domingo, 4 de junho de 2017

(Continuação 7) - Actualização em 08/01/2018




O convento de S. João Novo situa-se no Largo de S. João Novo, antes da Boavista ou do Belomonte, ou ainda, da Senhora da Esperança. A sua designação evoca S. João de Sahagun ou S. João Facundo, que viveu no século XV e foi prior de um convento da ordem de Santo Agostinho e santo da igreja católica.
Foi fundado no final do século XVI sobre a igreja inacabada de S. João Baptista (que havia sido sede da extinta paróquia de S. João de Belomonte), por D. António de Noronha, governador de Cochim e sobrinho do Marquês de Vila Real.



“Pelo ano 1602 foi entregue aos Eremitas de Santo Agostinho a igreja paroquial de Belomonte após extinção daquela paróquia (que acabou retalhada entre S. Nicolau e Vitória). A igreja estava ainda inacabada, sem capela-mor: mas os frades optaram por demoli-la e construir um novo templo naquele espaço. Juntamente com ele foram também construídas as restantes dependências conventuais, que em última análise ditaram o fim da Rua da Boa Vista, nome pelo qual naquela altura era conhecida a Rua da Almea. Assim, foram compradas vinte e uma casas com quintais e outros cinco quintais separados para se poder dar início às fundações da casa monacal”.
Fonte: aportanobre.blogspot.



“A paróquia de S. João de Belmonte, que tinha essa pequena igreja dedicada a S. João Baptista, foi criada em 1583 pelo Bispo do Porto D. Frei Marcos de Lisboa e extinta em 1592 pelo Bispo D. Jerónimo de Meneses. 
Belmonte ou Belomonte foi o nome dado ao local, dado que tem uma maravilhosa vista desde a Foz do Douro à Serra do Pilar. 
A sede paroquial foi então entregue aos frades Agostinhos Eremitas Calçados (Gracianos), que iniciaram a edificação do convento e a reforma do templo. Os trabalhos foram muito lentos, e prolongaram-se por mais de um século.
Em 1613 tinha início a construção das dependências conventuais e em 1638 era a vez do claustro, a Este, apresentando uma planta quadrada e desenvolvendo-se em três pisos, o primeiro aberto por arcadas de arcos plenos, o segundo por arcos abatidos e o terceiro fechado por janelas de guilhotina. Ao centro, uma fonte octogonal com bicas em forma de golfinhos.
A igreja anterior foi considerada pouco apropriada para as novas funções conventuais, pelo que os Agostinhos optaram por construir uma nova, demolindo a antiga. As obras tiveram início em 1672, mas arrastaram-se durante longos anos. Entre 1672 e 1781 ergueu-se a capela-mor e as colaterais, estando tudo coberto até ao cruzeiro em 1683. No entanto, apenas em 1726 se alcançou a fachada, que havia sido desenhada entre 1700 e 1703, por um autor cuja identificação se desconhece. Apesar de quase concluída, somente em 1779 foram acabadas as torres, dando-se os trabalhos por terminados nessa data.
As memórias paroquiais de 1758, davam conta de que neste convento se venerava com grande devoção a imagem de Nossa Senhora da Guia por ser uma bem acabada peça, a qual tinha sido feita por Manuel de Almeyda, natural do Porto.
A igreja desenvolve-se em cruz latina, com transepto inscrito mas interiormente bem definido, e nave única com capelas laterais (duas de cada lado) intercomunicantes e separadas por pilastras. Trata-se de um plano maneirista, tal como a organização dos alçados internos da nave. O espaço é coberto por abóbada de berço de caixotões.
No exterior, a fachada principal retoma o modelo da igreja de São Lourenço (aproximação que também se verifica no interior). Seccionada por pilastras, divide-se em três registos onde pontua a iconografia alusiva a Santo Agostinho. O primeiro é marcado pela abertura do portal, de verga recta com frontão triangular, flanqueado por duplas colunas dóricas que suportam o frontão interrompido com o coração atravessado por setas, que é um dos símbolos da Ordem. Ladeiam-no duas janelas de frontões curvos. No registo seguinte, cinco janelas entre as pilastras, destacando-se a central pela águia bifronte (alusiva a Santo Agostinho). Por fim, o registo superior é elevado pelas torres e pelos três frontões sendo o central mais elevado e rematado por cruz.
Regressando ao interior, muitos elementos arquitectónicos são realçados por estruturas de talha dourada. O retábulo-mor foi executado em 1775 a expensas do Bispo D. António de Sousa e o seu painel central alusivo à Visão de Santo Agostinho foi pintado por João Glama. Uma referência ainda à capela de Santa Rita de Cássia com um retábulo de talha dourada e revestimento cerâmico assinado por Bartolomeu Antunes e datado de 1741, com painéis relativos à história da santa”.
Com a devida vénia a Rosário Carvalho




Com a extinção das ordens em 1834 o convento recebeu, mais tarde, o Hospital Militar desde 12 de Maio de 1835 até 20 de Maio de 1862, tendo, nesta data, o hospital passado para a Quinta das Águas Férreas.
Em 3 de Junho de 1864, foram aí instalados os tribunais cível e criminal.
Hoje, é o Tribunal de Instrução Criminal do Porto. 




