18.10 Campo do Olival ou Campo dos Mártires da Pátria - Jardim da Cordoaria ou Jardim João
Chagas
O Campo do Olival ou Monte do Olival era vasto
terreno aplanado, tendo já menção no documento de cedência da cidade, por parte
de D. Teresa ao bispo portuense D. Hugo, em 1120.
Abrangia um enorme espaço que, tomando como comparação a toponímia
actual, compreenderia, hoje, o Campo dos Mártires da Pátria, o Carmo, a Praça
de Carlos Alberto, o Largo do Moinho de Vento e a Rua das Oliveiras.
Todo este grande
espaço foi, através dos séculos, um lugar da maior importância para a cidade.
Na descrição abaixo
estão trechos do historiador Horácio Marçal, publicados em O Tripeiro Série VI,
Ano II.
“ Deu origem ao
topónimo “Olival” o facto de, no local nas imediações, ter florescido durante
larguíssimo período, um frondoso olivedo que, como é notório, deu também o nome
à R. das Oliveiras e ao sítio onde permaneceu o Mercado do Anjo, que antes –
mas muito antes – se chamou Lugar das Oliveiras. O Campo do Olival,
inicialmente, pertencia à Igreja do Porto (Bispo e Cabido). Porém, em 25/6/1331
após amigável composição entre o Bispo D. Vasco Martins e o Concelho da Cidade,
foi por este adquirido com o fim de o transformarem em rossio ou praça
pública…Somente lhe era permitido construir prédios em volta do campo, desde
que pagasse o devido imposto à Mitra. As casas, de facto, pouco a pouco e com
autorização da Câmara foram-se construindo em torno do Olival. Com o decorrer
moroso dos anos e contra o estipulado, até Igrejas e Capelas se ergueram,
feiras e mercados se inauguraram e cordoeiros se consentiram.”
Por ser zona privilegiada de expansão da cidade, um dos
sucessores de D. Hugo em 1331, na Concórdia celebrada entre o concelho e o
prelado, este cedeu-o ao povo do Porto «para rocio e prol do comum da dita
cidade».
Ali existia, ao lado do actual «Café do Olival»,
(última referência existente do antigo toponímico) uma das portas da cidade,
a Porta do Olival, derrubada juntamente com grande parte da
muralha, durante o século XVIII, e uma cordoaria.
Por Praça do Olival devemos entender
aquele pequeno logradouro existente, a nascente, entre o edifício da antiga
cadeia da Relação, hoje sede do Centro Nacional de Fotografia, e a confluência
das ruas de Trás, de S. Bento da Vitória, antigamente chamada de S. Miguel, e
a dos Caldeireiros que, em tempos muito antigos dava pelo nome de Ferraria de
Cima e tinha, na parte cimeira, o nome de Rua da Laje.
A dita Praça do Olival
era limitada por outro lado, pelo pano da muralha fernandina e pela imponente
porta do Olival.
Zona da Judiaria do
Olival – reprodução de carta de 1523
Legenda da gravura
anterior:
Porta do Olival
(52), Muralha Fernandina (37), Largo do Olival (53), Rua de Trás (51), Rua da
Ferraria de Cima (Caldeireiros – 48).
De notar que o Campo
do Olival viria a ser atravessado pela muralha Fernandina, tendo ficado a maior
parte dele, fora dessas muralhas.
O vasto Campo do Olival mais extenso que a Cordoaria que lhe
sucedeu, com o nome de Campo dos Mártires da Pátria em 1835, espraiava-se para
sul até entestar com Miragaia.
Porta do Olival segundo Gouvea Portuense
“Meio século
depois, da Câmara ter tomado posse do Campo do Olival, ou seja no longínquo ano
de 1386, veio para ele, transferida de Miragaia a Comuna dos Judeus, que se
instalou do lado Sul, entre as Ruas das Taipas, Belomonte, Vitória e
Caldeireiros. A Judiaria do Olival era fechada por duas portas de ferro maciço com
vários motivos alegóricos. Passados poucos anos (1336 a 1376) foi o referido
campo cortado em sentido Nascente-Poente pela muralha fernandina, que neste
ponto ficou com uma porta – a Porta do Olival – e duas torres. Ficou assim, com
a erecção da muralha, o aludido rossio ou praça pública fora do âmbito citadino
e, portanto, talvez a monte durante muito tempo, visto que o território
extramuros, por essa época, era considerado arrabaldino.”
