Capela
de Nossa Senhora da Lapa
A Capela de Nossa Senhora da Lapa fica na saída do Jardim do Passeio
Alegre e entrada na Cantareira. Há quem diga que ela é anterior à capela-farol
de São Miguel-o-Anjo.
Na planta de Telles Ferreira, as casas
anexas à capela de Nossa Senhora da Lapa eram identificadas por “Casas de
Francisco da Silva” – Fonte: Google maps
«Na
Foz do Douro, junto ao Passeio Alegre, ergue-se, desde há muitos anos, com a
fachada voltada ao mar, uma pequena ermida que tem como padroeira Nossa Senhora
da Lapa. Em épocas muito recuadas foram grandes devotos desta padroeira, os
pescadores locais; mareantes e embarcadiços; e, ultimamente, os pilotos da
barra do Douro, quando esta corporação funcionava por ali perto e a sua
atividade era fundamental para o acompanhamento, em segurança, da entrada e
saída de navios na perigosíssima barra do rio Douro.
Foi
uma das mais queridas capelas da zona da Foz do Douro com direito a festa e
arraial que tinham organização primorosa dos pilotos que zelavam, também, pelo
culto, asseio, adorno e conservação do pequeno templo. No lintel por cima da
porta da entrada no templo está gravada uma legenda em latim que, em vernáculo,
diz o seguinte: construída no ano de 1391.
Fundaram-na
uns devotos do culto de Nossa Senhora da Lapa, uns pobres pescadores cujo barco
teria sido salvo de um naufrágio, por interceção de Nossa Senhora da Lapa,
vindo dar ao areal que existia onde agora está o jardim. Devia ser bem
pequenina a primitiva ermida. A que agora lá vemos resultou de vários restauros
feitos ao longo dos anos e de uma ampliação realizada em 1820.
Muitos
outros milagres, diz a tradição, fez a Senhora da Lapa, salvando, nomeadamente,
pequenas embarcações de pescadores sanjoaneiros quando pareciam prestes a serem
tragados pelo mar revolto em dias de temporais.
De um
desses “salvamentos” há registo escrito. Passou-se com o patacho “Rápido” no
dia 29 de Janeiro de 1866. O veleiro estava a entrar na barra quando uma vaga
mais alterosa o atirou para cima de um rochedo. A história diz que “morreriam
todos e o navio perder-se-ia se Nossa Senhora da Lapa não tivesse ouvido as
preces que os tripulantes do navio lhe dirigiram…”
Entretanto,
o culto ao redor da imagem de Nossa Senhora da Lapa foi esmorecendo, decaiu e,
entre os homens do mar, está, se não extinto, pelo menos adormecido. Mas o
pequeno templo resiste. É hoje propriedade particular. Mas foi durante muitos
anos um centro de devoção marinheira e continua a ser, no aparente esquecimento
em que jaz, um trono de saudades no coração dos fozeiros».
Cortesia de Germano Silva; Revista Visão de
8 de Julho de 2017
Capela
do Senhor dos Navegantes
Na Rua das Sobreiras encontra-se, hoje, na
posse de particulares, a Capela do Senhor dos Navegantes, para onde os
pescadores da Afurada, até perto de meados do séc. XX se dirigiam, atravessando
o rio Douro, tripulando as suas embarcações, para fazerem uma festa ao Senhor
dos Navegantes. Entretanto, a capela fechou, está vazia, o culto terminou e,
hoje, é uma loja comercial.
Em tempos de culto, a capela pertenceu à
chamada “Casa das Sobreiras”, como se pode observar, a seguir, na planta de
Telles Ferreira, de 1892.
Antes, aquela casa foi conhecida por “Solar
das Sobreiras”.
Afirmando alguns estudiosos que o solar será
de construção do século XVII, outros afirmam que ele viu a luz do dia no século
XVIII.
Certo é que, numa gravura publicada em 1789,
da Planta Geográfica da Barra da Cidade do Porto, do desenhador e arquitecto
Teodoro de Sousa Maldonado (1759-1799), o solar apresenta, na opinião da Drª
Helena Osório, no local da capela, uma torre.
Planta
geográfica da barra da cidade do Porto (oficina de António Alvares Ribeiro,
1789), de Teodoro de Sousa Maldonado
“Ninguém
ousa atribuir o dito paço renascentista a Francesco da Cremona, por encomenda
de D. Miguel da Silva. Pode ser mais antigo e integrar-se num daqueles
recebidos por D. Miguel da Silva, depois remodelados. Falam por si a cantaria
do frontispício e especialmente fachada virada ao jardim a norte e quinta, com
registos que oscilam entre os séculos XVI e XVII: o portal encimado por concha,
porventura associada ao Caminho Central de Santiago; as janelas decoradas com
grinaldas e outros elementos fitomórficos estilizados; e sobretudo a ínfima
parte que resta da loggia traseira
que dava para o antigo jardim e quinta, característica dos paços medievais, com
colunata de fuste liso e capitel jónico associado a divindades femininas.
Diferem os pinos no frontispício e recorte do portal da capela de transição
entre os séculos XVII e XVIII, em honra da Senhora dos Navegantes, a qual
recebeu muitos pedidos de intercessão na Idade Média, na época em que os
cruzados faziam paragem na Foz antes de partirem, rumo à Palestina, para a
proteção dos lugares sagrados. Todas as construções acima do primeiro andar,
dito nobre, remetem ao século XIX. O seu jardim centenário e demais terrenos da
Quinta de Sobreiras foram sacrificados à construção de prédios, o último em
condomínio privado”.
Cortesia da Drª Helena Osório (Investigadora
do Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade da Faculdade de Belas
Artes da Universidade do Porto)
Aquele pequeno templo só teria sido
edificado, então, na viragem do século XVIII para o XIX.
A propósito da Capela do Senhor dos
Navegantes, o periódico “A Nação” relatava, a 12 de Setembro de 1853:
Sobre as freiras de Santa Clara e a doçaria
que as tornou famosas, se referia Pinheiro Chagas.
«Junto
da Porta do Sol o convento de Santa Clara, tão celebre pelos seus pasteis,
quanto o d'Odivellas pela marmellada ; porque isto de fazer dôces é uma
occupação ascetica , que me fez sempre ter uma alta idéa da poesia dos
mosteiros, e que me tem mostrado em beatificas visões as esposas de Christo em
torno das fornaIhas a calcularem o peso do assucar ! »
Pinheiro Chagas citado, In “O Porto na
Berlinda” de Alberto Pimentel
“Nem
só pelos pasteis se afamaram as freiras de Santa Clara . Tambem pelos manjares
brancos que fabricavam , e que se vendiam nas ruas a dez reis cada um. E ainda
pelo esgazeamento , que a trova celebra, e que lhes alegrava a vida no corropio
de côro para côro”.
Alberto Pimentel, In “O Porto na Berlinda”
A propósito das freiras de Santa Clara, o
povo cantava a modinha:
As freiras de Santa Clara
Andam n'uma roda viva :
Umas no côro de baixo ,
Outras no côro de cima .
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