O convento de S. João Novo situa-se no Largo de S. João
Novo, antes da Boavista ou do Belomonte, ou ainda, da Senhora da Esperança. A
sua designação evoca S. João de Sahagun ou S. João Facundo, que viveu no século
XV e foi prior de um convento da ordem de Santo Agostinho e santo da igreja
católica.
Foi fundado no final do século XVI sobre a igreja inacabada de
S. João Baptista (que havia sido sede da extinta paróquia de S. João de
Belomonte), por D. António de Noronha, governador de Cochim e sobrinho do
Marquês de Vila Real.
“Pelo ano 1602 foi
entregue aos Eremitas de Santo Agostinho a igreja paroquial de Belomonte
após extinção daquela paróquia (que acabou retalhada entre S. Nicolau e
Vitória). A igreja estava ainda inacabada, sem capela-mor: mas os frades
optaram por demoli-la e construir um novo templo naquele espaço. Juntamente com
ele foram também construídas as restantes dependências conventuais, que em
última análise ditaram o fim da Rua da Boa Vista, nome pelo qual naquela altura
era conhecida a Rua da Almea. Assim, foram compradas vinte e uma casas com
quintais e outros cinco quintais separados para se poder dar início às
fundações da casa monacal”.
Fonte: aportanobre.blogspot.
“A paróquia de S. João de Belmonte, que tinha
essa pequena igreja dedicada a S. João Baptista, foi criada em 1583 pelo Bispo
do Porto D. Frei Marcos de Lisboa e extinta em 1592 pelo Bispo D. Jerónimo de
Meneses.
Belmonte ou Belomonte foi o nome dado ao
local, dado que tem uma maravilhosa vista desde a Foz do Douro à Serra do
Pilar.
A sede paroquial foi
então entregue aos frades Agostinhos Eremitas Calçados (Gracianos), que
iniciaram a edificação do convento e a reforma do templo. Os trabalhos foram
muito lentos, e prolongaram-se por mais de um século.
Em 1613 tinha início a
construção das dependências conventuais e em 1638 era a vez do claustro, a
Este, apresentando uma planta quadrada e desenvolvendo-se em três pisos, o
primeiro aberto por arcadas de arcos plenos, o segundo por arcos abatidos e o
terceiro fechado por janelas de guilhotina. Ao centro, uma fonte octogonal com
bicas em forma de golfinhos.
A igreja anterior foi
considerada pouco apropriada para as novas funções conventuais, pelo que os
Agostinhos optaram por construir uma nova, demolindo a antiga. As obras tiveram
início em 1672, mas arrastaram-se durante longos anos. Entre 1672 e 1781
ergueu-se a capela-mor e as colaterais, estando tudo coberto até ao cruzeiro em
1683. No entanto, apenas em 1726 se alcançou a fachada, que havia sido
desenhada entre 1700 e 1703, por um autor cuja identificação se desconhece.
Apesar de quase concluída, somente em 1779 foram acabadas as torres, dando-se
os trabalhos por terminados nessa data.
As memórias paroquiais de 1758, davam conta de que neste convento se venerava com grande
devoção a imagem de Nossa Senhora da Guia por ser uma bem acabada peça, a qual
tinha sido feita por Manuel de Almeyda, natural do Porto.
A igreja desenvolve-se
em cruz latina, com transepto inscrito mas interiormente bem definido, e nave
única com capelas laterais (duas de cada lado) intercomunicantes e separadas
por pilastras. Trata-se de um plano maneirista, tal como a organização dos
alçados internos da nave. O espaço é coberto por abóbada de berço de caixotões.
No exterior, a fachada
principal retoma o modelo da igreja de São Lourenço (aproximação que também se
verifica no interior). Seccionada por pilastras, divide-se em três registos
onde pontua a iconografia alusiva a Santo Agostinho. O primeiro é marcado pela
abertura do portal, de verga recta com frontão triangular, flanqueado por
duplas colunas dóricas que suportam o frontão interrompido com o coração
atravessado por setas, que é um dos símbolos da Ordem. Ladeiam-no duas janelas
de frontões curvos. No registo seguinte, cinco janelas entre as pilastras,
destacando-se a central pela águia bifronte (alusiva a Santo Agostinho). Por
fim, o registo superior é elevado pelas torres e pelos três frontões sendo o
central mais elevado e rematado por cruz.
Regressando ao
interior, muitos elementos arquitectónicos são realçados por estruturas de
talha dourada. O retábulo-mor foi executado em 1775 a expensas do Bispo D.
António de Sousa e o seu painel central alusivo à Visão de Santo Agostinho foi
pintado por João Glama. Uma referência ainda à capela de Santa Rita de Cássia
com um retábulo de talha dourada e revestimento cerâmico assinado por
Bartolomeu Antunes e datado de 1741, com painéis relativos à história da santa”.
Com a devida vénia a Rosário Carvalho
Com a extinção das ordens em 1834 o convento recebeu, mais
tarde, o Hospital Militar desde 12 de
Maio de 1835 até 20 de Maio de 1862, tendo, nesta data, o hospital passado para
a Quinta das Águas Férreas.
Em 3 de Junho de
1864, foram aí instalados os tribunais cível e criminal.
Hoje, é o Tribunal de
Instrução Criminal do Porto.
Igreja de S. João Novo
Santo Ovídio numa das capelas da igreja de S. João Nono, na qual está acompanhado por Santa Rita e Santa Mónica - Ed. Graça Correia
Mosteiro de S. João
Novo
Claustro do convento de S. João Novo
Capela de Nossa Senhora da Esperança
Junto da igreja de S. João Novo fica a capela de Nossa Senhora da Esperança, na foto acima, outrora à beira
de uma das portas da muralha chamada, Porta da Esperança.
A esta capela rumava antigamente uma procissão que saía da
Sé, passava pelos Carvalhos do Monte (Largo 1º de Dezembro, descia as escadas
do Codeçal e no rio metiam-se em barcos para ir até V. N. de Gaia até à capela de S. Marcos.
A partir de determinada altura, talvez porque o rio não o
permitisse, depois de chegar junto dele, rumava até à Capela da Nossa Senhora
da Esperança e, daí, o bispo espargia em direcção a Gaia.
De uma outra vez, como tiveram de se abrigar devido à chuva
no convento de S. Domingos, essa paragem passou a tradição, bem como este
percurso, deixando o atravessamento do rio de ser feito.
O escritor Almeida -Garrett, no seu livro “O Arco de Santana”,
dá-nos uma fiel descrição do modo como o Cabido da Sé do Porto realizava, no
dia de São Marcos - 25 de Abril, a procissão das ladainhas em honra deste
grande evangelista.
“Dali a pouco as
portas da catedral estavam abertas, e a procissão saía, gravemente, entoando as
ladainhas e preces públicas. O bispo, em todo o esplendor da pompa católica,
seguia no couce da procissão.
Tomaram para a Porta
do Sol, desceram o íngreme Codeçal abaixo e chegaram à escura margem do rio,
cantando e rezando.
…Dia de S. Marcos, do
fundador desta nossa igreja portugalense - que foi o santo evangelista - deixai
falar de Basílios e Basileus e da sua Sé de Miragaia.
Miragaia era um triste
burgo, quando já Gaia era cidade romana, e nela foi nossa primeira Sé. Por
memória disso lá vamos, hoje, além do rio à capela do santo onde essa era.
E ali incensamos o bom
povo da antiga CALE e lhe dizemos: Boa gente! Boa gente!
«Entre as muitas
festas processionais da nossa boa Sé - me dizia um beneficiado velho, que andou
comigo ao colo, e era a mais santa alma de beneficiado que ainda houve - foi
talvez a primeira a de São Marcos Evangelista, que os de Gaia ou CALE
pretendiam ser os fundadores da igreja portugalense, em oposição aos de
Miragaia, que a queriam fundada por São Basileu, na sua freguesia de São Pedro,
extramuros.
Já na minha infância,
porém, e quando o meu velho beneficiado me enriquecia o espírito e a memória
com estas interessantes e romanescas arqueologias, já a procissão das ladainhas
de São Marcos não passava de São João Novo, e dali de ao pé da ermidinha da
Esperança é que os cónegos, incensando para Gaia, cantavam o Boa gente! Boa
gente!
O caso é que a
cerimónia ainda se praticava em nossos dias, e que em eras mais remotas a
procissão passava, como a descrevi, de além - Douro e ia à própria capelinha do
Santo, cujas ruínas ainda, hoje estão a meia-encosta das ribanceiras de Gaia.
E devia de ser razão
bem ponderosa a que obrigava bispos e cónegos, os senhores da terra do Porto, a
passar o rio, e a visitar essa gente de Gaia e de Vila Nova”.
Almeida Garrett, conquanto fosse portuense nato, jamais
alterou o afirmado em documentos antiquíssimos e, por isso, sempre situou a
pré-romana povoação de CALE na margem esquerda do rio Douro, no sítio onde,
outrora, foi erguido um castelo pelos romanos.
Nas proximidades de CALE ou, talvez, na mesma área desta
povoação, existiu no século X a Vila de Portugal, que confrontava com Mafamude
e Coimbrões, conforme se acha exarado em documentos autênticos.
Segundo Firmino Pereira a capelinha dedicada a S. Marcos
Evangelista em V. N. de Gaia já não existia à época em que escreveu o seu livro
“O Porto d’Outros tempos”.
(Continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário