“Não faltam ruas,
praças e avenidas, que tenham 2 toponímias: a oficial e a popular.
A popular é consagrada
pelo tempo, pelos hábitos, pela história e memória dos lugares e quase sempre
traduzem a evolução dos sentimentos dos portuenses em relação a eles.
Um desses espaços
urbanos é, sem sombra de dúvidas, os “Leões”, uma das praças nobres por
excelência do Porto e mais conhecida por aquela designação do que a consagrada
pela câmara.
Oficialmente, desde
1936, chama-se Praça de Gomes Teixeira, mas aqueles leões alados, colocados no
meio da praça no século XIX pela companhia francesa que estava a administrar as
águas da cidade, caíram no “goto” das pessoas que diziam que aqueles leõezinhos
eram filhos da águia e do leão colocados na chamada Rotunda da Boavista, ou
Praça de Mouzinho de Albuquerque!”
Com a devida vénia a César Santos Silva
Conhecida como Largo do Carmo até 1835, por deliberação
camarária, a partir desse ano, passou a chamar-se de Praça dos Voluntários da
Rainha e, mais tarde, Praça da Universidade. A 17 de Dezembro de 1936, adoptou o
nome actual Praça de Gomes Teixeira.
A Fonte Monumental dos Leões, situada no centro da Praça dos
Leões, tinha por função principal a diminuição da pressão da água na
zona baixa da cidade e começaria a funcionar em 1886.
Edifício da Academia Politécnica, ainda em
construção, c.1880
Na foto acima está uma vista da fachada voltada para a Praça
dos Voluntários da Rainha, actualmente, de Gomes Teixeira. De notar que, estando
o edifício em construção, ainda não existe a arcada no piso térreo, que estava ocupado em parte por lojas de comércio. Por aqui esteve o célebre Café Chaves.
Praça Gomes Teixeira, ainda sem fonte, em 1882 – In “O Romance do Romancista” de
Alberto Pimentel
O edifício da Academia, ainda em obras - Ed. Arnaldo Soares
Edifício da Universidade, c. 1930, já com a arcaria completada - Ed. Foto Alvão
Praça dos Voluntários da Rainha, em 1885 - Emílio Biel (Bibliothèque
nationale de France)
Na foto acima, se vê que a Fonte dos Leões ainda não existe e, no Largo do Carmo, está estacionado um fiacre.
Aqui, foi, também, a Praça dos Voluntários da Rainha
Praça dos Leões e uma bomba de gasolina, em 1930 - Ed. Alvão
Praça dos Leões em 1908 e Praça de Santa Teresa ou do Pão,
ao fundo
Na foto acima, observam-se as primeiras instalações dos
“Armazéns da Capela” que ocuparam, e daí o nome, o local onde esteve a antiga
capela do convento das carmelitas, demolida em 1900. Pouco depois, vieram para
este local os Armazéns do Chiado.
Grandes Armazéns do Chiado, em 1910 - Ed. Guia do Porto Ilustrado
O prédio da foto anterior, no qual foram instalados os "Grandes Armazéns do Chiado", teve licença de construção de 1906, requerida pelo conselheiro Boaventura Rodrigues de Sousa, que ficou conhecido, também, pelo palacete que foi sua residência na Avenida da Boavista e no qual funcionou o Colégio de Nossa Senhora do Rosário, entre 1926 e 1958.
A metade do prédio, apenas
parcialmente visível, à direita, viria a ser ocupada no piso térreo, a partir de
1910, pelos “Armazéns do Castelo” com uma loja de luxo de artigos têxteis,
produtos de decoração e roupa.
Os Armazéns do
Castelo por aqui ficariam até 2015, quando fecharam portas, definitivamente.
Declaração parcial de responsabilidade apresentada pelo mestre-de- obras do prédio que viria a albergar os "Grandes Armazéns do Chiado" - Fonte: AHMP
Os prédios de que era proprietário o conselheiro Boaventura Rodrigues Sousa, tinham a particularidade de apresentarem no alto da sua fachada principal, um medalhão com o monograma do seu nome.
Na área que foi do
cemitério do convento foi encontrado o corpo incorrupto de uma freira quando se
procedia a um alargamento das instalações do Colégio da Guia.
E passamos a pisar terrenos da antiga Praça de Santa Teresa, hoje, a Praça Guilherme Gomes Fernandes.
Praça do Pão, ainda
com arvoredo
Na foto anterior, ao
fundo (a meio), a casa de Barroso Pereira, à época, já ocupada com a “Fotografia
Perez”.
A praça, hoje, de
Guilherme Gomes Fernandes foi antes denominada, Campo da Cancela da Velha, depois
Campo da Via Sacra, depois Largo do Calvário Velho, Praça da Feira do Pão e, finalmente, Praça de Santa
Teresa.
