A Igreja dos Carmelitas ou Igreja dos Carmelitas Descalços
começou a ser construída em 1616 e ficou concluída em 1628. A decoração do
interior só viria a ficar pronta em 1650.
Igreja dos Carmelitas, em desenho de J. Villanova, em 1833
No desenho anterior,
sobre as portas, estão as imagens de S. José, Santa Teresa de Ávila e Nossa
Senhora do Carmo – no largo existia um dos muitos cruzeiros do Porto.
Os carmelitas descalços chegaram ao Porto em Janeiro de
1617, com a intenção de aqui fundarem um convento. Instalaram-se,
primitivamente, numas casas modestas da antiga Rua de S. Miguel, hoje chamada
de S. Bento da Vitória. Intercedeu por eles, junto de Filipe II, que então
reinava em Portugal, a poetisa Bernarda Correia de Lacerda. E a autorização
para a construção do mosteiro não tardou a ser concedida.
Para custear as obras da construção do novo convento, a
Câmara do Porto ofereceu aos frades 2000 cruzados, uma avultada soma, para a
época. Mas o maior contributo foi o das esmolas dadas pelo povo. Em 1622, os
frades transferiram-se da velha Rua de S. Miguel para a parte já levantada do
novo convento. A igreja começou a ser construída pouco depois, mas só ficou
concluída em 1628.
A fachada de cantaria granítica possui três entradas com
arcos de volta perfeita, encimadas por igual número de nichos, com as imagens
de São José, Santa Teresa de Jesus e de Nossa Senhora do Carmo ao centro. O
corpo superior contém três janelões, sendo o central de forma rectangular e os
dois laterais com a forma de trapézio rectangular. A rematar a fachada um
frontão triangular encimado por balaústres.
Possui uma torre sineira do lado poente, revestida a
azulejos monocromáticos da cor azul, rematada por uma cúpula em forma de bolbo.
A torre sineira começou por estar colocada a nascente, mas
foi mudada para ser construída a igreja dos Terceiros do Carmo.
Esta igreja é do estilo barroco primitivo, portanto de
traços muito sóbrios.
Durante a segunda invasão francesa (1809), a Igreja dos
Carmelitas foi ocupada por um regimento de Napoleão. Os soldados saquearam-na.
Uma outra igreja fica na esquina da actual Praça de Carlos
Alberto e a Rua do Carmo. É a Igreja do Carmo ou Igreja da Venerável Ordem
Terceira de Nossa Senhora do Carmo, em área contígua à Praça dos Leões. De
estilo barroco/rococó, foi construída na segunda metade do século XVIII, entre
1756 e 1768, pela Ordem Terceira do Carmo, sendo o projecto do arquitecto José
Figueiredo Seixas. A construção do hospital, na retaguarda e com frontaria para
a Praça Carlos Alberto, começou mais tarde ficando concluído em 1801.
Em 1736, a Ordem do Carmo estava instalada na desaparecida
capela da Batalha, junto da Porta da Batalha. O templo era pequeno e, em 1751,
a ordem deliberou mandar construir igreja própria. Para esse efeito, comprou um
pedaço de terreno que ficava no Campo dos Ferradores (hoje Praça de Carlos
Alberto) do lado nascente da Igreja dos Carmelitas. A construção do novo
templo só começou em 1756, mais de 130 anos depois do início das obras da
igreja dos Carmelitas.
Uma curiosidade: quando se deu início às obras da Igreja do
Carmo, estavam a ser construídas também as igrejas da Lapa e do Terço. Mas as
fachadas das três são diferentes umas das outras. O projecto da Igreja do
Carmo foi feito pelo arquitecto e pintor José Figueiredo Seixas, que contou
com a ajuda de Nicolau Nasoni para a construção do varandim que está na
fachada.
Há quem veja na fachada da Igreja do Carmo influência do
trabalho feito na Igreja dos Clérigos, que estava novinha em folha, quando
aquela começou a ser construída.
Possui um extraordinário painel lateral em azulejos
representando cenas alusivas à fundação da Ordem Carmelita e ao Monte Carmelo,
desenhado por Silvestre Silvestri, pintado por Carlos Branco e executado nas
Fábricas do Senhor d'Além e da Torrinha, em Vila Nova de Gaia, datados de 1912
e que constitui uma obra de referência da Azulejaria Portuguesa.
Esta igreja está geminada com a Igreja dos Carmelitas, do
lado oeste, constituindo um volume único, embora se diferenciem as duas
igrejas.
Foi classificada como Monumento Nacional a 3 de Maio de
2013, em conjunto com a Igreja dos Carmelitas, adjacente.
Hospital do Carmo, em 1833, voltado para a Praça Carlos Alberto, em desenho de J. Villanova
Como todas as outras ordens terceiras da cidade, a Ordem dos
Terceiros do Carmo também teve o seu cemitério junto da sua igreja.
A pequena porção de planta, abaixo, extraída da planta de
Perry Vidal de 1844 e actualizada em 1865, indica, com o nº 20, a localização
daquele cemitério.
Igreja dos Carmelitas (à esquerda) e Igreja do Carmo (à direita)
Igrejas dos Carmelitas e do Carmo – Ed. CMP, Arquivo
Histórico Municipal
A foto acima é de 1890 e, nela, se vê, vindo da Praça Carlos
Alberto, um Americano.
Largo do Carmo, em 1905
Igreja dos Carmelitas (à esquerda) e do Carmo (à direita)
Entre as duas
igrejas, existe a casa mais estreita do Porto, que foi habitada pelo sacristão e sineiro
do Carmo
Na cerca do convento dos Carmelitas Descalços, foi
construída a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, tendo para aqui transitado,
vinda da ala sul do Hospital da Misericórdia (Hospital de Santo António), em
1884.
Tendo num outro edifício construído nesse local chegado a
estar alojada a Faculdade de Medicina do Porto, a partir da revolução de 25 de
Abril, por lá esteve, também, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel
Salazar (ICBAS) até 2011, quando transitou para a Rua Jorge de
Viterbo Ferreira.
Planta de 1827 para regular o alinhamento da Cerca dos
Religiosos Carmelitas, da Praça do Carmo, ao Hospital Real de Santo Antonio
– AHMP; Fonte: blogue ”doportoenaoso”
Na planta acima, com o nº 6, a igreja dos Carmelitas e, com o
nº 7, a igreja dos Terceiros. Por ela se vê a área que foi subtraída à cerca dos
Carmelitas.
Na área fronteira ao convento dos Carmelitas, mais para
poente, que o povo diz ser o Largo Júlio Dinis por aí estar uma
estátua do escritor, mas que de facto é o Largo Prof. Abel Salazar.
Desse local, desapareceram várias artérias de outros tempos
como a Viela do Loureiro e a Viela dos Poços da qual fazia parte
a actual Travessa do Carmo, mas, que, num documento de 1755 vem identificada
como Viela
dos Poços das Traseiras da Cordoaria, e que 4 anos depois era Rua
dos Poços das Traseiras da Cordoaria.
Nos começos do século XVI, a configuração do actual Largo
do Prof. Abel Salazar, era muito diferente daquela que hoje apresenta. Por esse
tempo, a partir, sensivelmente, do sítio onde se colocou o monumento a Júlio
Dinis, começava um renque de casas que se estendia para as bandas da
esquina com o Jardim da Cordoaria.
Entre estas casas e as que ainda hoje se veem no lado
nascente do Largo do Prof. Abel Salazar, que ficam mesmo defronte da fachada do
hospital, havia uma estreita artéria chamada Viela do Loureiro.
A demolição das casas da Viela do Loureiro fez-se nos
finais do século XIX. Só em 1901 o logradouro foi ajardinado.
Hospital de Santo António e Régia Escola de Cirurgia no local inicial de instalação
No desenho acima, à direita, estão as casas que seriam
demolidas e com elas desapareceria a Viela do Loureiro.
A antiga e desaparecida Travessa do Carmo, que nada tem a
ver com a de hoje e que segundo um
documento da época: ”… era uma viela que fica defronte da igreja do
Carmo é alumiada por dois lampiões de azeite a sua numeração é de 1 a 14, sendo
a casa nº 7 habitada pelo médico Assis.”
Numa planta deste ponto da cidade, feita em 1788 pelo
engenheiro urbanista D. José de Champalimaud de Nussane, vem descrito "o terreiro e viela do Carmo, com os
aquedutos que atravessam". Estes aquedutos eram simplesmente os
coletores das águas pluviais e das imundícies provenientes das casas que
ladeavam a artéria.
Quem entrar na actual Travessa do Carmo, pelo lado do Largo
do Prof. Abel Salazar, não terá dificuldade em constatar que ali em frente há
vestígios nítidos de que a estreita artéria teria continuação para os lados
do largo hoje denominado Praça de Parada Leitão. Assim era de facto.