In “portoarc.blogspot”
Fachada lateral do
Café do Olival - Foto de Carlos Silva no blogue Porto Sentido.
Na cave do Café
Porta do Olival, ao lado da Torre dos Clérigos, ainda se podem ver restos da
Porta do Olival. Esta abria para a Cordoaria e era a saída da cidade para Norte
que, seguindo a Rua de Cedofeita, conduzia a Vila do Conde, Póvoa, e mais para
Norte.
Restos da muralha
podem ser também vistos, bem perto, na Rua Dr. Barbosa de Castro.
Trecho da muralha na
Rua Dr. Barbosa de Castro
“Dois séculos e
meio depois, em 1611 mais um postigo se abriu na muralha, para dar acesso fácil
ao edifício da Relação e Cadeia que então se andava a construir intramuros da
cidade e de cuja obra se encarregou, por determinação de D. Filipe II, o
corregedor Manuel de Sequeira Novais. Simultaneamente ordenou ainda D. Filipe
II (alvará de 28/9/1611), com a superintendência do mesmo corregedor, que se
transformasse o Campo do Olival numa formosa alameda por lhe parecer que a dita
seria de muito ornato e comum benefício da cidade... Perante tão firme
intimativa tratou logo o Corregedor Manuel de Sequeira Novais de dar andamento
à plantação de árvores na vasta alameda, árvores, essas, que até ao seu
perfeito crescimento, foram guardadas de dia e de noite por 4 homens… que
recebiam, cada um, 8.000 reis por ano…”
In “portoarc.blogspot”
Pelo Campo do Olival começou, a expansão da cidade
extra-muros, nos últimos anos do séc. XVI, com a sucessiva construção de
notáveis templos e edifícios públicos e particulares.
No Campo do Olival
ao longo dos séculos foram-se, portanto, construindo diversos dos mais
majestosos edifícios públicos da cidade, sobretudo a partir do século XVI, como
sejam: a Torre e Igreja dos
Clérigos (em 1754, por parte da Irmandade dos Clérigos Pobres); o Tribunal e Cadeia da Relação
(em 1606 por ordem de Filipe
I de Portugal, funcionando a Cadeia até ao dia 29 de Abril de 1974,
e que hoje alberga a sede do Centro Português de Fotografia); o Colégio dos Meninos Orfãos de Nª
Senhora da Graça (em 1651, no local onde está a Reitoria da
Universidade); a Igreja e
Convento do Carmo (1619) e posteriormente a gémea Igreja dos Terceiros do Carmo (1776);
o Recolhimento do Anjo
(1672), onde mais tarde veio a funcionar o
mercado do mesmo nome e foi também a Praça de Lisboa, mercado e galeria
comercial, e hoje é um espaço devidamente recuperado; a Igreja de S. José das Taipas (1666) e ainda, já nas
cercas do Olival, o Convento de
S. José e Santa Teresa de
carmelitas descalças (1702).
Em 1770 a Santa Casa da Misericórdia do Porto dá início à
construção neste local, do monumental Hospital
de Santo António.
Assim utilizando uma breve discrição e começando pelas
realizações mais antigas, refira-se uma capela da invocação de Nossa Senhora da
Graça, fundada pela Rainha Mafalda de Sabóia, mulher do rei D. Afonso Henriques
que ao sofrer no local um acidente, quis agradecer ao divino o ter sobrevivido
e mandou construir uma capela no local, e uma outra, dedicada a S. Sebastião. Ambas
existiriam ainda em 1514.
No próprio lugar onde se erguia a primeira destas ermidas,
edificou-se em 1651, graças aos esforços do benemérito padre Baltasar Guedes, a
igreja e o colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça, tendo em 1804 as
suas instalações começado a ser transformadas, no edifício onde hoje se acha
instalada a Faculdade de Ciências.
Um dos primeiros templos que se construíram no antiquíssimo
Campo do Olival foi uma capela da invocação do Bom Jesus de Bouças (Senhor de
Matosinhos) ou do senhor do Calvário Novo. Por esta designação é que a capela
era geralmente conhecida.
Foi a irmandade do Senhor Jesus do Calvário Novo, que
promovia o culto duma via-sacra neste sítio, que fundou uma ermida, em data que
não é possível averiguar, mas que se julga ser anterior a 1660.
Com entrada pela Rua das Taipas existiu uma outra capela da
irmandade de S. José das Taipas, mandada erigir em 1666, pelos Pachecos Pereira
e que antecedeu no local a Igreja de S. José das Taipas.
Em 1619, à custa também do Senado e do Povo, construíram-se
a igreja e o convento do Carmo; o templo dos Terceiros, que lhe fica anexo,
data de 1756.
O Recolhimento do Anjo, para meninas órfãs e nobres, foi
instituído em 1672 por D. Helena Pereira da Maia, no lugar onde esteve, mais
tarde e por muitos anos, o mercado, e agora a Praça de Lisboa, completamente
recuperada e alindada.
Em 1730, construíram os franciscanos de Santo António do
Vale da Piedade um hospício. Nesta casa, sobranceira às Virtudes, fronteira à
Igreja de S. José das Taipas e pegado à capela do Senhor Jesus do Calvário Novo
instalou-se, posteriormente, a Roda dos Expostos.
O Mercado do Peixe, paredes meias com a Roda, data de 1874,
edificado sobre os antigos celeiros da cidade e que foi também, quartel da
polícia da cidade, e onde hoje está o Palácio da Justiça.
No ano de 1770, no chão onde existiam dois meios casais
chamados do Robalo, começou a Misericórdia a construção do seu Hospital de
Santo António. Ainda nos limites do Olival, no campo chamado da Via Sacra ou
Calvário Velho, fez-se o convento de S. José e Santa Teresa de Carmelitas
Descalças. Deu esta casa, hoje desaparecida, o nome à Rua das Carmelitas e
ocupava o terreno delimitado por esta rua, pela Praça de Santa Teresa (Praça
Guilherme Gomes Fernandes), Rua Cândido dos Reis e Rua de Santa Teresa.
Na zona central do Olival, foi construída, por ordem de
Filipe II de Portugal, em 1613, a Alameda
do Olival, sendo posteriormente toda a zona ajardinada nos finais do
século XVIII e transformado em Passeio Público em 1853. Em 1865, a
instâncias e patrocinado por Alfredo Allen, Visconde de Vilar d'Allen, o
paisagista alemão Emílio David desenha o denominado «Jardim da Cordoaria»
(oficialmente e desde 1924: Jardim João Chagas), espaço de
características românticas que foi um dos locais de eleição de passeio e
recreio dos portuenses por longas décadas, vindo, a ser totalmente
descaracterizado por intervenção do arquitecto Camilo Cortesão, aquando
da Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura.
Logo que foi
inaugurado, o jardim que se destinava a servir o povo, e a substituir o do
Palácio de Cristal que era pago e mais distante do centro, acaba por ser tomado
pela burguesia da cidade.
“Enquanto esta se passeia na avenida fronteira ao coreto,
as criadas de servir, os soldados e outros passeiam-se em volta do lago”.
Em Julho de 1869 dá-se o início da iluminação a petróleo do
Campo dos Mártires da Pátria, com candeeiros reaproveitados da Exposição
Internacional de 1865.
Foi, nos meados do século passado, a Cordoaria, o jardim
"do bom-tom" no Porto.
Texto sobre a Cordoaria de 1870 de cronista anónimo
A designação de Cordoaria deve-se ao facto de nessa área
terem estado, por muito tempo, os cordoeiros, mais precisamente até 1864.
Já em 1331, quando o bispo cedeu este campo à cidade, ali
existiam.
