cunha, adm. do blogue “portoarc.blogspot.pt”
Exposição de Crisântemos no Palácio de Cristal, em 1904 -
Fonte: Rui Cunha, adm. do blogue “portoarc.blogspot.pt”
Exposição de Floricultura no Palácio de Cristal, em 1908 – Ed.
Aurélio da Paz dos Reis
Exposição automóvel no Palácio de Cristal, em 1914
Exposição Industrial no Palácio de Cristal. em 1924 - Fonte: Arq. de Jayme da Costa, Lda
Exposição automóvel no Palácio de Cristal, em 1926 – Fonte:
Rui Cunha, adm. do blogue “portoarc.blogspot.pt”
“O I Salão Automóvel,
em Portugal, realiza-se na cidade do Porto, no ano de 1914. A ideia para a sua
organização surge em 1913, após a realização do primeiro "Circuito do
Minho." No final desta prova desportiva, os veículos que nela participam são
expostos na nave central do antigo Palácio de Cristal do Porto.
(...)A eclosão da Primeira
Grande Guerra, em 1914, vem impedir a realização do evento nos anos que se
seguem. A partir de 1922, e até ao início da II Grande Guerra em 1939, o Salão
Automóvel do Porto é organizado quase todos os anos no Palácio de Cristal”.
Fonte: “aprenderesds.wikispaces.com”
Exposição das Indústrias Portuguesas, em Outubro de 1926 - Fonte: Revista Ilustração em 16 de Outubro de 1926
Exposição Industrial no Palácio de Cristal, em 1930
Para além do Teatro Gil Vicente funcionou, no interior do
edifício do Palácio de Cristal, um restaurante e um casino.
Sala do restaurante do Palácio de Cristal
Grupo de comensais, à entrada do restaurante do Palácio de Cristal, c. 1947
Varanda do restaurante do Palácio de Cristal, em 1920 - Fonte:
CMP: Arquivo Histórico Municipal
Em 1950, ainda estava em funcionamento o restaurante do
Palácio de Cristal.
Publicidade ao Restaurante do Palácio de Cristal, em 24
Junho de 1950 – In jornal “O Comércio do Porto”
Sala de estar do casino - Ed. Foto Alvão
As traseiras do Palácio de Cristal – Fonte: AHMP (Arquivo
Histórico Municipal do Porto)
Objecto de variadas intervenções ao longo dos anos, o
Palácio de Cristal, em meados da década de 1930, seria mais uma vez alvo de
obras.
Finalmente, o palácio seria demolido em 1951, tendo-se erguido no seu
lugar uma nave de betão armado, a que foi dado o nome de Pavilhão dos Desportos,
segundo projecto do arquitecto Carlos Loureiro e a pretexto do Campeonato
Mundial de Hóquei em Patins. O edifício foi demolido em menos de um
ano, sendo destruído à martelada, o órgão de tubos.
Devido à contestação popular à demolição ocorrida, a designação
Palácio de Cristal tem sobrevivido até aos nossos dias, como forma de protesto.
Estado da demolição do palácio de Cristal em 1952 – Fonte:
“frame” de filme do Youtube de António S. Tavares
O novo Pavilhão dos Desportos em início de construção
Cartaz do campeonato de hóquei em patins de 1952
Pelo cartaz acima observa-se que o vencedor do VIII
Campeonato do Mundo determinava também o vencedor do XVIII campeão da Europa.
Recinto em acabamento onde se disputaria o campeonato do
mundo de 1952
O Campeonato começou
em 29/6/1952, mas o novo pavilhão ainda estava por acabar. Foi disputado num
pavilhão sem cobertura. A fachada principal do Palácio de Cristal ainda estava
de pé.
Na final do torneio
Portugal venceria a Itália por 4-0 e era campeão do Mundo e da Europa.
Sob o comando do seleccionador Sidónio Serpa foram campeões,
Cruzeiro, Jesus Correia, Emídio, Correia dos Santos, José Dias, Raio, Edgar e
Cipriano.
Após a construção de denominado Pavilhão dos Desportos, agora o Pavilhão Rosa Mota, efectuaram-se nele, para além de provas desportivas de diversa índole, várias exposições afectas a diversas actividades económicas.
Pavilhão Rosa Mota
Exposição Automóvel já no novo pavilhão
1ª Exposição Têxtil, em 1958 – Fonte: “portoarc.blogspot.pt”
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