Igreja de S. João Novo


Altar-mor da igreja de S. João Novo - Ed. Graça Correia



Santo Ovídio numa das capelas da igreja de S. João Nono, na qual está acompanhado por Santa Rita e Santa Mónica - Ed. Graça Correia





Mosteiro de S. João Novo




Claustro do convento de S. João Novo




Capela de Nossa Senhora da Esperança



Junto da igreja de S. João Novo fica a capela de Nossa Senhora da Esperança, na foto acima, outrora à beira de uma das portas da muralha chamada, Porta da Esperança.
A esta capela rumava antigamente uma procissão que saía da Sé, passava pelos Carvalhos do Monte (Largo 1º de Dezembro, descia as escadas do Codeçal e no rio metiam-se em barcos para ir até V. N. de Gaia até à capela de S. Marcos.
A partir de determinada altura, talvez porque o rio não o permitisse, depois de chegar junto dele, rumava até à Capela da Nossa Senhora da Esperança e, daí, o bispo espargia em direcção a Gaia.
De uma outra vez, como tiveram de se abrigar devido à chuva no convento de S. Domingos, essa paragem passou a tradição, bem como este percurso, deixando o atravessamento do rio de ser feito.
O escritor Almeida -Garrett, no seu livro “O Arco de Santana”, dá-nos uma fiel descrição do modo como o Cabido da Sé do Porto realizava, no dia de São Marcos - 25 de Abril, a procissão das ladainhas em honra deste grande evangelista.



“Dali a pouco as portas da catedral estavam abertas, e a procissão saía, gravemente, entoando as ladainhas e preces públicas. O bispo, em todo o esplendor da pompa católica, seguia no couce da procissão.
Tomaram para a Porta do Sol, desceram o íngreme Codeçal abaixo e chegaram à escura margem do rio, cantando e rezando.
…Dia de S. Marcos, do fundador desta nossa igreja portugalense - que foi o santo evangelista - deixai falar de Basílios e Basileus e da sua Sé de Miragaia.
Miragaia era um triste burgo, quando já Gaia era cidade romana, e nela foi nossa primeira Sé. Por memória disso lá vamos, hoje, além do rio à capela do santo onde essa era.
E ali incensamos o bom povo da antiga CALE e lhe dizemos: Boa gente! Boa gente!
«Entre as muitas festas processionais da nossa boa Sé - me dizia um beneficiado velho, que andou comigo ao colo, e era a mais santa alma de beneficiado que ainda houve - foi talvez a primeira a de São Marcos Evangelista, que os de Gaia ou CALE pretendiam ser os fundadores da igreja portugalense, em oposição aos de Miragaia, que a queriam fundada por São Basileu, na sua freguesia de São Pedro, extramuros.
Já na minha infância, porém, e quando o meu velho beneficiado me enriquecia o espírito e a memória com estas interessantes e romanescas arqueologias, já a procissão das ladainhas de São Marcos não passava de São João Novo, e dali de ao pé da ermidinha da Esperança é que os cónegos, incensando para Gaia, cantavam o Boa gente! Boa gente!
O caso é que a cerimónia ainda se praticava em nossos dias, e que em eras mais remotas a procissão passava, como a descrevi, de além - Douro e ia à própria capelinha do Santo, cujas ruínas ainda, hoje estão a meia-encosta das ribanceiras de Gaia.
E devia de ser razão bem ponderosa a que obrigava bispos e cónegos, os senhores da terra do Porto, a passar o rio, e a visitar essa gente de Gaia e de Vila Nova”.



Almeida Garrett, conquanto fosse portuense nato, jamais alterou o afirmado em documentos antiquíssimos e, por isso, sempre situou a pré-romana povoação de CALE na margem esquerda do rio Douro, no sítio onde, outrora, foi erguido um castelo pelos romanos.
Nas proximidades de CALE ou, talvez, na mesma área desta povoação, existiu no século X a Vila de Portugal, que confrontava com Mafamude e Coimbrões, conforme se acha exarado em documentos autênticos.
Segundo Firmino Pereira a capelinha dedicada a S. Marcos Evangelista em V. N. de Gaia já não existia à época em que escreveu o seu livro “O Porto d’Outros tempos”.


(Continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário