segunda-feira, 19 de junho de 2017

(Continuação 11)

Capela de Nossa Senhora da Lapa
 
A Capela de Nossa Senhora da Lapa fica na saída do Jardim do Passeio Alegre e entrada na Cantareira. Há quem diga que ela é anterior à capela-farol de São Miguel-o-Anjo.
 


 

Na planta de Telles Ferreira, as casas anexas à capela de Nossa Senhora da Lapa eram identificadas por “Casas de Francisco da Silva” – Fonte: Google maps

 
 
 

Aspecto da Cantareira
 
 
 

Lavadouro na Cantareira em 1900
 
 
 
 
 
«Na Foz do Douro, junto ao Passeio Alegre, ergue-se, desde há muitos anos, com a fachada voltada ao mar, uma pequena ermida que tem como padroeira Nossa Senhora da Lapa. Em épocas muito recuadas foram grandes devotos desta padroeira, os pescadores locais; mareantes e embarcadiços; e, ultimamente, os pilotos da barra do Douro, quando esta corporação funcionava por ali perto e a sua atividade era fundamental para o acompanhamento, em segurança, da entrada e saída de navios na perigosíssima barra do rio Douro.
Foi uma das mais queridas capelas da zona da Foz do Douro com direito a festa e arraial que tinham organização primorosa dos pilotos que zelavam, também, pelo culto, asseio, adorno e conservação do pequeno templo. No lintel por cima da porta da entrada no templo está gravada uma legenda em latim que, em vernáculo, diz o seguinte: construída no ano de 1391.
Fundaram-na uns devotos do culto de Nossa Senhora da Lapa, uns pobres pescadores cujo barco teria sido salvo de um naufrágio, por interceção de Nossa Senhora da Lapa, vindo dar ao areal que existia onde agora está o jardim. Devia ser bem pequenina a primitiva ermida. A que agora lá vemos resultou de vários restauros feitos ao longo dos anos e de uma ampliação realizada em 1820.
Muitos outros milagres, diz a tradição, fez a Senhora da Lapa, salvando, nomeadamente, pequenas embarcações de pescadores sanjoaneiros quando pareciam prestes a serem tragados pelo mar revolto em dias de temporais.
De um desses “salvamentos” há registo escrito. Passou-se com o patacho “Rápido” no dia 29 de Janeiro de 1866. O veleiro estava a entrar na barra quando uma vaga mais alterosa o atirou para cima de um rochedo. A história diz que “morreriam todos e o navio perder-se-ia se Nossa Senhora da Lapa não tivesse ouvido as preces que os tripulantes do navio lhe dirigiram…”
Entretanto, o culto ao redor da imagem de Nossa Senhora da Lapa foi esmorecendo, decaiu e, entre os homens do mar, está, se não extinto, pelo menos adormecido. Mas o pequeno templo resiste. É hoje propriedade particular. Mas foi durante muitos anos um centro de devoção marinheira e continua a ser, no aparente esquecimento em que jaz, um trono de saudades no coração dos fozeiros».
Cortesia de Germano Silva; Revista Visão de 8 de Julho de 2017
 
 
 
 
Capela do Senhor dos Navegantes
 
 
Na Rua das Sobreiras encontra-se, hoje, na posse de particulares, a Capela do Senhor dos Navegantes, para onde os pescadores da Afurada, até perto de meados do séc. XX se dirigiam, atravessando o rio Douro, tripulando as suas embarcações, para fazerem uma festa ao Senhor dos Navegantes. Entretanto, a capela fechou, está vazia, o culto terminou e, hoje, é uma loja comercial.
Em tempos de culto, a capela pertenceu à chamada “Casa das Sobreiras”, como se pode observar, a seguir, na planta de Telles Ferreira, de 1892.


 


 
 
Antes, aquela casa foi conhecida por “Solar das Sobreiras”.
Afirmando alguns estudiosos que o solar será de construção do século XVII, outros afirmam que ele viu a luz do dia no século XVIII.
Certo é que, numa gravura publicada em 1789, da Planta Geográfica da Barra da Cidade do Porto, do desenhador e arquitecto Teodoro de Sousa Maldonado (1759-1799), o solar apresenta, na opinião da Drª Helena Osório, no local da capela, uma torre.
 
 
 

Planta geográfica da barra da cidade do Porto (oficina de António Alvares Ribeiro, 1789), de Teodoro de Sousa Maldonado

 
 
“Ninguém ousa atribuir o dito paço renascentista a Francesco da Cremona, por encomenda de D. Miguel da Silva. Pode ser mais antigo e integrar-se num daqueles recebidos por D. Miguel da Silva, depois remodelados. Falam por si a cantaria do frontispício e especialmente fachada virada ao jardim a norte e quinta, com registos que oscilam entre os séculos XVI e XVII: o portal encimado por concha, porventura associada ao Caminho Central de Santiago; as janelas decoradas com grinaldas e outros elementos fitomórficos estilizados; e sobretudo a ínfima parte que resta da loggia traseira que dava para o antigo jardim e quinta, característica dos paços medievais, com colunata de fuste liso e capitel jónico associado a divindades femininas. Diferem os pinos no frontispício e recorte do portal da capela de transição entre os séculos XVII e XVIII, em honra da Senhora dos Navegantes, a qual recebeu muitos pedidos de intercessão na Idade Média, na época em que os cruzados faziam paragem na Foz antes de partirem, rumo à Palestina, para a proteção dos lugares sagrados. Todas as construções acima do primeiro andar, dito nobre, remetem ao século XIX. O seu jardim centenário e demais terrenos da Quinta de Sobreiras foram sacrificados à construção de prédios, o último em condomínio privado”.
Cortesia da Drª Helena Osório (Investigadora do Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto)
 
 
 
Aquele pequeno templo só teria sido edificado, então, na viragem do século XVIII para o XIX.

 
 

Capela do Senhor dos Navegantes
 
 
 
A propósito da Capela do Senhor dos Navegantes, o periódico “A Nação” relatava, a 12 de Setembro de 1853:


 

Cortesia de “Comer por Escrito (Facebook)”

 
 
Sobre as freiras de Santa Clara e a doçaria que as tornou famosas, se referia Pinheiro Chagas.

 
«Junto da Porta do Sol o convento de Santa Clara, tão celebre pelos seus pasteis, quanto o d'Odivellas pela marmellada ; porque isto de fazer dôces é uma occupação ascetica , que me fez sempre ter uma alta idéa da poesia dos mosteiros, e que me tem mostrado em beatificas visões as esposas de Christo em torno das fornaIhas a calcularem o peso do assucar ! »
Pinheiro Chagas citado, In “O Porto na Berlinda” de Alberto Pimentel
 
 
“Nem só pelos pasteis se afamaram as freiras de Santa Clara . Tambem pelos manjares brancos que fabricavam , e que se vendiam nas ruas a dez reis cada um. E ainda pelo esgazeamento , que a trova celebra, e que lhes alegrava a vida no corropio de côro para côro”.
Alberto Pimentel, In “O Porto na Berlinda”
 
A propósito das freiras de Santa Clara, o povo cantava a modinha:
 
As freiras de Santa Clara
Andam n'uma roda viva :
Umas no côro de baixo ,
Outras no côro de cima . 

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