Mais tarde estabelecidos também em Miragaia, foram crescendo
em número, estendendo-se até às Virtudes. Em 1661 estavam de novo na Porta do
Olival, onde D. José mandou edificar a fábrica, que continuou até 1862. Nesse
ano ainda viviam cordoeiros junto da Viela do Assis.
Não houve apenas uma cordoaria, mas cinco!
Anteriormente a 1661 sabe-se que os cordoeiros exerciam a
sua função nos areais de Miragaia, no local dos estaleiros onde se construíram
algumas das caravelas da expedição de Vasco da Gama à Índia. Era um enorme
areal, hoje tapado pela construção da Alfândega.
Em altura não definida e que deve ter sido gradual, em
processo de expansão, passaram os cordoeiros a ocupar a denominada Cordoaria
Velha, local que se estendia pela actual Rua Francisco da Rocha Soares e Rua de
Tomás Gonzaga, ruas longas e próprias para a actividade.
Foi nesta rua, exterior às Muralhas, que funcionou a
Cordoaria Velha.
Sabe-se que os cordoeiros já ocupavam o Olival desde os
princípios do século XVI pois rapidamente perceberam que o imenso largo era
ideal para a tarefa.
Foi a partir de 1661 que, para aí, se mudaram
definitivamente, dado ser um excelente e espaçoso local para fabricar as
cordas, cujo volume, considerando o incremento da navegação, aumentou
drasticamente, passando este local a ser, então conhecido como a Cordoaria e,
por aqui se mantiveram, inclusive quando o Marquês do Pombal decidiu que fosse
levantada uma fábrica de cordoaria encostada ao local onde mais tarde surgiria
o mercado do Anjo.
Firmino Pereira no “O Porto d’Outros Tempos” a propósito
dizia:
“Passavam de cem as
rodas que trabalhavam diariamente produzindo cordagem, massame, amarras, cabos
que rivalizavam com o que de mais perfeito se fabricava no estrangeiro”.
A verdade é que este mester por aqui ficou e apenas no
século XIX, mais concretamente em 1862, daqui saiu no seguimento de uma
verdadeira ordem de despejo formulada pela Câmara, com ameaça de confiscação
para queima, dos apetrechos usados, se os cordoeiros não cumprissem.
Assim aconteceu e os cordoeiros deslocaram-se para outro
espaço livre, no então Campo de Santo Ovídio (hoje Praça da República),
ocupando a área do denominado hoje, Palacete das Águias, no cruzamento da Rua
de Gonçalo Cristóvão e a Praça da República, local com muito espaço para armar
os equipamentos.
Mas já então a actividade das cordas havia esmorecido,
chegada que era a época do vapor e do aço.
Em Lordelo do Ouro existiu, ainda, a quinta cordoaria e de
que hoje sobra, como único vestígio, a Rua da Cordoaria Velha, que parte em
direcção ao Ouro, local onde existiu um importante estaleiro e onde foram
feitas, por exemplo, as naus que partiram em 1413, para tomar Ceuta, comandadas
pelo Infante D. Henrique.
Apetece dizer que a cordoaria na cidade do Porto veio
subindo, desde os areais de Miragaia até à Praça da República. De facto, à
medida que o tamanho dos navios ia aumentando, também o tamanho das cordas ia
crescendo e a actividade necessitava, assim, de mais espaço.
Na Porta do Olival esteve também a forca, transferida da
Ribeira em 1822, sendo ainda, teatro de alguns outros acontecimentos
históricos. Neste campo começou, em 1757, o famoso motim contra a Companhia dos
Vinhos, e ali mesmo terminou com a morte na forca dos supostos cabecilhas. Aqui
também, em 1809, o povo trucidou o brigadeiro Luís de Oliveira da Costa, sob a acusação
de jacobino. A par destas tragédias, viu o luzido cortejo da rainha D. Filipa
quando ao Porto veio casar com D. João I e assistiu à passagem do senhor D.
Gaspar, a caminho do seu arcebispado de Braga.
No Olival, mais tarde Cordoaria, se realizava a animada
feira de S. Miguel, criada em 1682.
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