segunda-feira, 26 de junho de 2017

(Continuação 18) - Actualização em 21/03/2018 e 07/11/2019

A Igreja dos Carmelitas ou Igreja dos Carmelitas Descalços começou a ser construída em 1616 e ficou concluída em 1628. A decoração do interior só viria a ficar pronta em 1650.



Igreja dos Carmelitas, em desenho de J. Villanova, em 1833



No desenho anterior, sobre as portas, estão as imagens de S. José, Santa Teresa de Ávila e Nossa Senhora do Carmo – no largo existia um dos muitos cruzeiros do Porto.
Os carmelitas descalços chegaram ao Porto em Janeiro de 1617, com a intenção de aqui fundarem um convento. Instalaram-se, primitivamente, numas casas modestas da antiga Rua de S. Miguel, hoje chamada de S. Bento da Vitória. Interce­deu por eles, junto de Filipe II, que então reinava em Portugal, a poetisa Bernarda Correia de Lacerda. E a autorização para a construção do mosteiro não tardou a ser concedida. 
Para custear as obras da construção do novo convento, a Câmara do Porto ofere­ceu aos frades 2000 cruzados, uma avul­tada soma, para a época. Mas o maior con­tributo foi o das esmolas dadas pelo povo. Em 1622, os frades transferiram-se da ve­lha Rua de S. Miguel para a parte já levan­tada do novo convento. A igreja começou a ser construída pouco depois, mas só fi­cou concluída em 1628. 
A fachada de cantaria granítica possui três entradas com arcos de volta perfeita, encimadas por igual número de nichos, com as imagens de São José, Santa Teresa de Jesus e de Nossa Senhora do Carmo ao centro. O corpo superior contém três janelões, sendo o central de forma rectangular e os dois laterais com a forma de trapézio rectangular. A rematar a fachada um frontão triangular encimado por balaústres.
Possui uma torre sineira do lado poente, revestida a azulejos monocromáticos da cor azul, rematada por uma cúpula em forma de bolbo.
A torre sineira começou por estar colocada a nascente, mas foi mudada para ser construída a igreja dos Terceiros do Carmo.
Esta igreja é do estilo barroco primitivo, portanto de traços muito sóbrios.
Durante a segunda invasão francesa (1809), a Igreja dos Carmelitas foi ocupa­da por um regimento de Napoleão. Os sol­dados saquearam-na.
Uma outra igreja fica na esquina da actual Praça de Carlos Alberto e a Rua do Carmo. É a Igreja do Carmo ou Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, em área contígua à Praça dos Leões. De estilo barroco/rococó, foi construída na segunda metade do século XVIII, entre 1756 e 1768, pela Ordem Terceira do Carmo, sendo o projecto do arquitecto José Figueiredo Seixas. A construção do hospital, na retaguarda e com frontaria para a Praça Carlos Alberto, começou mais tarde ficando concluído em 1801.
Em 1736, a Ordem do Carmo estava ins­talada na desaparecida capela da Batalha, junto da Porta da Batalha. O templo era pequeno e, em 1751, a ordem deliberou mandar construir igreja própria. Para esse efeito, comprou um pedaço de terreno que ficava no Campo dos Ferrado­res (hoje Praça de Carlos Alberto) do lado nascente da Igreja dos Carmelitas. A cons­trução do novo templo só começou em 1756, mais de 130 anos depois do início das obras da igreja dos Carmelitas. 
Uma curiosidade: quando se deu início às obras da Igreja do Carmo, estavam a ser construídas também as igrejas da Lapa e do Terço. Mas as fachadas das três são diferen­tes umas das outras. O projecto da Igreja do Carmo foi feito pelo arquitecto e pintor Jo­sé Figueiredo Seixas, que contou com a ajuda de Nicolau Nasoni para a construção do varandim que está na fachada. 
Há quem veja na fachada da Igreja do Carmo influência do trabalho feito na Igreja dos Clérigos, que estava novinha em folha, quando aquela começou a ser construída. 
Possui um extraordinário painel lateral em azulejos representando cenas alusivas à fundação da Ordem Carmelita e ao Monte Carmelo, desenhado por Silvestre Silvestri, pintado por Carlos Branco e executado nas Fábricas do Senhor d'Além e da Torrinha, em Vila Nova de Gaia, datados de 1912 e que constitui uma obra de referência da Azulejaria Portuguesa.
Esta igreja está geminada com a Igreja dos Carmelitas, do lado oeste, constituindo um volume único, embora se diferenciem as duas igrejas.
Foi classificada como Monumento Nacional a 3 de Maio de 2013, em conjunto com a Igreja dos Carmelitas, adjacente.



Hospital do Carmo, em 1833, voltado para a Praça Carlos Alberto, em desenho de J. Villanova



Como todas as outras ordens terceiras da cidade, a Ordem dos Terceiros do Carmo também teve o seu cemitério junto da sua igreja.
A pequena porção de planta, abaixo, extraída da planta de Perry Vidal de 1844 e actualizada em 1865, indica, com o nº 20, a localização daquele cemitério.

 

 





Igreja dos Carmelitas (à esquerda) e Igreja do Carmo (à direita)



Um carro americano passando no Carmo




Igrejas dos Carmelitas e do Carmo – Ed. CMP, Arquivo Histórico Municipal



A foto acima é de 1890 e, nela, se vê, vindo da Praça Carlos Alberto, um Americano.


Largo do Carmo, em 1905





Igreja dos Carmelitas (à esquerda) e do Carmo (à direita) 



Entre as duas igrejas, existe a casa mais estreita do Porto, que foi habitada pelo sacristão e sineiro do Carmo




Na cerca do convento dos Carmelitas Descalços, foi construída a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, tendo para aqui transitado, vinda da ala sul do Hospital da Misericórdia (Hospital de Santo António), em 1884.
Tendo num outro edifício construído nesse local chegado a estar alojada a Faculdade de Medicina do Porto, a partir da revolução de 25 de Abril, por lá esteve, também, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) até 2011, quando transitou para a Rua Jorge de Viterbo Ferreira.

 
 

À esquerda, o edifício onde se instalou o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) – Fonte: Google maps, em 2022





Planta de 1827 para regular o alinhamento da Cerca dos Religiosos Carmelitas, da Praça do Carmo, ao Hospital Real de Santo  Antonio – AHMP; Fonte: blogue ”doportoenaoso”



Na planta acima, com o nº 6, a igreja dos Carmelitas e, com o nº 7, a igreja dos Terceiros. Por ela se vê a área que foi subtraída à cerca dos Carmelitas.
Na área fronteira ao convento dos Carmelitas, mais para poente, que o povo diz ser o Largo Júlio Dinis por aí estar uma estátua do escritor, mas que de facto é o Largo Prof. Abel Salazar. 
Desse local, desapareceram várias artérias de outros tempos como a Viela do Loureiro e a Viela dos Poços da qual fazia parte a actual Travessa do Carmo, mas, que, num documento de 1755 vem identificada como Viela dos Poços das Traseiras da Cordoaria, e que 4 anos depois era Rua dos Poços das Traseiras da Cordoaria.
Nos começos do século XVI, a configura­ção do actual Largo do Prof. Abel Salazar, era muito diferente daquela que hoje apresenta. Por esse tempo, a partir, sensivelmente, do sítio onde se colocou o monumento a Jú­lio Dinis, começava um renque de casas que se estendia para as bandas da esquina com o Jardim da Cor­doaria.
Entre estas casas e as que ainda hoje se veem no lado nascente do Largo do Prof. Abel Salazar, que ficam mesmo defronte da fachada do hospital, havia uma estreita artéria chamada Viela do Loureiro
A demolição das casas da Viela do Lourei­ro fez-se nos finais do século XIX. Só em 1901 o logradouro foi ajardinado. 



Hospital de Santo António e Régia Escola de Cirurgia no local inicial de instalação



No desenho acima, à direita, estão as casas que seriam demolidas e com elas desapareceria a Viela do Loureiro.
A antiga e desaparecida Travessa do Carmo, que nada tem a ver com a de hoje e que segundo um documento da época: ”… era uma viela que fica defronte da igreja do Carmo é alumiada por dois lampiões de azeite a sua numeração é de 1 a 14, sendo a casa nº 7 habitada pelo médico Assis.”
Numa planta deste ponto da cidade, fei­ta em 1788 pelo engenheiro urbanista D. José de Champalimaud de Nussane, vem descrito "o terreiro e viela do Carmo, com os aquedutos que atravessam". Estes aque­dutos eram simplesmente os coletores das águas pluviais e das imundícies provenien­tes das casas que ladeavam a artéria. 
Quem entrar na actual Travessa do Carmo, pelo lado do Largo do Prof. Abel Salazar, não terá dificuldade em constatar que ali em frente há vestígios nítidos de que a es­treita artéria teria continuação para os la­dos do largo hoje denominado Praça de Pa­rada Leitão. Assim era de facto.




