domingo, 25 de junho de 2017

(Continuação 17) - Actualização em 20/06/2018

18.13 Praça dos Leões e imediações



“Não faltam ruas, praças e avenidas, que tenham 2 toponímias: a oficial e a popular.
A popular é consagrada pelo tempo, pelos hábitos, pela história e memória dos lugares e quase sempre traduzem a evolução dos sentimentos dos portuenses em relação a eles.
Um desses espaços urbanos é, sem sombra de dúvidas, os “Leões”, uma das praças nobres por excelência do Porto e mais conhecida por aquela designação do que a consagrada pela câmara.
Oficialmente, desde 1936, chama-se Praça de Gomes Teixeira, mas aqueles leões alados, colocados no meio da praça no século XIX pela companhia francesa que estava a administrar as águas da cidade, caíram no “goto” das pessoas que diziam que aqueles leõezinhos eram filhos da águia e do leão colocados na chamada Rotunda da Boavista, ou Praça de Mouzinho de Albuquerque!”
Com a devida vénia a César Santos Silva


Conhecida como Largo do Carmo até 1835, por deliberação camarária, a partir desse ano, passou a chamar-se de Praça dos Voluntários da Rainha e, mais tarde, Praça da Universidade. A 17 de Dezembro de 1936, adoptou o nome actual Praça de Gomes Teixeira.
A Fonte Monumental dos Leões, situada no centro da Praça dos Leões, tinha por função principal a diminuição da pressão da água na zona baixa da cidade e começaria a funcionar em 1886.


Edifício da Academia Politécnica, ainda em construção, c.1880



Na foto acima está uma vista da fachada voltada para a Praça dos Voluntários da Rainha, actualmente, de Gomes Teixeira. De notar que, estando o edifício em construção, ainda não existe a arcada no piso térreo, que estava ocupado em parte por lojas de comércio. Por aqui esteve o célebre Café Chaves.




Praça Gomes Teixeira, ainda sem fonte, em 1882 – In “O Romance do Romancista” de Alberto Pimentel 



O edifício da Academia, ainda em obras - Ed. Arnaldo Soares


Edifício da Universidade, c. 1930, já com a arcaria completada - Ed. Foto Alvão




Praça dos Voluntários da Rainha, em 1885 - Emílio Biel (Bibliothèque nationale de France)



Na foto acima, se vê que a Fonte dos Leões ainda não existe e, no Largo do Carmo, está estacionado um fiacre.



Praça dos Voluntários da Rainha e os trens de praça estacionados




Aqui, foi, também, a Praça dos Voluntários da Rainha 



Praça dos Leões e uma bomba de gasolina, em 1930 - Ed. Alvão



Praça dos Leões em 1908 e Praça de Santa Teresa ou do Pão, ao fundo 



Na foto acima, observam-se as primeiras instalações dos “Armazéns da Capela” que ocuparam, e daí o nome, o local onde esteve a antiga capela do convento das carmelitas, demolida em 1900. Pouco depois, vieram para este local os Armazéns do Chiado.



Grandes Armazéns do Chiado, em 1910 - Ed. Guia do Porto Ilustrado



O prédio da foto anterior, no qual foram instalados os "Grandes Armazéns do Chiado", teve licença de construção de 1906, requerida pelo conselheiro Boaventura Rodrigues de Sousa, que ficou conhecido, também, pelo palacete que foi sua residência na Avenida da Boavista e no qual funcionou o Colégio de Nossa Senhora do Rosário, entre 1926 e 1958.
A metade do prédio, apenas parcialmente visível, à direita, viria a ser ocupada no piso térreo, a partir de 1910, pelos “Armazéns do Castelo” com uma loja de luxo de artigos têxteis, produtos de decoração e roupa.
Os Armazéns do Castelo por aqui ficariam até 2015, quando fecharam portas, definitivamente.



Armazéns do Castelo - Fonte: Jornal "Público"





Declaração parcial de responsabilidade apresentada pelo mestre-de- obras do prédio que viria a albergar os "Grandes Armazéns do Chiado" - Fonte: AHMP


Os prédios de que era proprietário o conselheiro Boaventura Rodrigues Sousa, tinham a particularidade de apresentarem no alto da sua fachada principal, um medalhão com o monograma do seu nome.
Na área que foi do cemitério do convento foi encontrado o corpo incorrupto de uma freira quando se procedia a um alargamento das instalações do Colégio da Guia.
E passamos a pisar terrenos da antiga Praça de Santa Teresa, hoje, a Praça Guilherme Gomes Fernandes.




Praça do Pão, ainda com arvoredo




Praça do Pão quando a mudança da Foto União para a Praça da Trindade, já tinha sido concretizada
 
 
 

Praça Santa Teresa e a sua feira do pão
 
 
Na foto anterior, ao fundo (a meio), a casa de Barroso Pereira, à época, já ocupada com a “Fotografia Perez”.
 
 
 

Outra perspectiva da Praça do Pão




A praça, hoje, de Guilherme Gomes Fernandes foi antes denominada, Campo da Cancela da Velha, depois Campo da Via Sacra, depois Largo do Calvário Velho, Praça da Feira do Pão e, finalmente, Praça de Santa Teresa.
Em tempos recuados, a área terri­torial hoje ocupada pela actual Praça de Gui­lherme Gomes Fernandes e pelas moder­nas ruas das Carmelitas, de Cândido dos Reis, do Conde de Vizela, de Santa Teresa e da Galeria de Paris, que não existiam, era constituída por uma íngreme encosta, onde abundavam carvalheiras e oliveiras, e por um extenso terreno de cultivo a que se dava o nome de "Campo da Cancela da Velha". 
O topónimo de Praça da Feira do Pão foi, como o nome indica, por ser o local onde era transacionado aquele bem de primeira necessidade e que tinha sucedido à Praça Gomes Teixeira nessa função.
Até essa altura, realizava-se no espaço uma feira da farinha e dos cereais, no que é hoje a Praça de Gomes Teixeira, antiga Praça dos Voluntários da Rainha.
A Feira do Pão teve o seu início por mea­dos do século XIX, entre 1850 e 1853, e só dei­xou de se realizar já nos começos do século XX, em 26 de Maio de 1909, quando o pitoresco mercado foi transferido para o vizinho Mercado do Anjo. 
À feira do pão se deslocavam as padeiras de Valongo com a mercadoria sobre o lombo de burros, e as padeiras de Avintes com a broa tradicional da sua terra à cabeça, depois de terem atravessado o rio Douro em barcos que elas próprias conduziam.




Padeira de Valongo



Padeiras de Avintes



As padeiras de Valongo saíam de madrugada e costumavam juntar-se na Cruz das Regateiras para descansarem, beberem numa fonte ali existente e partirem para os diversos lugares de venda. O pão mais típico e apreciado era, e ainda é, a regueifa. Ao fim da tarde voltavam a reunir-se no mesmo local para seguirem todas juntas de forma a defenderem-se de possíveis assaltos, pois já lá chegavam de noite. 


“Dizia-se que as padeiras de Avintes eram as mais elegantes. Usavam a sua vestimen­ta típica: saia de lã azul e corpete do mesmo pano a realçar o busto avantajado. Na cabe­ça, o típico chapéu preto de largas abas. 
As de Valongo eram mais sóbrias, mas nem por isso menos vistosas. A saia era de lã ou de riscado, consoante a estação do ano, e a jaqueta curta. O que mais as distin­guia das de Avintes era a pequena capa que punham sobre os ombros. Os dias de maior movimento eram as terças e quintas-feiras, e os sábados, sem contar, claro, com as épo­cas especiais da Páscoa e do Natal”. 
Germano Silva



A nascente da Praça do Pão corria o muro da cerca do convento das Carmelitas e numa aberta da cerca existia um local onde se vendia erva e palha para os animais que vinham de Valongo. Do lado oposto do muro, a poente, ficavam casas de comércio, com o seu restaurante afamado “ O João do Buraco”, lojas de farinhas e cereais e outras com anexos para recolha dos muares envolvidos no negócio.



“Também desapa­receu da praça Santa Teresa, uma curiosa mercearia que funcio­nava no rés do chão do edifício que faz es­quina com o Largo do Moinho de Vento. 
Pertencia esse estabelecimento a uma família de comerciantes muito respeitada do Porto; os Fernandes Pereira. Esse típi­co estabelecimento ostentava na fachada tabuleta com uma única palavra: "Habili­tado". Significava que aquele estabeleci­mento estava habilitado a vender tabaco... mas do bom (...).
Dos antigos estabelecimentos desta praça, há dois que merecem ser aqui evocados por terem sido quase emblemáticos naquela zona: um era de um alfarrabista que funcionou num rés-do-chão perto do Largo do Moinho de Vento; o outro foi a célebre Farmácia de Santa Teresa, também conhecida por Farmácia Cristo".
Fonte: Germano Silva