Em tempos recuados, a área territorial hoje ocupada pela actual Praça de Guilherme Gomes Fernandes e pelas modernas ruas das Carmelitas, de Cândido dos Reis, do Conde de Vizela, de Santa Teresa e da Galeria de Paris, que não existiam, era constituída por uma íngreme encosta, onde abundavam carvalheiras e oliveiras, e por um extenso terreno de cultivo a que se dava o nome de "Campo da Cancela da Velha".
Em tempos recuados, a área territorial hoje ocupada pela actual Praça de Guilherme Gomes Fernandes e pelas modernas ruas das Carmelitas, de Cândido dos Reis, do Conde de Vizela, de Santa Teresa e da Galeria de Paris, que não existiam, era constituída por uma íngreme encosta, onde abundavam carvalheiras e oliveiras, e por um extenso terreno de cultivo a que se dava o nome de "Campo da Cancela da Velha".
O topónimo de Praça
da Feira do Pão foi, como o nome indica, por ser o local onde era transacionado
aquele bem de primeira necessidade e que tinha sucedido à Praça Gomes Teixeira
nessa função.
Até essa altura,
realizava-se no espaço uma feira da farinha e dos cereais, no que é hoje a Praça
de Gomes Teixeira, antiga Praça dos Voluntários da Rainha.
A Feira do Pão teve
o seu início por meados do século XIX, entre 1850 e 1853, e só deixou de se
realizar já nos começos do século XX, em 26 de Maio de 1909, quando o pitoresco mercado foi
transferido para o vizinho Mercado do Anjo.
À feira do pão se
deslocavam as padeiras de Valongo com a mercadoria sobre o lombo de burros, e
as padeiras de Avintes com a broa tradicional da sua terra à cabeça, depois de
terem atravessado o rio Douro em barcos que elas próprias conduziam.
Padeira de Valongo
Padeiras de Avintes
As padeiras de
Valongo saíam de madrugada e costumavam juntar-se na Cruz das Regateiras para
descansarem, beberem numa fonte ali existente e partirem para os diversos
lugares de venda. O pão mais típico e apreciado era, e ainda é, a regueifa. Ao
fim da tarde voltavam a reunir-se no mesmo local para seguirem todas juntas de
forma a defenderem-se de possíveis assaltos, pois já lá chegavam de
noite.
“Dizia-se que as padeiras de Avintes eram as
mais elegantes. Usavam a sua vestimenta típica: saia de lã azul e corpete do
mesmo pano a realçar o busto avantajado. Na cabeça, o típico chapéu preto de
largas abas.
As de Valongo eram mais sóbrias, mas nem por isso menos vistosas. A saia era de
lã ou de riscado, consoante a estação do ano, e a jaqueta curta. O que mais as
distinguia das de Avintes era a pequena capa que punham sobre os ombros. Os
dias de maior movimento eram as terças e quintas-feiras, e os sábados, sem
contar, claro, com as épocas especiais da Páscoa e do Natal”.
Germano Silva
A nascente da Praça
do Pão corria o muro da cerca do convento das Carmelitas e numa aberta da cerca
existia um local onde se vendia erva e palha para os animais que vinham de
Valongo. Do lado oposto do muro, a poente, ficavam casas de comércio, com o seu
restaurante afamado “ O João do Buraco”, lojas de farinhas e cereais e outras
com anexos para recolha dos muares envolvidos no negócio.
“Também desapareceu
da praça Santa Teresa, uma curiosa mercearia que funcionava no rés do chão do
edifício que faz esquina com o Largo do Moinho de Vento.
Pertencia esse
estabelecimento a uma família de comerciantes muito respeitada do Porto; os
Fernandes Pereira. Esse típico estabelecimento ostentava na fachada tabuleta
com uma única palavra: "Habilitado". Significava que aquele
estabelecimento estava habilitado a vender tabaco... mas do bom (...).
Dos antigos estabelecimentos desta praça, há dois que merecem ser aqui evocados por terem sido quase emblemáticos naquela zona: um era de um alfarrabista que funcionou num rés-do-chão perto do Largo do Moinho de Vento; o outro foi a célebre Farmácia de Santa Teresa, também conhecida por Farmácia Cristo".
Dos antigos estabelecimentos desta praça, há dois que merecem ser aqui evocados por terem sido quase emblemáticos naquela zona: um era de um alfarrabista que funcionou num rés-do-chão perto do Largo do Moinho de Vento; o outro foi a célebre Farmácia de Santa Teresa, também conhecida por Farmácia Cristo".
Fonte: Germano Silva
Aqui, também ficava o
jornal o “Correio do Porto”, que iniciou a publicação em 27 de Setembro de
1820, pouco depois da revolução de 24 de Agosto do mesmo ano.