Entrada da Travessa do Carmo, em 1964




Há coisa de cento e cinquenta anos, pouco mais ou menos, ha­via uma espécie de beco, denominado Viela do Assis, por nela vi­ver o médico célebre daquele tempo, Francisco de Assiz Vaz e que corria paralela aos Passeios da Graça e que já tinha sido antes, a Viela dos Condenados.  
Perten­ciam a essa viela as casas, algumas, hoje, bastante alteradas, que ficam do lado onde está o edifício onde funciona o Café Âncora d'Ouro, o popular "Piolho".
To­mou o nome de Assis por ter nascido e vivido, no prédio arredondado, que faz esquina com o Jardim da Cordoaria, o médico Francisco de Assis de Sousa Vaz, que faleceu em 1870.
Aquele notável cirurgião do Hospital Geral de Santo António, nasceu em 1797 na Ferraria de Cima (Rua dos Caldeireiros). Este clínico notabilizou-se por ter presidido aos últimos suspiros do rei Carlos Alberto e ter sido pioneiro na luta contra os enterramentos nas igrejas. A casa que habitou foi alvo de remodelações em 2013.
O clínico vivia na casa redonda da esqui­na da Praça de Parada Leitão e da Cordoaria, onde chegou a estar o Hotel Portugal e depois foi sede do Consulado da França. A viela corria desde a esquina onde está a casa até em frente às igrejas do Carmo e dos Carmelitas. Há muito que a estreita e imunda viela desapareceu. 
As casas de todas estas vielas, becos e tra­vessas ficavam nas traseiras das casas que tinham as suas fachadas voltadas para a Cordoaria. Daí o dizerem, como acima fi­cou referido, viela disto ou daquilo, das Tra­seiras da Cordoaria. 
Anteriormente, os Passeios da Graça ou Passeio da Graça e a Viela do Assis denominavam-se, respectivamente, Rua e Travessa do Carmo, pela sua proximida­de com a Igreja dos Terceiros daquele Ordem. 



Casa do Dr. Francisco Assiz Vaz, à esquerda



Casa do Assis actualmente - Ed. MAC



Jardim da Cordoaria em 1895



Na foto acima, inserida no “ Guia do Forasteiro do Porto e Província do Minho-1895”, observa-se do lado direito do arbusto central a casa do Dr. Francisco Assis Vaz, que à data estava ocupada pelo consulado de França. Junto desta casa, vê-se a entrada da primitiva Travessa do Carmo, a separar a dita casa e um quarteirão situado ao lado direito da foto que seria demolido para abertura da Praça Parada Leitão.
A meio da travessa citada saía perpendicularmente a ligação da Viela do Assis à Viela dos Poços passando esta, actualmente, a ser a Travessa do Carmo.



Acesso emparedado do acesso da Viela dos Poços à casa do Assis



Pela abertura entre os prédios da actual Travessa do Carmo, da foto anterior, passava a estreitíssima viela de acesso à actual Praça de Parada Leitão.




Planta da zona do Olival e Praça do Carmo



Na planta acima a Cordoaria está no canto inferior esquerdo.



Planta legendada

Legenda:

1- Passeios da Graça depois Rua do Carmo
2- Viela do Assis depois Travessa do Carmo
3 e 5- Viela dos Poços ou Viela dos Poços das Traseiras da Cordoaria
4- Viela do Loureiro


Actualmente o troço identificado com 3 é a Travessa do Carmo.



Planta da Cordoaria em 1850

Legenda:

1- Hospital de Santo António
2-7- Edifícios demolidos
4- Edifícios demolidos que estavam adossados à muralha
3- Cadeia da Relação
5- Igreja de S. José das Taipas e edifícios anexos
6- Capela dos padres Trinitários e Roda
8- Igreja de Nossa Senhora da Graça e suas dependências anexas, em parte já "engolidas" pelo edifício da Faculdade de Ciências, edifício esse que levaria quase 100 anos a completar-se, sendo a Igreja da Graça apenas demolida no início do século XX.



Cordoaria com Igreja dos Clérigos ao fundo em 1885 - Ed. Emílio Biel


Na foto acima é visível o telhado da igreja de Nossa Senhora da Graça.




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