Aqui, também ficava o jornal o “Correio do Porto”, que iniciou a publicação em 27 de Setembro de 1820, pouco depois da revolução de 24 de Agosto do mesmo ano.
A nascente desse espaço existiu a velhinha fonte de Santa Teresa, que tinha junto um tanque, onde os animais se dessedentavam e mais tarde no meio da praça em substituição da fonte foi levantado um fontanário.
Mais tarde, por iniciativa da Câmara Mu­nicipal, para a venda do pão, foram cons­truídas barracas de madeira que passaram a ocupar a parte central da praça. Para se resguardarem do sol, as vendedeiras pas­saram a utilizar amplos guarda-sóis de pano. 
Em 1855, na Praça de Santa Teresa, nº 28, estava a tipografia de Sebastião José Pereira onde foi impresso um livro poema herói-cómico oferecido às senhoras portuguesas na pessoa das senhoras Cirnes do palacete do Poço das Patas, da autoria de um  irmão de Almeida Garret de seu nome Alexandre Garrett. 
Por aqui, existiu, na transição do século XIX para o século XX, uma escola de esgrima que, em 1914, ainda estava aberta e que funcionava no 1º andar de um prédio, no local onde esteve a companhia de seguros “A Mundial”.



Aluno da escola de esgrima da Praça Santa Teresa, em 1914 – Fonte: “O Tripeiro” de Maio 2016; Foto cedida por Maria Gabriela Oliveira



O mestre de armas daquela escola era o capitão do exército Correia de Sousa, e o aluno de 8 anos, Fernando Jonhston de Oliveira, tendo a foto sido tirada nos estúdios da Foto Beleza, que era contígua à escola.
O menino morava na vizinha Praça Gomes Teixeira e pertencia a uma família que tinha um estabelecimento de fazendas nos “Leões”.
A “Foto Beleza”, portanto, também tinha, por aqui, desde 1907, os seus estúdios, Galeria d’Arte. 



Praça Guilherme Gomes Fernandes em 1946


Na foto acima, observa-se uma ambulância da companhia de seguros “A Mundial” e, por detrás, a entrada da Padaria Ribeiro.




Praça dos Leões, agora, Praça Gomes Teixeira



A Praça dos Leões, em 1913, actualmente, a Praça Gomes Teixeira


Praça Gomes Teixeira, c. 1960





Por sua vez, a actual Praça Gomes Teixeira, na foto acima, para além de Praça dos Leões, já ostentou, também, muitos outros topónimos.
Já foi Largo do Carmo e Praça do Carmo (o convento dos carmelitas, próximo, influenciou), Praça do Pão durante vários anos, a partir de 1835 foi Praça dos Voluntários da Rainha, Praça da Universidade.
Aquela designação de Praça do Pão passaria, depois, para a Praça de Santa Teresa.
Antes, sabe-se também que, no século XVIII, mais precisamente, em 29 de Agosto de 1733, foi feito um contra­to entre o cabido portucalense e a Câmara, para a criação, na Praça Nova, de um espaço para a venda de pão. O contrato foi celebra­do na capela de S. Roque que, ao tempo, fi­cava junto da Sé.
Quer isto dizer, que onde hoje está a Praça da Liberdade se rea­lizou um mercado da venda de pão, a partir de 1733. 
Há uma lenda que liga, a vulgarmente conhecida como Praça dos Leões e envolvente, ao primeiro rei de Portugal e a sua esposa, a rainha D. Mafalda. Narra a lenda que, indo ambos a caminho de Guimarães, D. Mafalda ao passar, por aí, caiu num precipício. A rainha invocou a protecção de Nossa Senhora da Graça e D. Afonso Henriques pediu o auxílio de São Miguel-o-Anjo, tendo, cada um deles, mandado erigir no local uma capela ao santo da sua devoção, dado que as divindades invocadas intercederam a seu favor.
As origens da praça, propriamente dita, remontam a 1619, ano da fundação do vizinho convento dos padres carmelitas.
No período da Restauração, foi construído o Colégio dos Órfãos (1651) e o Recolhimento do Anjo (1672), tendo este tomado o nome da capelinha que lhe estava anexa.
Devido à proximidade com aquela instituição, a praça adoptou as denominações de "Largo dos Meninos Órfãos" e "Largo do Colégio de Nossa Senhora da Graça".
No século XIX, a igreja de Nossa Senhora da Graça, do século XVII e o recolhimento, viriam a ser demolidos para a construção do edifício da Academia.
A Academia Real de Marinha e Comércio foi fundada, em 1803, pelo Príncipe Regente D. João para responder às necessidades da burguesia mercantil da cidade, tendo projecto inicial de Carlos Amarante, em estilo neoclássico almadino.
Em 1762, a pedido de comerciantes por­tuenses, foi criada, nas instalações do colé­gio, uma aula de náutica destinada a prepa­rar oficiais da Marinha, que em fragatas, em alto mar, protegeriam da pirataria os navios dos mercadores portuenses. Os piratas ata­cavam os navios, sobretudo, à entrada e saí­da da barra do rio Douro. 
Anos mais tarde, em 1779, as funções da aula de náutica foram alargadas, com a cria­ção de duas novas aulas: debuxo e desenho. E, em 1803, foram criadas novas aulas: co­mércio, matemática, francês, inglês, filo­sofia e manobra naval. Estava fundada a Academia Real de Marinha e Comércio, onde, em 1818, ainda se juntou uma aula de agricultura. 
Em 1837, a velha Academia da Marinha foi transformada em Academia Politécnica, antecessora da Uni­versidade, criada apenas depois da implan­tação da República.
No começo do século XIX, o local era popularmente conhecido como "Praça do Pão" ou "Largo da Feira da Farinha", por se fazer ali um mercado deste tipo. No entanto, por deliberação camarária de 1835, o velho largo passou a designar-se oficialmente por "Praça dos Voluntários da Rainha", numa alusão às lutas entre liberais e absolutistas.
O imponente edifício da Academia, cuja construção se iria prolongar ao longo de todo o século XIX e a vida estudantil, que em seu redor se desenvolveu, passaram a marcar profundamente a praça.
Com o passar dos anos e perante o número cada vez mais crescente de alunos a procurarem a Academia, as antigas instalações do Colégio dos Ór­fãos foram-se  tornando insuficientes.
Em 1903, o colégio dos Orfãos abandona definitivamente o local e em 1911, com a criação da Universidade do Porto, o edifício da antiga Academia, passou a albergar a Reitoria da nova universidade, bem como a Faculdade de Ciências e a, na época, Escola de Engenharia.
A partir de finais do século XIX, a Praça dos Leões, tornar-se-ia, também, um importante centro comercial da cidade, beneficiando da proximidade da zona das Carmelitas. Os lisboetas Grandes Armazéns do Chiado abriram uma sucursal na "Praça dos Voluntários da Rainha" do Porto, com fachada, também para a Rua da Galeria de Paris.
Em 1907, no rés-do-chão deste imponente edifício abriu um grande animatógrafo, com capacidade para aproximadamente mil pessoas. Outro estabelecimento comercial relevante na praça era o dos Armazéns Cunhas.
O carácter elitista da praça, foi ainda reforçado pela instalação, em 1885, da Fonte dos Leões, equipamento público construído pela empresa francesa Compagnie Générale des Eaux pour l'Etranger, concessionária do abastecimento de água da cidade.
Foi ao primeiro reitor da universidade, Francisco Gomes Teixeira, natural da freguesia de São Cosmado, concelho de Armamar, que a praça foi buscar o nome actual, passando, a partir de 1936, a "Praça de Gomes Teixeira".
Nesta praça, está localizada, actualmente, a Reitoria da Universidade do Porto.
Na madrugada do dia 20 de abril de 1974, um devastador incêndio destruiu parte do edifício da Universidade, o que levou a reitoria a mudar-se para a Rua de D. Manuel II, só regressando às antigas instalações, nesta praça, em 2006.
Integrado nas obras empreendidas pela Sociedade Porto 2001, foi construído um grande parque de estacionamento subterrâneo, ocupando quase toda a área da praça. Este parque ficou ligado aos parques das praças de Carlos Alberto e de Lisboa, perfazendo um total de 1.259 lugares de aparcamento, no subsolo. A praça foi, também, objecto de remodelação à superfície. Todo o projecto de intervenção esteve a cargo de uma equipa chefiada pelo arquitecto Camilo Cortesão.
Na Rua do Carmo, o edifício hoje ocupado pela Guarda Nacional Republicana foi, em tempos, o convento dos carmelitas descalços. A igreja adjacente pertencia à ordem e ao convento.
Em 1814, o Marechal Beresford, organizou os chamados corpos de “Guarda Real de Polícia” em Lisboa e Porto. Como essa guarda, em Julho de 1832, tivesse abandonado a cidade, os liberais criaram a corporação dos “Nocturnos”. Em 1836, foi dissolvido esse corpo e substituído pela “Guarda Municipal” que, após a implantação da república, passou a “Guarda Nacional Republicana”.

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