A nascente desse
espaço existiu a velhinha fonte de Santa Teresa, que tinha junto um tanque, onde
os animais se dessedentavam e mais tarde no meio da praça em substituição da
fonte foi levantado um fontanário.
Mais tarde, por
iniciativa da Câmara Municipal, para a venda do pão, foram construídas
barracas de madeira que passaram a ocupar a parte central da praça. Para se
resguardarem do sol, as vendedeiras passaram a utilizar amplos guarda-sóis de
pano.
Em 1855, na Praça de Santa Teresa, nº 28, estava a tipografia de Sebastião José Pereira onde foi impresso um livro poema herói-cómico oferecido às senhoras portuguesas na pessoa das senhoras Cirnes do palacete do Poço das Patas, da autoria de um irmão de Almeida Garret de seu nome Alexandre Garrett.
Em 1855, na Praça de Santa Teresa, nº 28, estava a tipografia de Sebastião José Pereira onde foi impresso um livro poema herói-cómico oferecido às senhoras portuguesas na pessoa das senhoras Cirnes do palacete do Poço das Patas, da autoria de um irmão de Almeida Garret de seu nome Alexandre Garrett.
Por aqui, existiu, na transição do século XIX para o século XX, uma escola de
esgrima que, em 1914, ainda estava aberta e que funcionava no 1º andar de um
prédio, no local onde esteve a companhia de seguros “A Mundial”.
Aluno da escola de
esgrima da Praça Santa Teresa, em 1914 – Fonte: “O Tripeiro” de Maio 2016; Foto cedida por Maria Gabriela Oliveira
O mestre de armas daquela
escola era o capitão do exército Correia de Sousa, e o aluno de 8 anos, Fernando
Jonhston de Oliveira, tendo a foto sido tirada nos estúdios da Foto Beleza, que era
contígua à escola.
O menino morava na vizinha
Praça Gomes Teixeira e pertencia a uma família que tinha um estabelecimento de fazendas
nos “Leões”.
A “Foto Beleza”, portanto,
também tinha, por aqui, desde 1907, os seus estúdios, Galeria d’Arte.
Praça Guilherme
Gomes Fernandes em 1946
Na foto acima, observa-se uma ambulância da companhia de seguros “A Mundial” e, por detrás, a
entrada da Padaria Ribeiro.
Praça dos Leões, agora, Praça Gomes Teixeira
A Praça dos Leões, em 1913, actualmente, a Praça Gomes Teixeira
Por sua vez, a actual Praça Gomes Teixeira, na foto acima, para além de Praça dos Leões, já
ostentou, também, muitos outros topónimos.
Já foi Largo do Carmo e Praça do Carmo (o
convento dos carmelitas, próximo, influenciou), Praça do Pão durante
vários anos, a partir de 1835 foi Praça dos Voluntários da Rainha, Praça
da Universidade.
Aquela designação de Praça do Pão passaria, depois, para a
Praça de Santa Teresa.
Antes, sabe-se também que, no século XVIII, mais
precisamente, em 29 de Agosto de 1733, foi feito um contrato entre o cabido
portucalense e a Câmara, para a criação, na Praça Nova, de um espaço para a venda
de pão. O contrato foi celebrado na capela de S. Roque que, ao tempo, ficava
junto da Sé.
Quer isto dizer, que onde hoje está a Praça da Liberdade se
realizou um mercado da venda de pão, a partir de 1733.
Há uma lenda que liga, a vulgarmente conhecida como Praça
dos Leões e envolvente, ao primeiro rei de Portugal e a sua esposa, a rainha D.
Mafalda. Narra a lenda que, indo ambos a caminho de Guimarães, D. Mafalda ao passar, por aí, caiu num
precipício. A rainha invocou a protecção de Nossa Senhora da
Graça e D. Afonso Henriques pediu o auxílio de São Miguel-o-Anjo, tendo, cada
um deles, mandado erigir no local uma capela ao santo da sua devoção, dado que as divindades invocadas intercederam a seu favor.
As origens da praça, propriamente dita, remontam a 1619, ano
da fundação do vizinho convento dos padres carmelitas.
No período da Restauração, foi construído o Colégio dos
Órfãos (1651) e o Recolhimento do Anjo (1672), tendo este tomado o nome da
capelinha que lhe estava anexa.
Devido à proximidade com aquela instituição, a praça adoptou
as denominações de "Largo dos Meninos Órfãos" e "Largo
do Colégio de Nossa Senhora da Graça".
No século XIX, a igreja de Nossa Senhora da Graça, do século
XVII e o recolhimento, viriam a ser demolidos para a construção do edifício da
Academia.
A Academia Real de Marinha e Comércio foi fundada, em 1803, pelo
Príncipe Regente D. João para responder às necessidades da burguesia mercantil da cidade, tendo projecto inicial de Carlos Amarante, em estilo
neoclássico almadino.
Em 1762, a pedido de comerciantes portuenses, foi criada, nas instalações do colégio, uma aula de náutica destinada a preparar oficiais
da Marinha, que em fragatas, em alto mar, protegeriam da pirataria os navios dos
mercadores portuenses. Os piratas atacavam os navios, sobretudo, à entrada e saída
da barra do rio Douro.
Anos mais tarde, em 1779, as funções da aula de náutica
foram alargadas, com a criação de duas novas aulas: debuxo e desenho. E, em 1803, foram criadas novas aulas: comércio, matemática, francês, inglês, filosofia e
manobra naval. Estava fundada a Academia Real de Marinha e Comércio, onde, em
1818, ainda se juntou uma aula de agricultura.
Em 1837, a velha Academia da Marinha foi transformada em
Academia Politécnica, antecessora da Universidade, criada apenas depois da
implantação da República.
No começo do século XIX, o local era popularmente conhecido
como "Praça
do Pão" ou "Largo da Feira da Farinha", por
se fazer ali um mercado deste tipo. No entanto, por deliberação camarária de
1835, o velho largo passou a designar-se oficialmente por "Praça dos Voluntários da
Rainha", numa alusão às lutas entre liberais e absolutistas.
O imponente edifício da Academia, cuja construção se iria
prolongar ao longo de todo o século XIX e a vida estudantil, que em seu redor se
desenvolveu, passaram a marcar profundamente a praça.
Com o passar dos anos e perante o número cada vez mais crescente de alunos a procurarem a Academia, as antigas instalações do Colégio dos Órfãos foram-se tornando insuficientes.
Em 1903, o colégio dos Orfãos abandona definitivamente o
local e em 1911, com a criação da Universidade do Porto, o edifício da antiga
Academia, passou a albergar a Reitoria da nova universidade, bem como a
Faculdade de Ciências e a, na época, Escola de Engenharia.
A partir de finais do século XIX, a Praça dos Leões,
tornar-se-ia, também, um importante centro comercial da cidade, beneficiando da
proximidade da zona das Carmelitas. Os lisboetas Grandes Armazéns do Chiado
abriram uma sucursal na "Praça dos Voluntários da Rainha" do Porto,
com fachada, também para a Rua da Galeria de Paris.
Em 1907, no rés-do-chão deste imponente edifício abriu um
grande animatógrafo, com capacidade para aproximadamente mil pessoas. Outro
estabelecimento comercial relevante na praça era o dos Armazéns Cunhas.
O carácter elitista da praça, foi ainda reforçado pela
instalação, em 1885, da Fonte dos Leões, equipamento público construído pela
empresa francesa Compagnie Générale des Eaux pour l'Etranger, concessionária do
abastecimento de água da cidade.
Foi ao primeiro reitor da universidade, Francisco Gomes
Teixeira, natural da freguesia de São Cosmado, concelho de Armamar, que a praça
foi buscar o nome actual, passando, a partir de 1936, a "Praça de Gomes
Teixeira".
Nesta praça, está localizada, actualmente, a Reitoria da
Universidade do Porto.
Na madrugada do dia 20 de abril de 1974, um devastador
incêndio destruiu parte do edifício da Universidade, o que levou a reitoria a
mudar-se para a Rua de D. Manuel II, só regressando às antigas instalações, nesta praça, em 2006.
Integrado nas obras empreendidas pela Sociedade Porto 2001,
foi construído um grande parque de estacionamento subterrâneo, ocupando quase
toda a área da praça. Este parque ficou ligado aos parques das praças de Carlos
Alberto e de Lisboa, perfazendo um total de 1.259 lugares de aparcamento, no
subsolo. A praça foi, também, objecto de remodelação à superfície. Todo o
projecto de intervenção esteve a cargo de uma equipa chefiada pelo arquitecto
Camilo Cortesão.
Na Rua do Carmo, o edifício hoje ocupado pela Guarda Nacional
Republicana foi, em tempos, o convento dos carmelitas descalços. A igreja
adjacente pertencia à ordem e ao convento.
Em 1814, o Marechal Beresford, organizou os chamados corpos
de “Guarda Real de Polícia” em Lisboa e Porto. Como essa guarda, em Julho de
1832, tivesse abandonado a cidade, os liberais criaram a corporação dos “Nocturnos”. Em
1836, foi dissolvido esse corpo e substituído pela “Guarda Municipal” que, após
a implantação da república, passou a “Guarda Nacional Republicana”.
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