Entrada da Travessa do Carmo, em 1964
Há coisa de cento e cinquenta anos, pouco mais ou menos, havia
uma espécie de beco, denominado Viela do Assis, por nela viver o
médico célebre daquele tempo, Francisco de Assiz Vaz e que corria paralela aos
Passeios da Graça e que já tinha sido antes, a Viela dos Condenados.
Pertenciam a essa viela as casas, algumas, hoje, bastante
alteradas, que ficam do lado onde está o edifício onde funciona o Café Âncora
d'Ouro, o popular "Piolho".
Tomou o nome de Assis por ter nascido e vivido, no prédio
arredondado, que faz esquina com o Jardim da Cordoaria, o médico Francisco de
Assis de Sousa Vaz, que faleceu em 1870.
Aquele notável cirurgião do Hospital Geral de Santo António,
nasceu em 1797 na Ferraria de Cima (Rua dos Caldeireiros). Este clínico
notabilizou-se por ter presidido aos últimos suspiros do rei Carlos Alberto e
ter sido pioneiro na luta contra os enterramentos nas igrejas. A casa que
habitou foi alvo de remodelações em 2013.
O clínico vivia na casa redonda da esquina da Praça de
Parada Leitão e da Cordoaria, onde chegou a estar o Hotel Portugal e depois foi
sede do Consulado da França. A viela corria desde a esquina onde está a casa
até em frente às igrejas do Carmo e dos Carmelitas. Há muito que a estreita e
imunda viela desapareceu.
As casas de todas estas vielas, becos e travessas ficavam
nas traseiras das casas que tinham as suas fachadas voltadas para a Cordoaria.
Daí o dizerem, como acima ficou referido, viela disto ou daquilo, das Traseiras
da Cordoaria.
Anteriormente, os Passeios da Graça ou Passeio da Graça e a Viela do Assis
denominavam-se, respectivamente, Rua e Travessa do Carmo, pela sua proximidade
com a Igreja dos Terceiros daquele Ordem.
Casa do Dr. Francisco Assiz Vaz, à esquerda
Casa do Assis actualmente - Ed. MAC
Jardim da Cordoaria em 1895
Na foto acima, inserida no “ Guia do Forasteiro do Porto e
Província do Minho-1895”, observa-se do lado direito do arbusto central a casa
do Dr. Francisco Assis Vaz, que à data estava ocupada pelo consulado de França.
Junto desta casa, vê-se a entrada da primitiva Travessa do Carmo, a separar a
dita casa e um quarteirão situado ao lado direito da foto que seria demolido para
abertura da Praça Parada Leitão.
A meio da travessa citada saía perpendicularmente a ligação da
Viela
do Assis à Viela dos Poços passando esta, actualmente, a ser a Travessa do
Carmo.
Acesso emparedado do acesso da Viela dos Poços à casa do Assis
Pela abertura entre os prédios da actual Travessa do Carmo,
da foto anterior, passava a estreitíssima viela de acesso à actual Praça de
Parada Leitão.
Planta da zona do Olival e Praça do Carmo
Na planta acima a Cordoaria está no canto inferior esquerdo.
Planta legendada
Legenda:
1- Passeios da Graça depois Rua do Carmo
2- Viela do Assis depois Travessa do Carmo
3 e 5- Viela dos Poços ou Viela dos Poços das Traseiras da Cordoaria
4- Viela do Loureiro
Actualmente o troço identificado com 3 é a Travessa do
Carmo.
Planta da Cordoaria em 1850
Legenda:
1- Hospital de Santo António
2-7- Edifícios demolidos
4- Edifícios demolidos que estavam adossados à muralha
3- Cadeia da Relação
5- Igreja de S. José das Taipas e edifícios anexos
6- Capela dos padres Trinitários e Roda
8- Igreja de Nossa Senhora da Graça e suas dependências anexas, em parte já "engolidas" pelo
edifício da Faculdade de Ciências, edifício esse que levaria quase 100
anos a completar-se, sendo a Igreja da Graça apenas demolida no início do
século XX.
Cordoaria com Igreja dos Clérigos ao fundo em 1885 - Ed.
Emílio Biel
Na foto acima é visível o telhado da igreja de Nossa Senhora
da Graça.
Sem comentários:
Enviar um comentário